terça-feira, 22 de agosto de 2023

A NOIVA DE RE-ANIMATOR (1989). Dir.: Brian Yuzna.

 

NOTA: 8.5


Na década de 20, H.P. Lovecraft lançou a serie Herbert West – Reanimator, que, apesar de não se tornar um sucesso na época de publicação, tornou-se uma de suas obras mais famosas com o passar dos anos.

 

Em 1985, o diretor Stuart Gordon e o produtor Brian Yuzna lançaram Re-Animator – A Hora dos Mortos-Vivos, estrelada por Jeffrey Combs, Barbara Crampton, Bruce Abbott e David Gale, que se tornou um dos maiores clássicos dos anos 80, e a melhor adaptação da obra de Lovecraft.

 

Quatro anos depois, foi lançado A NOIVA DE RE-ANIMATOR, desta vez dirigido por Yuzna, novamente com Jeffrey Combs, Bruce Abbott e David Gale no elenco, retomando seus papeis principais.

 

Aqui temos um exemplo de continuação que é tão boa quanto o primeiro filme, tudo graças ao longa como um todo.

 

Mesmo não contando com Stuart Gordon na direção, o ritmo frenético se mantém aqui, assim como os efeitos especiais caprichados no gore e na escatologia.

 

Claro, aqui, não sei se temos cenas tão memoráveis quanto no primeiro filme, mas temos cenas de horror muito boas, graças a direção de Yuzna, em seu segundo trabalho na função.

 

O roteiro, desta vez não escrito por Dennis Paoli, pega novamente alguns elementos da história original de Lovecraft e a transporta para a era contemporânea. Podemos dizer que é uma continuação direta, porque os eventos aqui acontecem oito meses após o primeiro filme, e no prologo, acompanhamos West e Cain na guerra do Peru, algo presente na história original. Após os incidentes no Peru, retornamos a Arkham, ao hospital da Universidade de Miskatonic, onde conhecemos também uma paciente em estado terminal, que se tornará uma peça importante na narrativa.

 

E assim como no primeiro filme, temos aqui uma certa dose de humor negro, graças principalmente ao Dr. Graves, o patologista do hospital e seu assistente. No entanto, West e Cain também protagonizam cenas de humor negro, ainda mais quando envolvem um pequeno experimento com partes de corpos.

 

Essa aqui é uma mudança boa no roteiro; West e Cain desta vez trabalham com partes de corpos, pois querem ver se conseguem criar um ser humano completo, algo certamente inspirado no Frankenstein de Mary Shelley. Além das experiências com partes de corpos, West também desenvolve novos métodos e formulas, que o ajudam na hora de criar suas cobaias.

 

Essa também é uma grande sacada do roteiro, porque, de certa forma, ele amplia as experiências de West, dando a ele um ar ainda mais sinistro. E novamente, vemos que o personagem se mantém igual ao primeiro filme, todo cheio de si mesmo e que se importa apenas com seus experimentos.

 

Além do retorno de West e Cain, temos também novos personagens; além do já mencionado Patologista, temos um novo par romântico para Cain, e um detetive que está disposto a descobrir a verdade sobre o massacre ocorrido na Universidade oito meses antes. Esse personagem até que entrega boas cenas, apesar de aparentar ser mais intrometido que o normal; Francesca, o novo interesse romântico de Cain também funciona, quase como um contraponto para Meg, do primeiro filme.

 

No entanto, o grande destaque aqui é o retorno do cruel Dr. Hill, novamente interpretado por David Gale. Assim como no primeiro filme, somos brindados com sua cabeça falante, que controla os mortos-vivos, além de aparecer com um visual marcante no final do filme.

 

Aliás, o final do filme também parece ter sido diretamente inspirado pelo conto original de Lovecraft, visto que os experimentos anteriores de West se rebelam contra ele dentro da cripta.

 

Os efeitos especiais também são o grande destaque aqui, criados por grandes nomes do gênero, como Screaming Mad George; KNB Effects, e David Allen, cada um desempenhando uma função especifica. Assim como no primeiro filme, somos brindados com cenas caprichadas no gore e na escatologia, e os três zumbis principais são nojentos em um nível impressionante. Além disso, as habilidades dos zumbis são ampliadas, com o uso da fala e de ferramentas.

 

O auge de efeitos, no entanto, é a Noiva, criada a partir da paciente Gloria. Ao longo do filme, West arromba o deposito da Universidade para roubar partes de corpos, além de usar pacientes completos para o experimento. Ele junta tudo em seu laboratório no porão da nova casa, e após a morte de Gloria, ele percebe que está na hora de testar sua teoria.

 

A cena da ressureição da Noiva é uma das melhores do filme, justamente por causa da direção de Yuzna, além de ser muito parecida com a cena de criação da Noiva de Frankenstein, no filme de James Whale, que também serviu de inspiração para este filme. A Noiva é a melhor criatura do longa, porque é aquela personagem que se sente perdida no mundo e precisa encontrar seu lugar. Após sua ressureição, é possível ver que ela se afeiçoa a Cain, tanto pelo fato do coração de Meg estar batendo em seu peito, quanto pela afeição que a própria Gloria tinha pelo médico.

 

E o final é tão frenético quanto o filme em si, com as criaturas de West escapando da cripta e se juntando para acabar com ele, tudo sob o comando de Hill.

 

Foi lançado em DVD no Brasil pela Versátil Home Vídeo, na coleção Lovecraft no Cinema 2, em versão restaurada sem cortes.

 

Enfim, A Noiva de Re-Animator é um filme muito bom. Um longa frenético, com cenas carregadas no gore, com zumbis grotescos e personagens cativantes. A direção de Brian Yuzna é competente, e o diretor sabe o que faz, criando assim, cenas tensas e engraçadas. O retorno dos personagens e atores do primeiro filme também contribuem para deixar este filme ainda melhor a cada revista, acompanhados pelos efeitos especiais criativos. Uma leve adaptação do clássico de H.P. Lovecraft, e um dos melhores filmes baseados nos textos do autor. Altamente recomendado.


Créditos: Versátil Home Vídeo.

 

sexta-feira, 18 de agosto de 2023

O MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA (1974). Dir.: Tobe Hooper.

 

NOTA: 10


Existem filmes que são atemporais. Isso se refere a todos os filmes de todos os gêneros, inclusive aos filmes de terror.

 

O MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA, lançado em 1974, dirigido por Tobe Hooper, é um desses casos. Desde o seu lançamento, há quase 50 anos, o filme mantém seu impacto até hoje como um dos maiores filmes de todos os tempos.

 

E motivos para isso não faltam. O Massacre é um daqueles casos de filmes em que tudo funciona a seu favor, e o resultado é o dos melhores.

 

A começar pelos quesitos técnicos. A direção de Hooper é segura, dando um ar quase documental para o longa, com seus movimentos e ângulos de câmera diferentes, dignos de aflição; o roteiro também é muito bom, apostando mais na tensão do que no banho de sangue, além de criar personagens absolutamente reais, do tipo que vemos todos os dias.

 

Como sabemos, o roteiro de Hooper e Kim Henkel não aposta no terror sobrenatural, conforme era comum no final da década anterior. Os tempos eram outros. Na década de 70, os Estados Unidos estavam passando por dificuldades políticas e sociais, como o escândalo de Watergate, e a derrota na Guerra do Vietnã, que acabou com a ideia do sonho americano. Além disso, no inicio da década, ocorreu também o final da Era de Aquário, então o cinema underground foi marcado por produções violentas, inspiradas pelos assassinatos de Charles Manson. O longa de Hooper é o retrato perfeito de como era a situação do país naquela época. O terror mostrado no longa é absolutamente real, o que o deixa ainda mais assustador.

 

Além da importância do contexto histórico, temos também aqui um dos primeiros exemplares do gênero Slasher, que se tornou popular nos anos 80. Tudo que se tornou clichê no gênero foi apresentado aqui, como o assassino que utiliza ferramentas do dia-a-dia para matar suas vitimas, e a final girl, a garota que sobrevive ao ataque do maníaco.

 

Conforme mencionado acima, o roteiro do longa é focado em cinco jovens texanos, e todos eles se parecem com pessoas reais. Sally é a protagonista; Franklin é seu irmão paraplégico; Pam e Kirk são o casal; e Jerry é o namorado da protagonista. Todos aqui funcionam muito bem, e cada um tem as suas peculiaridades, principalmente Franklin, que é aquele inconveniente e reclamão.

 

O time de vilões também não fica atrás. Todos são cruéis e perturbados, e possuem um apetite especial por carne humana. Os melhores são Leatherface e o velho. Quando estão todos juntos, a coisa fica ainda mais estranha. A dinâmica entre eles é horrível, com todos gritando uns com os outros, principalmente com Leatherface, que age como uma criança.

 

Leatherface é o melhor personagem do filme. Desde sua primeira aparição, ele se revela uma presença ameaçadora, matando os personagens com requintes de crueldade. Sua primeira aparição é uma das cenas mais pesadas do cinema, quando ele acerta a cabeça do personagem com uma marreta, o que provoca espasmos no corpo da vitima. Em seguida, temos a cena do gancho, que consegue ser tão aterradora quanto a anterior. E os melhores momentos são quando ele faz uso de sua motosserra para perseguir Sally e os outros personagens.

 

As cenas de tensão também merecem destaque. Difícil escolher a melhor, mas tudo funciona principalmente graças à técnica. A perseguição de Leatherface à Sally é assustadora, principalmente por causa do fato do maníaco estar atrás dela com a motosserra; o som da arma já causa arrepios. A cena do jantar pode ser considerada a mais tensa, novamente graças à técnica. Os ângulos de câmera ajudam a provocar a tensão, com seus closes extremos nos olhos de Sally, que praticamente provocam claustrofobia e desconforto.

 

E o final é um dos melhores do cinema de todos os tempos.

 

O Massacre é um dos maiores filmes independentes de todos os tempos. Todos os envolvidos passaram por perrengues durante os três meses de filmagem. O longa foi gravado em pleno verão texano, o que dificultou a produção. Existem também relatos de que alguns membros do elenco estavam sob efeito de drogas; além do mau cheiro provocado pelas condições do clima. O longa custou cerca de US$ 140.000,00.

 

Graças ao seu teor violento e chocante, O Massacre foi banido em alguns países após seu lançamento, inclusive no Brasil. Hoje em dia, possui status de cult e se tornou um dos maiores clássicos do cinema de todos os tempos.

 

O longa até hoje é o mais conhecido da carreira de Tobe Hooper, que alcançou status em Hollywood durante alguns anos, antes de ver sua carreira e seu prestigio acabarem, graças ao seu envolvimento com a Cannon Group, que lançou a primeira sequência em 1986.

 

Foi lançado em Blu-ray no Brasil pela Obras-Primas do Cinema, em versão restaurada 4k, na Coleção O Massacre da Serra Elétrica, além de edições individuais. Este ano, será relançado nos cinemas em versão restaurada 4k.

 

Enfim, O Massacre da Serra Elétrica é um filme excelente. Um longa perturbador, carregado de tensão e medo, aliados a uma direção experimente, um roteiro amarrado, elenco afiado e técnicas dignas de nota. É o gênero terror na sua forma mais pura, onde tudo contribui para isso. Um dos Filmes Mais Assustadores de Todos os Tempos, e um dos maiores Clássicos do cinema. Assustador. Violento. Perturbador. Tenso. Altamente recomendado.


Créditos: Obras-Primas do Cinema.


segunda-feira, 14 de agosto de 2023

A ÁRVORE DA MALDIÇÃO (1990). Dir.: William Friedkin.

 

EM MEMÓRIA DE WILLIAM FRIEDKIN


NOTA: 8


William Friedkin foi um dos grandes nomes do cinema, responsável por alguns dos maiores clássicos da Nova Hollywood, entre eles, o absoluto O Exorcista (1973), o maior filme de terror de todos os tempos.

 

Mas hoje, não irei falar sobre o clássico absoluto do gênero, e sim, sobre A ÁRVORE DA MALDIÇÃO (1990), segunda incursão do cineasta no gênero.

 

Mesmo sendo considerado um filme menor de sua carreira, este é um ótimo filme de terror, com uma atmosfera de conto de fadas macabro, misturado com altas dozes de gore.

 

Esse filme para mim representa uma certa doze de nostalgia, não porque eu assisti muito na infância, mas por causa do VHS da saudosa CIC Vídeo, com aquela imagem negra contra a luz azul; tal imagem me impactava sempre que eu ia a locadora, e me deparava com ela, na seção de filmes de terror.

 

Não sei qual a opinião de muitas pessoas, mas eu gostei muito do filme na primeira vez que vi, e gostei um pouco mais na segunda vez, principalmente das cenas envolvendo os lobos – mais detalhes adiante.

 

Mesmo tendo fincado seu lugar no hall dos grandes diretores de todos os tempos, não dá para negar que aqui temos de fato um filme menor do cineasta, que meio que se perde em sua filmografia, talvez porque, por ser um filme de terror, talvez as pessoas esperassem algo no mesmo nível de O Exorcista, mas não é esse o caso, porque temos aqui um filme diferente, com atmosfera e ambientações diferentes; e talvez seja por isso que muitas pessoas não gostam dele.

 

Eu não sou uma dessas pessoas, e considero este um dos filmes de terror mais notáveis dos anos 90, década em que o gênero estava fadado ao esquecimento, visto a quantidade de produções questionáveis – salvo exceções – que eram lançadas naquele período – especialistas podem contextualizar com mais clareza do que eu.

 

Bom, mas do que se trata o filme? A Árvore da Maldição se trata, em sua essência, de uma criatura que sacrifica bebês para uma arvore amaldiçoada. Já nos créditos de abertura, temos um breve texto sobre sacerdotes da religião druida, que idolatravam as arvores, e às vezes, sacrificavam pessoas para elas. E é isso que temos aqui; uma história sobre uma criatura mitológica que realiza sacrifícios humanos. Simples, não? Pois bem, além disso, temos também uma típica história de uma babá perversa, algo, na minha opinião, que torna o terror desse filme ainda maior.

 

Maior porque, se tirarmos a questão da criatura mitológica, podemos encaixar esse filme na categoria do suspense, porque, em certo momento, ficamos sabendo de um incidente assustador envolvendo a babá e a criança que estava sob seus cuidados. Dois anos depois, o tema de babá psicótica seria aproveitado no filme A Mão que Balança o Berço, com Rebecca de Mornay.

 

Mas voltando ao filme de Friedkin, eu gosto da ideia de uma criatura mitológica se infiltrando na casa de uma família para realizar um sacrifício humano. Temos uma subversão do tema da babá psicótica, além de termos também uma espécie de conto de fadas de horror, visto a presença do clássico João e Maria no longa.

 

Bom, deixe-me falar da técnica. Não é novidade para ninguém que Friedkin era um grande diretor, e aqui ele não faz feio. Seu elenco está muito bem, principalmente a atriz Jenny Seagrove, no papel da ninfa Camilla. A fotografia também é muito boa, principalmente nas cenas noturnas envolvendo a ninfa e a árvore; e os efeitos especiais também merecem menção, principalmente na sequência em que três bandidos são trucidados pela arvore maldita. Os bebês e os rostos encravados na árvore também merecem destaque, principalmente os bebês, que chegam a ser chocantes.  

 

Apesar do casal protagonista ter mais destaque, na minha opinião quem rouba a cena é Jenny Seagrove. Sua Camilla é uma grande personagem, passando tanto a doçura quanto a maldade que o roteiro e a direção pedem; além disso, ela se mostra também muito sedutora, visto que vez ou outra, invade os sonhos de Phil.

 

Como mencionado acima, A Árvore da Maldição é um filme carregado de gore, e podemos ver isso na sequência em que três bandidos são massacrados pela árvore. Friedkin não poupa o espectador de cenas grotescas, com membros decepados e pessoas sendo empaladas e literalmente devoradas. Mais para frente, temos outro exemplo, quando Phil utiliza uma motosserra na árvore, e literalmente decepa seus membros, num verdadeiro banho de sangue.

 

Também conforme mencionado, o filme possui outras grandes sequencias, desta vez envolvendo lobos negros. Eu adoro lobos, e é sempre um prazer vê-los no cinema, e aqui, Friedkin não decepciona. Os lobos, possivelmente guardiães da árvore maldita, dão um show quando entram em cena, principalmente quando atacam os personagens, tanto um secundário em sua casa – outra cena carregada no gore – quanto o casal protagonista, numa sequência que me lembrou o final de Lobos (1981), por sinal.

 

No entanto, apesar de ser um filme muito bom, A Árvore da Maldição foi uma produção conturbada. Segundo informações da internet, o diretor Sam Raimi estava inicialmente cogitado, mas desistiu para comandar Darkman – Vingança Sem Rosto, então, Friedkin foi chamado. Mas os problemas continuaram, porque todos ficaram entusiasmados por ser o segundo filme de terror do cineasta, então, com certeza, estavam esperando algo na mesma linha de O Exorcista. Mas não foi isso que aconteceu.

 

Após sua contratação, Friedkin fez alterações no roteiro, que, segundo ele, seria focado em uma babá que sequestra crianças, mas o estúdio queria algo voltado para o sobrenatural. Então, Friedkin e mais um roteirista fizeram novas alterações, mas mesmo assim, os problemas não acabaram, porque o roteiro passaria a ser escrito enquanto o filme estava sendo rodado. No final, o filme não obteve grandes resultados de bilheteria, mas hoje em dia possui um status de cult. A coisa piorou com uma versão lançada para a TV a cabo, que desagradou Friedkin, que pediu para ter seu nome desvinculado do projeto. O próprio Friedkin aparentava ter sentimentos conflitantes sobre o filme, dando apenas uma entrevista sobre o longa, onde relatou sobre o que o inspirou a fazê-lo, no caso, um incidente envolvendo sua família e uma babá.

 

Foi lançado em DVD no Brasil pela Versátil Home Vídeo, na coleção Obras-Primas do Terror – Volume 13, após anos fora de catálogo.

 

William Friedkin nos deixou em Agosto deste ano, mas seu nome está sempre gravado no hall dos grandes cineastas de todos os tempos. Seu legado será eterno.

 

Enfim, A Árvore da Maldição é um filme muito bom. Uma historia sombria e assustadora, com toques de conto de fadas, misturado à técnica milenar do diretor William Friedkin. O elenco também merece menção, principalmente Jenny Seagrove, em uma interpretação arrepiante como a babá perversa; e os efeitos especiais também, caprichados no gore. Um filme que merece ser redescoberto. Recomendado.


Créditos: Versátil Home Vídeo.

 

segunda-feira, 7 de agosto de 2023

A CRIPTA DOS SONHOS (1973). Dir.: Roy Ward Baker.

 

NOTA: 8.5


Desde sua fundação, em 1962, a Amicus tornou-se um dos maiores estúdios de cinema britânicos de todos os tempos, rivalizando com a Hammer Films. Porém, ao contrário da Hammer, o estúdio tornou-se especialista em produzir antologias de horror, apesar de lançar outros filmes, a maioria voltados para o horror. Ao total, foram sete antologias, todas maravilhosas.

 

Em 1973, o estúdio lançou A CRIPTA DOS SONHOS, dirigida por Roy Ward Baker, com roteiro baseado em histórias publicadas nos quadrinhos da EC Comics.

 

Eu vou dizer logo de cara que esta é uma das que eu mais gosto, e sempre divirto com ela toda vez que assisto, e isso se deve principalmente aos segmentos apresentados aqui. Ao todo, são cinco histórias curtas, contadas por cada um dos personagens que entraram em um elevador e se depararam com uma espécie de clube no subsolo do prédio.

 

Midnight Mess: Um homem contrata um investigador para encontrar sua irmã, e após saber de seu paradeiro, mata o detetive e pega seu dinheiro. Ao chegar no vilarejo onde a irmã está morando, ele acaba descobrindo algo terrível sobre o lugar quando a noite cai.

 

The Neat Job: Um homem com mania de limpeza e organização se casa e tenta fazer sua esposa se adaptar à nova vida e às suas regras. No entanto, um dia, enquanto o marido está fora, a mulher acaba provocando uma confusão na casa e é surpreendida por ele.

 

This Trick’ll Kill You: Um casal de mágicos está de viagem na Índia e se depara com os truques de um faquir. Rapidamente, o homem revela os segredos por trás dos truques do faquir, humilhando-o. Dias depois, o mesmo homem se depara com um novo truque e decide mostra-lo a sua esposa, não imaginando as consequências.

 

Bargain in Death: Um homem decide se fingir de morto para obter o dinheiro do seguro, e para isso, pede ajuda a um amigo. O mesmo homem é enterrado no cemitério e aguarda o amigo, mas não imagina que dois estudantes de Medicina decidem utilizar seu corpo a fim de passar nas provas.

 

Drawn and Quartered: Um artista descobre que foi enganado por críticos e decide se vingar utilizando os poderes do vodu. Ao retornar à Londres, ele começa a pôr seu plano em pratica, mas não dá conta das consequências que o vodu trará para si mesmo.

 

E temos aqui mais uma antologia básica, com começo, meio e fim, e interlúdios.

 

O filme foi dirigido por Roy Ward Baker, um nome conhecido no horror inglês, tendo participado de produções voltadas ao gênero tanto na Amicus quanto na Hammer, “rival” desta primeira.

 

Devo dizer que Baker fez um bom trabalho aqui, principalmente em se tratando dos segmentos. Cada um é diferente à sua maneira, e parece que o diretor empregou diferentes estilos ao dirigi-las, algo que se tornaria comum nas antologias posteriores, principalmente aqueles dirigidas por mais de uma pessoa.

 

A Cripta é mais uma das sete antologias produzidas pela Amicus, entre os anos de 1965 e 1974, e meio que se tornaram a marca registrada do estúdio, além do fato de produzirem filmes principalmente contemporâneos – poucos são os filmes produzidos por eles que não são. O que todas essas antologias têm em comum é o fato de possuírem de quatro a cinco segmentos, serem dirigidos pela mesma pessoa, e possuírem um elenco em sua maioria estelar.

 

Aqui temos a presença de alguns nomes reconhecíveis, sem apelar para grandes astros, como Peter Cushing, Joan Collins, Christopher Lee, ou Ingrid Pitt, que trabalharam em produções anteriores do estúdio. No time de coadjuvantes, temos o ator Denholm Elliott, que participou de A Casa que Pingava Sangue (1971), e da trilogia Indiana Jones. E temos também um ou dois nomes reconhecíveis do cinema inglês fazendo pequenas participações.

 

Além de contar com nomes reconhecidos no elenco, boa parte dessas antologias contavam com histórias inspiradas nos quadrinhos da EC Comics, as séries Tales from the Crypt e Vault of Horror. Sempre que eu assisto à esta ou à outra antologia cujas bases são essas series, eu sempre penso como elas deviam ser contadas nos quadrinhos, visto que é uma mídia diferente, com suas próprias regras e limitações.

 

Vale lembrar também que este é um filme que era produto de sua época, e isso pode ser exemplificado pelo terceiro segmento, cujo cenário é a Índia e, com exceção do ator que interpretou o faquir, não temos quase nenhum ator indiano no elenco, algo que não seria visto com bons olhos hoje em dia.

 

Como toda antologia, temos aqui também aquelas histórias que não são tão boas, algo comum no gênero. Eu pessoalmente não gosto muito do segundo segmento, porque, mesmo apresentando um caso sério de um personagem com manias, eu sempre acho que a conclusão acaba levando para o exagero, visto que a esposa do protagonista destrói toda a casa porque tem medo do que ele pode fazer quando descobrir que ela sujou uma cômoda. Não sei se isso de fato acontece na vida real, mas eu tenho a impressão que é um pouco de exagero. O quarto segmento também é um pouco fraquinho, visto que puxa mais para o humor negro do que para o terror. O meu favorito é o primeiro segmento; e gosto também dos demais.

 

Foi lançado em DVD no Brasil pela Obras-Primas do Cinema na coleção Amicus Productions, em versão remasterizada sem cortes.

 

Enfim, A Cripta dos Sonhos é uma das melhores antologias da Amicus Productions. Um filme arrepiante, com clima de nostalgia. Cada uma das histórias é macabra por si mesma, o que o torna ainda melhor a cada revisão. Os mais diversos assuntos relacionados ao terror, abordados de forma simples, mas eficiente, aliados a atuações convincentes e uma direção e roteiro experientes. Sem dúvida, um dos melhores exemplos do cinema britânico de horror, e uma das melhores antologias do cinema. Macabro. Divertido. Arrepiante.


Créditos: Obras-Primas do Cinema.

 

sábado, 5 de agosto de 2023

COLHEITA MALDITA (1984). Dir.: Fritz Kiersch.

 

NOTA: 8.5


A franquia Colheita Maldita é uma das mais irregulares do cinema, principalmente por causa de suas sequências, e remakes e reboots. Tirando o primeiro filme, são todos descartáveis.

 

E é justamente sobre o primeiro filme, COLHEITA MALDITA, que vou falar hoje.

 

Eu vou ser sincero aqui. Eu acho este filme uma das adaptações mais legais da obra do mestre do terror, Stephen King. Desde a primeira vez que assisti a esse filme, em 2004, num DVD de banca, eu gostei muito da história, principalmente por causa da ambientação – mais detalhes adiante.

 

Colheita Maldita é um filme muito bom, e isso se deve primeiramente à sua técnica. É um filme muito bem dirigido, bem editado e com ótimo design de produção e fotografia inspirada.

 

Outro detalhe é o clima do longa. Sempre que eu assisto, eu tenho a impressão de estar imerso naquela história, ou então, eu tenho uma sensação de história que acontece ou se passa num fim de semana, e, conforme mencionei em outras resenhas, isso é algo que me atrai bastante nos filmes.

 

Como todos sabemos, a história, adaptada do conto As Crianças do Milharal, presente na antologia Sombras da Noite, fala sobre uma seita de crianças que cultuam uma entidade demoníaca conhecida como “Aquele que Caminha Atrás da Plantação”, e como prova de devoção, elas matam todos os adultos da pequena Gatlin, no estado do Nebraska. Essa história já foi revisitada diversas vezes, seja nas próprias continuações, seja em parodias, mas tudo começou aqui.

 

Eu acredito que o conto original foi escrito por King antes do autor ser famoso, e deve ter sido publicado em alguma revista, algo muito comum nos primeiros anos do mestre, e deve ter sido também a primeira excursão de King em historias protagonizadas por crianças, algo que se tornaria muito comum em sua bibliografia e que originou alguns de seus maiores clássicos, como IT – A Coisa – já comentado aqui – e o conto O Corpo, presente na antologia Quatro Estações. O quanto o roteiro – que na época, deveria ser escrito pelo próprio King – se baseia no conto original não sei dizer porque ainda não o li, mas assim que o fizer, trago a resenha para vocês.

 

Seja como for, o fato é que o roteiro já começa com os dois pés no peito, com um massacre de adultos em uma lanchonete e depois tem um salto temporal e então nos apresenta o casal protagonista. A partir daí, a trama foca principalmente nos dois e na sua viagem pelas estradas do Nebraska. O melhor é que o roteiro não faz questão de dar uma explicação para o que está acontecendo, do tipo, com flashbacks e outros artifícios. A trama começa com as crianças já dominadas pelo pastor-mirim Isaac e pronto, não faz muita questão de explicar a entidade nem o motivo dela estar ali, numa fala de uma das personagens nos é revelado tudo isso. É o tipo de roteiro que faz falta hoje em dia.

 

Outro ponto a ser destacado é a fotografia, realizada por um brasileiro escondido atrás de um pseudônimo, vale dizer. O fotografo fez um excelente trabalho em captar toda a ambientação seca dos cenários, principalmente do milharal e da pequena cidade. Isso se deve ao fato de ser um filme que se passa quase todo durante o dia, então tudo é visível e o terror chega a ser até um pouco maior por causa disso. Mas mesmo assim, ele fez um excelente trabalho, com seus planos abertos, revelando o ambiente ao redor dos personagens. Minha tomada preferida é uma que é mostrada em um grande plano geral, e revela o local onde é a seita das crianças, graças à duas cruzes gigantes e tochas. É uma tomada linda porque acontece no pôr do sol, então a cena vai ficando mais escura e vemos isso com os cortes da edição. E claro, a ambientação de cidade abandonada; é o tipo de coisa que me agrada em filmes desse tipo.

 

A trilha sonora também é um ponto a ser mencionado, com seu coro infantil arrepiante.

 

Além da fotografia e do roteiro, quero destacar a direção. O diretor Fritz Kiersch não faz feio aqui e consegue arrancar ótimas performances do seu elenco, principalmente das crianças.

 

E claro, tenho que falar sobre elas. Os vilões mirins são o grande acerto do filme, e passam a sensação de maldade com facilidade, chegando a assustar de verdade. O mesmo pode ser dito das duas crianças do bem, que passam um ar de perigo e medo, visto que eles não fazem parte daquela sociedade.

 

Colheita Maldita, como sabemos, faz parte de um grupo especifico de filmes que retratam crianças como perigosas e assassinas. Eu já falei sobre elas aqui, na resenha do excelente Os Meninos (1975), mas existem vários exemplos, e este filme, acredito, é um dos mais conhecidos. E este, como sabemos, é um tema difícil de lidar, porque é difícil imaginar que crianças sejam capazes de atos cruéis, seja por qual motivo. No cinema, como mencionei, temos vários exemplos, mas na literatura, acredito que o exemplo mais famoso é O Senhor das Moscas, de William Golding, onde crianças ficam presas numa ilha e criam suas próprias regras. Seja como for, é um assunto que merece ser discutido.

 

Também não é novidade para ninguém que Colheita Maldita se tornou uma franquia a partir dos anos 90, com diversas continuações, com certeza, uma pior que a outra. Vou dar exemplos: o segundo filme é ruim; o terceiro é uma trasheira, mas não vale uma resenha; o quarto é chato; e o sexto, que traz Isaac de volta, também. Não posso dizer nada sobre os demais, porque não vi, mas nenhum deles terá resenha aqui, porque não foram lançados oficialmente no Brasil. O remake de 2009 é horrível, e não tive coragem de conferir o reboot desse ano. Melhor ficar com o primeiro mesmo.

 

Enfim, Colheita Maldita é um ótimo filme. Um longa tenso e arrepiante, com uma técnica muito boa, principalmente a fotografia, que capta a atmosfera dos cenários muito bem. O elenco jovem é o grande destaque do filme, e passam todo o medo e o terror que deveriam sem esforço, assim como a trilha sonora. Uma das melhores adaptações de Stephen King. Recomendado. 




terça-feira, 1 de agosto de 2023

A MALDIÇÃO DE FRANKENSTEIN (1957). Dir.: Terence Fisher.

 

NOTA: 9.5


Desde sua publicação, no século XIX, Frankenstein, de Mary Shelley, tornou-se um clássico da literatura e um dos maiores expoentes da literatura de horror e ficção cientifica. E como todo sucesso literário, ganhou diversas adaptações para diversas mídias, principalmente para o cinema.

 

E hoje, eu vou falar sobre uma delas: A MALDIÇÃO DE FRANKENSTEIN, lançado em 1957, dirigido por Terence Fisher, e produzido pela lendária Hammer Filmes.

 

Bom, eu vou começar dizendo que este é um dos mais importantes filmes de horror de todos os tempos, porque inaugurou a nova fase do lendário estúdio britânico, que na época, estava mal das pernas e investia em produções em preto e branco. Frankenstein quebrou essa regra porque foi o primeiro filme do estúdio totalmente produzido em cores, além de transportar a historia de Mary Shelley para outra época, diferente do havia sido feito até então em Hollywood.

 

Além de ser um dos filmes de terror mais importantes de todos os tempos, este é também um dos melhores filmes do estúdio, e isso se deve à sua técnica. É um filme muito bem feito, bem escrito, bem dirigido, bem atuado e com uma técnica exemplar.

 

O longa foi dirigido por Terence Fisher, um dos grandes nomes do estúdio, e responsável pelos maiores clássicos do mesmo. O cineasta fez um excelente trabalho aqui e conseguiu arrancar grandes performances de seus atores e equipe, e criou momentos memoráveis. O cineasta soube aproveitar muito bem tudo o que tinha, assim como faria nos filmes posteriores do estúdio.

 

Sem duvida, um dos grandes atrativos de A Maldição de Frankenstein é o seu elenco. No papel principal, temos o lorde Peter Cushing, na época, um nome bem reconhecido no estúdio, graças às suas contribuições anteriores. O astro criou um Frankenstein digno de ódio, um personagem vilanesco, que não se importa com ninguém além de si próprio e seus experimentos. Em alguns momentos, é possível sentir raiva do personagem, visto o modo como ele trata os demais. Mas isso não o impede de ser uma das grandes performances do astro.

 

Além de Cushing, temos também os atores Robert Urquhart, como o professor de Frankenstein, Paul Krempe; Hazel Court como Elizabeth; e Valerie Gaunt como a empregada Justine. Assim como Cushing, todos estão muito bem em seus papeis, principalmente Urguhart, que faz um professor Krempe que se mostra oposto à Frankenstein, principalmente quando o mesmo passa a envolver Elizabeth em seus experimentos. Krempe é o verdadeiro herói do filme, e está disposto a combater Frankenstein com todas suas forças, a fim de impedir seu reinado de horror. Hazel Court também não faz feio e entrega uma Elizabeth doce e amável, além de apaixonada por Frankenstein. Quem também não está ruim é Valerie Gaunt, cuja personagem é um mero brinquedo para o Barão, mas que não tem medo dele quando é colocada de lado.


Mas não tem jeito. Quem sem duvida rouba a cena, é o também lorde Christopher Lee, em seu primeiro filme de terror e sua primeira colaboração com o estúdio. O astro interpreta a Criatura de Frankenstein, e tem a melhor atuação do longa, fazendo de sua Criatura um ser perverso, cruel, que não tem escrúpulos em matar. Mesmo sem dizer uma palavra, Lee tem uma das maiores atuações de sua carreira, sem dúvida.

 

Ainda sobre a Criatura, ela tem um dos visuais mais originais do cinema, indo totalmente contra o que foi feito pelo lendário Jack Pierce no clássico de James Whale. A Criatura de Christopher Lee tem um rosto envolto em cicatrizes, além de um figurino que lembra o Nosferatu de Murnau. É um dos melhores visuais para a Criatura de todos os tempos.

 

A Maldição de Frankenstein também marca o inicio, não apenas da parceria, mas também da amizade entre Peter Cushing e Christopher Lee, que rapidamente se tornaram sinônimo de sucesso de produções do estúdio, e também grandes amigos fora dele, e assim ficaram até o fim de suas vidas. Seus nomes estão para sempre cravados no hall dos grandes astros do cinema de horror de todos os tempos.

 

A Maldição de Frankenstein foi o primeiro filme em cores da Hammer, e posso dizer que é um dos melhores. As cores pulsam na tela, principalmente o vermelho, enchem o filme, e o deixam ainda mais bonito, principalmente com as novas versões restauradas.

 

O filme foi lançado nos cinemas em Maio de 1957, e se tornou um sucesso de bilheteria, o que motivou o estúdio a lançar uma sequencia já no ano seguinte, e criar uma franquia, assim como fizeram com Drácula, também do ano seguinte.

 

Foi lançado em DVD no Brasil pela Versátil Home Vídeo, na coleção Frankenstein no Cinema, em inédita versão restaurada, com muitos extras.

 

Enfim, A Maldição de Frankenstein é um filme excelente. Um verdadeiro espetáculo visual, que se tornou um dos filmes de horror mais importantes de todos os tempos para a Hammer Filmes. A presença dos lordes Peter Cushing e Christopher Lee no elenco é o grande atrativo do filme, e é maravilhoso vê-los juntos pela primeira vez. A direção e a fotografia também contribuem para deixar o filme ainda melhor. Um verdadeiro clássico do terror e uma das melhores adaptações da obra de Mary Shelley. Altamente recomendado. 


Créditos: Versátil Home Vídeo.

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