sábado, 30 de outubro de 2021

HALLOWEEN II – O PESADELO CONTINUA (1981). Dir.: Rick Rosenthal.

 

NOTA: 9.5



Não há dúvidas que Halloween – A Noite do Terror (1978) é um dos maiores filmes de terror de todos os tempos, e um clássico absoluto do gênero Slasher. Motivados pelo sucesso do primeiro filme, e inspirados pelo sucesso de outros exemplares do gênero, os produtores logo se animaram para lançar uma sequência. HALLOWEEN II – O PESADELO CONTINUA foi a primeira delas, distribuída pela Universal e produzida por Dino de Laurentiis.

 

Lançado em 1981, o filme é uma continuação direta do Clássico de John Carpenter, pois começa exatamente onde o primeiro filme parou, algo raro de ser nas continuações, mesmo hoje em dia. Aliás, esse é o primeiro ponto positivo do filme, porque geralmente, sequencias tendem a começar de forma independente, muitas vezes com passagens de tempo entre um filme e outro, mas aqui foi diferente.

 

Halloween II é um exemplo de sequência que não ofende o filme original, pelo contrário, chega a ser tão bom quanto, mesmo sem o brilhantismo do antecessor. Inclusive, conforme mencionado em diversos sites, os dois filmes juntos formam um longa único com 3 horas de duração. Outra coisa que é sempre mencionada, é que este é conhecido pelos fãs da franquia como o “Filme do Hospital”, uma vez que a historia se passa dentro do Hospital Memorial de Haddonfield, o que, para muitos, é motivo de algumas criticas, mas, mais detalhes sobre isso adiante. E outra coisa que chama atenção no filme, é o fato de haver mais sangue, ação e violência e cenas icônicas, mas não entrarei em detalhes ainda.

 

O fato é que Halloween II é um dos melhores da franquia, justamente por ser um filme que de certa forma, tentou seguir a tradição do primeiro filme, mantendo um clima de suspense e mistério, apesar de também apresentar cenas de violência e nudez, algo que não estava presente no filme anterior. O principal motivo para tais mudanças foi o fato de que naquela época, o gênero Slasher já apresentava tais características, principalmente nos primeiros filmes da franquia Sexta-Feira 13, cuja primeira sequência foi lançada no mesmo ano. Então, o jeito foi seguir a formula. E deu muito certo.

 

Eu sou um grande fã de Halloween II, e considero um dos meus favoritos da franquia. Eu assisti ao filme pela primeira vez em 2002 e gostei imediatamente, principalmente porque naquela época, eu estava descobrindo a franquia, então, quando surgiu a oportunidade, eu agarrei. Até hoje, eu gosto muito do filme e fica melhor a cada revisão. Aliás, conforme mencionei outra vezes, eu sou um fã assumido da franquia – menos dos filmes que vieram depois de Halloween H2O no inicio dos anos 2000 – até mesmo dos mais problemáticos, principalmente Halloween 5 e Halloween 6 (somente a Versão do Produtor). Felizmente, a franquia voltou com tudo em 2018, com o maravilhoso reboot de David Gordon Green, e suas duas continuações.

 

Halloween II foi novamente produzido por Moustapha Akkad e Irwin Yablans, que demonstraram interesse em realizar uma sequencia após o sucesso do gênero Slasher nos cinemas; então, para isso, chamaram novamente John Carpenter e Debra Hill; no entanto, na época, ambos estavam envolvidos na produção de A Bruma Assassina (1980), que seria lançado pela Avco Embassy. Tanto Carpenter quanto Hill na realidade não tinham muito interesse em uma sequência de Halloween, pelo menos não tão cedo, mas mesmo assim, acabaram entrando no projeto, mesmo após desavenças com Yablans, que acabou processando Carpenter após este se desvincular do projeto inicialmente e se dedicar à Bruma. Para prestar auxilio, o produtor Dino de Laurentiis também acabou se envolvendo, mesmo que por meio de sua companhia, a Dino de Laurentiis Corportation. No final, Carpenter e Hill escreveram o roteiro e assumiram o cargo de produtores, mas novos problemas surgiram. Segundo o próprio Carpenter, ele mesmo não gostou do trabalho que fez no roteiro, tendo inclusive, declarado que o escreveu enquanto bebia sua cerveja favorita, o que acabou explicando algumas decisões na trama – inclusive a principal delas. E além de escrever o roteiro e co-produzir, Carpenter também ficou novamente responsável pela trilha sonora, e contou com a ajuda de Alan Howarth; mas mesmo assim, o diretor acabou não se envolvendo tanto, porque acabou se dedicando a O Enigma de Outro Mundo, sua obra-prima, que sairia no ano seguinte. Mesmo assim, a trilha sonora ficou muito boa, principalmente o tema principal, que ganhou uma ótima variação. E para completar, Carpenter e Hill ainda estavam envolvidos com a produção de Fuga de Nova York, lançado no mesmo ano.

 

Halloween II, inicialmente, seria dirigido por Tommy Lee Wallace, que trabalhou no original como designer de produção e co-editor. No entanto, após o ler o roteiro, Wallace detestou e acabou abandonando o projeto, que acabou sendo dirigido por Rick Rosenthal, um conhecido de Carpenter, aqui em sua estreia na função. O diretor fez um ótimo trabalho e se mostrou muito competente, principalmente como diretor de atores, e conseguiu arrancar ótimas performances de seu elenco.

 

O filme marcou o retorno de Jamie Lee Curtis e Donald Pleasence à franquia, nos respectivos papeis de Laurie Strode e Dr. Loomis. Além deles, os atores Charles Cyphers e Nancy Stephens também retornaram, reprisando seus papeis. Cyphers não tem muita presença em tela, realmente, mas sua participação é memorável. Outros como a enfermeira-chefe Sra. Alves; os motoristas de ambulância, Jimmy e Budd; as enfermeiras Janet e Jill; e o vigia Sr. Garret; além do policial Hunt, completam o elenco de novos personagens do longa, e todos são muito bons, assim como os atores que os interpretam. Além do elenco, o diretor de fotografia Dean Cundey também retornou, e seu trabalho é excelente, principalmente nas cenas dos corredores escuros do hospital, que ganharam um clima soturno e macabro.

 

Alias, como mencionado acima, Halloween II é conhecido como o “Filme do Hospital”, e devo dizer que funcionou muito bem, porque eu acho que se o roteiro tivesse optado por uma trama parecida com o primeiro filme, talvez o resultado não fosse tão bom assim. No entanto, apesar da inovação na trama, para os mais exigentes, ela apresenta um grande problema: não tem absolutamente ninguém naquele hospital! Não sei realmente como os hospitais são retratados nos filmes americanos, mas, devo dizer que não me importo tanto assim para esse detalhe; claro, ver um hospital vazio e escuro num filme é estranho, mas isso não faz muita diferença para mim. Eu gosto desse clima.

 

Além de ser considerado o “Filme do Hospital Vazio”, Halloween II é o filme da franquia com as cenas de morte mais memoráveis para os fãs, e são muitas. Carpenter e Hill capricharam na violência aqui, com direito a mortes verdadeiramente sangrentas e pesadas, principalmente dentro do hospital. Temos também algumas cenas ótimas fora do hospital, sendo a melhor delas, a cena do atropelamento seguido da explosão de uma van. No entanto, as cenas mais famosas ficam mesmo dentro do hospital, com destaque para a enfermeira que tem seu rosto mergulhado em uma piscina de água quente, além da outra enfermeira que é levantada no ar após ser esfaqueada por um bisturi; além, é claro, da destruição de Michael, no final.

 

Não posso concluir este texto sobre Halloween II sem mencionar Michael Myers. Se no primeiro filme, nós tínhamos um Michael Myers mais misterioso, com ares de stalker, aqui a coisa é diferente. Michael assume uma personalidade mais mortal, que mata suas vítimas com requintes de crueldade, e ele praticamente não poupa ninguém. O vilão percorre os corredores do Hospital de Haddonfield como um predador a procura de sua presa, e não mede esforços para encontrá-la e matá-la. Em relação ao seu visual, temos aqui o que talvez o “Michael Myers de Halloween II”, com a mascara um pouco deformada e a gola do macacão rente ao pescoço, e o bisturi ao invés da faca. Além disso, temos o famoso visual no final do filme, com sangue escorrendo pelos olhos da máscara. Mesmo assim, ele continua o mesmo, e tais mudanças são quase imperceptíveis.

 

Outra coisa que ronda pela internet, é o fato de Halloween II ser o filme que “definiu” a franquia, ou seja, ele estabeleceu os rumos que a franquia tomaria nos anos seguintes, e muito disso provavelmente se deve ao fato de Carpenter ter escrito o roteiro enquanto bebia sua cerveja favorita – sem julgamentos, pelo amor de Deus! Quer dizer, talvez não seja exatamente o caso, mas o fato é que o filme apresenta situações que foram seguidas nas continuações, como por exemplo, a cena da escola, onde a palavra “Samhain” está escrita com sangue na lousa. Essa cena serviu para estabelecer a ligação de Michael Myers com a cultura druida e a celebração do Festival de Samhain, além de estabelecer ligação com a famigerada “Maldição de Thorn”, o que transformou o personagem numa entidade sobrenatural ligada a rituais de sacrifícios e seitas, conforme estabelecido em Halloween 5 e principalmente em Halloween 6. Outra coisa que Carpenter acrescentou aqui foi o fato de Laurie Strode – ALERTA DE SPOILER!ser irmã de Michael Myers, o que explica a obsessão do maníaco por ela. Segundo Carpenter, ele estava sem ideias para o filme e resolveu acrescentar esse detalhe na historia, talvez para explicar por que Michael persegue Laurie. Tal fato foi estabelecido nas sequencias, principalmente em Halloween H2O, onde Laurie e Michael se reencontram e se enfrentam como irmão e irmã. Nas demais continuações, os laços familiares aparecem na perseguição de Michael a sua sobrinha, mas, mais detalhes sobre isso nas resenhas de Halloween 4, Halloween 5 e Halloween 6 – Versão do Produtor.

 

Halloween II foi lançado nos cinemas em 30/out/1981 – há 40 anos – e tornou-se um sucesso de bilheteria, apesar das críticas negativas. O sucesso do filme inspirou John Carpenter e Debra Hill a produzir mais uma sequência, Halloween III – A Noite das Bruxas, lançado no ano seguinte, mas que tomou um caminho diferente, conforme veremos no futuro.

 

Foi lançado em DVD no Brasil, mas permaneceu fora de catálogo por anos, até ser lançado em Blu-Ray pela Obras-Primas do Cinema, numa edição caprichada, em versão restaurada, juntamente com o Clássico de John Carpenter, que também foi lançado em versão restaurada em 4k, além das versões estendidas para TV. Lá fora, os cinco primeiros filmes da franquia receberam um lançamento recente em novas versões restauradas em 4k, com artes de capa muito bonitas. Não sei se chegarão aqui no Brasil, principalmente os dois primeiros, mas, não custa sonhar, não é mesmo?

 

Enfim, Halloween II – O Pesadelo Continua é excelente. Um filme cheio de ação, violência, e cenas que são lembradas com muito carinho pelos fãs da franquia. Um exemplo de sequência que não ofende o filme original, pelo contrário, merece lugar ao seu lado, mesmo não contendo o brilhantismo do antecessor. O retorno de Michael Myers e outros personagens clássicos, aliados a um roteiro bem amarrado, uma direção afiada e trilha sonora inspirada, fazem deste um dos melhores filmes da franquia Halloween. Excelente. Sangrento. Arrepiante.

 

FELIZ DIA DAS BRUXAS!


Créditos: Obras-Primas do Cinema



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sábado, 9 de outubro de 2021

CARRIE – A ESTRANHA (1976). Dir.: Brian de Palma.

 

NOTA: 10



Carrie – A Estranha, romance de estreia de Stephen King, é um livro fascinante, assustador, chocante e atual. Já em seu primeiro livro, o autor mostrou sua capacidade para contar histórias, e lançou um de seus maiores clássicos. O sucesso do livro foi o suficiente para leva-lo para o cinema.

 

Lançado em 1976, dois anos após a publicação do livro, CARRIE – A ESTRANHA ainda hoje é a melhor adaptação da obra do autor, e o meu filme favorito do diretor Brian de Palma.  E motivos para isso não faltam.

 

O filme é um dos maiores clássicos do Cinema e do gênero Terror, e até hoje, é um dos filmes mais assustadores de todos os tempos. Produto da Nova Hollywood, além de ser um clássico, é um filme que para mim, possui uma grande importância, porque eu o vi pela primeira vez em uma época especifica da minha vida. Mais sobre isso adiante.

 

Bem, seja como for, o fato é que o filme é excelente, e fica melhor a cada revisão, e grande parte disso se deve ao diretor de Palma.

 

Até hoje, de Palma é considerado um dos maiores cineastas de todos os tempos, e aqui ele dá uma prova disso. O diretor é muito habilidoso com o que faz, e se mostra um excelente diretor de atores. Aliás, esse é um dos grandes trunfos do filme.

 

De Palma soube escolher seu elenco com perfeição e é possível enxergar os personagens nos rostos dos atores, e infelizmente, isso é o tipo de coisa que faz muita falta hoje em dia.

 

Outra coisa que chama a atenção no filme é o clima de nostalgia. Na essência, Carrie é uma história de colégio; no entanto, devo confessar que nesse sentido, eu sinto muito mais prazer assistindo o filme, porque as cenas no colégio são muito nostálgicas para mim. Como eu disse, eu assisti esse filme numa época muito especifica da minha vida, durante as férias de Julho; eu vi muito esse filme antes de retornar para a escola, então, o clima de colégio estava muito presente, e toda vez que eu assisto, essa sensação de nostalgia retorna e me deixa muito feliz.

 

Outra coisa que torna esse filme – o livro também – muito especial, é a própria protagonista. Carrie é uma excluída, vitima de bullying dos colegas e professores da escola. Eu me identificava muito com ela, principalmente com essa solidão e fragilidade que ela mostra na tela. De verdade, era como se eu me visse na personagem toda vez que vejo o filme. É o tipo de coisa que poucos filmes conseguem fazer comigo.

 

Além de tocar no tema do bullying, a historia também possui momentos chocantes, principalmente envolvendo violência. No livro, isso é muito forte, e o diretor de Palma soube passar isso para a tela. A começar pelo inicio, no vestiário; a cena da menstruação é uma das mais fortes do cinema, principalmente pela performance das atrizes. Sem exceção, todas dão um show de atuação na cena, transmitindo exatamente aquilo que a cena pede. No entanto, os momentos mais pesados ficam nas cenas entre Carrie e sua mãe. Todos os méritos, novamente, vão para as atrizes. Ambas conseguem passar a loucura, a tortura psicológica e o sofrimento descritos nas cenas e com isso, as mesmas ficam muito perturbadoras.

 

Falando nisso, devo destacar o elenco. De Palma soube escolher seu elenco com perfeição, e até hoje, sempre que assisto, eu consigo visualizar os personagens nos atores, sem o menor esforço. No entanto, quem rouba a atenção são Sissy Spacek e Piper Laurie, como Carrie e sua mãe, respectivamente. Conforme mencionei acima, as atrizes dão um show de atuação, e entregam atuações inspiradas, tanto que ambas receberam indicações ao Oscar®. O restante do elenco também não decepciona, e o melhor, eles não parecem forçados, caricatos ou inadequados.

 

No quesito técnico, o filme também não decepciona, principalmente a câmera. A câmera de De Palma realiza grandes feitos, principalmente quando se move pelo cenário, com destaque para o Baile de Formatura, em especial a cena da dança e quando as cartelas dos votos são recolhidas. Hoje em dia, talvez tais cenas seriam feitas de outro modo, mas na época, foram necessárias gambiarras para alcançar o resultado que vemos. A trilha sonora, composta pelo cantor italiano Pino Donaggio – colaborador frequente do diretor – é belíssima, principalmente o tema de Carrie e na sequência do incêndio no Baile. E devo destacar também a montagem. Para quem conhece o estilo de De Palma, sabe que ele utiliza técnicas malucas para contar suas historias, com direito a tela dividida e imagens juntas em distancias diferentes no mesmo plano. O mais legal é que na pós-produção, tais cenas são combinadas para criar o efeito, o funciona maravilhosamente. Toda a sequência da vingança de Carrie no Baile foi filmada com tela dividida, e até hoje, eu me pergunto como foi feita e principalmente, como cenas assim são escritas no roteiro. Aliás, devo destacar o take em que o Baile começa a pegar fogo, com Carrie em pé diante do palco contra a luz. É um take lindo!

 

Sendo um filme de terror, temos muitas cenas assustadoras. Sem duvida, a mais assustadora é a sequência do incêndio do Baile, porque é muito bem feita, com direito a takes chocantes de personagens morrendo – devo destacar aqui a cena em que as portas da quadra se abrem para Carrie sair, enquanto o lugar é tomado pelas chamas. A cena em que Carrie volta para a casa também é assustadora, principalmente por causa da trilha sonora.

 

Outra coisa que devo dizer é que Carrie é uma história sobre o sangue. Desde o começo, o sangue está presente na tela, mas o ápice é na sequência do Baile, quando a personagem é banhada pelo sangue. Eu digo que é uma das cenas mais tensas e assustadoras do cinema.

 

Antes de encerrar, devo dizer que o próprio Stephen King ficou muito feliz com o resultado, principalmente com o final, que conseguiu assustá-lo quando ele viu no cinema. Até hoje, ele diz que o filme não envelheceu, e razão ele tem. Até hoje, o filme é um dos maiores clássicos do Terror.

 

Enfim, Carrie – A Estranha é um clássico do cinema. Um filme verdadeiramente assustador, com atmosfera de nostalgia muito bem feita, e momentos de violência chocante.  Primeira adaptação de Stephen King para o cinema. Um dos Filmes Mais Assustadores de Todos os Tempos. Excelente. 




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