NOTA: 8
Os filmes de vampiro estão presentes no cinema desde
sempre, com uma enorme variedade de conteúdos, criados por vários cineastas ao
longo dos anos.
O VÍCIO,
lançado em 1995, dirigido por Abel Ferrara, é uma dessas variações, e uma das
mais criativas, por motivos que serão descritos mais adiante.
Este é um dos melhores filmes de vampiro que já vi,
principalmente por conta da criatividade do roteiro e da direção de Ferrara. O
cineasta subverte o gênero com maestria e faz uma analogia interessante com o
titulo do longa.
Acredito que o principal fator de criatividade seja o
fato do filme ser rodado em preto e branco, o que o torna ainda mais sombrio e
sinistro. Em momento nenhum as cores fazem falta, e deixam o filme ainda
melhor.
Mesmo não tendo visto os demais filmes de Ferrara, eu
imagino que o cineasta gosta de subverter os temas com os quais trabalha, e
coloca as suas características nos mesmos, e aqui não deve ter sido diferente.
Além de ser um filme de vampiro, O Vício é também um filme sobre filosofia, e isto está presente
desde o começo, visto que a protagonista é estudante de Filosofia e está
prestes a concluir sua tese de doutorado. O roteiro de Nicholas St. John –
colaborador frequente do cineasta – é recheado de frases que devem remeter à
Filosofia, com citações e menções a filósofos conhecidos. Eu pessoalmente acho
essa sacada muito interessante porque possui uma relação com os estudos da
protagonista e também com a própria ideia de que vampiros podem ser filósofos.
O elenco também é um ponto positivo para o filme,
principalmente a atriz Lili Taylor, que interpreta a protagonista Kathleen. No
inicio do filme, ela se mostra uma pessoa doce e gentil, focada nos estudos,
mas após ser atacada, ela se transforma em outra pessoa, que não se importa em
ferir os outros, e não dá importância para os estudos. Além disso, logo após o
ataque, é possível perceber que ela não entende o que está acontecendo consigo mesma,
e passa a sofrer as consequências. Essa é uma característica que me chama muito
a atenção em historias de vampiros, os vampiros que não entendem sua condição e
sofrem por causa disso. Mas logo isso muda, e Kathleen se transforma em uma
criatura sedenta de sangue.
O restante do elenco não faz feio, principalmente o
ator Christopher Walken, que interpreta um vampiro filosófico que carrega
consigo a sabedoria dos séculos. Apesar da pouca presença, o personagem rouba a
cena.
Conforme mencionado acima, O Vício subverte o gênero de forma criativa, visto que a própria
palavra “Vampiro” não é mencionada em momento nenhum ao longo do filme. Além
disso, o roteiro faz uma analogia interessante com o vicio em drogas – daí o
titulo – visto que, após adquirir o gosto pelo sangue, a protagonista passa a
querer consumir o mesmo cada vez mais, até decair completamente, culminando na
cena do massacre. E também devo dizer que o roteirista St. John cria suas
próprias regras em relação às criaturas, o que é sempre bom de se ver: seus
vampiros não possuem presas e podem andar à luz do dia; e os outros elementos
não são apresentados aqui, mas sinceramente não fazem falta.
E além disso, o diretor Ferrara nos faz questão de
mostrar Nova York como um lugar dominado pelas gangues e pela degradação, algo
mostrado no cinema décadas antes.
Foi lançado em DVD no Brasil pela Versátil Home Vídeo
na coleção Vampiros no Cinema 3, em
versão restaurada, com um making of entre os extras.
Enfim, O Vício
é um filme muito bom. Uma historia de vampiros ousada que subverte o gênero
com criatividade impar e faz uma analogia interessante com o uso de drogas. A
direção de Abel Ferrara é muito boa e o diretor consegue arrancar ótimas
performances de seu elenco, que não está nem um pouco exagerado. A fotografia
em preto e branco também é um destaque, e deixa o filme mais sombrio e
sinistro. Um ótimo filme de vampiro e um exemplar criativo do gênero.
Créditos: Versátil Home Vídeo. |
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