NOTA: 9.5
Eu já mencionei algumas vezes aqui que Clive Barker é
um dos maiores escritores de horror de todos os tempos. Sua obra mais famosa, Hellraiser, é sem dúvida, um dos
trabalhos mais assustadores e originais que já vi. Também ambientado no mesmo
universo, o livro Evangelho de Sangue até
que é divertido e grotesco, mas não chega aos pés da obra anterior.
E hoje, vou falar sobre outra obra do autor, talvez a
mais famosa depois de Hellraiser:
CANDYMAN, ou O Proibido, como também
é conhecido.
Bom, esse é um dos melhores textos do autor que já
li, e motivos para isso não faltam. Barker conseguiu criar uma história
verdadeiramente assustadora, com uma temática apropriada: lendas urbanas. Eu pessoalmente
acho o próprio termo assustador, porque sempre passa a impressão de algo
macabro que aconteceu nas cidades ao longo dos anos. Bem, aqui temos exatamente
isso.
Candyman é
uma excelente historia sobre o assunto, apesar de não focar totalmente nisso. Na
verdade, no início, temos a impressão de que estamos lendo uma história sobre investigação,
uma vez que a protagonista, a universitária Helen, decide se aventurar nos bairros
decadentes de Liverpool a fim de encontrar mais e mais material para sua tese,
no caso, as pichações locais. Somente após a protagonista ouvir relatos sobre homicídios
na região, é que a historia muda de foco e passa a se concentrar na lenda
urbana do personagem-título, também conhecido “O Proibido”, visto que todos têm
medo de falar sobre ele.
Esse é o grande ponto da história, na minha opinião. Barker
criou uma entidade tão perversa que até os moradores da região têm medo de
pronunciar seu nome, e honestamente, isso é o tipo de coisa que me atrai muito
em histórias de terror; essa coisa da entidade maldita que traz mau-agouro para
todos é uma das melhores representações de algo terrível, e já tivemos grandes
exemplos, e este é mais um deles.
E sendo uma história de Clive Barker, não poderiam
faltar cenas grotescas, e aqui temos ótimas delas. O autor até faz uso de um dos
maiores tabus do horror para conduzir as investigações da protagonista e
fazê-la adentrar no território da entidade do título – não direi qual é o tabu
para não entregar spoilers; digo apenas que o autor não mostra nenhum pudor ao
falar dele. E temos também algum conteúdo sexual, principalmente quando Helen encontra
a entidade.
E falando em Candyman, foi separar um tempo para
falar sobre ele. Quem já viu o filme, sabe como ele é fisicamente, mas, ao ler
a história original, a coisa é bem diferente. Não espere encontrar o Candyman imortalizado
por Tony Todd; ao contrário, temos aqui em ser grotesco e repugnante, mas que
consegue ser sedutor e charmoso. Não sei para quem já leu, mas eu o imaginei como
um homem mesmo, elegantemente vestido, mas não idêntico ao Candyman de Tony Todd,
principalmente por causa da cor de sua pele. Sim, aqui, não temos o forte comentário
social presente no filme de Bernard Rose, somente uma história sobre uma lenda
urbana.
Acredito que essa seja a maior surpresa para quem vai
ler a história pela primeira vez, porque a questão racial é tão forte no filme,
que parece que também foi tirada do texto original, mas não é esse o caso.
Mas nada disso nos impede de criar uma conexão com o
filme conforme lemos o livro. Eu mesmo, enquanto lia determinadas cenas, pude
visualizar as mesmas presentes no filme, principalmente a cena da pichação que
simboliza a entidade, o jantar e o encontro da protagonista com Candyman. Não seria
surpresa se eu pudesse até ouvir a trilha sonora do filme.
Candyman foi
lançado na coletânea Livros de Sangue
de Clive Barker, mas a mesma se encontrava fora de catalogo há anos. Foi relançado
no Brasil pela editora DarkSide Books em belíssima edição individual, com texto
de apoio.
Em tempo: resolvi ler o livro para me preparar para o
novo filme, que estreia em Agosto de 2021, com produção de Jordan Peele, o
mestre da crítica social do cinema de terror atual.
Enfim, Candyman é excelente. Uma história de horror com elementos investigativos que prende a atenção do leitor até última pagina. A escrita de Clive Barker é perfeita, e o autor cria uma ambientação capaz de deixar o leitor arrepiado, além de dar vida a uma de suas criaturas mais famosas. Um livro arrepiante. Uma leitura rápida, mas digna de nota. Altamente recomendado.
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