segunda-feira, 2 de setembro de 2019

AMITYVILLE, A CIDADE DO HORROR (1979). Dir.: Stuart Rosenberg.


NOTA: 10




AMITYVILLE, A CIDADE DO HORROR
(1979)
AMITYVILLE, A CIDADE DO HORROR (1979) é um dos filmes mais assustadores que eu já vi. Um filme brilhante, muito bem feito, que até hoje, consegue assustar sem fazer esforço.

Antes de falar sobre o filme, vou deixar claro como me tornei fã da série. Acredito que meu primeiro contato foi com as fitas VHS que eu via na locadora, quando íamos lá para alugar filmes, no fim de semana. No começo, não dava muita importância, porém, gostava muito da capa de Amityville: Uma Questão de Hora, sexto filme da franquia, e uma porcaria sem tamanho. Se não estou enganado, a locadora também tinha o segundo, batizado de Terror em Amityville (1982) e o oitavo, A Casa Maldita. Em outra locadora, provavelmente, anos antes, vi de relance o VHS do terceiro filme, focando minha atenção principalmente na enorme garra que saía de dentro da casa. Mas, apesar desse pequeno contato, não tinha interesse nenhum em assistir, talvez por ter medo. Meu interesse pela série surgiu de fato quando aluguei, na mesma locadora que frequentávamos, o DVD de Amityville 2 e Amityville 3-D, lançados em edição lastimável de banca. Aluguei e coloquei no aparelho. O resultado foi uma experiência de horror, em especial, graças ao segundo filme. Por um longo tempo, passei a alugar o DVD, mais por causa do segundo filme, até que resolvi procurar pelo primeiro, sem sucesso. Até que, numa visita a um shopping, encontrei o DVD do primeiro filme, que comprei rapidamente. Quando eu, minha mãe e meu irmão nos juntamos para assistir, o resultado também foi uma experiência de horror. A cada cena, nós pulávamos de cama e nos assustávamos. No final, eu adorei o filme, e continuo adorando até hoje.

O filme é uma adaptação do livro The Amityville Horror, do escritor e jornalista Jay Anson, lançado dois anos antes, que por sua vez, foi baseado em uma historia real ocorrida em 1975, onde o casal George e Kathy Lutz, juntamente com seus filhos, mudou-se para a mansão de Amityville, onde permaneceu por 28 dias, antes de fugir. O livro é assustador, um dos mais assustadores que já li; e o filme, não fica atrás.

Dirigido por Stuart Rosenberg, famoso por sua colaboração com o ator Paul Newman, foi produzido por Samuel Z. Arkoff, da America International Pictures (A.I.P.), que nos anos 60, foi responsável pelo lançamento de vários filmes de Roger Corman, baseados em historias de Edgar Allan Poe.

Amityville é excelente. Muito bem feito, com roteiro simples, de verdade, mas que aposta mais no terror psicológico do que no terror “visível”, vamos dizer assim. Durante toda a narrativa, o diretor Rosenberg deixa muitas coisas na base da sugestão, principalmente quando envolve as presenças sobrenaturais que rondam a casa. O melhor é que funciona.

A ambientação também contribui. Apesar da mansão ser ampla, em certos momentos, uma sensação de claustrofobia e insegurança é transmitida para o espectador. Parece mesmo que a casa não é um local seguro para aquela família, e eles precisam sair dali o mais rápido possível.

Como deu pra perceber, o filme faz parte de dois subgêneros muito populares naquela época: o terror satanista e as casas mal-assombradas. Apesar de o primeiro não estar tão evidente, o segundo está presente desde o começo. Falo de ventos que surgem de repente, portas que abrem e fecham e janelas que se fecham sozinhas. Ou seja, tudo que se pode encontrar em uma historia de casa assombrada; só faltou a presença dos fantasmas, mas, francamente, não é necessário. O aspecto satanista da historia só é revelado mais adiante, quando George decide investigar o que está acontecendo, e encontra um livro sobre o assunto.

Como já mencionado, é o tipo de filme que consegue assustar sem fazer esforço e sem apelar para jump-scares. O susto vem de repente, muitas vezes, sem trilha sonora alta, que pula na tela, como se vê nos filmes de terror atuais. O diretor cria esses momentos aos poucos, graças a cenas aparentemente inofensivas, como establishing shots da casa, tanto de dia como de noite, e também cenas de diálogos, e então, solta o terror na tela, deixando o espectador sem ar. Na primeira vez que assisti esse filme, fiquei com essa sensação. Foram momentos de puro terror.

Outro fator que contribui para o terror é a trilha sonora, composta pelo argentino Lalo Schifrin, autor da trilha sonora de Missão Impossível. Segundo o próprio, a intensão era criar algo que fosse parecido com uma canção de ninar, composta por um coro feminino. A ideia deu certo, e, na minha opinião, o tema musical é um melhores do cinema de horror; inclusive, chegou a ser indicado ao Oscar® de Melhor Trilha Sonora em 1980. É uma prova de que um filme de terror não precisa de temas pesados para ser assustador. Schifrin seria também responsável pela trilha sonora da continuação, lançada três anos depois.

Além da trilha sonora, a fotografia também ajuda a construir a atmosfera. Se durante o dia, o filme é todo colorido, à noite, a paleta de cores muda completamente, assumindo tons de azul e preto, o que deixa o filme ainda mais assustador.

O roteiro, escrito por Sandor Stern é excelente. O autor fez praticamente uma adaptação fiel do livro de Anson, apenas alterando a época da historia: no livro acontece no inverno, aqui, acontece provavelmente no outono. Mas, francamente, não muda em nada a essência da historia. Stern fez um belo trabalho, mostrando praticamente todos os dias em que os Lutz permaneceram na casa, além de mostrar a relação entre George e Kathy, e como ela vai se deteriorando a medida que ele é afetado pelas forças sobrenaturais. E como mencionei, é quase tudo na base do terror psicológico.

O modo como George é afetado pelas forças sobrenaturais é muito bem feito. Conforme ele vai sendo afetado, sua personalidade vai mudando, bem como sua aparência. De padrasto e marido amoroso, ele torna-se obcecado em arrumar a lareira e passa a se descuidar, sempre aparecendo desarrumado, com as roupas suadas e o rosto pálido. Muito boa transformação. Mas não é apenas George que é afetado; Amy, a filha de Kathy passa a interagir com uma amiga imaginaria chamada Jody, que passa a influenciá-la de maneira negativa, como mostrado na cena do armário. Esse também é outro truque do roteiro que funciona bem. Jody não aparece durante o filme; sua presença é sugerida pela cadeirinha de balanço de Amy, que está sempre em movimento. As únicas vezes em que o diretor resolve mostra-la são bem rápidas, e uma delas nos assustou tanto, que minha mãe pediu para voltar e ver de novo. Realmente, uma cena brilhante, que acontece conforme descrevi acima.

Amityville é estrelado por James Brolin, Margot Kidder (1948-2018) e Rod Steiger (1925-2002). Margot Kidder, no ano anterior, havia estrelado Superman – O Filme, de Richard Donner, ao lado de Christopher Reeve. Já Rod Steiger havia levado o Oscar® de Melhor Ator por No Calor da Noite, onde atuou ao lado de Sidney Poitier. Não sei qual era a opinião do ator sobre Amityville, mas, a atriz Margot Kidder chegou a declarar que era o pior filme que fizera, porém, anos depois, voltou atrás em sua opinião. Os atores estão muito bem em seus papéis e passam as sensações que seus personagens estão sentindo de forma autentica. Os atores-mirins também estão bem, mas, em alguns momentos, não são tão agradáveis. No elenco, também tem a presença do ator Murray Hamilton (1923-1986), no papel de um dos padres.

O filme chegou a ser lançado em VHS, com a tag “Pelo amor de Deus, fugam!” estampada na capa, com o título de A Cidade do Horror. Também chegou a ser lançado em DVD pela MGM, desta vez com o título Terror em Amityville, o que é estranho, porque também o título que o segundo filme recebeu em VHS por aqui. Ambas as edições estão fora de catálogo; mas, recentemente, foi lançado novamente em DVD pela Obras-Primas do Cinema na coleção Trilogia Terror em Amityville, juntamente com suas duas continuações oficiais, todos em versões remasterizadas e com muitos extras.

Como também mencionado, o filme ganhou várias continuações, cuja a primeira foi lançada três anos depois; o terceiro filme foi lançado no ano seguinte. A partir do quarto filme, lançado em 1989, as continuações não tiveram nenhuma relação com a historia original, e principalmente, com a Mansão Amityville. Na verdade, era apenas uma estratégia de marketing bem sem-vergonha para veicular o nome Amityville à uma serie de filmes sobrenaturais. O único dessa leva que eu assisti foi o sexto filme, Amityville: Uma Questão de Hora, no SBT, e como disse, é uma porcaria sem tamanho. A única continuação que vale a pena, é o ótimo Amityville: O Despertar, lançado em 2017. Mais recentemente, uma prequel foi produzida, The Amityville Murders, que aparentemente, foca na família que viveu na casa antes da família Lutz.

Enfim, Amityville, A Cidade do Horror é um filme excelente. Um dos melhores filmes de terror de todos os tempos. Uma historia apavorante, que provoca arrepios sem fazer esforço.

Muito bem recomendado.







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