sexta-feira, 26 de março de 2021

EVANGELHO DE SANGUE (Clive Barker).

 

NOTA: 8



Não há duvidas que o universo de Hellraiser, criado pelo escritor Clive Barker, é um dos mais ricos do terror. Em Hellraiser, o autor deu uma pequena amostra de como esse universo funciona, apresentando aquele que seria o personagem principal desse universo: o Cenobita Pinhead. Além disso, Barker mostrou que não estava para brincadeira, e criou uma historia banhada em sangue e sexo.

 

EVANGELHO DE SANGUE é mais uma historia do autor ambientada nesse universo, e também serve como uma espécie de prequel dos eventos narrados em Hellraiser. Aqui, o autor apresenta os dois principais elementos do universo de Hellraiser: a caixa de Lemarchand e o próprio Pinhead, descrevendo ambos nos mínimos detalhes, ao contrario do que fizera no livro anterior. Mas não é só isso.

 

Em Evangelho de Sangue, Barker mostra mais uma vez que é um escritor afiado, com uma escrita que penetra na mente do leitor com uma força impressionante. As descrições que ele faz dos cenários é muito bem feita, e não fica difícil para o leitor imaginá-los em sua mente; o mesmo vale para as cenas ambientadas no Inferno, quando Harry e seus amigos vão resgatar Norma. Não sei como foi para os outros leitores, mas eu consegui visualizar aquele Inferno como um lugar de fantasia, com um tom branco ou cinza, ou invés do tradicional vermelho. Barker o descreve quase como uma espécie de jardim morto, com tudo que tem direito. O mesmo vale para os demônios. Eles são descritos como criaturas humanoides, mas sem os chifres e asas de morcego. Sem duvida, uma visão diferente e original.

 

E da mesma forma que fizera no livro anterior, Barker começa a historia com os dois pés no peito, apresentando cenas grotescas de violência e sexo já no prologo. E o restante da historia vai pelo mesmo caminho. Durante toda a leitura, o leitor não é poupado de cenas dignas de pesadelos, com toques grotescos de violência, e principalmente, sexo. Isso mesmo. Barker mistura sangue e sexo em todos os momentos, de uma forma assustadoramente natural, e cada vez que isso acontece, é chocante, e o autor não mostra pudor nenhum, principalmente quando descreve o que as criaturas estão fazendo com seus “membros” – para usar um termo “leve”. É praticamente um terror pornográfico.

 

E falando em terror, novamente, esqueça os torture porn da vida: as cenas de horror descritas por Barker são dignas de pesadelo, com o sangue escorrendo aos montes; claro, não chegam aos pés do livro anterior, mas conseguem ser quase tão grotescas quanto – não há outra palavra para descrever. Com certeza, não é tipo de leitura recomendada para leitores de coração fraco.

 

Os personagens humanos são muito bons e quase parecem pessoas reais, com a diferença que todos têm ligação com o sobrenatural, principalmente o protagonista, o detetive Harry D’Amour. Desde que ele surgiu na historia, eu o visualizei como um detetive particular de filme noir, com o casaco e o chapéu. Aliás, as cenas de investigação do personagem quase parecem com cenas de um filme noir, daqueles clássicos, estrelados por Humphery Bogart. Os outros personagens também são bem descritos, cada um com sua característica própria.

 

No entanto, apesar de contar uma historia muito boa, Barker cometeu alguns erros. O primeiro deles acontece no prologo, quando ele apresenta um demônio-fêmea que nasceu em uma cena grotesca. Eu achei que aquela personagem seria relevante para a historia, mas ela simplesmente desaparece. Eu pelo menos não consegui reencontrá-la. Outro ponto negativo acontece no Inferno, quando Pinhead comete um ato de violência contra Norma, ato esse que não faz parte de seu repertorio. E eu também achei a historia de Lúcifer incompleta.

 

Aliás, esse é outro ponto. Barker criou um universo tão original para os Cenobitas, com um deus próprio, o Leviatã e também o Engenheiro, e aqui, ele apresenta justamente Lúcifer como líder do Inferno. Apesar de descrever uma batalha épica entre ele e Pinhead, eu achei que o autor poderia ter utilizado outra criatura para comandar o Inferno, até porque, como eu disse, a descrição do Inferno não combina com a imagem clássica que temos dele.

 

No entanto, devo dizer que o autor criou, sem duvida, uma batalha épica. Ele mostra que Pinhead está disposto a tudo para tomar o poder e não tem medo de derrubar Lúcifer, mesmo que para isso, tenha que derrubar o próprio Inferno. Toda essa sequencia da luta entre eles é espetacular, com direito a armadura e sangue, muito sangue. E quando Lúcifer ressurge, a atmosfera épica continua. E no final, temos quase um Pinhead arrependido do que fez. Muito bom.

 

E aqui também temos a Caixa de Lemarchand, que abre o portal para o Inferno dos Cenobitas. Como mencionado acima, quando Barker a introduz, faz questão de descrevê-la nos mínimos detalhes, descrevendo até a musiquinha que ela produz ao ser aberta. Por um momento, eu até havia me esquecido dela, mas quando ela retorna, é uma surpresa. E ainda falando do universo de Hellraiser, aqui temos também as clássicas correntes com ganchos; e elas fazem um estrago. Sério.

 

Bem, seja como for, o fato é que Evangelho de Sangue é um livro muito bom; não chega aos pés de Hellraiser, mas, se me perguntassem se merecia uma adaptação para o cinema, eu diria que sim, dependendo de quem assumisse as rédeas.

 

Enfim, Evangelho de Sangue é um livro muito bom. Uma historia épica de terror com toques grotescos de sangue e sexo. A escrita de Clive Barker prende o leitor com suas cenas dignas de pesadelo. Uma viagem literal ao Inferno, onde poucos saem com vida. O reencontro com Pinhead, o principal personagem do universo de Hellraiser. Um livro sangrento e arrepiante. Recomendado.



 

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quarta-feira, 24 de março de 2021

AS NOIVAS DO VAMPIRO (1960). Dir.: Terence Fisher.

 

NOTA: 9



Entre 1957 e 1974, a Hammer Films produziu uma serie de filmes protagonizados pelo Conde Drácula, criado pelo escritor Bram Stoker. Ao todo, foram nove filmes, sete deles estrelados pelo grande Christopher Lee, no papel que o consagrou como astro do horror. Somente dois filmes não contaram com o astro no elenco. AS NOIVAS DO VAMPIRO (1960) é um deles.

 

Dirigido por Terence Fisher, em seu penúltimo filme no universo do Conde Drácula para o estúdio, este é um dos melhores e um dos meus favoritos, talvez o meu segundo favorito da série, depois do terceiro filme, Drácula, o Príncipe das Trevas (1966), que é sem duvida, o melhor da série, melhor até que o primeiro filme, O Vampiro da Noite (1958).

 

Mas o filme em questão desse texto é o segundo longa da série, o primeiro que, apesar de ter Drácula no título, não contou com Christopher Lee no elenco, e o vampiro não é o Conde Drácula. Talvez a única relação com o personagem seja o Dr. Van Helsing, novamente interpretado por Peter Cushing.

 

Bom, mas vamos lá. Eu gosto muito desse filme. É um filme belíssimo, cheio de cores, com ótimas atuações e cenas arrepiantes dignas de nota. Com certeza o principal fator seja a direção de Terence Fisher, considerado um dos melhores diretores do estúdio. O diretor faz um ótimo trabalho na direção, e também se mostra um ótimo diretor de atores, e as atuações não comprometem o resultado. Todos os atores estão muito bem nos papeis, principalmente Cushing, que mais uma vez prova que é o Van Helsing definitivo do cinema. O ator convence sem esforço, até mesmo quando exagera na atuação, nas cenas de luta com os vampiros. E quem também não erra é o ator David Peel, no papel do vilão. Claro, não chega aos pés de Christopher Lee, mas consegue criar um vampiro assustador. Yvonne Monlaur também não decepciona, embora em alguns momentos sua atuação deixe um pouco a desejar. Outros personagens como o padre do vilarejo, o casal dono da escola feminina, a criada da baronesa e um médico viciado em comprimidos, completam o elenco de personagens, e cada um também convence muito bem, com destaque para o médico, que serve como alivio cômico, apesar de sua pequena participação.

 

Como todos os filmes da série, este aqui aposta na atmosfera gótica, e, sem duvida, não peca nesse quesito. O castelo da Baronesa é um templo gótico, assim como o cemitério do vilarejo, com suas cruzes inclinadas; além de um velho moinho de vento. Mais um exemplo do quão competente era a direção de arte, principalmente nesses primeiros filmes da série; o tipo de filme que faz qualquer fã do terror gótico se apaixonar. Aliás, o confronto no moinho é outro ponto positivo, porque foge um pouco da questão do confronto no castelo do vampiro.

 

Além disso, o filme tem uma trilha sonora muito boa, que vai de um toque lúgubre a um toque que beira ao trágico, muito diferente da trilha sonora pesada dos outros filmes da série. Mais um ponto positivo.


E claro, não posso deixar de mencionar os vampiros. A Hammer foi um dos estúdios que mais soube trabalhar com os vampiros, e suas criaturas beiram à perfeição; e aqui não é diferente. Temos os vampiros clássicos, com a pele branca como papel e os caninos afiados. O Barão possui uma ótima caracterização, com seu ar de Conde Drácula, com sua capa e seus olhos vermelhos; no entanto, quem tem a melhor caracterização são as duas vampiras. Seu visual é clássico, com as camisolas brancas, que dão um excelente contraste com sua pele branca e os caninos afiados. O tipo de visual que eu gosto muito. A melhor cena, e também a minha favorita, é quando a primeira ressuscita de seu tumulo, sob o olhar aterrorizado do Dr. Van Helsing. Uma cena muito bem feita que consegue arrepiar sem esforço. A ressurreição da segunda vampira também é muito boa, mas a cena anterior é bem melhor.



Antes de encerrar, quero salientar dois pontos. O primeiro é além de ser um filme de vampiro, esse filme também parece ser uma historia de amor, porque parece que Van Helsing se apaixona por Marianne quando a conhece, pelo menos essa foi a minha impressão. Outro ponto na verdade é uma pequena falha no roteiro: no começo do filme, surge um homem misterioso vestido de preto, que causa pânico nos camponeses. Porem, esse personagem desaparece rapidamente e nunca mais surge na historia. Infelizmente, é um ponto negativo para o filme.

 

E por fim, devo dizer que a temática da superstição é bem abordada aqui. Os camponeses têm muito medo dos vampiros, e deixam isso bem claro quando o nome do Barão é mencionado; ou então, na cena do funeral, quando o corpo da garota que viria a ser a primeira vampira, é coberto por folhas de alho. É o tipo de coisa que eu gosto em filmes de terror, essa questão da superstição local, onde os habitantes temem as criaturas. É muito legal.

 

O diretor Tim Burton sempre se declarou como fã dos filmes da Hammer, e prestou uma homenagem à cena final deste filme em A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça (1999); uma homenagem respeitosa, como um verdadeiro cineasta sabe fazer.

 

As Noivas do Vampiro foi lançado em DVD por aqui num Box da distribuidora Dark Side com todos os filmes do Drácula da Hammer Films, Drácula – The Ultimate Hammer Collection. Foi lançado em DVD também em uma edição individual da NBO, mas deve estar fora de catálogo.

 

Enfim, As Noivas do Vampiro é um dos melhores filmes da Hammer. Um filme arrepiante, colorido, com cores pulsantes, com ótima direção de arte e trilha sonora digna de nota. Uma historia arrepiante de vampiros do jeito que o estúdio sabia fazer, com toques de horror gótico que enchem os olhos. Um dos melhores filmes da série do Conde Drácula criada pelo estúdio. Altamente recomendado. 




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sábado, 20 de março de 2021

PUMPKINHEAD - A VINGANÇA DO DIABO (1988). Dir.: Stan Winston.

 

NOTA: 9



Stan Winston foi um dos grandes mestres dos efeitos especiais do cinema. Desde os anos 80, ele foi o responsável pelas maiores criaturas do cinema de fantasia. Seus trabalhos incluem o androide do Exterminador do Futuro (1984), os dinossauros de Jurassic Park (1993), o Pinguim de Batman, o Retorno (1992) e Edward Mãos-de-Tesoura (1990), entre outros. Todas essas criaturas foram criadas dentro de seu estúdio, com o auxilio de grandes profissionais.

 

Além de ser o responsável por essas e outras criaturas fantásticas, Winston também foi o diretor de um dos melhores filmes de terror dos anos 80, mas que infelizmente, não é tão conhecido assim: PUMPKINHEAD - A VINGANÇA DO DIABO, lançado em 1988.

 

Devo dizer o seguinte sobre esse filme: é, sem duvida, um dos melhores filmes do gênero, que contou com uma direção segura do mestre e claro, efeitos especiais de ponta, que deram vida a um monstro espetacular e assustador.

 

O filme é excelente. Ao contrario dos demais exemplares que surgiram na mesma década, esse é um filme de terror sério, sem nenhum espaço para alivio cômico, e com uma atmosfera de tragédia, pesadelo e conto de fadas. Sim, conto de fadas. Por quê? Porque o tempo todo parece que estamos assistindo a uma fábula, com uma criatura assustadora e uma moral no final, além do clima sombrio e assustador dos contos de fadas de antigamente, como eram contados realmente.

 

Além disso, outra coisa que torna o filme digno de nota é a sua concepção. O roteiro foi inspirado num poema de Ed Justin e numa lenda do folclore americano – que se é real ou não, não sei – e o tempo todo essa questão dessa criatura mitológica é mostrada na tela, principalmente levando em conta a ambientação interiorana americana, com as pessoas pobres, sujas, que moram em casas simples. Tudo é mostrado de forma convincente, o que aumenta ainda mais o grau de realismo. E a lenda do Cabeça de Abóbora aumenta ainda mais essa sensação, uma vez que o filme mostra que a criatura é vista como maldita pela região, e seus habitantes não querem nem ajudar quem está a sua mercê. Ou seja, é o tipo de lenda que circula com força pela região e assusta as pessoas há gerações.

 

Outro ponto positivo é a direção. Anteriormente, Winston vinha de direção de segunda equipe em O Exterminador do Futuro, mas aqui, ele estreou de fato no comando de um longa com o pé direito. Winston faz um excelente trabalho, e sua direção é segura e até madura, e ele se mostra um grande diretor de atores, uma vez que o elenco entrega atuações convincentes, fazendo a gente acreditar que aquelas pessoas são reais. E a caracterização deles também é muito boa, com destaque para o personagem Ed Harley, interpretado por Lance Henriksen, com seu ar de ingenuidade de homem do campo. Um trabalho de gênio. Além disso, a direção de fotografia também é um ponto positivo. Basicamente, o filme possui três cores, o laranja, o vermelho e o azul. O laranja é usado para as sequencias diurnas; o vermelho para as cenas a luz de velas e na casa da bruxa; e o azul para a noite. E as cores pulsam na tela de forma brilhante, principalmente o vermelho e o azul. É quase um filme do Maestro Mario Bava, quase porque ninguém é capaz de refazer o que ele fazia, que fique claro.


A direção de arte e o design também não ficam para trás. Como é um filme ambientado no interior dos Estados Unidos, a gente talvez espera encontrar pequenas comunidades, de casas simples, com animais perambulando. Pois é exatamente isso que é mostrado aqui, sem pudor. Toda a simplicidade, a falta de recursos e a sujeira são mostrados com detalhes impressionantes que beiram ao realismo. A paisagem é abandonada, com aspecto gótico e assombrado; o tipo de paisagem que mete medo em qualquer um. Um dos destaques vai para a casa da bruxa; toda decorada com animais mortos, ossos e crânios e uma lareira que lança labaredas amarelas. Ou seja, a casa de bruxa clássica dos contos de fadas. O cemitério de aboboras também merece menção. Um lugar cheio de nevoa, com arvores podres e aboboras velhas. Um lugar assustador. E tem também uma pequena igreja gótica em ruínas, muito bem feita também.



E por fim, não posso deixar de mencionar os efeitos especiais, criados pelo estúdio de Winston. O Cabeça de Abobora é uma das melhores e mais assustadoras criaturas do cinema de horror: alto, esquelético, de pernas e braços longos, garras afiadas e uma cabeça em formato de abobora. Uma criatura digna de pesadelos. O monstro foi interpretado por Tom Woodruff Jr., que passou o filme inteiro dentro de uma fantasia de borracha. Pois bem, aí que está a magia. Os efeitos são tão bons que a gente esquece que aquilo é um homem numa fantasia; parece de fato um monstro de verdade. Tudo criado com efeitos práticos, que não ficam datados e fazem muita falta hoje em dia. O filme também tem boas cenas de gore, com destaque para a cena da janela; um banho de sangue. Mas quem ganha destaque mesmo é o monstro, e suas cenas são arrepiantes. O filme faz questão de escondê-lo até o ultimo instante, mostrando apenas detalhes de suas mãos e garras. E quando ele finalmente aparece, a espera é compensada. 

 

Uma ultima coisa que vale comentar é a relação entre Harley e seu filho Billy. Desde que eles aparecem, fica claro que os dois são sozinhos e mundo e dependem um do outro para sobreviver. Harley é um pai amoroso, que cuida do filho com carinho e demonstra seu amor o tempo todo. As cenas em que ambos aparecem juntos são dignas de lagrimas nos olhos, de tão bonitas. E quando a tragédia acontece, nós ficamos com pena do pai. E a cena da tragédia é toda construída de maneira brilhante, com cortes para o pai e o filho e para os jovens na motocicleta. Qualquer um que assiste é capaz de adivinhar o que vai acontecer, sem esforço.

 

Pumpkinhead foi lançado primeiramente em 1988 de maneira limitada. O que aconteceu foi que a produtora, a De Laurentiis Entertainment Group, enfrentou problemas financeiros e acabou indo à falência. Em seguida, foi lançado novamente em Janeiro de 1989 pela MGM, mas não obteve bons resultados de bilheteria. No entanto, com o passar dos anos, acabou adquirindo status de cult entre os fãs do gênero. Recebeu quatro continuações, uma direto para o vídeo, e duas para a TV, uma delas com Doug Bradley no elenco. Dessas continuações, somente a primeira, Pumpkinhead II - O Retorno (1994), vale a pena.


Stan Winston faleceu em 15/jun/2008. Até hoje, é reconhecido como um dos maiores criadores de efeitos especiais, e suas criações são reverenciadas por vários cinéfilos e cineastas. 


Foi lançado em VHS no Brasil com o título de A Vingança do Diabo, mas também é conhecido por aqui como Sangue Demoníaco. Após anos fora de catalogo, foi lançado aqui em DVD pela 1Films Entretenimento, em edição especial em DVD duplo, com um disco cheio de extras.

 

Enfim, Pumpkinhead, A Vingança do Diabo é um filme excelente. Uma historia de horror com elementos de fantasia e conto de fadas, que consegue assustar sem o menor esforço. A direção segura e madura de Stan Winston, combinados com uma fotografia colorida e efeitos especiais de ponta, fazem deste um dos melhores filmes de terror dos anos 80. O Cabeça de Abóbora é uma das melhores e mais assustadoras criaturas do cinema de horror. Um filme assustador. Altamente recomendado.



Créditos: 1Films Entretenimento.



EXTRA:

O poema de Ed Justin, que serviu que serviu inspiração para o filme:

“Keep away from Pumpkinhead,
Unless you’re tired of living,
His enemies are mostly dead,
He’s mean and unforgiving,
Laugh at him and you’re undone,
But in some dreadful fashion,
Vengeance, he considers fun,
And plans it with a passion,
Time will not erase or blot,
A plot that he has brewing,
It’s when you think that he’s forgot,
He’ll conjure your undoing,
Bolted doors and windows barred,
Guard dogs prowling in the yard,
Won’t protect you in your bed,
Nothing will, from Pumpkinhead!”

Agradecimentos: https://www.horrorgeeklife.com/2017/03/02/pumpkinhead-poem/

 

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sábado, 6 de março de 2021

FITZCARRALDO (1982). Dir.: Werner Herzog.

 

NOTA: 10



Primeiramente, vou deixar uma coisa clara: resenhas de filmes de outros gêneros são bem-vindas neste site, apesar de seu nome. E hoje, vou dar um exemplo disso.

 

Não é novidade que grandes diretores gostam de firmar parcerias com grandes atores, justamente pela afinidade que ambos desenvolveram nas produções em que trabalharam juntos. Existem muitos casos no cinema, e a relação entre o diretor Werner Herzog e o ator Klaus Kinski é uma delas. Dessa parceria, surgiram cinco filmes, todos considerados grandes obras por críticos e cinéfilos do mundo todo. FITZCARRALDO (1982) é um desses filmes, e sem duvida, o melhor filme que ambos fizeram juntos, ao lado de Nosferatu, o Vampiro da Noite (1979), reimaginação do Clássico de F.W. Murnau.

 

Bom, dois motivos me levaram a querer ver esse filme: o primeiro foi a informação presente na contracapa do livreto lançado pela Versátil em parceria com a Folha de São Paulo, que diz que foi uma das produções mais conturbadas de todos os tempos, e que a cena do barco foi realizada sem nenhum efeito especial; o outro foi um daqueles anúncios que aparecem no YouTube, no caso o de uma faculdade, ou curso, de cinema, onde aparecem cenas de grandes filmes; e um deles em questão mostrava o ator Klaus Kinski num barco com um gramofone diante de uma floresta. Eu já havia visto esse anuncio varias vezes, e sempre me encantava com ele. Bom, por fim, resolvi colocar o filme para rodar.

 

E que experiência. Fitzcarraldo é um dos melhores filmes que já vi na minha vida, mesmo tendo visto somente uma vez. Um filme belíssimo, maravilhosamente rodado, com cenários deslumbrantes, fotografia inspirada e um elenco afiado.

 

Mesmo tendo visto somente um – até então – filme do diretor Herzog, no caso, Nosferatu, eu já tinha certo conhecimento de sua reputação como cineasta, principalmente por conta de seu desejo de realizar filmes grandiosos, onde ele tornou-se conhecido por levar seu elenco às últimas consequências; e, bom, aqui temos um exemplo. Mais detalhes sobre isso mais adiante.

 

Mesmo sendo uma produção alemã, o filme com certeza foi todo rodado na América do Sul, provavelmente no Peru, e o diretor fez um excelente trabalho com o que dispunha. As tomadas que o diretor faz da selva amazônica são de tirar o folego. A câmera de Herzog passeia pelas árvores com naturalidade impressionante, criando tomadas panorâmicas impressionantes, dignas de tirar foto e emoldurar, e também, dignas de estudo. Herzog faz uso de muita câmera alta, para mostrar a imensidão da floresta amazônica, além de mostrar a cidade peruana com os mesmos toques de mestre. Nessas sequências, o diretor faz uso da câmera normal, com os planos mais simples, mas não menos grandiosos. O verdadeiro esplendor fica para as sequências que se passam de fato na floresta. E existem muitas delas, mesmo antes do grande ato. Herzog leva seu elenco para o interior da floresta, e mostra tudo sem o menor pudor.

 

As sequencias na cidade peruana também são impressionantes. Como eu disse, Herzog não faz tanto uso de câmeras altas, mas o que ele mostra, enche os olhos. É possível ver sua habilidade em capturar imagens belíssimas, do tipo que dá vontade de fotografar e emoldurar na parede. Não sei exatamente onde Herzog filmou as sequências na cidade peruana, mas o que ele mostra é digno de nota e traz uma sensação agradável, de nostalgia, mesmo para quem não viveu naquela época.

 

No entanto, o verdadeiro espetáculo fica para as cenas no interior da selva e dentro do navio. Conforme mencionado, Herzog não poupava seu elenco e equipe de passar por perrengues, e aqui não fica longe. Ele levou todos para o interior da selva, o que deve ter obrigado a todos a enfrentar as dificuldades de se filmar em um local como aquele. Esse foi um dos inúmeros problemas que a produção enfrentou, sendo talvez o maior deles, trabalhar com três modelos em escala real do navio. A famosa sequência em que ele é arrastado para o outro lado do rio foi rodada sem nenhum efeito especial, e, assistindo ao filme, é possível perceber isso. Realmente é uma sequência de tirar o folego, onde todos os envolvidos devem ter sofrido muito para chegar ao resultado que Herzog queria. Além da famosa sequencia, as cenas dentro do barco também não ficam atrás. As tomadas que Herzog exibe são lindas, e seus ângulos de câmera também são dignos de nota. Tudo isso acompanhado pela voz de Enrico Caruso.

 

Como mencionado, o filme enfrentou sérios problemas de produção. O primeiro ocorreu quando o diretor teve que remover todos da locação em razão de uma guerra. Depois, o antigo ator principal enfrentou problemas de saúde e teve de abandonar as filmagens; o musico Mick Jagger, que tinha um papel no filme, também abandonou o projeto, em razão de uma turnê de sua banda – os Rolling Stones – o que obrigou Herzog a cortar seu personagem do filme; além disso, o diretor foi acusado de exploração dos figurantes indígenas, que sofreram ferimentos e também morreram durante as filmagens; e também ocorreram duas pequenas quedas de avião, o que resultou em ferimentos e uma causa de paralisia, e por fim, um membro da equipe foi picado por uma cobra venenosa, o que o levou a decepar o próprio pé a fim de salvar sua vida. E claro, ocorreram diversas discussões entre Herzog e Kinski durante as filmagens, o que tornou-se comum entre eles durante sua parceria.

 

Outra coisa que merece menção, é o fato de Herzog não ter pudor em mostrar a realidade da selva, principalmente dos indígenas. Estou falando de índios sem dentes, velhos, falando seu idioma natural... Tudo no mais profundo realismo. Além disso, o elenco também não foi poupado. Durante toda a sequencia do barco, os atores se sujaram de barro e lama, principalmente Kinski, o que deve ter tornado a experiência ainda mais real e mais conturbada.

 

O filme teve locações em Manaus, no Brasil, e no Peru, principalmente em Pongo de Mainique, o istmo entre os rios Urubamba e Camisea, 36 milhas à oeste de um lugar real, o istmo de Fitzcarrald.

 

Foi lançado em DVD no Brasil pela Versátil Home Vídeo em edição individual e também na coleção Cine Europeu, parceria da distribuidora com a Folha de São Paulo. Atualmente, deve estar fora de catalogo.

 

Enfim, Fitzcarraldo é um filme excelente. Uma historia épica de aventura, filmada de maneira brilhante, com tomadas e ângulos de câmera de tirar o fôlego. Um filme que mostra até onde o ser humano pode ir para realizar seus sonhos, mesmo que signifique ultrapassar os próprios limites. A parceira entre o ator Klaus Kinski e o diretor Werner Herzog rende grandes momentos e cenas memoráveis, principalmente a sequência do barco. Um dos grandes filmes do cinema europeu. Maravilhoso. 


Créditos: Versátil Home Vídeo


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O MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA – O RETORNO (1995). Dir.: Kim Henkel.

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