NOTA: 10
Mario Bava era um mestre. Eu já disse isso algumas
vezes aqui, mas, é sempre bom ressaltar. Desde que se aventurou na direção
definitivamente, com o Clássico A
Maldição do Demônio (1960), Bava nos presenteou com obras que até hoje são
admiradas por cineastas e fãs de cinema. Mesmo tendo se aventurado em outros
gêneros, como, por exemplo, o Western,
o cinema épico, e até mesmo, o cinema de super-heróis, o diretor é mais
conhecido pela sua presença no Terror, principalmente no Terror Gótico. E AS
TRÊS MÁSCARAS DO TERROR (1963) é mais um exemplo.
Este é, sem duvida, um dos melhores trabalhos do
diretor – dentre muitos outros – , e talvez a sua única aventura no gênero de
antologias. E além disso, Bava contou com a presença de outro grande Mestre do
terror: o astro Boris Karloff, que aqui faz o papel de anfitrião, além de
estrelar o segundo – e melhor – segmento do filme, mais detalhes sobre isso
adiante.
O filme é divido em três episódios, todos
apresentados por Karloff.
O primeiro, O
Telefone, é uma história de mistério com toques de Giallo. Após chegar em
casa, uma prostituta que começa a receber ligações misteriosas. Ela então começa
a suspeitar que o responsável é o seu ex-namorado, que estava preso, mas conseguiu
fugir. Desesperada, ela liga para uma amiga para pedir ajuda, mas não imagina
que o terror estava apenas começando.
O próximo segmento, O Vurdalak, é o melhor deles, sem a menor dúvida. Na história, um
homem encontra um cadáver sem cabeça e o leva para a casa de uma família, e
logo descobre que se trata de um assassino que vivia na região. No entanto, ele
não sabe que a família está esperando o pai voltar para casa, mas ao mesmo
tempo, todos estão com medo, pois acreditam que ele pode ter sido vítima de uma
maldição vampiresca.
O último segmento, A Gota D’Água, é uma clássica história de fantasma. Uma enfermeira recebe
um telefonema para ir à casa de uma médium que morreu durante uma sessão para
ajudar a empregada a prepara-la para o funeral. No entanto, ela acaba roubando
o anel da falecida, e passa a ser atormentada pelo seu fantasma.
Com o roteiro adaptado de obras escritas por F.G. Synder,
Ivan Chekhov e Aleksey K. Tolstoy, As
Três Máscaras do Terror é uma antologia clássica, apresentada em episódios de
curta duração; ou seja, um exemplar clássico do gênero, correto? Sim, mas tem
mais um detalhe: foi dirigido pelo Maestro Mario Bava, e posso dizer que isso é
o que a diferencia das demais. Afinal, Bava era um maestro do cinema de horror,
e aqui, dá mais uma prova do seu enorme talento.
O filme é um espetáculo de cores, principalmente os
dois últimos segmentos, mas não é só isso. Mesmo apostando em recursos
limitados, o diretor foi capaz de criar cenas e sequencias memoráveis, dignas
de estudo para cinéfilos e fãs de cinema.
Logo na introdução, apresentada pelo astro Boris Karloff, somos brindados com um show de cores pulsantes na tela, que já enchem os olhos e dão uma dica do que vem por aí. Em seguida, no primeiro episódio, podemos ver o quanto o maestro sabia lidar com apenas um cenário e poucos atores, mesmo porque é exatamente isso que é mostrado na tela. Bava sabia exatamente o que fazer com o que tinha nas mãos e entregou um segmento tenso e arrepiante. No entanto, é certo dizer que ele guardou o melhor para os dois segmentos seguintes. Ambos são exemplares clássicos do terror gótico que o diretor que sabia fazer, com seus cenários exuberantes, dignos de foto, luzes coloridas pulsantes e cores vibrantes. Um verdadeiro espetáculo visual.
Além disso, temos aqui a representação de três grandes
gêneros do terror, conforme mencionado acima. O Telefone é um suspense psicológico com toques de Giallo, subgênero
que estava dando seus primeiros passos no cinema; temos o clima de tensão e também
as ligações misteriosas, que se tornariam uma das marcas do gênero, além da
presença das luvas pretas segurando uma faca brilhante. O Vurdalak é uma história de vampiros, nesse caso, do vampiro da tradição
russa, que volta para se alimentar do sangue das pessoas que mais amou em vida –
conforme dito na resenha de A Noite dos Demônios (1972), que também
adaptou a novela de Tolstoy; e como toda história de vampiros, temos a presença
das vítimas com os pescoços marcados pelos caninos afiados, além também do fato
de que elas voltam para matar seus familiares. E por fim, A Gota D’Água é uma clássica história de fantasma com toques de
terror psicológico, onde a personagem principal é levada à loucura. Temos a
figura do fantasma que volta para assombrar a pessoa que o prejudicou, assim
como vemos nos filmes de terror japonês, e leva-la a ter seu merecido fim, além,
é claro, de termos também o tema do objeto maldito que vai passando de pessoa
para pessoa, desencadeando um ciclo sem fim.
Ainda sobre o primeiro segmento, podemos também notar
que a história toca em um dos grandes tabus da humanidade: a representação da
homossexualidade na tela, ainda mais naquela época. Mesmo abordada de forma até
sutil, é difícil não fazer essa associação; e além disso, temos também pequenos
momentos de erotismo e sensualidade, novamente, algo inédito e ousado para a
época.
Mesmo assim, é impossível assistir à As Três Máscaras do Terror e não se
maravilhar, principalmente com a fotografia. Conforme mencionado acima, é um
filme colorido, com as cores pulsando e vibrando na tela, enchendo os olhos do
espectador. Bava era muito conhecido principalmente por seus filmes coloridos,
e aqui podemos ver o motivo. O maestro soube muito bem onde colocar as cores,
dado o seu conhecimento anterior como diretor de fotografia, e com isso, nos
brindou com momentos dignos de obras de artes. Aliás, todo o trabalho do
diretor é soberbo. Seu elenco atua muito bem, principalmente o astro Boris Karloff,
com destaque para sua atuação no segundo episódio, onde ele interpretou o único
vampiro de sua carreira, com sua capa negra com o capuz coberto de pelos. Os efeitos
especiais também são maravilhosos, principalmente a cena da cavalgada na
floresta noturna, homenageada por Tim Burton em A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça (1999);
o fantasma da médium no último episódio também não fica atrás, com seu sorriso
permanente e suas mãos em formato de garra. E claro, temos o som do vento
soprando na noite. Conforme mencionei anteriormente, eu adoro quando tal efeito
de som, pois dá uma sensação indescritível.
Sem dúvida, As
Três Máscaras do Terror é um dos melhores filmes do Maestro Mario Bava, e
um dos mais belos filmes de terror de todos os tempos. Quem disse que filme de
terror não pode ser lindo e colorido, mas viu esse filme.
Foi lançado em 1963 na Itália, e no mesmo ano, a
A.I.P. tratou de lançar uma versão alternativa nos Estados Unidos, que ganhou o
título Black Sabbath, pelo qual também
é conhecido. Os episódios foram trocados de ordem, além de contar com cenas
alteradas – principalmente a introdução – e nova trilha sonora. No entanto,
mesmo contando com a verdadeira voz do astro Boris Karloff, eu não gostei na
versão internacional; eu prefiro muito mais a versão original italiana. Eu sei
que algumas pessoas gostam das duas versões – ou até de uma delas – mas eu
prefiro a versão oficial.
Chegou a ser lançado em DVD no Brasil pela
distribuidora DarkSide – somente a versão italiana – , mas esteve fora de
catálogo por anos, até ser lançado em DVD pela Versátil Home Vídeo, em belíssima
versão restaurada, também com a versão internacional, até então, inédita no Brasil.
Enfim, As Três
Máscaras do Terror é um filme belíssimo. Um verdadeiro espetáculo visual,
com cores vibrantes que enchem os olhos do espectador, além de uma direção criativa
do Maestro Bava, do jeito que somente ele sabia fazer. O astro Boris Karloff
entrega uma atuação espetacular sob o comando do Maestro, interpretando o único
vampiro de sua carreira. Uma trilogia de horror com toques de fantasia. Uma verdadeira
obra de arte do cinema de horror.
Créditos: Versátil Home Vídeo |
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