segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

AVISO.

 






O LIVROS & FILMES DE HORROR está em recesso. Novas resenhas a partir de Fevereiro/2022.

Obrigado.


quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

AS TRÊS MÁSCARAS DO TERROR (1963). Dir.: Mario Bava.

 

NOTA: 10



Mario Bava era um mestre. Eu já disse isso algumas vezes aqui, mas, é sempre bom ressaltar. Desde que se aventurou na direção definitivamente, com o Clássico A Maldição do Demônio (1960), Bava nos presenteou com obras que até hoje são admiradas por cineastas e fãs de cinema. Mesmo tendo se aventurado em outros gêneros, como, por exemplo, o Western, o cinema épico, e até mesmo, o cinema de super-heróis, o diretor é mais conhecido pela sua presença no Terror, principalmente no Terror Gótico.  E AS TRÊS MÁSCARAS DO TERROR (1963) é mais um exemplo.

 

Este é, sem duvida, um dos melhores trabalhos do diretor – dentre muitos outros – , e talvez a sua única aventura no gênero de antologias. E além disso, Bava contou com a presença de outro grande Mestre do terror: o astro Boris Karloff, que aqui faz o papel de anfitrião, além de estrelar o segundo – e melhor – segmento do filme, mais detalhes sobre isso adiante.

 

O filme é divido em três episódios, todos apresentados por Karloff.

 

O primeiro, O Telefone, é uma história de mistério com toques de Giallo. Após chegar em casa, uma prostituta que começa a receber ligações misteriosas. Ela então começa a suspeitar que o responsável é o seu ex-namorado, que estava preso, mas conseguiu fugir. Desesperada, ela liga para uma amiga para pedir ajuda, mas não imagina que o terror estava apenas começando.

 

O próximo segmento, O Vurdalak, é o melhor deles, sem a menor dúvida. Na história, um homem encontra um cadáver sem cabeça e o leva para a casa de uma família, e logo descobre que se trata de um assassino que vivia na região. No entanto, ele não sabe que a família está esperando o pai voltar para casa, mas ao mesmo tempo, todos estão com medo, pois acreditam que ele pode ter sido vítima de uma maldição vampiresca.

 

O último segmento, A Gota D’Água, é uma clássica história de fantasma. Uma enfermeira recebe um telefonema para ir à casa de uma médium que morreu durante uma sessão para ajudar a empregada a prepara-la para o funeral. No entanto, ela acaba roubando o anel da falecida, e passa a ser atormentada pelo seu fantasma.

 

Com o roteiro adaptado de obras escritas por F.G. Synder, Ivan Chekhov e Aleksey K. Tolstoy, As Três Máscaras do Terror é uma antologia clássica, apresentada em episódios de curta duração; ou seja, um exemplar clássico do gênero, correto? Sim, mas tem mais um detalhe: foi dirigido pelo Maestro Mario Bava, e posso dizer que isso é o que a diferencia das demais. Afinal, Bava era um maestro do cinema de horror, e aqui, dá mais uma prova do seu enorme talento.

 

O filme é um espetáculo de cores, principalmente os dois últimos segmentos, mas não é só isso. Mesmo apostando em recursos limitados, o diretor foi capaz de criar cenas e sequencias memoráveis, dignas de estudo para cinéfilos e fãs de cinema.



Logo na introdução, apresentada pelo astro Boris Karloff, somos brindados com um show de cores pulsantes na tela, que já enchem os olhos e dão uma dica do que vem por aí. Em seguida, no primeiro episódio, podemos ver o quanto o maestro sabia lidar com apenas um cenário e poucos atores, mesmo porque é exatamente isso que é mostrado na tela. Bava sabia exatamente o que fazer com o que tinha nas mãos e entregou um segmento tenso e arrepiante. No entanto, é certo dizer que ele guardou o melhor para os dois segmentos seguintes. Ambos são exemplares clássicos do terror gótico que o diretor que sabia fazer, com seus cenários exuberantes, dignos de foto, luzes coloridas pulsantes e cores vibrantes. Um verdadeiro espetáculo visual.


 

Além disso, temos aqui a representação de três grandes gêneros do terror, conforme mencionado acima. O Telefone é um suspense psicológico com toques de Giallo, subgênero que estava dando seus primeiros passos no cinema; temos o clima de tensão e também as ligações misteriosas, que se tornariam uma das marcas do gênero, além da presença das luvas pretas segurando uma faca brilhante. O Vurdalak é uma história de vampiros, nesse caso, do vampiro da tradição russa, que volta para se alimentar do sangue das pessoas que mais amou em vida – conforme dito na resenha de A Noite dos Demônios (1972), que também adaptou a novela de Tolstoy; e como toda história de vampiros, temos a presença das vítimas com os pescoços marcados pelos caninos afiados, além também do fato de que elas voltam para matar seus familiares. E por fim, A Gota D’Água é uma clássica história de fantasma com toques de terror psicológico, onde a personagem principal é levada à loucura. Temos a figura do fantasma que volta para assombrar a pessoa que o prejudicou, assim como vemos nos filmes de terror japonês, e leva-la a ter seu merecido fim, além, é claro, de termos também o tema do objeto maldito que vai passando de pessoa para pessoa, desencadeando um ciclo sem fim.

 

Ainda sobre o primeiro segmento, podemos também notar que a história toca em um dos grandes tabus da humanidade: a representação da homossexualidade na tela, ainda mais naquela época. Mesmo abordada de forma até sutil, é difícil não fazer essa associação; e além disso, temos também pequenos momentos de erotismo e sensualidade, novamente, algo inédito e ousado para a época.

 

Mesmo assim, é impossível assistir à As Três Máscaras do Terror e não se maravilhar, principalmente com a fotografia. Conforme mencionado acima, é um filme colorido, com as cores pulsando e vibrando na tela, enchendo os olhos do espectador. Bava era muito conhecido principalmente por seus filmes coloridos, e aqui podemos ver o motivo. O maestro soube muito bem onde colocar as cores, dado o seu conhecimento anterior como diretor de fotografia, e com isso, nos brindou com momentos dignos de obras de artes. Aliás, todo o trabalho do diretor é soberbo. Seu elenco atua muito bem, principalmente o astro Boris Karloff, com destaque para sua atuação no segundo episódio, onde ele interpretou o único vampiro de sua carreira, com sua capa negra com o capuz coberto de pelos. Os efeitos especiais também são maravilhosos, principalmente a cena da cavalgada na floresta noturna, homenageada por Tim Burton em A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça (1999); o fantasma da médium no último episódio também não fica atrás, com seu sorriso permanente e suas mãos em formato de garra. E claro, temos o som do vento soprando na noite. Conforme mencionei anteriormente, eu adoro quando tal efeito de som, pois dá uma sensação indescritível.

 

Sem dúvida, As Três Máscaras do Terror é um dos melhores filmes do Maestro Mario Bava, e um dos mais belos filmes de terror de todos os tempos. Quem disse que filme de terror não pode ser lindo e colorido, mas viu esse filme.

 

Foi lançado em 1963 na Itália, e no mesmo ano, a A.I.P. tratou de lançar uma versão alternativa nos Estados Unidos, que ganhou o título Black Sabbath, pelo qual também é conhecido. Os episódios foram trocados de ordem, além de contar com cenas alteradas – principalmente a introdução – e nova trilha sonora. No entanto, mesmo contando com a verdadeira voz do astro Boris Karloff, eu não gostei na versão internacional; eu prefiro muito mais a versão original italiana. Eu sei que algumas pessoas gostam das duas versões – ou até de uma delas – mas eu prefiro a versão oficial.

 

Chegou a ser lançado em DVD no Brasil pela distribuidora DarkSide – somente a versão italiana – , mas esteve fora de catálogo por anos, até ser lançado em DVD pela Versátil Home Vídeo, em belíssima versão restaurada, também com a versão internacional, até então, inédita no Brasil.

 

Enfim, As Três Máscaras do Terror é um filme belíssimo. Um verdadeiro espetáculo visual, com cores vibrantes que enchem os olhos do espectador, além de uma direção criativa do Maestro Bava, do jeito que somente ele sabia fazer. O astro Boris Karloff entrega uma atuação espetacular sob o comando do Maestro, interpretando o único vampiro de sua carreira. Uma trilogia de horror com toques de fantasia. Uma verdadeira obra de arte do cinema de horror. 


Créditos: Versátil Home Vídeo


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sexta-feira, 5 de novembro de 2021

TUBARÃO 2 (1978). Dir.: Jeannot Szwarc.

 

NOTA: 9.5



Tubarão, o Clássico de Steven Spielberg, lançado em 1975, tornou-se o primeiro filme blockbuster da história, arrecadando mais de US$ 100 milhões em bilheteria.  Motivados pelo sucesso do filme, os executivos da Universal logo se animaram para lançar uma sequência.

 

Lançado em 1978, TUBARÃO 2 foi dirigido por Jeannot Szwarc, e contou novamente com alguns membros da equipe e elenco do primeiro filme. Até hoje, é considerado a melhor sequência do filme de Spielberg, talvez por ainda contar com elementos de tensão e suspense. E realmente, é uma excelente continuação.

 

Devo dizer que esse foi um dos últimos filmes da franquia Tubarão que eu assisti, porque o meu contato com a franquia se deu da seguinte maneira: o primeiro eu assisti o Clássico; depois, veio o terceiro filme (1983); em seguida, este aqui; e por último, o quarto filme (1987). E confesso que fui pego de surpresa.

 

Sinceramente, como já estava acostumado com os filmes de tubarão, eu esperava que Tubarão 2 fosse um filme completamente diferente, com maior presença do vilão e maior número de mortes. E o que vi foi exatamente o oposto, principalmente no número de mortes, mas, mais detalhes sobre isso adiante.

 

Realmente, Tubarão 2 é um ótimo filme, e o principal motivo para isso seja o próprio desenvolvimento do longa. Os produtores Richard Zanuck e David Brown – que também produziram o original – tinham várias ideias em mente para o filme, chegando inclusive, a contar com sugestões do autor Peter Benchley, e até mesmo do próprio Spielberg, que acabaram abandonando o projeto. Após algumas sugestões, eles perceberam que o publico iria gostar de rever os personagens e o cenário do filme anterior, então, eles foram trazidos de volta.

 

O filme se passa quatro anos após os incidentes do primeiro filme, então, fomos levados de volta à Amity Island, com o Chefe Brody e os demais personagens, com adições de outros, principalmente os jovens. De fato, além dos filhos de Brody, aqui temos um elenco de jovens personagens, cuja principal atividade é sair para velejar. Além dos jovens, temos também outros adultos, entre eles, o dono do grupo imobiliário de Amity, que agora assume o posto de autoridade incrédula.

 

Sim, aqui temos isso novamente. Na verdade, talvez para os mais exigentes, Tubarão 2 pode parecer uma refilmagem malfeita do primeiro filme, uma vez que temos os mesmos elementos da trama anterior. Na verdade, não é bem assim. Mesmo contando com o elemento das autoridades incrédulas, o filme é bem diferente do original, principalmente em se tratando da trama. Aqui, nós temos um pouco mais de oportunidade de acompanhar a vida na cidade, e como o Chefe Brody exerce sua função perante todos. No primeiro filme, nós até já tivemos essa oportunidade, mas aqui, podemos desfrutar um pouco mais. E é muito bom retornar à Amity Island.

 

Conforme mencionado acima, aqui nós temos o retorno do Chefe Brody, novamente interpretado por Roy Scheider; e além dele, Lorraine Gary e Murray Hamilton retornam nos seus respectivos papéis, e também é muito bom vê-los novamente em cena. E além do elenco, e dos produtores Zanuck e Brown, o roteirista Carl Cottlieb e o design de produção Joe Alves também retornaram.

 

O elenco jovem também é um destaque. Muitos dos jovens atores eram inexperientes e logo no primeiro filme, apresentaram boas performances. O melhor é que aqueles atores realmente parecem jovens locais, que gostam de passar o tempo juntos, bebendo cerveja e se divertindo em grupos. E como em todos os grupos de jovens, nós temos aqui a famosa hierarquia, onde os perdedores são separados dos demais. No entanto, quando a situação se agrava, todos se unem para sobreviver à ameaça. Muito legal.


Outra coisa que deve ser mencionada é a direção de Szwarc. O diretor é muito bom no que faz, principalmente com seus ângulos elaborados atrás do tubarão; além disso, ele se mostra um ótimo diretor de atores, visto que seu elenco arranca ótimas performances, conforme mencionado. 


Tubarão 2 voltou a contar com John Williams na trilha sonora, e, ao contrário do que muitos devem pensar, o compositor não reaproveitou a trilha do filme de Spielberg; ao contrário, aqui temos uma trilha sonora diferente, com mais tensão e momentos líricos, com direito a harpa. Mas, não se enganem, a trilha sonora do primeiro filme ainda é a melhor de todas. 

 

E claro que não posso encerrar esse texto sem mencionar o tubarão. Segundo o designer de produção, Joe Alves, a equipe de efeitos especiais utilizou os mesmos moldes usados em Bruce para construir o peixe, com algumas diferenças. Claro, temos, por exemplo, a barbatana dorsal com o mesmo design, mas a face do tubarão é diferente, principalmente porque não tem aqueles dois detalhes na mandíbula. E assim como seu antecessor, o animatrônico apresentou problemas ao ser colocado na água, o que causou atrasos na produção. Mas a melhor parte, é a característica marcante do vilão: sua face queimada, cheia de cicatrizes, resultado do seu segundo ataque. Sem duvida, é o visual mais marcante do filme. E também temos tomadas de tubarões reais, novamente cortesia de Ron e Valerie Taylor.



E como mencionado acima, o filme apresentou alguns problemas nas filmagens, que também envolveram as câmeras utilizadas, principalmente devido às condições do tempo. Os barcos a vela também trouxeram problemas, principalmente quando começam a tombar durante o ataque do tubarão. Outras dificuldades técnicas incluem o uso das câmeras submarinas, na cena do jet-ski. A ilha artificial também trouxe problemas, visto que acabou se soltando de seu ponto de apoio e se deslocou em direção à Cuba. E o tubarão também apresentou dificuldades para funcionar em determinadas cenas. 

 

Tubarão 2 foi novamente rodado em Martha’s Vineyard, em Massachusetts. No entanto, a equipe permaneceu na locação durante 3 ou 4 semanas, e foram para a Flórida para filmar as cenas no mar. E além disso, algumas cenas debaixo d’água foram rodadas na Califórnia e nos tanques da MGM, e o realismo mais uma vez ficou evidente.

 

Para finalizar, Tubarão 2 teve sua contagem de cadáveres reduzida, visto que, segundo Zanuck e Brown, eles iriam perder seu público-alvo, os adolescentes, que iriam ao cinema para se divertir. E, após o sucesso do filme, os dois produtores logo se entusiasmaram para produzir uma nova sequência, o famigerado Tubarão 3 X People 0, que nunca foi produzido, mas chegou a ter um roteiro escrito por John Hughes e chegou a escalar o diretor Joe Dante para comandá-lo, mas, como sabemos, o projeto foi abortado.

 

Tubarão 2 foi lançado em 16/jun/1978, e tornou-se um sucesso de bilheteria, arrecadando US$ 208 milhões de dólares, apesar das críticas mistas. Foi lançado no Brasil em DVD, mas atualmente, está fora de catálogo.

 

O sucesso do filme inspirou a produção das próximas sequências, Tubarão 3, lançado em 1983 e dirigido por Joe Alves; e Tubarão – A Vingança, lançado em 1987 e dirigido por Joseph Sargent. No entanto, apesar do sucesso deste filme, as duas ultimas sequências são consideradas as piores, principalmente o último filme, que sepultou a franquia, mas não as imitações de quinta categoria...

 

Enfim, Tubarão 2 é um filme excelente. Uma sequência digna do primeiro filme, mesmo não contando com o brilhantismo de seu antecessor, mas mesmo assim, querido por muitos. O retorno do elenco original, aliados a um roteiro inspirado e uma direção afiada, fazem desta a melhor sequência do Clássico de Steven Spielberg. Um filme cheio de tensão e medo. Maravilhoso. 




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sábado, 30 de outubro de 2021

HALLOWEEN II – O PESADELO CONTINUA (1981). Dir.: Rick Rosenthal.

 

NOTA: 9.5



Não há dúvidas que Halloween – A Noite do Terror (1978) é um dos maiores filmes de terror de todos os tempos, e um clássico absoluto do gênero Slasher. Motivados pelo sucesso do primeiro filme, e inspirados pelo sucesso de outros exemplares do gênero, os produtores logo se animaram para lançar uma sequência. HALLOWEEN II – O PESADELO CONTINUA foi a primeira delas, distribuída pela Universal e produzida por Dino de Laurentiis.

 

Lançado em 1981, o filme é uma continuação direta do Clássico de John Carpenter, pois começa exatamente onde o primeiro filme parou, algo raro de ser nas continuações, mesmo hoje em dia. Aliás, esse é o primeiro ponto positivo do filme, porque geralmente, sequencias tendem a começar de forma independente, muitas vezes com passagens de tempo entre um filme e outro, mas aqui foi diferente.

 

Halloween II é um exemplo de sequência que não ofende o filme original, pelo contrário, chega a ser tão bom quanto, mesmo sem o brilhantismo do antecessor. Inclusive, conforme mencionado em diversos sites, os dois filmes juntos formam um longa único com 3 horas de duração. Outra coisa que é sempre mencionada, é que este é conhecido pelos fãs da franquia como o “Filme do Hospital”, uma vez que a historia se passa dentro do Hospital Memorial de Haddonfield, o que, para muitos, é motivo de algumas criticas, mas, mais detalhes sobre isso adiante. E outra coisa que chama atenção no filme, é o fato de haver mais sangue, ação e violência e cenas icônicas, mas não entrarei em detalhes ainda.

 

O fato é que Halloween II é um dos melhores da franquia, justamente por ser um filme que de certa forma, tentou seguir a tradição do primeiro filme, mantendo um clima de suspense e mistério, apesar de também apresentar cenas de violência e nudez, algo que não estava presente no filme anterior. O principal motivo para tais mudanças foi o fato de que naquela época, o gênero Slasher já apresentava tais características, principalmente nos primeiros filmes da franquia Sexta-Feira 13, cuja primeira sequência foi lançada no mesmo ano. Então, o jeito foi seguir a formula. E deu muito certo.

 

Eu sou um grande fã de Halloween II, e considero um dos meus favoritos da franquia. Eu assisti ao filme pela primeira vez em 2002 e gostei imediatamente, principalmente porque naquela época, eu estava descobrindo a franquia, então, quando surgiu a oportunidade, eu agarrei. Até hoje, eu gosto muito do filme e fica melhor a cada revisão. Aliás, conforme mencionei outra vezes, eu sou um fã assumido da franquia – menos dos filmes que vieram depois de Halloween H2O no inicio dos anos 2000 – até mesmo dos mais problemáticos, principalmente Halloween 5 e Halloween 6 (somente a Versão do Produtor). Felizmente, a franquia voltou com tudo em 2018, com o maravilhoso reboot de David Gordon Green, e suas duas continuações.

 

Halloween II foi novamente produzido por Moustapha Akkad e Irwin Yablans, que demonstraram interesse em realizar uma sequencia após o sucesso do gênero Slasher nos cinemas; então, para isso, chamaram novamente John Carpenter e Debra Hill; no entanto, na época, ambos estavam envolvidos na produção de A Bruma Assassina (1980), que seria lançado pela Avco Embassy. Tanto Carpenter quanto Hill na realidade não tinham muito interesse em uma sequência de Halloween, pelo menos não tão cedo, mas mesmo assim, acabaram entrando no projeto, mesmo após desavenças com Yablans, que acabou processando Carpenter após este se desvincular do projeto inicialmente e se dedicar à Bruma. Para prestar auxilio, o produtor Dino de Laurentiis também acabou se envolvendo, mesmo que por meio de sua companhia, a Dino de Laurentiis Corportation. No final, Carpenter e Hill escreveram o roteiro e assumiram o cargo de produtores, mas novos problemas surgiram. Segundo o próprio Carpenter, ele mesmo não gostou do trabalho que fez no roteiro, tendo inclusive, declarado que o escreveu enquanto bebia sua cerveja favorita, o que acabou explicando algumas decisões na trama – inclusive a principal delas. E além de escrever o roteiro e co-produzir, Carpenter também ficou novamente responsável pela trilha sonora, e contou com a ajuda de Alan Howarth; mas mesmo assim, o diretor acabou não se envolvendo tanto, porque acabou se dedicando a O Enigma de Outro Mundo, sua obra-prima, que sairia no ano seguinte. Mesmo assim, a trilha sonora ficou muito boa, principalmente o tema principal, que ganhou uma ótima variação. E para completar, Carpenter e Hill ainda estavam envolvidos com a produção de Fuga de Nova York, lançado no mesmo ano.

 

Halloween II, inicialmente, seria dirigido por Tommy Lee Wallace, que trabalhou no original como designer de produção e co-editor. No entanto, após o ler o roteiro, Wallace detestou e acabou abandonando o projeto, que acabou sendo dirigido por Rick Rosenthal, um conhecido de Carpenter, aqui em sua estreia na função. O diretor fez um ótimo trabalho e se mostrou muito competente, principalmente como diretor de atores, e conseguiu arrancar ótimas performances de seu elenco.

 

O filme marcou o retorno de Jamie Lee Curtis e Donald Pleasence à franquia, nos respectivos papeis de Laurie Strode e Dr. Loomis. Além deles, os atores Charles Cyphers e Nancy Stephens também retornaram, reprisando seus papeis. Cyphers não tem muita presença em tela, realmente, mas sua participação é memorável. Outros como a enfermeira-chefe Sra. Alves; os motoristas de ambulância, Jimmy e Budd; as enfermeiras Janet e Jill; e o vigia Sr. Garret; além do policial Hunt, completam o elenco de novos personagens do longa, e todos são muito bons, assim como os atores que os interpretam. Além do elenco, o diretor de fotografia Dean Cundey também retornou, e seu trabalho é excelente, principalmente nas cenas dos corredores escuros do hospital, que ganharam um clima soturno e macabro.

 

Alias, como mencionado acima, Halloween II é conhecido como o “Filme do Hospital”, e devo dizer que funcionou muito bem, porque eu acho que se o roteiro tivesse optado por uma trama parecida com o primeiro filme, talvez o resultado não fosse tão bom assim. No entanto, apesar da inovação na trama, para os mais exigentes, ela apresenta um grande problema: não tem absolutamente ninguém naquele hospital! Não sei realmente como os hospitais são retratados nos filmes americanos, mas, devo dizer que não me importo tanto assim para esse detalhe; claro, ver um hospital vazio e escuro num filme é estranho, mas isso não faz muita diferença para mim. Eu gosto desse clima.

 

Além de ser considerado o “Filme do Hospital Vazio”, Halloween II é o filme da franquia com as cenas de morte mais memoráveis para os fãs, e são muitas. Carpenter e Hill capricharam na violência aqui, com direito a mortes verdadeiramente sangrentas e pesadas, principalmente dentro do hospital. Temos também algumas cenas ótimas fora do hospital, sendo a melhor delas, a cena do atropelamento seguido da explosão de uma van. No entanto, as cenas mais famosas ficam mesmo dentro do hospital, com destaque para a enfermeira que tem seu rosto mergulhado em uma piscina de água quente, além da outra enfermeira que é levantada no ar após ser esfaqueada por um bisturi; além, é claro, da destruição de Michael, no final.

 

Não posso concluir este texto sobre Halloween II sem mencionar Michael Myers. Se no primeiro filme, nós tínhamos um Michael Myers mais misterioso, com ares de stalker, aqui a coisa é diferente. Michael assume uma personalidade mais mortal, que mata suas vítimas com requintes de crueldade, e ele praticamente não poupa ninguém. O vilão percorre os corredores do Hospital de Haddonfield como um predador a procura de sua presa, e não mede esforços para encontrá-la e matá-la. Em relação ao seu visual, temos aqui o que talvez o “Michael Myers de Halloween II”, com a mascara um pouco deformada e a gola do macacão rente ao pescoço, e o bisturi ao invés da faca. Além disso, temos o famoso visual no final do filme, com sangue escorrendo pelos olhos da máscara. Mesmo assim, ele continua o mesmo, e tais mudanças são quase imperceptíveis.

 

Outra coisa que ronda pela internet, é o fato de Halloween II ser o filme que “definiu” a franquia, ou seja, ele estabeleceu os rumos que a franquia tomaria nos anos seguintes, e muito disso provavelmente se deve ao fato de Carpenter ter escrito o roteiro enquanto bebia sua cerveja favorita – sem julgamentos, pelo amor de Deus! Quer dizer, talvez não seja exatamente o caso, mas o fato é que o filme apresenta situações que foram seguidas nas continuações, como por exemplo, a cena da escola, onde a palavra “Samhain” está escrita com sangue na lousa. Essa cena serviu para estabelecer a ligação de Michael Myers com a cultura druida e a celebração do Festival de Samhain, além de estabelecer ligação com a famigerada “Maldição de Thorn”, o que transformou o personagem numa entidade sobrenatural ligada a rituais de sacrifícios e seitas, conforme estabelecido em Halloween 5 e principalmente em Halloween 6. Outra coisa que Carpenter acrescentou aqui foi o fato de Laurie Strode – ALERTA DE SPOILER!ser irmã de Michael Myers, o que explica a obsessão do maníaco por ela. Segundo Carpenter, ele estava sem ideias para o filme e resolveu acrescentar esse detalhe na historia, talvez para explicar por que Michael persegue Laurie. Tal fato foi estabelecido nas sequencias, principalmente em Halloween H2O, onde Laurie e Michael se reencontram e se enfrentam como irmão e irmã. Nas demais continuações, os laços familiares aparecem na perseguição de Michael a sua sobrinha, mas, mais detalhes sobre isso nas resenhas de Halloween 4, Halloween 5 e Halloween 6 – Versão do Produtor.

 

Halloween II foi lançado nos cinemas em 30/out/1981 – há 40 anos – e tornou-se um sucesso de bilheteria, apesar das críticas negativas. O sucesso do filme inspirou John Carpenter e Debra Hill a produzir mais uma sequência, Halloween III – A Noite das Bruxas, lançado no ano seguinte, mas que tomou um caminho diferente, conforme veremos no futuro.

 

Foi lançado em DVD no Brasil, mas permaneceu fora de catálogo por anos, até ser lançado em Blu-Ray pela Obras-Primas do Cinema, numa edição caprichada, em versão restaurada, juntamente com o Clássico de John Carpenter, que também foi lançado em versão restaurada em 4k, além das versões estendidas para TV. Lá fora, os cinco primeiros filmes da franquia receberam um lançamento recente em novas versões restauradas em 4k, com artes de capa muito bonitas. Não sei se chegarão aqui no Brasil, principalmente os dois primeiros, mas, não custa sonhar, não é mesmo?

 

Enfim, Halloween II – O Pesadelo Continua é excelente. Um filme cheio de ação, violência, e cenas que são lembradas com muito carinho pelos fãs da franquia. Um exemplo de sequência que não ofende o filme original, pelo contrário, merece lugar ao seu lado, mesmo não contendo o brilhantismo do antecessor. O retorno de Michael Myers e outros personagens clássicos, aliados a um roteiro bem amarrado, uma direção afiada e trilha sonora inspirada, fazem deste um dos melhores filmes da franquia Halloween. Excelente. Sangrento. Arrepiante.

 

FELIZ DIA DAS BRUXAS!


Créditos: Obras-Primas do Cinema



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sábado, 9 de outubro de 2021

CARRIE – A ESTRANHA (1976). Dir.: Brian de Palma.

 

NOTA: 10



Carrie – A Estranha, romance de estreia de Stephen King, é um livro fascinante, assustador, chocante e atual. Já em seu primeiro livro, o autor mostrou sua capacidade para contar histórias, e lançou um de seus maiores clássicos. O sucesso do livro foi o suficiente para leva-lo para o cinema.

 

Lançado em 1976, dois anos após a publicação do livro, CARRIE – A ESTRANHA ainda hoje é a melhor adaptação da obra do autor, e o meu filme favorito do diretor Brian de Palma.  E motivos para isso não faltam.

 

O filme é um dos maiores clássicos do Cinema e do gênero Terror, e até hoje, é um dos filmes mais assustadores de todos os tempos. Produto da Nova Hollywood, além de ser um clássico, é um filme que para mim, possui uma grande importância, porque eu o vi pela primeira vez em uma época especifica da minha vida. Mais sobre isso adiante.

 

Bem, seja como for, o fato é que o filme é excelente, e fica melhor a cada revisão, e grande parte disso se deve ao diretor de Palma.

 

Até hoje, de Palma é considerado um dos maiores cineastas de todos os tempos, e aqui ele dá uma prova disso. O diretor é muito habilidoso com o que faz, e se mostra um excelente diretor de atores. Aliás, esse é um dos grandes trunfos do filme.

 

De Palma soube escolher seu elenco com perfeição e é possível enxergar os personagens nos rostos dos atores, e infelizmente, isso é o tipo de coisa que faz muita falta hoje em dia.

 

Outra coisa que chama a atenção no filme é o clima de nostalgia. Na essência, Carrie é uma história de colégio; no entanto, devo confessar que nesse sentido, eu sinto muito mais prazer assistindo o filme, porque as cenas no colégio são muito nostálgicas para mim. Como eu disse, eu assisti esse filme numa época muito especifica da minha vida, durante as férias de Julho; eu vi muito esse filme antes de retornar para a escola, então, o clima de colégio estava muito presente, e toda vez que eu assisto, essa sensação de nostalgia retorna e me deixa muito feliz.

 

Outra coisa que torna esse filme – o livro também – muito especial, é a própria protagonista. Carrie é uma excluída, vitima de bullying dos colegas e professores da escola. Eu me identificava muito com ela, principalmente com essa solidão e fragilidade que ela mostra na tela. De verdade, era como se eu me visse na personagem toda vez que vejo o filme. É o tipo de coisa que poucos filmes conseguem fazer comigo.

 

Além de tocar no tema do bullying, a historia também possui momentos chocantes, principalmente envolvendo violência. No livro, isso é muito forte, e o diretor de Palma soube passar isso para a tela. A começar pelo inicio, no vestiário; a cena da menstruação é uma das mais fortes do cinema, principalmente pela performance das atrizes. Sem exceção, todas dão um show de atuação na cena, transmitindo exatamente aquilo que a cena pede. No entanto, os momentos mais pesados ficam nas cenas entre Carrie e sua mãe. Todos os méritos, novamente, vão para as atrizes. Ambas conseguem passar a loucura, a tortura psicológica e o sofrimento descritos nas cenas e com isso, as mesmas ficam muito perturbadoras.

 

Falando nisso, devo destacar o elenco. De Palma soube escolher seu elenco com perfeição, e até hoje, sempre que assisto, eu consigo visualizar os personagens nos atores, sem o menor esforço. No entanto, quem rouba a atenção são Sissy Spacek e Piper Laurie, como Carrie e sua mãe, respectivamente. Conforme mencionei acima, as atrizes dão um show de atuação, e entregam atuações inspiradas, tanto que ambas receberam indicações ao Oscar®. O restante do elenco também não decepciona, e o melhor, eles não parecem forçados, caricatos ou inadequados.

 

No quesito técnico, o filme também não decepciona, principalmente a câmera. A câmera de De Palma realiza grandes feitos, principalmente quando se move pelo cenário, com destaque para o Baile de Formatura, em especial a cena da dança e quando as cartelas dos votos são recolhidas. Hoje em dia, talvez tais cenas seriam feitas de outro modo, mas na época, foram necessárias gambiarras para alcançar o resultado que vemos. A trilha sonora, composta pelo cantor italiano Pino Donaggio – colaborador frequente do diretor – é belíssima, principalmente o tema de Carrie e na sequência do incêndio no Baile. E devo destacar também a montagem. Para quem conhece o estilo de De Palma, sabe que ele utiliza técnicas malucas para contar suas historias, com direito a tela dividida e imagens juntas em distancias diferentes no mesmo plano. O mais legal é que na pós-produção, tais cenas são combinadas para criar o efeito, o funciona maravilhosamente. Toda a sequência da vingança de Carrie no Baile foi filmada com tela dividida, e até hoje, eu me pergunto como foi feita e principalmente, como cenas assim são escritas no roteiro. Aliás, devo destacar o take em que o Baile começa a pegar fogo, com Carrie em pé diante do palco contra a luz. É um take lindo!

 

Sendo um filme de terror, temos muitas cenas assustadoras. Sem duvida, a mais assustadora é a sequência do incêndio do Baile, porque é muito bem feita, com direito a takes chocantes de personagens morrendo – devo destacar aqui a cena em que as portas da quadra se abrem para Carrie sair, enquanto o lugar é tomado pelas chamas. A cena em que Carrie volta para a casa também é assustadora, principalmente por causa da trilha sonora.

 

Outra coisa que devo dizer é que Carrie é uma história sobre o sangue. Desde o começo, o sangue está presente na tela, mas o ápice é na sequência do Baile, quando a personagem é banhada pelo sangue. Eu digo que é uma das cenas mais tensas e assustadoras do cinema.

 

Antes de encerrar, devo dizer que o próprio Stephen King ficou muito feliz com o resultado, principalmente com o final, que conseguiu assustá-lo quando ele viu no cinema. Até hoje, ele diz que o filme não envelheceu, e razão ele tem. Até hoje, o filme é um dos maiores clássicos do Terror.

 

Enfim, Carrie – A Estranha é um clássico do cinema. Um filme verdadeiramente assustador, com atmosfera de nostalgia muito bem feita, e momentos de violência chocante.  Primeira adaptação de Stephen King para o cinema. Um dos Filmes Mais Assustadores de Todos os Tempos. Excelente. 




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segunda-feira, 13 de setembro de 2021

AMITYVILLE II – A POSSESSÃO (1982). Dir.: Damiano Damiani.

 

NOTA: 9



Não há duvidas que Amityville é uma das maiores – talvez a maior – franquia de terror do cinema. Ao todo, foram mais de dez filmes, entre as “continuações oficiais” e produções da Asylium. No entanto, a franquia tem apenas quatro filmes, lançados entre 1979 e 2017. Eu pessoalmente não considero os filmes que vieram depois de 1983, porque são todos horríveis e não tem nada a ver com a franquia original; o único que retomou a franquia foi Amityville – O Despertar, que traz a casa de volta.

 

Mas não vou falar sobre eles. Vou falar sobre o segundo filme da trilogia original, AMITYVILLE II – A POSSESSÃO, lançado em 1982 e produzido por Dino de Laurentiis.

 

Esse foi meu primeiro contato oficial com a franquia, porque foi o primeiro filme que assisti, numa edição lastimável de banca que vinha junto com o terceiro filme. Eu aluguei muitas vezes na locadora, antes de comprar quando estavam vendendo. E devo dizer que foi uma das experiências mais assustadoras da minha vida, não porque o filme é ruim, mas porque ele é muito assustador.

 

O filme tem tantas cenas assustadoras que é difícil dizer qual é a mais. Eu pessoalmente tenho muito medo da cena em que a entidade percorre a casa à noite, fazendo barulhos sinistros. Eu já assisti várias vezes, mas quando chega nessa cena, eu sinto arrepios na espinha. E devo citar também o confronto entre o Padre Adamsky e o garoto possuído.

 

O que torna essas cenas ainda mais assustadoras, além da direção, é a ausência de trilha sonora. Eu já comentei algumas vezes que é um fator determinante para criar um momento de tensão em um filme de terror, e aqui, isso é aproveitado com habilidade.

 

Apesar de ter sido lançado três anos depois do primeiro filme, Amityville II é considerado uma prequel, porque conta para nós o que aconteceu na casa antes dos Lutz se mudarem para lá. De fato, existem certos elementos que constatam tal afirmação, principalmente a questão da possessão demoníaca e os assassinatos numa noite de chuva. No entanto, há uma cena no início do filme onde as janelas da casa estão seladas com pregos, algo que acontece no primeiro filme. Eu honestamente não sei como interpretar isso, porque aconteceu anteriormente, então... Fica a critério de cada um. Dizem também que o walkman do filho mais velho é outro ponto contra a constatação de que é uma prequel, então...  Novamente, é difícil chegar a uma conclusão.

 

No entanto, o que podemos dizer com certeza a respeito de Amityville II, é que se trata de um filme sobre possessão demoníaca, pegando carona no sucesso do Clássico Absoluto O Exorcista (1973), ainda que tardiamente. É sério, eu acho que é o último filme que tentou entrar na onda do filme de William Friedkin, mas devo dizer que é um dos melhores. As cenas de possessão são realmente muito boas, graças à maquiagem, principalmente. Eu devo dizer que quando vi tais cenas pela primeira vez, principalmente a cena dos assassinatos, eu fiquei com muito medo, porque a maquiagem é muito boa, com tudo que tem direito, até mesmo voz alterada. É tudo muito bem feito.

 

Outro ponto que quero destacar são as atuações. Alguns atores até que entregam boas performances, mas, também existem momentos em que as atuações são sofríveis, principalmente na cena dos assassinatos.

 

Agora, além da questão da possessão demoníaca, existem questões um tanto quanto controversas, todas envolvendo a família. O pai é alcoólatra e dominador; a mãe é submissa e existe um clima de incesto entre os irmãos mais velhos. Além da família, devo destacar também o padre. Sinceramente, eu não o considero um padre honesto, sem pensamentos pecaminosos; pelo contrário, é evidente a atração sexual que ele sente pela filha mais velha, e isso fica claro na cena de exorcismo. Não sei se aqueles que assistiram ao filme tiveram a mesma impressão que eu, mas vou deixa-la aqui.

 

Antes de encerrar, devo mencionar também a trilha sonora, novamente composta por Lalo Schifrin. Sinceramente, eu prefiro muito mais a trilha sonora deste filme; é mais assustadora do que a do filme anterior – na verdade, há uma certa diferença entre as duas, até mesmo o uso do coro infantil – e isso fica mais evidente em cenas especificas, principalmente no final do filme, quando há o uso de instrumentos de corda.

E como sempre, temos excelentes tomadas da casa, principalmente de suas famosas janelas, dignas de arrepios, a marca registrada da trilogia.

 

Foi lançado em VHS e DVD – em edição de banca – no Brasil, mas estava fora de catálogo até que foi relançado em DVD pela Obras-Primas do Cinema no box Trilogia Terror em Amityville, em versão remasterizada.

 

Enfim, Amityville II – A Possessão é um filme assustador, com uma atmosfera de pesadelo que provoca arrepios no espectador. Um clima de medo enche o longa desde o começo e deixa o espectador apavorado. As cenas de possessão são muito boas e assustadoras, principalmente a cena de exorcismo, e a trilha sonora provoca arrepios sem o menor esforço. Um filme excelente.


Créditos: Obras-Primas do Cinema

 

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terça-feira, 24 de agosto de 2021

CANDYMAN (Clive Barker).

 

NOTA: 9.5



Eu já mencionei algumas vezes aqui que Clive Barker é um dos maiores escritores de horror de todos os tempos. Sua obra mais famosa, Hellraiser, é sem dúvida, um dos trabalhos mais assustadores e originais que já vi. Também ambientado no mesmo universo, o livro Evangelho de Sangue até que é divertido e grotesco, mas não chega aos pés da obra anterior.

 

E hoje, vou falar sobre outra obra do autor, talvez a mais famosa depois de Hellraiser: CANDYMAN, ou O Proibido, como também é conhecido.

 

Bom, esse é um dos melhores textos do autor que já li, e motivos para isso não faltam. Barker conseguiu criar uma história verdadeiramente assustadora, com uma temática apropriada: lendas urbanas. Eu pessoalmente acho o próprio termo assustador, porque sempre passa a impressão de algo macabro que aconteceu nas cidades ao longo dos anos. Bem, aqui temos exatamente isso.

 

Candyman é uma excelente historia sobre o assunto, apesar de não focar totalmente nisso. Na verdade, no início, temos a impressão de que estamos lendo uma história sobre investigação, uma vez que a protagonista, a universitária Helen, decide se aventurar nos bairros decadentes de Liverpool a fim de encontrar mais e mais material para sua tese, no caso, as pichações locais. Somente após a protagonista ouvir relatos sobre homicídios na região, é que a historia muda de foco e passa a se concentrar na lenda urbana do personagem-título, também conhecido “O Proibido”, visto que todos têm medo de falar sobre ele.

 

Esse é o grande ponto da história, na minha opinião. Barker criou uma entidade tão perversa que até os moradores da região têm medo de pronunciar seu nome, e honestamente, isso é o tipo de coisa que me atrai muito em histórias de terror; essa coisa da entidade maldita que traz mau-agouro para todos é uma das melhores representações de algo terrível, e já tivemos grandes exemplos, e este é mais um deles.

 

E sendo uma história de Clive Barker, não poderiam faltar cenas grotescas, e aqui temos ótimas delas. O autor até faz uso de um dos maiores tabus do horror para conduzir as investigações da protagonista e fazê-la adentrar no território da entidade do título – não direi qual é o tabu para não entregar spoilers; digo apenas que o autor não mostra nenhum pudor ao falar dele. E temos também algum conteúdo sexual, principalmente quando Helen encontra a entidade.

 

E falando em Candyman, foi separar um tempo para falar sobre ele. Quem já viu o filme, sabe como ele é fisicamente, mas, ao ler a história original, a coisa é bem diferente. Não espere encontrar o Candyman imortalizado por Tony Todd; ao contrário, temos aqui em ser grotesco e repugnante, mas que consegue ser sedutor e charmoso. Não sei para quem já leu, mas eu o imaginei como um homem mesmo, elegantemente vestido, mas não idêntico ao Candyman de Tony Todd, principalmente por causa da cor de sua pele. Sim, aqui, não temos o forte comentário social presente no filme de Bernard Rose, somente uma história sobre uma lenda urbana.

 

Acredito que essa seja a maior surpresa para quem vai ler a história pela primeira vez, porque a questão racial é tão forte no filme, que parece que também foi tirada do texto original, mas não é esse o caso.

 

Mas nada disso nos impede de criar uma conexão com o filme conforme lemos o livro. Eu mesmo, enquanto lia determinadas cenas, pude visualizar as mesmas presentes no filme, principalmente a cena da pichação que simboliza a entidade, o jantar e o encontro da protagonista com Candyman. Não seria surpresa se eu pudesse até ouvir a trilha sonora do filme.

 

Candyman foi lançado na coletânea Livros de Sangue de Clive Barker, mas a mesma se encontrava fora de catalogo há anos. Foi relançado no Brasil pela editora DarkSide Books em belíssima edição individual, com texto de apoio.

 

Em tempo: resolvi ler o livro para me preparar para o novo filme, que estreia em Agosto de 2021, com produção de Jordan Peele, o mestre da crítica social do cinema de terror atual.

 

Enfim, Candyman é excelente. Uma história de horror com elementos investigativos que prende a atenção do leitor até última pagina. A escrita de Clive Barker é perfeita, e o autor cria uma ambientação capaz de deixar o leitor arrepiado, além de dar vida a uma de suas criaturas mais famosas. Um livro arrepiante. Uma leitura rápida, mas digna de nota. Altamente recomendado.


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quinta-feira, 19 de agosto de 2021

O SEGREDO DO BOSQUE DOS SONHOS (1972). Dir.: Lucio Fulci.

 

NOTA: 9.5



Lucio Fulci foi um dos mestres do terror italiano. Desde que resolveu se aventurar no gênero, tornou-se especialista em produções repletas de sangue e gore. No entanto, antes de se aventurar em produções gore, Fulci se aventurou no Giallo, e nos deu grandes exemplares do gênero, como por exemplo, Premonição (1977), Uma Sobre a Outra (1968), Uma Lagartixa num Corpo de Mulher (1971).

 

O SEGREDO DO BOSQUE DOS SONHOS é outro Giallo do diretor. Lançado em 1972, marca a segunda parceria de Fulci com a atriz brasileira Florinda Bolkan, após a colaboração em Uma Lagartixa. O Bosque dos Sonhos é um dos melhores Gialli de Fulci e também o mais polêmico, o que levou a ser excomungado da igreja católica.

 

Polêmicas à parte, o filme é um dos melhores exemplares do gênero, e um dos meus favoritos. O longa apresenta um dos temas mais pesados do gênero: o assassinato de crianças.

 

Não é segredo para ninguém que a morte de crianças é um dos maiores tabus do cinema, e aqui, Fulci faz uso desse tabu sem o menor pudor, com cenas de assassinatos cruéis. Tudo bem, o número de vítimas do assassino não é muito grande, mas mesmo assim, somos brindados com momentos de tensão que parecem piorar a cada revisão.

 

Aqui como em seus outros Gialli, aqui, Fulci não faz uso do assassino tradicional, com luvas pretas, mas mesmo assim, essa é uma grande variação do gênero. Como eu disse, eu aprecio algumas variações do Giallo, mas ainda prefiro o Giallo clássico. Mas mesmo assim, esse filme consegue ser muito agradável.

 

O principal detalhe é a ambientação. Ao contrário dos demais, O Bosque dos Sonhos é ambientado no interior da Itália, e Fulci soube capturar excelentes tomadas do interior, dando um ar convidativo para o filme. Devo dizer que essa ambientação é um dos meus fatores favoritos sobre o filme, e me passa uma ótima sensação. E além da ambientação de interior, temos também ótimos personagens, que passam a sensação de serem realmente pessoas simples do campo. E em relação a isso, Fulci também não teve o menor pudor em mostrar as pessoas como realmente são, então, temos aqui personagens malcuidados, com as roupas e os rostos sujos de terra e suor; além de figurantes idosos desdentados. Tudo isso aumenta ainda mais o realismo e deixa as cenas de tensão ainda melhores.

 

Sobre isso, digo o seguinte: temos aqui cenas dignas de programas sensacionalistas da TV, com o povo se juntando na porta da delegacia para exigir a captura do assassino, ou para linchá-lo em público. E claro, a coisa fica pior com a chegada de vários repórteres, dispostos a tudo para conseguir uma exclusiva. Em resumo, temos um verdadeiro circo midiático e popular. É possível notar que as pessoas daquele vilarejo querem um culpado a qualquer custo, e estão dispostos até a fazer justiça com as próprias mãos, conforme visto na cena do cemitério. Todos esses detalhes aumentam ainda mais o teor chocante do filme e o deixam ainda mais perturbador.

 

E não para por aí. Além da questão do assassino de crianças, temos também uma forte questão sexual, que fica ainda mais perturbadora porque envolve as crianças, principalmente os meninos. Logo no inicio do filme, Fulci nos presenteia com uma cena de nudez da atriz Barbara Bouchet – uma das musas do gênero – cuja personagem possui um forte apelo sexual e também um ar de mistério, que contribui para torna-la suspeita dos crimes. Patrizia, sua personagem, não demonstra pudor ao tentar seduzir um garoto que trabalha para ela, utilizando palavras de cunho sexual explicito. Realmente, uma cena que não seria realizada nos dias de hoje. Na verdade, eu tenho certeza que o filme não seria realizado nos dias de hoje, principalmente por causa de questões politicamente corretas, devo dizer, há muita coisa errada nesse filme, além dos assassinatos das crianças. Claro, Fulci não as exibe na tela, mas deixa a critério do espectador. Eu mesmo tenho algumas teorias perturbadoras envolvendo o personagem do padre.

 

Como mencionado acima, O Bosque dos Sonhos marcou a segunda colaboração de Fulci com a atriz brasileira Florinda Bolkan. Aqui, ela interpreta a Bruxa do vilarejo, uma mulher que vive sozinha no bosque a pratica feitiços com bonecos de cera. Logo de cara, Fulci faz questão de mostra-la como uma das suspeitas dos crimes, uma vez que ela é vista na cena de um dos crimes. Além disso, ela é mal vista pela população, que tem o habito de cuspir no chão sempre que a vê. E quando a polícia consegue captura-la, a coisa não muda de figura. A população se revolta com toda sua força e se mostra ainda mais hostil. E temos a cena do cemitério, talvez a cena mais cruel e violenta do filme, onde ela é açoitada com correntes, tudo ao som de Ornella Vanoni. A atriz entrega uma ótima atuação aqui.

 

Essa cena e a cena final mostram que Fulci sabia lidar com o gore ainda em seus primeiros filmes de terror, e o diretor não poupa ninguém. A cena do cemitério é a mais violenta do filme todo, graças à atuação e aos efeitos especiais de maquiagem, que lembram a cena de abertura de Terror nas Trevas (1981), que também contou com a presença de correntes.

 

E em certo ponto do filme, Fulci faz questão de mostrar um boneco do Pato Donald, fazendo alusão ao título do filme. E a revelação do assassino, bem como seu motivo para os crimes, são tão pesados que levaram o diretor a ser excomungado pela Igreja Católica; uma prova de que o diretor não tinha o menor medo de mostrar questões pesadas na tela.

 

Bom, seja como for, O Segredo do Bosque dos Sonhos é um dos melhores filmes de Lucio Fulci e um dos melhores exemplares do Giallo.

 

Foi lançado em DVD no Brasil pela Versátil Home Vídeo na coleção Giallo, em versão restaurada com áudio italiano.

 

Enfim, O Segredo do Bosque dos Sonhos é um filme perturbador. Um Giallo com clima de interior que enche a tela. A direção de Lucio Fulci é um dos destaques, e o diretor consegue criar cenas de tensão que deixam o espectador nervoso, além de focar em assuntos proibidos sem o menor pudor. Uma história pesada, cheia de momentos revoltantes, e de suspense. Um filme excelente. Altamente recomendado.


Créditos: Versátil Home Vídeo

 

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sexta-feira, 23 de julho de 2021

O MACACO (Stephen King).

 

NOTA: 8.5



Que Stephen King é um mestre na arte de contar histórias, todos sabemos disso, e, sinceramente, até agora, não li nenhum livro ou conto de sua autoria que me decepcionou.

 

O MACACO, presente na antologia Tripulação de Esqueletos, é um desses exemplos. É um dos contos mais arrepiantes do Mestre que eu já li. Na verdade, reli.

 

A primeira vez que li essa historia foi na edição da Objetiva, mas foi há muito tempo; e quando peguei o livro para reler algum conto, tive muita dificuldade porque as letras eram muito pequenas, então, comprei a edição da Suma, e essa semana, sentei para ler esse conto.

 

E que leitura. O Macaco é um conto verdadeiramente arrepiante, sobre os nossos pesadelos mais profundos, que sempre voltam para nos assombrar, cedo ou tarde.

 

O autor constrói uma história simples sobre um objeto aparentemente inocente, mas que fundo é um instrumento do terror, que carrega algo de ruim dentro de ruim. Eu já tinha visto a capacidade do Mestre em criar uma história assim em Christine e A Máquina de Lavar Roupa, e aqui, ele se mostra mais uma vez sua habilidade.

 

Mas mais do que uma história de um objeto maldito, O Macaco também é uma história de loucura, e ambiguidade, uma vez que em certos momentos, ficamos na dúvida se o macaco é mesmo um objeto maldito, ou se tudo não passa de imaginação do protagonista, que é assombrado por ele desde criança.

 

E francamente, não vejo objeto melhor para assombrar alguém do que um macaco de corda. Eu sinceramente, morro de medo desses brinquedos, principalmente por causa do seu sorriso sinistro e seus olhos penetrantes. Basta procurar na internet qualquer imagem de um macaco de brinquedo com címbalos, que vão ver o que quero dizer. Essas coisas são assustadoras, e quem já viu Toy Story 3 deve ter ideia do que estou falando...

E em se tratando de uma história de Stephen King, não pode deixar de ter aquele toque especial do autor, e nesse caso, ele não faz questão de esconder que o perigo está nos címbalos do macaco, que a cada toque, algo terrível acontece com alguém relacionado ao protagonista, coisas horríveis mesmo, uma mais assustadora que a outra.

 

E claro, temos também um pequeno toque de loucura, uma vez que, após reencontrar o macaco, o protagonista muda completamente sua personalidade, indo de um pai e marido amorosos, para um pai que agride seu filho mais velho com crueldade. E tal comportamento ameaça a instabilidade de sua família, mas o pior de tudo, é que eles não sabem o motivo de tal mudança.

 

E outra coisa que autor faz bem é o uso de flashbacks para explicar a relação do protagonista com o macaco, além de demonstrar as habilidades malditas com mesmo com as pessoas envolvidas com o protagonista, além de envolve-lo em um jogo de terror psicológico de arrepiar.

 

Enfim, O Macaco é um ótimo conto. Uma história simples, mas assustadora, sobre pesadelos de infância, que sempre conseguem voltar. A escrita de Stephen King é o grande destaque, e o autor consegue contar a história com sua habilidade de sempre, levando ao leitor para dentro da narrativa. Um conto arrepiante, digno de pesadelos. Muito bem recomendado. 



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O MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA – O RETORNO (1995). Dir.: Kim Henkel.

  NOTA: 1 Lembram-se do que eu disse no começo da resenha de A Hora do Pesadelo 6 , sobre filmes ruins? Para quem não se lembra, eu disse qu...