sexta-feira, 27 de setembro de 2019

GRITO DE HORROR (1981). Dir.: Joe Dante.


NOTA: 9.5



GRITO DE HORROR (1981)
Como boa parte dos filmes de terror, meu contato com GRITO DE HORROR (1981) se deu na locadora, por meio da capa do VHS de uma continuação. Nesse caso, a continuação foi Um Lobisomem na California, sétimo filme da franquia. Na época, eu não sabia que o filme era uma continuação desse aqui, talvez porque não prestei atenção no título original – Howling: New Moon Rising – então, achei que era um filme aleatório. Eu fui descobrir que o filme era uma continuação porque vi no site Boca do Inferno, a capa do filme, ilustrando a resenha do mesmo. 

Mas, esse não foi meu único contato com a franquia. Anos depois, eu assisti um filme em que mostrava um sujeito derretendo até os ossos e depois, outro rasgando o próprio rosto e exibindo dentes afiados, banhados em sangue. Conforme o título anunciava, era um filme chamado Grito de Horror. Confesso que fiquei assustado com o que vi, porque, era de fato, muito bem feito. Na época, eu não sabia, mas tratava-se de Grito de Horror IV: Um Arrepio na Noite, considerado uma espécie de refilmagem do primeiro filme. E por fim – talvez tivesse acontecido antes – , eu estava vendo TV à noite, quando apareceu um céu estrelado com o saudoso Christopher Lee lendo um livro. Era a introdução de Grito de Horror 2, anunciado como Grito de Terror.

Esse foi meu primeiro contato com o filme, mesmo que tenha ocorrido com as continuações. Meu contato direto com o primeiro filme deu-se quando a extinta revista SET publicou na edição de Dezembro de 2003 a crítica desse filme aqui, que estava para ser lançado em DVD por aqui. No inicio, não demonstrei interesse, porque achei que se tratava de um filme ruim, mesmo com a nota dada pela revista. Porém, pouco depois, demonstrei vontade de conhece-lo, mas, não encontrava na locadora da qual era freguês. Acabei encontrando o DVD em outra locadora, e aluguei. O resultado? Adorei o filme.

Grito de Horror é um dos melhores filmes de lobisomem de todos os tempos, sem dúvida. Pode-se dizer que ele é o primeiro filme da “Trilogia dos Lobisomens dos Anos 80”, completada pelos também maravilhosos Um Lobisomem Americano em Londres (1981), de John Landis, lançado logo depois, e A Companhia dos Lobos (1984), dirigido por Neil Jordan.

Baseado no livro de Gary Brandner, o filme esteve em produção pelo Avco Embassy, após o produtor Daniel Blatt demonstrar interesse em adaptá-lo. Como resultado, ele e o produtor Mike Finnell foram atrás de uns roteiristas para adaptar o livro. Um deles, Jack Conrad, que também entrou como produtor, acabou fazendo uma adaptação bem fiel ao livro, o que não agradou os outros produtores, o que resultou na contratação de John Sayles e Terrence Winkles. A proposta apresentada a ambos foi a de que eles poderiam utilizar apenas o argumento inicial: lobisomens que se transformam durante o dia, e excluir o restante do livro. Nesse meio tempo, Joe Dante acabou sendo contratado como diretor, após ser dispensado de outro projeto. Dante e Sayles já haviam trabalhado anteriormente em Piranha (1978), e naquele ano, ele também estava envolvido com o roteiro de Alligator (1980). Dante aceitou o desafio e completou o filme em 28 dias.

O que o torna um dos melhores filmes de lobisomem de todos os tempos? Bom, eu diria que primeiramente a temática nova para o gênero. Até então, sabíamos que lobisomens só poderiam surgir na Lua Cheia, mas aqui, isso foi jogado de lado. Aqui, temos lobisomens o tempo todo, até mesmo durante o dia; além disso, eles são indestrutíveis e podem se regenerar. O único aspecto clássico que ficou foi a bala de prata, mas, ao invés de morrer  com um tiro no coração, eles podem morrer com tiros em qualquer parte do corpo, além de poder morrer com fogo. Acho que nunca mais vi um filme com uma roupagem nova ao subgênero como esse.

Mas não é apenas essa nova abordagem que faz de Grito de Horror um filme sensacional. A direção de Joe Dante é muito correta, e, já em seu quarto filme, ele mostrou que é um diretor competente. Dante faz maravilhas com o baixo orçamento que tinha, uma prova de que não é preciso ter rios de dinheiro para fazer um bom filme. O longa possui momentos de tensão, e, até pelo menos a metade, não dá pistas sobre qual é o tema.

Segundo o diretor, de certa forma, a intenção era mesmo essa, principalmente no trailer, divulga-lo como se fosse um slasher, que estava em alta na época. E de fato, parece um filme de serial killer, porque, o foco no inicio é justamente esse: a protagonista é perseguida por um assassino que está atuando em Los Angeles; então, a policia arma um esquema para prendê-lo em flagrante, o que acaba dando errado. Ou seja, quando parece que se trata de um thriller, de repente, muda para um suspense psicológico, onde a “heroína” é atormentada por sonhos com o matador. O verdadeiro tema, os lobisomens, é abordado mais adiante, e quando acontece, é aos poucos, de maneira sutil. Não sei se estava no roteiro ou se foi uma saída que a equipe encontrou porque não podiam encher a tela com lobisomens, mas o fato é que funciona. Como já mencionei varias vezes, é o tipo de filme de terror que eu gosto muito, porque mostra que não é preciso mostrar a ameaça logo de cara; é possível falar sobre o tema aos poucos, sim. E aqui, acontece na ótima cena da loja de livros, onde o saudoso Dick Miller reinterpreta Walter Paisley, aqui vendedor de livros e especialista em lobisomens. A partir daí, os monstros surgem em toda sua gloria. A melhor cena, sem duvida, acontece no consultório do Dr. Waggner, quando um deles ataca uma das personagens. E o monstro é lindo. Enorme, com orelhas grandes, garras afiadas e dentes afiados. Completamente diferente de tudo que havia sido abordado até então.

As cenas de transformação também são um destaque. A primeira acontece depois de 40 minutos e é muito boa. Mas o verdadeiro trunfo acontece quando o personagem Eddie decide se transformar diante da protagonista. Assim como John Landis faria em seguida, Dante mostrou a transformação em todos os detalhes, diante da câmera. E que transformação. O corpo do personagem se transforma em um punhado de inchaços, com direito a unhas crescendo, focinho esticando, orelhas crescendo... Tudo, combinado com sons de ossos quebrando. Uma cena de transformação excelente, tão boa quanto a do filme de Landis. Inclusive, um dos melhores momentos é quando a criatura exibe uma espécie de sorriso enquanto seu rosto se alarga. Para mim, é uma imagem perfeita. As outras cenas de transformação, mesmo limitadas, não ficam atrás. Os efeitos especiais foram criados por Rob Bottin, que já havia trabalhado com Dante em Piranha. Curiosamente, Bottin foi contratado após Rick Baker aceitar trabalhar com John Landis em seu próprio filme de lobisomem, e o indicou para o trabalho. Baker foi creditado apenas como consultor. No final, a maquiagem e os lobisomens de Bottin tornaram-se uma das atrações do filme, e o artista entrou para o hall dos maquiadores do cinema de horror. No ano seguinte, ele foi o responsável pelos efeitos especiais do excelente O Enigma do Outro Mundo (1982), de John Carpenter.

A fotografia também contribui para o filme. Mesmo sendo um filme de terror, existem momentos coloridos no filme, principalmente no final. Os tons de azul e vermelho são fortes e chegam a pulsar na tela. Parece até um filme do Maestro Mario Bava. As cenas durante o dia também são bonitas, principalmente envolvendo a Colônia. A locação é belíssima, e foge daquele aspecto soturno que seria esperado em um filme de terror. Mas mesmo assim, não tiram a tensão presente no filme.

Outra coisa bem legal sobre o filme é o fato de ter várias surpresas escondidas. O próprio Dr. George Waggner é uma delas. Seu nome veio do diretor do clássico O Lobisomem (1941), da Universal Pictures, com Lon Chaney Jr. no papel principal. Chaney Jr. aparece no filme duas vezes. A primeira, quando o clássico da Universal está passando na TV, e outra quando uma foto sua é vista no consultório de Waggner. Mas não é só isso. Outros personagens do filme receberam nomes de cineastas que fizeram filmes de lobisomens, entre eles, Jack Molina, pseudônimo americano de Jacinto Molina, nome verdadeiro de Paul Naschy, que interpretou o lobisomem Waldemar Daninsky na série do “Hombre Lobo”. O filme também contou com John Carradine no elenco, que interpretou Drácula em dois filmes da Universal. Tem também uma ponta do editor da revista Monsters, além de Roger Corman e Mick Garris. Um prato cheio de surpresas para os fãs do gênero.

Grito de Horror gerou diversas continuações, a maioria, inferiores. Na minha opinião, os únicos que valem a pena são Grito de Horror 3, A Nova Raça, lançado em 1987 e Grito de Horror 4, Um Arrepio na Noite, lançado em 1988. Ambos são duas produções trash muito divertidas. O resto, é totalmente dispensável.

Chegou a ser lançado em VHS e DVD por aqui, mas atualmente, está fora de catálogo.

Enfim, Grito de Horror é um grande filme de terror. Assustador, tenso, sangrento, com monstros fantásticos e grandes cenas de transformação. Um dos melhores filmes de lobisomens de todos os tempos. Um clássico do terror.

Altamente recomendado.









Confira também a resenha em:
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