segunda-feira, 12 de setembro de 2022

COMUNHÃO (1976). Dir.: Alfred Sole.

 

NOTA: 9



Em 1974, o diretor Bob Clark lançou Noite de Terror, considerado o primeiro Slasher do cinema, porque foi o primeiro a abordar a questão das datas comemorativas associadas ao gênero.

 

Dois anos depois, foi lançado COMUNHÃO, do diretor Alfred Sole, considerado um dos primeiros exemplares do gênero.

 

Talvez para os mais exigentes, o único mérito desse filme seja o fato de ser o primeiro longa da atriz Brooke Shields, mas, é muito mais do que isso. Ao contrario do que viria depois no gênero, temos aqui um filme muito mais focado no suspense do que nas cenas de morte e no sangue, o que, conforme mencionei em outras resenhas, é muito bom, porque mostra que naquela época, os cineastas estavam muito mais interessados na história no que no sangue.

 

E Comunhão segue isso quase ao pé da letra, visto que temos aqui pouquíssimas cenas de morte – apenas três personagens morrem – e mais momentos de mistério e investigação policial. Aliás, isso é o que mais temos aqui, visto que os incidentes têm inicio após – não é spoiler! – o assassinato da personagem de Brooke Shields na primeira comunhão, uma cena muito pesada.

 

Durante boa parte do filme, somos brindados com cenas da policia investigando o homicídio, interrogando os parentes da menina, fazendo testes de poligrafo na irmã mais velha, etc... Além disso, temos também os demais personagens envolvidos no mistério, entre eles, a Sra. Tredoni, a mulher que cuida dos afazeres da igreja; e o Sr. Alphonso, o desprezível senhorio do prédio onde Alice mora com a família. Os demais eventos se resumem à policia investigando a personagem, e o pai desconfiado da sobrinha, principalmente após outro incidente.

 

Além dos momentos de investigação, o filme é cheio de momentos tensos e pesados, muitos deles envolvendo a família de Alice; a começar pelo fato de que o pai e a mãe são divorciados e se reencontram durante o funeral de Karen, e o clima é carregado de tensão, principalmente sexual, visto que os dois ainda se amam. Juntamente com isso, temos também a complicada relação entre a mãe e a tia de Alice. A tia Annie é uma mulher tipicamente autoritária, que não respeita nem mesmo o momento de luto da irmã e da sobrinha. As cenas dessa personagem são as mais pesadas, tudo graças ao roteiro e a interpretação afiados da atriz.

 

O Sr. Alphonso também é um personagem com momentos tensos, principalmente graças às suas atitudes em relação aos outros personagens; em determinada cena, ele tenta assediar Alice quando a menina lhe entrega o cheque, por exemplo. Uma cena verdadeiramente grotesca que não seria reproduzida hoje em dia...

 

E além dele, temos também a Sra. Tredoni, que cuida dos padres da igreja. Desde sua primeira aparição, fica claro que ela tem algum problema, principalmente com o Padre Tom... Não posso entrar em mais detalhes para não dar spoilers, mas, fica claro que ela é aquele tipo de personagem que usa a fé para justificar seus atos, não importa quão terríveis eles sejam.

 

E para fechar, temos a protagonista, Alice. Assim como os demais, desde sua primeira cena, é possível perceber que há algo errado na menina, principalmente nas cenas em que ela interage com os pais e com a irmã mais nova. A principio, ela aparenta ter ciúmes da irmã, mas conforme o filme avança, a coisa fica mais séria. Ela é, sem duvida, uma das melhores crianças perversas do cinema.

 

E claro, como todo Slasher, temos também a figura memorável do assassino. Aqui, temos um assassino que se veste com uma capa de chuva amarela e usa uma máscara de boneca translucida. E desde o começo, as suspeitas sobre sua identidade caem sobre Alice, visto que a menina tem as mesmas roupas, mas, durante o segundo assassinato, as suspeitas mudam – por motivos de spoiler, não vou revelar o porquê. É um dos melhores assassinos do gênero, e assusta sem o menor esforço.

 

Antes de encerrar, Comunhão é basicamente um filme de terror cristão, visto que a figura dos padres, das freiras e a igreja são presenças recorrentes no longa, o que lhe dá um aspecto até mais pesado, porque é difícil imaginar um Slasher ambientado nesse contexto, além de contribuir para algumas das críticas sociais apresentadas no filme.

 

Foi lançado em DVD no Brasil pela Versátil Home Vídeo na coleção Slashers – Vol.4, em versão restaurada sem cortes, após anos fora de catálogo.

 

Enfim, Comunhão é um filme perturbador. Uma trama cheia de mistério e violência, onde nada é o que parece. Um filme que consegue arrepiar sem fazer esforço para isso, com suspense bem construído e um final chocante. Uma trama perturbadora em todos os sentidos. Um dos primeiros exemplares do gênero Slasher e um dos melhores.


Créditos: Versátil Home Vídeo

 

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