NOTA: 8.5
Desde sua fundação, em 1962, a Amicus tornou-se um
dos maiores estúdios de cinema britânicos de todos os tempos, rivalizando com a
Hammer Films. Porém, ao contrário da Hammer, o estúdio tornou-se especialista
em produzir antologias de horror, apesar de lançar outros filmes, a maioria
voltados para o horror. Ao total, foram sete antologias, todas maravilhosas.
Em 1973, o estúdio lançou A CRIPTA DOS SONHOS, dirigida por Roy Ward Baker, com roteiro
baseado em histórias publicadas nos quadrinhos da EC Comics.
Eu vou dizer logo de cara que esta é uma das que eu
mais gosto, e sempre divirto com ela toda vez que assisto, e isso se deve
principalmente aos segmentos apresentados aqui. Ao todo, são cinco histórias
curtas, contadas por cada um dos personagens que entraram em um elevador e se
depararam com uma espécie de clube no subsolo do prédio.
Midnight Mess:
Um homem contrata um investigador para encontrar sua irmã, e após saber de
seu paradeiro, mata o detetive e pega seu dinheiro. Ao chegar no vilarejo onde
a irmã está morando, ele acaba descobrindo algo terrível sobre o lugar quando a
noite cai.
The Neat Job: Um
homem com mania de limpeza e organização se casa e tenta fazer sua esposa se
adaptar à nova vida e às suas regras. No entanto, um dia, enquanto o marido
está fora, a mulher acaba provocando uma confusão na casa e é surpreendida por
ele.
This Trick’ll
Kill You: Um casal de mágicos está de viagem na Índia e se depara com os
truques de um faquir. Rapidamente, o homem revela os segredos por trás dos
truques do faquir, humilhando-o. Dias depois, o mesmo homem se depara com um
novo truque e decide mostra-lo a sua esposa, não imaginando as consequências.
Bargain in
Death: Um homem decide se fingir de morto para obter o dinheiro do seguro,
e para isso, pede ajuda a um amigo. O mesmo homem é enterrado no cemitério e
aguarda o amigo, mas não imagina que dois estudantes de Medicina decidem
utilizar seu corpo a fim de passar nas provas.
Drawn and
Quartered: Um artista descobre que foi enganado por críticos e decide se
vingar utilizando os poderes do vodu. Ao retornar à Londres, ele começa a pôr
seu plano em pratica, mas não dá conta das consequências que o vodu trará para
si mesmo.
E temos aqui mais uma antologia básica, com começo,
meio e fim, e interlúdios.
O filme foi dirigido por Roy Ward Baker, um nome
conhecido no horror inglês, tendo participado de produções voltadas ao gênero
tanto na Amicus quanto na Hammer, “rival” desta primeira.
Devo dizer que Baker fez um bom trabalho aqui,
principalmente em se tratando dos segmentos. Cada um é diferente à sua maneira,
e parece que o diretor empregou diferentes estilos ao dirigi-las, algo que se
tornaria comum nas antologias posteriores, principalmente aqueles dirigidas por
mais de uma pessoa.
A Cripta é
mais uma das sete antologias produzidas pela Amicus, entre os anos de 1965 e
1974, e meio que se tornaram a marca registrada do estúdio, além do fato de
produzirem filmes principalmente contemporâneos – poucos são os filmes
produzidos por eles que não são. O que todas essas antologias têm em comum é o
fato de possuírem de quatro a cinco segmentos, serem dirigidos pela mesma
pessoa, e possuírem um elenco em sua maioria estelar.
Aqui temos a presença de alguns nomes reconhecíveis,
sem apelar para grandes astros, como Peter Cushing, Joan Collins, Christopher
Lee, ou Ingrid Pitt, que trabalharam em produções anteriores do estúdio. No
time de coadjuvantes, temos o ator Denholm Elliott, que participou de A Casa que Pingava Sangue (1971), e da
trilogia Indiana Jones. E temos
também um ou dois nomes reconhecíveis do cinema inglês fazendo pequenas
participações.
Além de contar com nomes reconhecidos no elenco, boa
parte dessas antologias contavam com histórias inspiradas nos quadrinhos da EC
Comics, as séries Tales from the Crypt e
Vault of Horror. Sempre que eu
assisto à esta ou à outra antologia cujas bases são essas series, eu sempre
penso como elas deviam ser contadas nos quadrinhos, visto que é uma mídia
diferente, com suas próprias regras e limitações.
Vale lembrar também que este é um filme que era
produto de sua época, e isso pode ser exemplificado pelo terceiro segmento,
cujo cenário é a Índia e, com exceção do ator que interpretou o faquir, não
temos quase nenhum ator indiano no elenco, algo que não seria visto com bons
olhos hoje em dia.
Como toda antologia, temos aqui também aquelas
histórias que não são tão boas, algo comum no gênero. Eu pessoalmente não gosto
muito do segundo segmento, porque, mesmo apresentando um caso sério de um
personagem com manias, eu sempre acho que a conclusão acaba levando para o
exagero, visto que a esposa do protagonista destrói toda a casa porque tem medo
do que ele pode fazer quando descobrir que ela sujou uma cômoda. Não sei se
isso de fato acontece na vida real, mas eu tenho a impressão que é um pouco de
exagero. O quarto segmento também é um pouco fraquinho, visto que puxa mais
para o humor negro do que para o terror. O meu favorito é o primeiro segmento;
e gosto também dos demais.
Foi lançado em DVD no Brasil pela Obras-Primas do
Cinema na coleção Amicus Productions,
em versão remasterizada sem cortes.
Enfim, A Cripta dos Sonhos é uma das melhores antologias da Amicus Productions. Um filme arrepiante, com clima de nostalgia. Cada uma das histórias é macabra por si mesma, o que o torna ainda melhor a cada revisão. Os mais diversos assuntos relacionados ao terror, abordados de forma simples, mas eficiente, aliados a atuações convincentes e uma direção e roteiro experientes. Sem dúvida, um dos melhores exemplos do cinema britânico de horror, e uma das melhores antologias do cinema. Macabro. Divertido. Arrepiante.
Créditos: Obras-Primas do Cinema. |
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