NOTA: 10
O CICLO DO PAVOR (1966) |
Conforme mencionei na resenha de Seis
Mulheres para o Assassino (1964), o diretor Mario Bava era um Mestre do
cinema de horror. Dentre suas obras, CICLO
DO PAVOR (1966) é uma das minhas favoritas.
Marco do Terror Gótico Italiano, é um filme maravilhoso. Uma historia
de fantasmas com toques de conto de fadas, com os truques que somente Bava
conseguia dar a suas obras.
Não é novidade nenhuma que Bava era um especialista em fazer grandes
coisas com orçamentos e tempos apertados, e aqui, não é diferente. A produção
foi marcada por dificuldades, e em determinado momento, o orçamento acabou,
mas, mesmo assim, a equipe e o elenco concordaram em trabalhar de graça; mas,
nada disso impediu o filme de ser uma obra maravilhosa.
Bava faz uso de técnicas espetaculares, técnicas essas que diretor
nenhum consegue – nem conseguirá – copiar. Isso aconteceu graças à sua
experiência como operador de câmera e diretor de fotografia nos anos 50, o que
lhe rendeu muitos elogios. E claro, quando resolveu se aventurar na direção,
levou suas técnicas consigo.
Bava estreou oficialmente na direção em 1960, com o excelente A Maldição do Demônio, e desde então,
tem se dedicado ao terror gótico praticamente com exclusividade – o que não o
impediu de se aventurar em outros gêneros, claro. E em O Ciclo do Pavor, Bava está em sua melhor forma.
O roteiro é simples, mas, torna-se pretexto para o diretor aplicar
tudo o que desenvolveu nos anos anteriores. Impossível dizer qual o melhor
momento, porque são muitos; mas, sem duvida, uma das melhores cenas é a do
balanço no cemitério – mais sobre ela adiante.
A fotografia é uma melhores coisas do filme, sem duvida. Com tons de
laranja, azul e preto, ela enche a tela e chega a hipnotizar e a ser atraente.
Sério. Dá um aspecto de nostalgia e interior ao filme, o que o enchem ainda
mais de charme. E a transição de cores acontece naturalmente; se no inicio,
durante o dia, o filme é banhado nos tons laranja e amarelos, durante a noite,
o preto e o azul-escuro tomam conta, e não mudam o tom nostálgico do filme. Sem
duvida, mesmo não sendo responsável pela direção de fotografia, Bava soube
administrar os tons, e, sinceramente, não chegam a transformar o filme num
arco-íris, mas deixam-no lindo.
O design do filme também contribui para deixa-lo lindo. O vilarejo
parece parado no tempo, completamente envolto em teias de aranha; as portas das
casas estão sempre fechadas; as paredes são forradas de alho, cruzes e velas –
uma amostra do quão supersticiosos seus habitantes são – ; e principalmente, a
Vila da Baronesa Graps não fica para trás. A decadência está presente em todas
as paredes da casa, cuja pintura está caindo aos pedaços; os cômodos e moveis
estão envoltos em enormes teias de aranha, e o muro da cripta da família está
prestes a desmoronar. Parece que a qualquer minuto, a Vila vai desabar.
A trilha sonora, composta por Carlo Rustichelli, que já havia
trabalhado com Bava no passado, é maravilhosa. Ao invés de ser uma trilha alta,
que pula na tela, é quase uma melodia de conto de fadas, que casa perfeitamente
com a atmosfera do filme.
Como mencionado acima, o filme tem varias cenas impressionantes; uma
das melhores, sem duvida é o balanço. É uma cena perfeita, com Bava dando seus
toques de mestre; os primeiros segundos mostram a câmera indo para frente e
para trás, de maneira aleatória, sobrenatural, até. Não me lembro de ter visto
uma cena tão artesanal e linda como essa, e com a paleta de cores, fica
perfeita. A cena da escada também é muito boa, digna de provocar arrepios. Mas,
uma das minhas favoritas, é quando o Dr. Eswai chega ao vilarejo: assim que sua
carruagem para, ele vê, ao longe, um grupo de homens carregando um caixão. É uma
cena em plano geral, sob o céu alaranjado, com as silhuetas dos homens andando;
quando vi essa cena pela primeira vez, eu me apaixonei pelo filme, e toda vez
que eu o vejo, volto a cena para conferir de novo. As cenas entre o Comissário Kruger
e o protagonista também são as minhas favoritas. Bava soube filmá-las muito
bem, sem uso de trilha sonora, o que as deixa mais sinistras. Outro exemplo da
genialidade do diretor.
Os personagens do filme também merecem atenção. O Dr. Paul Eswai é o
típico homem da Ciência, o médico que não acredita no sobrenatural nem nas superstições
dos moradores do vilarejo, e mostra-se disposto a enfrentar a tal maldição para
provar suas teorias. Seria o tipo de personagem que a gente torce para ser
eliminado, mas, sinceramente, não é possível. Monica, a antiga moradora do
vilarejo também é uma ótima personagem, o tipo de pessoa que, mesmo morando
naquele lugar durante boa parte da vida, sente-se uma estranha quando retorna. Ela
tem uma personalidade doce, mas não daquele tipo que exagera, sempre chorando
por aí, fazendo gestos e caras e bocas; pelo contrario, ela é verdadeira em sua
fragilidade. E a relação entre os dois funciona muito bem, e francamente, não seria
surpresa se ambos se apaixonassem um pelo outro. Não atrapalharia em nada o
andamento da trama.
Os demais personagens também são atraentes. Cada um à sua maneira, é
envolvido pelo mistério que ronda o vilarejo, e mostram-se verdadeiramente
aterrorizados pelas forças sobrenaturais. O burgomestre já não tem poder nenhum
sobre o lugar; os habitantes acreditam apenas em suas próprias leis. Enfim, os típicos
personagens supersticiosos de historias como essa. Uma menção especial para: Ruth,
a bruxa do vilarejo. Dotada de poderes de cura, é a ela a quem os moradores
recorrem quando algo ruim acontece, e eles confiam fielmente em suas
habilidades. A Baronesa Graps é a própria imagem da decadência. Morando em sua Vila
caindo aos pedaços, ela própria também está decaindo, com as roupas sujas, o
cabelo embaraçado, despreocupada com sua aparência, uma completa reclusa. E por
fim, Melissa, a menina morta. Vitima de um acidente que lhe custou a vida, ela
é um melhores fantasmas do cinema de horror. Vestida de branco, com o rosto
branco como papel e os cabelos loiros, é uma imagem assustadora. Ela é a responsável
pelas mortes misteriosas no vilarejo, e os residentes têm até medo de
pronunciar seu nome.
Todos esses aspectos fazem de O
Ciclo do Pavor um dos melhores filmes de terror do cinema italiano. Sem duvida,
é um daqueles filmes que ficam melhores a cada vez que vemos, e às vezes parece
que uma coisa nova vai aparecer. É um dos filmes que eu mais gosto de assistir,
e faço isso com prazer, de verdade. Mesmo tendo-o visto várias vezes, não me
canso dele.
Com mais esse filme, Mario Bava provou que era um Maestro do Cinema de
Horror Italiano, e o Rei do Horror Italiano.
Foi lançado em DVD por aqui pela Versátil Home Vídeo, na excelente coleção Obras-Primas do Terror Vol.2, com áudio original italiano.
Recentemente, foi lançado em Blu-ray, em versão restaurada, que na minha opinião, não faz jus ao filme, além de ser dublada em inglês. Na minha opinião, é muito melhor assistir ao filme com áudio original em italiano; assisti-lo com dublagem em inglês é muito estranho, parece outro filme. A versão disponível aqui no Brasil é a melhor disponível.
Enfim, O Ciclo do Pavor é um filme excelente. Um filme belíssimo. Uma história de horror com toques de conto de fadas.
Um dos meus filmes favoritos do Maestro Mario Bava.
Créditos: Versátil Home Vídeo |
Nenhum comentário:
Postar um comentário