sexta-feira, 21 de junho de 2019

VOO NOTURNO (1997). Dir.: Mark Pavia.


NOTA: 10


VOO NOTURNO (1997)
Para mim, VOO NOTURNO (1997), baseado no conto O Piloto da Noite, tem uma grande importância, porque foi meu primeiro contato como escritor Stephen King, que se deu por meio da capa do VHS, quando minha mãe mostrou para mim na locadora.

Naquela ocasião, não aluguei o filme; somente alguns anos depois, como sempre fazia nos fins de semana. Quando pus a fita no videocassete, o resultado foi uma das experiências mais aterrorizantes da minha vida! Eu quase não consegui ver o filme direito; passei a maior parte do tempo escondido atrás da parede do corredor. Numa outra oportunidade, até consegui assistir, mas quando chegou ao clímax, fiquei a noite sem dormir, porque era muito assustador – e ainda é, mas hoje, consigo assistir sem problemas. Eu só consegui assistir ao filme, sem medo, depois de outras tentativas, conforme fui ficando mais velho, e me acostumando com ele.

Não se engane. Mesmo sendo uma das adaptações mais assustadoras – talvez a mais assustadora – de Stephen King, Voo Noturno é excelente! Com sua simplicidade impar, consegue assustar e provocar pesadelos, sem o menor esforço, e tudo contribui pra isso.

O primeiro fator talvez seja o clima. Desde o começo, o filme tem um clima de mistério, com sua fotografia escura e trilha sonora de piano – aliás, brilhante trilha sonora. E desde a abertura, o filme não nega fogo, mostrando logo de cara uma cena sangrenta e silhueta do vampiro. E o mesmo acontece até o final. O diretor Mark Pavia conduz a trama de maneira brilhante, e com certeza, fez uma excelente adaptação do conto original. Posso dizer que o filme, de certa forma, completa a experiência de ler o conto, e vice-versa. Durante certos momentos da leitura, eu me lembrei das cenas descritas no texto original – o mesmo aconteceu enquanto lia a história.

O que mais contribui é a própria ambientação. O filme foi inteiramente rodado na Carolina do Norte, e isso também causa uma sensação de medo, não pelas locações, mas pela sensação que elas passam. Durante todo o filme, parece que os lugares que o protagonista visita não são reais – e obviamente não são – e não parecem passar uma sensação de segurança, mesmo durante o dia. Parece até outra dimensão.

A trilha sonora, composta por Brian Keane, também é mais um fator. Praticamente toda tocada no piano, ela parece entrar na mente do espectador, e no momento em que ouvimos a melodia na nossa cabeça, na hora, lembramos do filme. Existem momentos em que a trilha é mais pesada, de acordo com a cena, mas, nada é melhor do que o tema do filme.

E por fim, os efeitos especiais e a própria sensação de pavor. Impossível falar de um, sem falar do outro. Os efeitos de maquiagem, cortesia da KNB Effects Group, são a melhor coisa do filme. Como o diretor faz questão de esconder seu vampiro durante boa parte do filme, ele compensa a curiosidade com a maquiagem. E olha, que excelente trabalho. Eu falo de perfurações nos corpos das vitimas, membros espalhados e sangue manchado nas paredes – muito sangue. E claro, a maquiagem do vampiro. Devo dizer que a expectativa em ver seu rosto é compensada, porque, é um dos melhores visuais de vampiro e todos os tempos, talvez um dos mais aterrorizantes. E a sensação de pavor, como já disse, está presente no filme inteiro, mas com certeza, ela aumenta no clímax no terminal, naquela que é a cena mais assustadora do filme inteiro. E olha, coisas assim são difíceis de fazer hoje em dia.

Sobre os personagens, o seguinte. O protagonista, Richard Dees, é um verdadeiro cretino. Sempre de cara fechada, arrogante e presunçoso, ele não passa em nenhum momento a imagem do herói que está lutando contra o vilão, pelo contrario; não dá pra torcer por ele. Katherine Blair, a jovem estagiaria do tabloide, apesar de sua pouca presença, é o oposto. Ela já se mostra prestativa, disposta a provar que é capaz de escrever sobre os crimes e ganhar primeira pagina. Os demais personagens surgem apenas por pouco tempo, mas é possível ver que são pessoas comuns, que tiveram uma relação verdadeira com as vitimas, e que estão com medo do assassino.

E claro, o Vampiro Dwight Renfield. Como mencionado acima, o diretor Paiva e o diretor de fotografia fazem questão de esconder seu rosto, mas, para mim, isso não importa, porque ele consegue ser assustador; o tipo de personagem que mete medo quando aparece na tela. Alto, magro, cabeludo, e com sua enorme capa preta, quando ele surge, pode ter certeza que coisa boa não vai acontecer. O vampiro é um verdadeiro monstro, sempre desmembrando, decapitando e mutilando suas vitimas, com uma selvageria impar e implacável. Realmente, dá a sensação de que nada nem ninguém, conseguirá impedi-lo. Nada! E claro, quando seu rosto finalmente aparece, é um espetáculo. Seu avião é a mesma coisa. Um belíssimo Cessna Skymaster negro, que percorre os céus como uma criatura sobrenatural, e quando o vemos, no solo, já sentimos um calafrio.

Claramente, o filme foi rodado com baixo orçamento, mas, tudo foi compensado na criatividade. Por exemplo, as cenas em que Dees está voando com seu avião, foram rodadas em estúdio, mas o filme não passa essa sensação; parece mesmo que o diretor filmou o ator Miguel Ferrer num avião no ar. Muito bem feito. Quase não há efeitos digitais – apenas uma cena, que eu consegui identificar – e muitos, muitos efeitos práticos, principalmente de maquiagem. A ambientação no jornal é convincente, parece mesmo que aqueles personagens são jornalistas, e que aquele tabloide existe – talvez, pudesse ser encontrado até nas nossas bancas, vai saber. A direção de arte fez um ótimo trabalho nesse quesito; a gente quase consegue tocar no jornal, de tão realista que ele é. Sem duvida, um trabalho incrível.

E qual a melhor cena do filme? Sem duvida, a mais assustadora, o clímax no terminal. A cena é construída de maneira brilhante, sem trilha sonora, apenas com som ambiente, com excelentes efeitos de maquiagem, e em preto e branco. Não sei se houve intenção do diretor de filmá-la em cores, mas o fato é que a fotografia em preto e branco, consegue deixa-la muito mais aterrorizante, digna de provocar calafrios e causar pesadelos. E toda vez que eu vejo, eu sinto um leve arrepio, porque é uma cena brilhante, de verdade. Vale muito a pena.

Voo Noturno teve um lançamento limitado nos Estados Unidos, e infelizmente, foi um fracasso de critica e bilheteria. No entanto, hoje em dia, possui status de cult, tanto entre os fãs de filmes de vampiro, quanto entre os fãs da obra de Stephen King.

Enfim, Voo Noturno é um filme excelente. Um dos filmes mais assustadores que já vi. Um excelente filme de vampiros. Uma das melhores adaptações de Stephen King.

Altamente recomendado.






segunda-feira, 17 de junho de 2019

CARNAVAL DE ALMAS (1962). Dir.: Herk Harvey.


NOTA: 10


CARNAVAL DE ALMAS (1962)
Um pequeno Clássico do Terror. Assim pode ser definido CARNAVAL DE ALMAS (1962), um dos filmes mais assustadores que já tive o prazer de assistir. De verdade.

Desde a primeira vez que coloquei o DVD no aparelho e apertei o Play, esse filme me deu enormes calafrios na espinha. E não é para menos. Rodado com um orçamento mínimo, e de forma independente, o filme é um exemplo de que não há necessidade de grandes orçamentos, nem de grandes estúdios, para contar uma boa historia; o que precisa é ter criatividade, e aqui, o diretor Herk Harvey tem de sobra.

Com uma historia até simples, mas que precisa de raciocínio para assistir, o diretor criou um dos filmes mais assustadores de todos os tempos, mas que, infelizmente, boa parte do publico não conhece. O que é uma pena, porque é um filme que vale a pena ser conferido, mais de uma vez, até.

Mas o que o torna um filme tão assustador? Bom, como acabei de mencionar, tem criatividade de sobra; mas, não é só isso. Talvez um dos principais fatores seja a trilha sonora, composta exclusivamente por órgãos, que desde o primeiro momento, é digna de arrepios, seja pela melodia sombria, seja pela melodia alegre de parque de diversões. Outro fator que contribui para o clima de horror é a atmosfera enigmática e de pesadelo; a partir do momento em que a protagonista, Mary, se recupera do acidente que sofreu, fica impossível saber se o que ela está vivendo é real ou não, uma vez que a figura do Homem de Preto que a persegue o filme todo, é vista somente por ela. Na minha opinião, essa atmosfera dá mais um charme ao filme, porque, realmente, é impossível saber se a garota está imaginando tudo aquilo, ou se é algo pior. E, acredite, é pior.

Mesmo com essa clima de suspense psicológico, Carnaval de Almas é um verdadeiro filme de fantasmas, talvez um dos melhores que eu já vi. A concepção das aparições é a melhor possível, de uma simplicidade impar: todos vestem roupas negras e têm o rosto branco como papel, lábios escuros e manchas pretas em volta dos olhos. Não precisa ser mais assustador do que isso; e olha, eles conseguem ser assustadores, principalmente o Homem de Preto, com sua expressão neutra e sorriso diabólico. É sério, ele é o melhor personagem do filme, um daqueles casos em que o personagem dá medo só de olhar pra ele; não há necessidade de diálogos, apenas a expressão é digna de pesadelos! E o mesmo vale para os outros fantasmas.

No entanto, a protagonista não fica atrás. Mesmo sendo uma garota de personalidade forte, às vezes meio insensível, não dá para não simpatizar com ela, seja pelo o que acontece a ela no começo do filme, seja pelos pesadelos que a atormentam ao longo da historia. E não são perrengues simples de se resolver, não. Em certo momento, ela torna-se “invisível” para o mundo, percorrendo as ruas da cidade sem ouvir nada, nem falar com ninguém.

Agora, devo destacar aqui os momentos mais assustadores do filme, que não são poucos, mas, destacarei apenas dois. O primeiro acontece depois que Mary se recupera do primeiro “transe invisível” e vai tomar água num bebedouro próximo, e se assusta com um homem que pela pensa ser o Fantasma. Num filme qualquer, seria mais uma cena simples, mas aqui não é nada disso. A cena toda é construída de maneira brilhante, sem trilha sonora, somente com os sons do ambiente; e toda vez que eu vejo o filme, eu repito a cena pelo menos duas vezes, porque é muito bem feita – é a minha cena favorita. Outra, é quando ela embarca num delírio dentro da igreja, enquanto toca o órgão: ela se vê dentro do parque abandonado, onde os fantasmas estão dançando em uma espécie de Baile da Morte. Assim como a cena descrita anteriormente, essa também é muito bem feita, e consegue, facilmente, provocar arrepios – parte disso graças à trilha sonora fúnebre.

Como mencionado acima, Carnaval de Almas é uma produção independente de baixo orçamento. Segundo o diretor Harvey, a ideia surgiu após ele deparar-se com um pavilhão abandonado em Salt Lake City. Após essa experiência, ele pediu a um amigo que escrevesse um roteiro para um filme, sendo que ele descreveu apenas a ultima cena. O roteiro foi escrito em três semanas. Harvey alugou o pavilhão por cerca de US$ 50, além de outras cenas. Foi uma produção marcada pela chamada “Guerrilla filmmaking”, que é a maneira como é conhecida a produção de produções independentes de baixo orçamento.

No entanto, a produção feita na garra, não impediu a baixa distribuição do filme, o que contribuiu para sua baixa atenção. Atualmente, o filme possui uma certa aura cult, sendo exibido nas noites de Halloween, além de influenciar cineastas como George A. Romero e David Lynch.

Para finalizar, Carnaval de Almas é foi o único filme de Harvey na direção, e sua protagonista, a atriz Candace Hilligoss, fez apenas mais dois filmes, antes de se aposentar, em 2001.

Por muitos anos, permaneceu raro no Brasil, até ser lançado em DVD na coleção Obras-Primas do Terror 3, da Versátil Home Vídeo.

Enfim, Carnaval de Almas é um filme excelente. Uma historia simples, mas que consegue assustar sem fazer esforço. Um dos filmes mais assustadores que eu já vi. Uma brilhante historia de fantasmas.

Altamente recomendado.





Créditos: Versátil Home Vídeo


domingo, 16 de junho de 2019

sexta-feira, 7 de junho de 2019

CHRISTINE, O CARRO ASSASSINO (1983). Dir.: John Carpenter.


NOTA: 9.5


CHRISTINE, O CARRO ASSASSINO (1983)
O encontro entre Stephen King e John Carpenter. Assim pode ser definido CHRISTINE, O CARRO ASSASSINO (1983), oitavo filme dirigido por Carpenter, baseado no livro de King, lançado naquele mesmo ano.

Posso dizer, com toda certeza, que é uma das melhores adaptações de Stephen King, e, também, um dos melhores filmes de John Carpenter. Tudo começou quando o próprio Stephen King enviou para Richard Kobritz – que havia produzido Os Vampiros de Salem (1979), baseado no livro Salem, do mesmo autor – o manuscrito de Christine, provavelmente com a intenção de transformá-lo em filme. Kobritz adorou o texto e entrou em contato com a Polar Film, e informou que tinha intenção de adaptá-lo, com John Carpenter na direção. O resultado foi um filme excelente.

Desde o primeiro momento, Christine mostra-se um filme de suspense bem construído, e essa atmosfera não vai mudando conforme a fita avança. Carpenter deu um ar nostálgico ao filme, o que, na minha opinião, faz dele ainda mais atraente. A cena no colégio é uma das melhores, e toda vez que assisto, tenho uma sensação de nostalgia, como se já estivesse naquele lugar antes – sensação essa que gosto muito, e que não existe nos filmes de hoje.

O momento seguinte, quando Arnie encontra Christine na casa de George LeBay – no livro, é seu irmão, Roland, quem vende o carro para o garoto – também é muito bom, principalmente por causa da fotografia, em tons laranja, que passam a impressão de sujeira e fim de tarde; as atuações também merecem destaque, em especial, Keith Gordon e Roberts Blossom, nos papéis de Arnie e LeBay, respectivamente. Gordon literalmente transformou-se em Arnie, com o ar de aluno nerd e perdedor presente no livro; já Blossom passa um ar ameaçador com seu personagem, o que contribui para o clima de mistério e suspense.

O restante da narrativa transcorre com o clima de suspense enchendo a tela, principalmente nas cenas envolvendo a personagem-título, já completamente restaurada por Arnie. Christine brilha no filme todo, com sua tintura vermelha, que pulsa na tela e enche os olhos, chegando a ofuscar o elenco.

Aliás, assim como no livro, aqui, Christine passa a sensação de ser realmente um objeto inanimado que possui vida própria: é uma garota ciumenta, possessiva e vingativa, que não mede esforços, nem consequências, para ter o amor de Arnie e afastá-lo de sua família, seu melhor amigo, Dennis, e seus desafetos. As cenas em que ela se vinga dos valentões do colégio – e outros desafetos – são as melhores e mais assustadores, principalmente a primeira, quando o personagem Moochie Welch é perseguido por ela pelas ruas escuras da cidade até encontrar seu destino – mostrado de forma diferente no livro. O mesmo refere-se à sequencia em que Buddy Repperton e seus amigos são mortos por ela. Carpenter faz tudo de uma maneira sutil, aos poucos, até chegar à tão esperada conclusão. Aliás, a cena no posto de gasolina é pura de um filme de Carpenter: após Christine sair atrás de Buddy, envolta em chamas, o local explode diversas vezes, com as chamas e a fumaça subindo aos céus em bolas gigantescas.

E falando nos efeitos especiais, eles também não ficam atrás. Para as cenas em que Christine persegue os desafetos de Arnie pelas ruas, Carpenter utilizou um modelo com os vidros escuros, para dar a impressão de que ela está de fato, viva. Afirmo, com toda certeza, que esse truque funciona, e muito bem, e foi muito melhor do que se eles mostrassem um carro andando sozinho, controlado por controle remoto ou algo assim – ou talvez, porque não havia outro jeito de realizar tais cenas; o que importa é que não parece falso de jeito nenhum.

Como em todos os seus filmes, Carpenter foi o responsável também pela trilha sonora, aqui em parceria com Alan Howarth, seu colega desde Halloween II (1981). Contando basicamente com um piano, os dois criaram uma das melhores trilhas sonoras de um filme do diretor, que casou perfeitamente com o clima do filme. Anos depois, Howarth ficaria responsável pelas composições das continuações de Halloween. Recentemente, Carpenter apresentou a trilha do filme para seu especial Carpenter Anthology, que, como o nome revela, é uma coleção dos temas dos filmes do diretor, compostas por ele mesmo. A trilha sonora de Christine é uma das melhores dos filmes de Carpenter, ao lado do tema de O Enigma do Outro Mundo (1982), composta por Ennio Morricone, e o tema de Halloween (1978) e À Beira da Loucura (1994).

Sinceramente, não consigo ver ninguém melhor para dirigir o filme do que John Carpenter. O filme tem a cara do diretor, seja pela atmosfera ou pelos outros aspectos já comentados. Carpenter recebeu a proposta para dirigi-lo após o fracasso de O Enigma de Outro Mundo, lançado no ano anterior. Segundo o próprio, a Universal Pictures fez um acordo com ele: além desse, o diretor também ficaria responsável pela adaptação de A Incendiária, outro livro de Stephen King. Infelizmente, com o fracasso de O Enigma, a Universal retirou a proposta, o que entristeceu o cineasta e o deixou sem trabalhar por um bom tempo. Felizmente, o roteiro de Christine “caiu do céu”, como ele mesmo diz, e Carpenter aceitou dirigir o filme. O livro A Incendiária foi adaptado para os cinemas em 1984, com Drew Barrymore como protagonista e Mark Lester na direção. Os fãs de Stephen King dizem que não é um dos melhores filmes baseados na obra do autor, que concorda com a opinião deles. Talvez, se Carpenter tivesse dirigido, o resultado seria diferente... Nunca saberemos.

Como todas as adaptações literárias, o filme apresenta diferenças em relação ao livro, mas, devo dizer que não importa. Uma delas é o fato de a historia do filme se passar na Califórnia, quando no livro, a trama acontece na Pensilvânia. No livro, o fantasma de Roland LeBay é uma presença constante, e talvez, o principal motivo pelo qual Christine é má. Aqui, a maldade vem “de nascença”, em um prólogo ambientado em uma fábrica de carros. Segundo a biografia de King, lançada pela DarkSide, quando os produtores perguntaram ao autor sobre a origem do Mal em Christine, ele mesmo não soube responder, e deu a eles carta branca. Quando viu o filme, em dezembro de 1983, King ficou satisfeito com o resultado.

Ainda sobre a trilha sonora, o filme é repleto de canções dos anos 50, cada uma, conforme descobri assistindo ao filme várias vezes, tocada conforme a situação especifica. Por exemplo, quando Arnie e Christine estão sozinhos na oficina de Darnell, o rádio toca Pledging My Love, de Johnny Ace; ou então, após uma discussão com Leigh, Christine provoca uma distração, obrigando seu dono a sair, deixando a namorada sozinha. Nesse momento, o radio toca We Belong Together, de Robert e Johnny, enquanto Leigh sufoca com um hambúrguer, uma clara alusão de que Christine deixa bem claro que ela e Arnie pertencem um ao outro, e assim por diante. No entanto, a trilha de Carpenter e Howarth também possui um significado, em especial na cena em que Repperton e seus capangas destroem Christine na oficina de Darnell. O tema dessa cena chama-se The Rape, e, sinceramente, passa essa impressão mesmo, não apenas pela musica, mas pela construção de cena: parece que, de fato, Christine está sendo estuprada.

A produção do filme levou cerca de três semanas, e os realizadores contaram com cerca de 25 modelos de Plymouth Fury 1958, cada um com uma determinada função. Eles também utilizaram outros modelos de Plymouth, como o Plymouth Belvedere e o próprio Fury, que possui uma estrutura parecida. Atualmente, os modelos já não existem mais. O diretor Carpenter possui um modelo Belvedere vermelho e branco, que ele usa para fazer turnês pelos Estados Unidos. O diretor também fez um vídeo musical em homenagem ao filme, um vídeo bem legal, devo dizer.

Enfim, Christine, O Carro Assassino é um excelente filme de suspense, com clima de nostalgia. Um dos melhores filmes de John Carpenter, e uma das melhores adaptações de Stephen King.

Altamente recomendado.  

CANAL LFH.













Primeiro vídeo do canal já está no ar, sobre o livro Moby Dick, do autor Herman Melville.




Acesse e confira:










sábado, 1 de junho de 2019

A ORGIA DA MORTE (1964). Dir.: Roger Corman


NOTA: 9.5


A ORGIA DA MORTE (1964)
A ORGIA DA MORTE é o sexto filme do bem-sucedido “Ciclo Edgar Allan Poe”, que o diretor Roger Corman realizou em parceria com a American International Pictures. Novamente, contou com Vincent Price no papel principal, em uma de suas melhores atuações, sem a menor dúvida.

Conforme o título original entrega, o filme é baseado no conto A Máscara da Morte Rubra, ou O Baile da Morte Vermelha, um dos textos mais populares de Egdar Allan Poe. Sem dúvida, pode ser considerado um dos melhores filmes do Ciclo, que começou em 1960 com O Solar Maldito, baseado em A Queda da Casa de Usher, e terminou em 1965, com O Túmulo Sinistro, baseado em Ligeia.

Conforme o diretor Corman afirmou, esse é o seu melhor trabalho baseado em Poe, e não é pra menos. O filme é um espetáculo visual, repleto de cores vibrantes – sobretudo o vermelho – , clima gótico autentico e atmosfera de sonho. Tudo funciona muito bem, apesar do orçamento limitado e o tempo de filmagem apertado: cerca de 5 semanas de filmagem e cerca de 300 mil dólares de orçamento. E não faltou criatividade.

Como o texto de Poe em si só acontece no último ato, os roteiristas Charles Beaumont e R. Wright Campbell tiveram que preencher muitas lacunas na narrativa, o que tornou o filme ainda mais rico. Beaumont e Campbell dedicaram boa parte da historia ao seu protagonista, o sádico Príncipe Prospero e também à sua relação com a jovem Francesca, sua prisioneira. Foi possível perceber que, além de sádico, Próspero também mostrou-se de certa forma, fascinado pela moça, uma vez que não a tortura em nenhum momento – pelo menos não fisicamente; pelo contrario, ela tem livre acesso ao castelo, veste-se elegantemente e participa dos jantares promovidos pelo anfitrião. No entanto, mesmo com essa liberdade, Próspero mostra-se onipresente, pois tem planos diabólicos para a menina, como inicia-la em seus rituais de adoração ao Diabo; inclusive, desde o primeiro momento, o personagem deixa isso muito claro: é um adorador do Diabo, e bane, implacavelmente, qualquer forma de adoração a Deus.

Porém, existem outros pontos que merecem destaque. O primeiro deles é a forma como a monarquia é representada. Numa visão pessoal, eu sempre achei que os ricos eram de fato vulgares, desrespeitosos, e cruéis (ao contrario do que diziam dos pobres), e, aqui, é a mais pura verdade. Na primeira cena de festa promovida pelo Príncipe, os nobres surgem rindo, bebendo, gritando e debochando dos camponeses, tudo sem o menor pudor e discrição. Um desses nobres, Alfredo, mostra-se o pior deles. É um personagem perverso, com a maldade impressa no rosto – porém, não menor que a Próspero, vale lembrar – e disposto a tudo, inclusive, a passar a perna em seu amigo. Grande parte disso, deve-se à magnifica interpretação do ator Patrick Magee, que, com certeza, levou esse sadismo e crueldade para o seu personagem no clássico Laranja Mecânica (1971), de Stanley Kubrick. A atriz Jane Asher também merece destaque: sua Francesca é a personificação da bondade e da pureza, sempre mostrando-se fiel a seu pai e seu amado, e pregando amor a Deus, mesmo diante de Próspero. Juliana, interpretada pela atriz Hazel Court, pretendente de Próspero também merece destaque: ao contrario de Francesca, ela é própria imagem da crueldade, submissa, e perversa, disposta até a unir-se ao Diabo para ter Próspero ao seu lado.

Outro ponto é a ambientação. Naquela época, o cinema de horror era mais focado no clima gótico, de fantasia, o que rendeu grandes obras, e aqui, não é diferente. Com suas florestas de arvores mortas, envoltas em nevoa, o castelo de Próspero todo coberto por teias de aranha, o filme é uma das melhores representações do Gótico no cinema de horror. A direção de arte, a cargo de Robert Jones, e o design de produção, a cargo de Daniel Haller, com certeza, contribuíram para a ambientação medieval da trama. Em todos os momentos, é possível acreditar que aqueles personagens vivem naquela época e vestem aquelas roupas. Trabalho excelente, indicado ao BAFTA, o Oscar® do cinema britânico.

E por fim, duas cenas também devem ser mencionadas. A primeira é a cena do corvo, que culmina na morte de um personagem importante da historia. É uma cena belíssima, bem dirigida, onde, mesmo não sendo possível ver o corvo bicando e arranhando, é crível o que está acontecendo; e quando a cena termina, é um verdadeiro espetáculo. E a ultima menção fica a cargo do ultimo ato, que narra o conto de Poe em si. É um deslumbre visual e colorido, uma representação realista de um baile de máscaras, como visto em muitos filmes clássicos de décadas anteriores, principalmente as décadas de 30 e 40. E claro, o desfecho, onde o vermelho predomina toda a tela, em tons vivos que enchem os olhos.

E como todo filme de terror, possui seus momentos arrepiantes. O melhor deles, sem duvida, é quando os espectros da Morte se juntam no bosque envolto em nevoas, após realizaram seus trabalhos nas regiões próximas. Uma cena sem trilha sonora, onde os personagens sussurram o tempo todo, e, envoltos em suas vestes, tornam-se ainda mais assustadores, uma vez que não vemos seus rostos ou seus olhos. Talvez, uma das melhores personificações da Morte já mostradas em um filme.

Porém, o filme tem um pequeno defeito: uma cena em que Juliana tem uma alucinação, antes de seu matrimonio com Satã. Mesmo sendo bem executada, com seus efeitos visuais e lentes distorcidas, é uma cena que, ao meu ver, não precisava estar no filme, porque, sinceramente, parece muito longa e arrastada. Vale lembrar que Corman fez algumas cenas parecidas nos demais filmes do Ciclo.

E claro, não poderia concluir esse texto sem mencionar o astro Vincent Price. Como mencionado acima, o Príncipe Próspero talvez seja um de seus melhores personagens. Desde sua primeira aparição, o Príncipe mostra-se um verdadeiro sádico, com seu olhar cruel e sua expressão diabólica. Ele não mede esforços para realizar seus desejos sádicos, seja torturando seus prisioneiros, seja realizando seus bailes regados a orgia. Sem duvida, um vilão perfeito, como o ator sempre soube interpretar. Price não se mostra caricato ou atua demais, pelo contrário, faz na medida certa. Próspero é a representação do Mal, sem dúvida.

Enfim, com todos esses toques, A Orgia da Morte é um maravilhoso filme de terror. Uma das melhores adaptações de Edgar Allan Poe. Um dos melhores filmes de Roger Corman. Uma das melhores atuações de Vincent Price.

Foi lançado em DVD aqui no Brasil pela Versátil Home Vídeo, no primeiro volume da Coleção Obras-Primas do Terror.

Altamente recomendado.




Créditos: Versátil Home Vídeo



O MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA – O RETORNO (1995). Dir.: Kim Henkel.

  NOTA: 1 Lembram-se do que eu disse no começo da resenha de A Hora do Pesadelo 6 , sobre filmes ruins? Para quem não se lembra, eu disse qu...