terça-feira, 14 de novembro de 2023

FRANKENSTEIN (Mary Shelley).

 

NOTA: 9



Desde sua publicação, no século XIX, Frankenstein, de Mary Shelley, tornou-se um clássico da literatura e um dos maiores expoentes da literatura de horror e ficção cientifica. E como todo sucesso literário, ganhou diversas adaptações para diversas mídias, principalmente para o cinema.

 

Mas hoje não vou falar sobre as adaptações, e sim, sobre o livro que deu origem a todas elas: FRANKENSTEIN, também conhecido pelo subtítulo O Prometeu Moderno.

 

De inicio, vou logo avisando. Se você espera encontrar algo semelhante ao que a Universal fez em 1931, com o Clássico de James Whale, esqueça, porque aqui temos algo completamente diferente, no que se refere à criação do Monstro, mas vamos por partes.

 

Primeiro, devo dizer que este é um livro escrito em primeira pessoa, nesse caso, pelo próprio Victor Frankenstein, que decide contar sua história a um homem que conheceu em um navio.

 

Primeiramente, Frankenstein nos conta como foi sua vida em Genebra, desde seu nascimento até a entrada para a Universidade. Tanto a autora como o personagem contam tudo nos mínimos detalhes, não deixando escapar os pontos principais, entre eles, como Victor conheceu sua prima Elizabeth e seu amigo Henry.

 

Em seguida, somos apresentados à vida universitária do protagonista, quando ingressou na Universidade de Ingolstadt, uma das mais prestigiadas da Alemanha, onde conhece dois professores, e fica amigo de um deles, do Professor Waldman. E justamente nessa parte, temos o relato do narrador a respeito de suas pesquisas a respeito da vida e da morte, e o momento em que resolve dar vida à sua maior criação.

 

Esse trecho em particular é narrado em um único parágrafo, onde a autora nos conta como o personagem deu vida à sua criação, mesmo que seja de maneira realmente vaga. Como eu disse no início, não espere encontrar um laboratório com aparelhos movidos a raios e tempestades, porque o que a autora faz é um mistério, mesmo. Ela descreve como a criatura ganha vida, todo o processo até os primeiros movimentos da mesma, mas não diz em momento nenhum como ele fez isso.

 

Nos próximos capítulos, a autora nos conta como Frankenstein sobreviveu à criação de seu monstro, logo após abandoná-lo. Ela descreve as dificuldades e os problemas de saúde do protagonista, visto que ele passou anos envolvido em seu projeto. No entanto, as coisas melhoram – até certo ponto – quando Henry o visita com cartas de seus familiares, obrigando-o a voltar para casa. No entanto, as coisas não são nada animadoras, porque Frankenstein recebe uma noticia devastadora, que culmina em um julgamento e condenação de uma mulher inocente.

 

Mais adiante, Frankenstein chega a encontrar o Monstro, mas as consequências são devastadoras. Não entrarei em mais detalhes para não dar spoilers.

 

Deixe-me falar a respeito do livro.

 

A escrita da autora é muito boa, apelando para o texto em primeira pessoa, narrada pelo protagonista ao marinheiro Walton. Apesar de ter adotado essa técnica de escrita, eu às vezes gostaria que o livro fosse escrito em terceira pessoa, principalmente por causa de acontecimentos importantes da trama.

 

Muitas pessoas consideram Frankenstein um livro de horror, e não deixa de ser, mas eu também vejo como uma historia dramática, visto que os acontecimentos navegam mais para o drama do que para o terror, como foi mostrado nas adaptações. A história é dramática porque somos apresentados a fatos verdadeiramente dramáticos, principalmente quando envolvem o protagonista e também quando são narrados pela Criatura.

 

E como é narrado em primeira pessoa, o livro é focado totalmente no personagem principal; na verdade, o livro é focado em dois personagens, basicamente: o protagonista, e a Criatura, visto que eles são os principais narradores, e contam eventos importantes.

 

Acima de tudo, o livro é sobre arrependimento e angustia, simplesmente porque Frankenstein se arrepende amargamente de ter criado seu monstro, desde que o vê abrindo os olhos pela primeira vez; a partir daí a autora nos conta como o protagonista se sente em relação ao seu experimento, relatando principalmente o medo que ele tem dos atos da Criatura. Eu gostei dessa relação de angustia do personagem, mas ao mesmo tempo, achei alguns diálogos dramáticos demais, mas isso não me fez parar a leitura.

 

Provavelmente, uma questão de faz desse livro um produto de seu tempo, sejam os diálogos, que são muito grandes e até filosóficos. Existem trechos de diálogos que tomam até uma pagina inteira – ou meia pagina, dependendo da edição – e, às vezes atrapalham um pouco a leitura, mas deve ser uma técnica de escrita comum para livros dessa época, principalmente se são narrados em primeira pessoa.

 

Mas como eu disse, nada disso me atrapalhou a leitura, e aconselho você que ainda não leu, que dê uma chance à historia.

 

Deixe-me falar também sobre a criação do Monstro. Ao contrario do que foi mostrado no cinema, aqui temos um certo mistério em volta da criação, porque a autora nunca deixa claro para nós como aconteceu; a única pista são os olhos da Criatura se abrindo e é isso. A descrição também é muito diferente; aqui, o Monstro é apresentado como um ser humano com pedaços de pele faltando em diversas partes do corpo, com a pele amarelada.

 

E também temos aqui um Monstro falante, que exige a criação de uma companheira. Então, mais uma vez, ao contrario do que foi mostrado no cinema – com exceções – o Monstro é muito inteligente e articulado com o protagonista, mas não deixa de ser um assassino.

 

Enfim, Frankenstein é um livro excelente. Uma história dramática com toques de horror e ficção cientifica, contada de forma inteligente, que não atrapalha a leitura, e às vezes, a deixa mais fluída. Os dois personagens principais são o grande destaque da trama, cada um com suas características e drama peculiares. Um verdadeiro clássico da Literatura de horror e um dos maiores livros de todos os tempos.


MARY SHELLEY.

 

segunda-feira, 6 de novembro de 2023

QUATRO MOSCAS SOBRE VELUDO CINZA (1971). Dir.: Dario Argento.

 

NOTA: 9



Entre 1970 e 1971, o diretor Dario Argento lançou sua Trilogia dos Animais, que se tornaram um marco no Giallo italiano.

 

Em 1971, mesmo ano em que lançou O Gato de Nove Caudas, Argento lançou QUATRO MOSCAS SOBRE VELUDO CINZA, ultimo filme da trilogia, e um dos melhores de sua filmografia.

 

Como boa parte de sua filmografia, Quatro Moscas é um exemplar do Giallo, aqui, sem apostar na marca registrada do gênero, o assassino de luvas pretas. Ao invés disso, temos aqui uma outra variação do gênero, apostando em um assassino diferente.

 

Mas antes de falar sobre isso, vou falar sobre a técnica. Como sempre, na primeira fase de sua carreira, Argento se mostrou um grande mestre na direção, com sua câmera criativa, com ângulos e movimentos variados, que apostam até na estranheza.

 

O roteiro, escrito pelo cineasta a partir de um argumento em parceria com Luigi Cozzi, também é o grande ponto, porque mais uma vez aposta no suspense e mistério, principalmente em revelar a identidade do assassino, além de apresentar personagens estranhos e uma lista grande de suspeitos.

 

Além de focar no suspense, o roteiro basicamente se foca em um único personagem, no caso, o musico Roberto Tobias, que é perseguido por uma pessoa misteriosa, após matar acidentalmente um homem que o acompanhava diariamente. Essa é a grande sacada do roteiro, porque, num primeiro momento, pensamos que o estranho de chapéu é um fã obsessivo, que irá transformar a vida do protagonista em um inferno, mas acontece essa virada na trama, e o protagonista é perseguido por outra pessoa, com um motivo muito particular.

 

Mas não irei entrar em mais detalhes para não revelar spoilers; só digo que a identidade do assassino me pegou de surpresa na primeira vez que assisti ao filme; e, nas próximas revisões, é possível ver que as dicas estavam lá, algo comum no gênero.

 

Como de costume no cinema italiano, principalmente nos filmes de Argento, o roteiro aposta também em personagens estranhos e misteriosos, como o escritor de histórias aleatórias, que está sempre contando o enredo para os amigos; o bizarro carteiro, que faz entregas erradas; e principalmente, a dupla que ajuda o protagonista – um homem conhecido como Deus, e outro conhecido como o Professor. Os dois protagonizam os melhores momentos do filme, principalmente o tal do Professor, que recita os versos da Bíblia.

 

Mas o melhor do filme é o mistério, apresentado logo no inicio, com a presença do homem misterioso. Depois da “morte” do homem, somos apresentados a um jogo doentio, onde o assassino envia fotos do ocorrido e pertences do morto ao protagonista, o que o obriga a pedir ajuda aos seus amigos e a um detetive particular, um dos melhores personagens do filme. Conforme mencionei acima, é difícil entender o motivo por trás dos atos do assassino, e qual será o seu próximo passo; culminando numa sequencia de assassinatos, até chegar a sua identidade.

 

Também conforme mencionado acima, Quatro Moscas aposta numa grande técnica de direção de Argento. O cineasta faz uso de métodos criativos, como movimentos rápidos, planos em POV, ângulos criativos e outros.

 

E claro, temos a trilha sonora do Maestro Ennio Morricone, uma das melhores de sua carreira, e a melhor da trilogia.

 

Foi lançado em DVD no Brasil pela Versátil Home Vídeo, na coleção A Arte de Dario Argento, em versão restaurada com áudio em italiano.

 

Enfim, Quatro Moscas Sobre Veludo Cinza é um filme excelente. Um longa de suspense e mistério, contado com a maestria do diretor Dario Argento, com sua direção inspirada e roteiro afiado, combinado com uma trilha sonora maravilhosa do Maestro Ennio Morricone. Um quebra-cabeça, cujas as peças precisam ser encaixadas cuidadosamente, até chegar a um final de cair o queixo. O filme que encerra a Trilogia dos Bichos.


Créditos: Versátil Home Vídeo.

 

O MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA – O RETORNO (1995). Dir.: Kim Henkel.

  NOTA: 1 Lembram-se do que eu disse no começo da resenha de A Hora do Pesadelo 6 , sobre filmes ruins? Para quem não se lembra, eu disse qu...