NOTA: 8.5
A franquia Colheita
Maldita é uma das mais irregulares do cinema, principalmente por causa de
suas sequências, e remakes e reboots. Tirando o primeiro filme, são todos
descartáveis.
E é justamente sobre o primeiro filme, COLHEITA MALDITA, que vou falar hoje.
Eu vou ser sincero aqui. Eu acho este filme uma das
adaptações mais legais da obra do mestre do terror, Stephen King. Desde a
primeira vez que assisti a esse filme, em 2004, num DVD de banca, eu gostei
muito da história, principalmente por causa da ambientação – mais detalhes
adiante.
Colheita
Maldita é um filme muito bom, e isso se deve primeiramente à sua técnica. É
um filme muito bem dirigido, bem editado e com ótimo design de produção e
fotografia inspirada.
Outro detalhe é o clima do longa. Sempre que eu
assisto, eu tenho a impressão de estar imerso naquela história, ou então, eu
tenho uma sensação de história que acontece ou se passa num fim de semana, e,
conforme mencionei em outras resenhas, isso é algo que me atrai bastante nos
filmes.
Como todos sabemos, a história, adaptada do conto As Crianças do Milharal, presente na
antologia Sombras da Noite, fala
sobre uma seita de crianças que cultuam uma entidade demoníaca conhecida como
“Aquele que Caminha Atrás da Plantação”, e como prova de devoção, elas matam
todos os adultos da pequena Gatlin, no estado do Nebraska. Essa história já foi
revisitada diversas vezes, seja nas próprias continuações, seja em parodias,
mas tudo começou aqui.
Eu acredito que o conto original foi escrito por King
antes do autor ser famoso, e deve ter sido publicado em alguma revista, algo
muito comum nos primeiros anos do mestre, e deve ter sido também a primeira excursão
de King em historias protagonizadas por crianças, algo que se tornaria muito
comum em sua bibliografia e que originou alguns de seus maiores clássicos, como
IT – A Coisa – já comentado aqui – e
o conto O Corpo, presente na
antologia Quatro Estações. O quanto
o roteiro – que na época, deveria ser escrito pelo próprio King – se baseia no
conto original não sei dizer porque ainda não o li, mas assim que o fizer,
trago a resenha para vocês.
Seja como for, o fato é que o roteiro já começa com
os dois pés no peito, com um massacre de adultos em uma lanchonete e depois tem
um salto temporal e então nos apresenta o casal protagonista. A partir daí, a
trama foca principalmente nos dois e na sua viagem pelas estradas do Nebraska.
O melhor é que o roteiro não faz questão de dar uma explicação para o que está
acontecendo, do tipo, com flashbacks e outros artifícios. A trama começa com as
crianças já dominadas pelo pastor-mirim Isaac e pronto, não faz muita questão
de explicar a entidade nem o motivo dela estar ali, numa fala de uma das
personagens nos é revelado tudo isso. É o tipo de roteiro que faz falta hoje em
dia.
Outro ponto a ser destacado é a fotografia, realizada
por um brasileiro escondido atrás de um pseudônimo, vale dizer. O fotografo fez
um excelente trabalho em captar toda a ambientação seca dos cenários,
principalmente do milharal e da pequena cidade. Isso se deve ao fato de ser um
filme que se passa quase todo durante o dia, então tudo é visível e o terror
chega a ser até um pouco maior por causa disso. Mas mesmo assim, ele fez um
excelente trabalho, com seus planos abertos, revelando o ambiente ao redor dos
personagens. Minha tomada preferida é uma que é mostrada em um grande plano
geral, e revela o local onde é a seita das crianças, graças à duas cruzes
gigantes e tochas. É uma tomada linda porque acontece no pôr do sol, então a
cena vai ficando mais escura e vemos isso com os cortes da edição. E claro, a ambientação
de cidade abandonada; é o tipo de coisa que me agrada em filmes desse tipo.
A trilha sonora também é um ponto a ser mencionado,
com seu coro infantil arrepiante.
Além da fotografia e do roteiro, quero destacar a
direção. O diretor Fritz Kiersch não faz feio aqui e consegue arrancar ótimas
performances do seu elenco, principalmente das crianças.
E claro, tenho que falar sobre elas. Os vilões mirins
são o grande acerto do filme, e passam a sensação de maldade com facilidade,
chegando a assustar de verdade. O mesmo pode ser dito das duas crianças do bem,
que passam um ar de perigo e medo, visto que eles não fazem parte daquela
sociedade.
Colheita
Maldita, como sabemos, faz parte de um grupo especifico de filmes que
retratam crianças como perigosas e assassinas. Eu já falei sobre elas aqui, na
resenha do excelente Os Meninos (1975),
mas existem vários exemplos, e este filme, acredito, é um dos mais conhecidos.
E este, como sabemos, é um tema difícil de lidar, porque é difícil imaginar que
crianças sejam capazes de atos cruéis, seja por qual motivo. No cinema, como
mencionei, temos vários exemplos, mas na literatura, acredito que o exemplo
mais famoso é O Senhor das Moscas,
de William Golding, onde crianças ficam presas numa ilha e criam suas próprias
regras. Seja como for, é um assunto que merece ser discutido.
Também não é novidade para ninguém que Colheita Maldita se tornou uma franquia
a partir dos anos 90, com diversas continuações, com certeza, uma pior que a
outra. Vou dar exemplos: o segundo filme é ruim; o terceiro é uma trasheira,
mas não vale uma resenha; o quarto é chato; e o sexto, que traz Isaac de volta,
também. Não posso dizer nada sobre os demais, porque não vi, mas nenhum deles
terá resenha aqui, porque não foram lançados oficialmente no Brasil. O remake
de 2009 é horrível, e não tive coragem de conferir o reboot desse ano. Melhor
ficar com o primeiro mesmo.
Enfim, Colheita
Maldita é um ótimo filme. Um longa tenso e arrepiante, com uma técnica
muito boa, principalmente a fotografia, que capta a atmosfera dos cenários
muito bem. O elenco jovem é o grande destaque do filme, e passam todo o medo e
o terror que deveriam sem esforço, assim como a trilha sonora. Uma das melhores
adaptações de Stephen King. Recomendado.
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