NOTA: 10
AMITYVILLE, A CIDADE DO HORROR (1979) |
AMITYVILLE, A CIDADE DO HORROR
(1979) é um dos filmes mais assustadores que eu já vi. Um filme brilhante,
muito bem feito, que até hoje, consegue assustar sem fazer esforço.
Antes de falar sobre o filme, vou deixar claro como me tornei fã da
série. Acredito que meu primeiro contato foi com as fitas VHS que eu via na locadora,
quando íamos lá para alugar filmes, no fim de semana. No começo, não dava muita
importância, porém, gostava muito da capa de Amityville: Uma Questão de Hora, sexto filme da franquia, e uma
porcaria sem tamanho. Se não estou enganado, a locadora também tinha o segundo,
batizado de Terror em Amityville (1982) e
o oitavo, A Casa Maldita. Em outra locadora, provavelmente, anos
antes, vi de relance o VHS do terceiro filme, focando minha atenção
principalmente na enorme garra que saía de dentro da casa. Mas, apesar desse
pequeno contato, não tinha interesse nenhum em assistir, talvez por ter medo.
Meu interesse pela série surgiu de fato quando aluguei, na mesma locadora que
frequentávamos, o DVD de Amityville 2 e
Amityville 3-D, lançados em edição
lastimável de banca. Aluguei e coloquei no aparelho. O resultado foi uma
experiência de horror, em especial, graças ao segundo filme. Por um longo
tempo, passei a alugar o DVD, mais por causa do segundo filme, até que resolvi
procurar pelo primeiro, sem sucesso. Até que, numa visita a um shopping,
encontrei o DVD do primeiro filme, que comprei rapidamente. Quando eu, minha
mãe e meu irmão nos juntamos para assistir, o resultado também foi uma
experiência de horror. A cada cena, nós pulávamos de cama e nos assustávamos.
No final, eu adorei o filme, e continuo adorando até hoje.
O filme é uma adaptação do livro The
Amityville Horror, do escritor e jornalista Jay Anson, lançado dois anos
antes, que por sua vez, foi baseado em uma historia real ocorrida em 1975, onde
o casal George e Kathy Lutz, juntamente com seus filhos, mudou-se para a mansão
de Amityville, onde permaneceu por 28 dias, antes de fugir. O livro é
assustador, um dos mais assustadores que já li; e o filme, não fica atrás.
Dirigido por Stuart Rosenberg, famoso por sua colaboração com o ator
Paul Newman, foi produzido por Samuel Z. Arkoff, da America International
Pictures (A.I.P.), que nos anos 60, foi responsável pelo lançamento de vários
filmes de Roger Corman, baseados em historias de Edgar Allan Poe.
Amityville é excelente.
Muito bem feito, com roteiro simples, de verdade, mas que aposta mais no terror
psicológico do que no terror “visível”, vamos dizer assim. Durante toda a
narrativa, o diretor Rosenberg deixa muitas coisas na base da sugestão, principalmente
quando envolve as presenças sobrenaturais que rondam a casa. O melhor é que
funciona.
A ambientação também contribui. Apesar da mansão ser ampla, em certos
momentos, uma sensação de claustrofobia e insegurança é transmitida para o
espectador. Parece mesmo que a casa não é um local seguro para aquela família,
e eles precisam sair dali o mais rápido possível.
Como deu pra perceber, o filme faz parte de dois subgêneros muito
populares naquela época: o terror satanista e as casas mal-assombradas. Apesar
de o primeiro não estar tão evidente, o segundo está presente desde o começo.
Falo de ventos que surgem de repente, portas que abrem e fecham e janelas que
se fecham sozinhas. Ou seja, tudo que se pode encontrar em uma historia de casa
assombrada; só faltou a presença dos fantasmas, mas, francamente, não é
necessário. O aspecto satanista da historia só é revelado mais adiante, quando
George decide investigar o que está acontecendo, e encontra um livro sobre o
assunto.
Como já mencionado, é o tipo de filme que consegue assustar sem fazer
esforço e sem apelar para jump-scares.
O susto vem de repente, muitas vezes, sem trilha sonora alta, que pula na tela,
como se vê nos filmes de terror atuais. O diretor cria esses momentos aos
poucos, graças a cenas aparentemente inofensivas, como establishing shots da
casa, tanto de dia como de noite, e também cenas de diálogos, e então, solta o
terror na tela, deixando o espectador sem ar. Na primeira vez que assisti esse
filme, fiquei com essa sensação. Foram momentos de puro terror.
Outro fator que contribui para o terror é a trilha sonora, composta
pelo argentino Lalo Schifrin, autor da trilha sonora de Missão Impossível. Segundo o próprio, a intensão era criar algo que
fosse parecido com uma canção de ninar, composta por um coro feminino. A ideia
deu certo, e, na minha opinião, o tema musical é um melhores do cinema de
horror; inclusive, chegou a ser indicado ao Oscar® de Melhor Trilha Sonora em
1980. É uma prova de que um filme de terror não precisa de temas pesados para
ser assustador. Schifrin seria também responsável pela trilha sonora da
continuação, lançada três anos depois.
Além da trilha sonora, a fotografia também ajuda a construir a
atmosfera. Se durante o dia, o filme é todo colorido, à noite, a paleta de
cores muda completamente, assumindo tons de azul e preto, o que deixa o filme
ainda mais assustador.
O roteiro, escrito por Sandor Stern é excelente. O autor fez
praticamente uma adaptação fiel do livro de Anson, apenas alterando a época da
historia: no livro acontece no inverno, aqui, acontece provavelmente no outono.
Mas, francamente, não muda em nada a essência da historia. Stern fez um belo
trabalho, mostrando praticamente todos os dias em que os Lutz permaneceram na
casa, além de mostrar a relação entre George e Kathy, e como ela vai se
deteriorando a medida que ele é afetado pelas forças sobrenaturais. E como
mencionei, é quase tudo na base do terror psicológico.
O modo como George é afetado pelas forças sobrenaturais é muito bem
feito. Conforme ele vai sendo afetado, sua personalidade vai mudando, bem como
sua aparência. De padrasto e marido amoroso, ele torna-se obcecado em arrumar a
lareira e passa a se descuidar, sempre aparecendo desarrumado, com as roupas
suadas e o rosto pálido. Muito boa transformação. Mas não é apenas George que é
afetado; Amy, a filha de Kathy passa a interagir com uma amiga imaginaria
chamada Jody, que passa a influenciá-la de maneira negativa, como mostrado na
cena do armário. Esse também é outro truque do roteiro que funciona bem. Jody
não aparece durante o filme; sua presença é sugerida pela cadeirinha de balanço
de Amy, que está sempre em movimento. As únicas vezes em que o diretor resolve
mostra-la são bem rápidas, e uma delas nos assustou tanto, que minha mãe pediu
para voltar e ver de novo. Realmente, uma cena brilhante, que acontece conforme
descrevi acima.
Amityville é estrelado por
James Brolin, Margot Kidder (1948-2018) e Rod Steiger (1925-2002). Margot
Kidder, no ano anterior, havia estrelado Superman
– O Filme, de Richard Donner, ao lado de Christopher Reeve. Já Rod Steiger
havia levado o Oscar® de Melhor Ator por No Calor da Noite, onde atuou ao
lado de Sidney Poitier. Não sei qual era a opinião do ator sobre Amityville, mas, a atriz Margot Kidder
chegou a declarar que era o pior filme que fizera, porém, anos depois, voltou
atrás em sua opinião. Os atores estão muito bem em seus papéis e passam as
sensações que seus personagens estão sentindo de forma autentica. Os atores-mirins
também estão bem, mas, em alguns momentos, não são tão agradáveis. No elenco,
também tem a presença do ator Murray Hamilton (1923-1986), no papel de um dos
padres.
O filme chegou a ser lançado em VHS, com a tag “Pelo amor de Deus, fugam!” estampada na capa, com o título de A Cidade do Horror. Também chegou a ser
lançado em DVD pela MGM, desta vez com o título Terror em Amityville, o que é estranho, porque também o título que
o segundo filme recebeu em VHS por aqui. Ambas as edições estão fora de
catálogo; mas, recentemente, foi lançado novamente em DVD pela Obras-Primas do
Cinema na coleção Trilogia Terror em
Amityville, juntamente com suas duas continuações oficiais, todos em
versões remasterizadas e com muitos extras.
Como também mencionado, o filme ganhou várias continuações, cuja a
primeira foi lançada três anos depois; o terceiro filme foi lançado no ano
seguinte. A partir do quarto filme, lançado em 1989, as continuações não
tiveram nenhuma relação com a historia original, e principalmente, com a Mansão
Amityville. Na verdade, era apenas uma estratégia de marketing bem sem-vergonha
para veicular o nome Amityville à uma serie de filmes sobrenaturais. O único
dessa leva que eu assisti foi o sexto filme, Amityville: Uma Questão de Hora, no SBT, e como disse, é uma
porcaria sem tamanho. A única continuação que vale a pena, é o ótimo Amityville: O Despertar, lançado em
2017. Mais recentemente, uma prequel foi produzida, The Amityville Murders,
que aparentemente, foca na família que viveu na casa antes da família Lutz.
Enfim, Amityville, A Cidade do
Horror é um filme excelente. Um dos melhores filmes de terror de todos os
tempos. Uma historia apavorante, que provoca arrepios sem fazer esforço.
Muito bem recomendado.
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