sábado, 17 de fevereiro de 2024

A FILHA DE SATÃ (1962). Dir.: Sidney Hayers.

 

NOTA: 8.5


Eu não assisti a muitos filmes de bruxaria, mas digo que A FILHA DE SATÃ é um dos melhores, e um dos meus filmes de terror favoritos.

 

Lançado em 1962, e distribuído nos Estados Unidos pela lendária American International Pictures, este é um filme com uma atmosfera sinistra que se predomina desde o começo e vai até o final, construída com uma grande maestria.

 

Desde a primeira vez que assisti a esse filme, fui tomado por uma sensação de nostalgia – mesmo não tendo vivido naquela época – e uma conexão com os filmes de horror produzidos na Inglaterra naquela época, principalmente aqueles produzidos pela lendária Hammer.

 

Em vários momentos, o filme lembra as produções contemporâneas da Hammer, principalmente por causa da atmosfera e da ambientação britânica.

 

Mas não é apenas a ambientação que torna esse um dos meus filmes de terror favoritos; o roteiro, escrito por Richard Matheson e Charles Beaumont, a partir de um conto de Fritz Leiber, é muito bom e aposta pouco a pouco na questão da bruxaria, deixando no inicio, um clima de mistério, principalmente a respeito da relação entre o casal de protagonistas e os personagens secundários, que os tratam de maneira diferente. No entanto, após descobrirmos que Tansy, esposa do professor Norman Taylor, é uma bruxa, o roteiro aposta a fundo no tema da bruxaria, com direito a feitiços e objetos sagrados.

 

Após revelar que Tansy é uma bruxa, o roteiro nos mostra o quão perigosa a vida do casal se torna, principalmente a vida de Norman, a começar pela falsa acusação de assedio por uma garota que o admirava nas salas de aula; em seguida, o namorado da garota o ameaça com um revolver. Eu gosto muito dessa primeira ameaça à vida de Norman porque remete a um filme de suspense passional.

 

Outra coisa muito boa que o roteiro faz é deixar em aberto até perto do final se o que está acontecendo ao casal é fruto de bruxaria ou não, e faz isso muito bem, porque deixa essa duvida no ar, até chegar ao final, quando a verdadeira vilã é revelada – não direi quem é para não dar spoilers.

 

Além do roteiro, a direção de Sidney Hayers é muito boa, e o cineasta arranca ótimas performances de seus atores, mesmo aqueles que interpretam papeis secundários. De todos os atores, o casal protagonista está muito bem aqui, principalmente o ator Peter Wyngarde, que interpreta o cético professor Norman. O ator convence muito bem, passando o ceticismo com naturalidade. Este é um dos melhores personagens do cinema de horror na minha opinião.

 

No seu país da origem, foi lançado com o título Night of the Eagle, que remete ao final do filme, quando a vilã faz uma bruxaria para atacar o protagonista e faz uma estatua de uma águia ganhar vida. Alias, as estatuas de águias são elementos importantes na narrativa, presentes desde a primeira cena, dando uma espécie de pressagio do que vai acontecer ao longo do filme.

 

Foi lançado em DVD no Brasil pela Versátil Home Vídeo na coleção Obras-Primas do Terror 4, em versão restaurada.

 

Enfim, A Filha de Satã é um filme muito bom. Uma historia de bruxaria contada com maestria, aliada a um elenco inspirado. A ambientação inglesa também contribui para deixar o filme ainda melhor a cada revisão, além de deixar o longa mais nostálgico. Um dos melhores filmes de bruxaria de todos os tempos.


Créditos: Versátil Home Vídeo.


sábado, 10 de fevereiro de 2024

OS ZUMBIS DE SUGAR HILL (1974). Dir.: Paul Maslansky.

 

NOTA: 8.5


Acredito que de todas as criaturas que supostamente não existem, o zumbi seja a única de que fato é real, visto que nas ilhas do Haiti existem relatos de pessoas que voltaram dos mortos, graças a um pó especial criado por alto-sacerdotes do vodu.

 

Desde que surgiram, foram poucos os filmes de zumbi que exploraram a origem haitiana da criatura. OS ZUMBIS DE SUGAR HILL é um dos exemplos que abordaram a origem real dos monstros.

 

Lançado em 1974, produzido pela American International Picture, este é um dos exemplares do blaxploitation são voltados para o terror. Conforme mencionei na resenha de Blácula, o blaxploitation foi um movimento cinematográfico voltado para o publico negro, com filmes produzidos e estrelados por negros, muitos deles voltados para o gênero de ação ou policial.

 

Sugar Hill vai pelo lado contrario, e foca principalmente no terror, apesar de conter alguns elementos de filmes de máfia também.

 

Eu digo que este é um dos meus filmes de zumbi favoritos, principalmente por causa da atmosfera e do visual dos zumbis. Eu me divirto com o filme a cada revisão e as cenas dos zumbis são arrepiantes.

 

Este é um filme muito bem feito, com uma ótima direção e um roteiro afiado, que aposta na temática do vodu sem nenhum medo ou tabu. As cenas que envolvem a religião haitiana são assustadoras, porque os cineastas conseguiram criar a atmosfera com realismo impressionante, algo também visto em A Maldição dos Mortos-Vivos (1988), do saudoso Wes Craven.

 

Mas no fundo, Sugar Hill é um filme de vingança, com a protagonista resolvendo se vingar dos gangsteres que mataram seu namorado; no entanto, ao invés que utilizar métodos convencionais, Sugar recorre a uma feiticeira vodu e ao Barão Samedi – figura presente nas lendas vodu – e a um exercito de zumbis para executar sua vingança, executando os capangas do vilão com requintes de crueldade.

 

O vilão é interpretado pelo ator Robert Quarry, figura conhecida nos filmes da A.I.P, famoso por seu papel nos filmes do Conde Yorga. Eu confesso que, mesmo adorando ver o ator em outros papeis, eu gosto muito mais da interpretação de Quarry como o Conde Yorga. Seu personagem é muito bom, e não se importa com ninguém a não ser consigo mesmo. E a vingança de Sugar contra ele é feita quase como uma vingança de videogame, com os zumbis matando seus capangas até chegar a ele – eu não jogo videogame, então estou usando uma metáfora que ouvi anteriormente.

 

Mas, na minha opinião, o melhor do filme são os zumbis. Não sei como estava o cinema de zumbis naquela época, mas aqui, temos um dos melhores visuais dos monstros. Eles estão cobertos de teias de aranha, com os corpos pintados de branco e olhos vidrados. E como todo zumbi que se preze, eles se levantam de seus túmulos do cemitério. O visual deles é arrepiante e provoca calafrios sempre que eles aparecem.

 

Além do visual maravilhoso dos zumbis, o filme também passa uma sensação de calor, principalmente nas cenas externas; é possível sentir o suor dos personagens e quase sentimos calor junto com eles.

 

Conforme mencionado acima, Sugar Hill invoca o Barão Samedi, uma figura conhecida na religião vodu. Ao que parece, o personagem é muito poderoso e é utilizado por alto-sacerdotes da religião. O personagem aparentemente apareceu em um filme do James Bond e deve ter servido de inspiração para o vilão da animação A Princesa e o Sapo da Disney.

 

Foi lançado em DVD no Brasil pela Versátil Home Vídeo na coleção Zumbis no Cinema 3, em versão restaurada com um depoimento do diretor como extra.

 

Enfim, Os Zumbis de Sugar Hill é um filme muito bom. Um filme de zumbis muito criativo e assustador, com uma direção inspirada e um roteiro muito bem construído, aliado a um elenco afiado. Os zumbis são a melhor coisa do filme, com seu visual arrepiante que provoca calafrios. Um exemplar do gênero terror do movimento blaxploitation. Um dos meus filmes de zumbis favoritos. Altamente recomendado. 


Créditos: Versátil Home Vídeo.


segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

O VÍCIO (1995). Dir.: Abel Ferrara.

 

NOTA: 8



Os filmes de vampiro estão presentes no cinema desde sempre, com uma enorme variedade de conteúdos, criados por vários cineastas ao longo dos anos.

 

O VÍCIO, lançado em 1995, dirigido por Abel Ferrara, é uma dessas variações, e uma das mais criativas, por motivos que serão descritos mais adiante.

 

Este é um dos melhores filmes de vampiro que já vi, principalmente por conta da criatividade do roteiro e da direção de Ferrara. O cineasta subverte o gênero com maestria e faz uma analogia interessante com o titulo do longa.

 

Acredito que o principal fator de criatividade seja o fato do filme ser rodado em preto e branco, o que o torna ainda mais sombrio e sinistro. Em momento nenhum as cores fazem falta, e deixam o filme ainda melhor.

 

Mesmo não tendo visto os demais filmes de Ferrara, eu imagino que o cineasta gosta de subverter os temas com os quais trabalha, e coloca as suas características nos mesmos, e aqui não deve ter sido diferente.

 

Além de ser um filme de vampiro, O Vício é também um filme sobre filosofia, e isto está presente desde o começo, visto que a protagonista é estudante de Filosofia e está prestes a concluir sua tese de doutorado. O roteiro de Nicholas St. John – colaborador frequente do cineasta – é recheado de frases que devem remeter à Filosofia, com citações e menções a filósofos conhecidos. Eu pessoalmente acho essa sacada muito interessante porque possui uma relação com os estudos da protagonista e também com a própria ideia de que vampiros podem ser filósofos.

 

O elenco também é um ponto positivo para o filme, principalmente a atriz Lili Taylor, que interpreta a protagonista Kathleen. No inicio do filme, ela se mostra uma pessoa doce e gentil, focada nos estudos, mas após ser atacada, ela se transforma em outra pessoa, que não se importa em ferir os outros, e não dá importância para os estudos. Além disso, logo após o ataque, é possível perceber que ela não entende o que está acontecendo consigo mesma, e passa a sofrer as consequências. Essa é uma característica que me chama muito a atenção em historias de vampiros, os vampiros que não entendem sua condição e sofrem por causa disso. Mas logo isso muda, e Kathleen se transforma em uma criatura sedenta de sangue.

 

O restante do elenco não faz feio, principalmente o ator Christopher Walken, que interpreta um vampiro filosófico que carrega consigo a sabedoria dos séculos. Apesar da pouca presença, o personagem rouba a cena.

 

Conforme mencionado acima, O Vício subverte o gênero de forma criativa, visto que a própria palavra “Vampiro” não é mencionada em momento nenhum ao longo do filme. Além disso, o roteiro faz uma analogia interessante com o vicio em drogas – daí o titulo – visto que, após adquirir o gosto pelo sangue, a protagonista passa a querer consumir o mesmo cada vez mais, até decair completamente, culminando na cena do massacre. E também devo dizer que o roteirista St. John cria suas próprias regras em relação às criaturas, o que é sempre bom de se ver: seus vampiros não possuem presas e podem andar à luz do dia; e os outros elementos não são apresentados aqui, mas sinceramente não fazem falta.

 

E além disso, o diretor Ferrara nos faz questão de mostrar Nova York como um lugar dominado pelas gangues e pela degradação, algo mostrado no cinema décadas antes.

 

Foi lançado em DVD no Brasil pela Versátil Home Vídeo na coleção Vampiros no Cinema 3, em versão restaurada, com um making of entre os extras.

 

Enfim, O Vício é um filme muito bom. Uma historia de vampiros ousada que subverte o gênero com criatividade impar e faz uma analogia interessante com o uso de drogas. A direção de Abel Ferrara é muito boa e o diretor consegue arrancar ótimas performances de seu elenco, que não está nem um pouco exagerado. A fotografia em preto e branco também é um destaque, e deixa o filme mais sombrio e sinistro. Um ótimo filme de vampiro e um exemplar criativo do gênero.



Créditos: Versátil Home Vídeo.


O MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA – O RETORNO (1995). Dir.: Kim Henkel.

  NOTA: 1 Lembram-se do que eu disse no começo da resenha de A Hora do Pesadelo 6 , sobre filmes ruins? Para quem não se lembra, eu disse qu...