segunda-feira, 14 de agosto de 2023

A ÁRVORE DA MALDIÇÃO (1990). Dir.: William Friedkin.

 

EM MEMÓRIA DE WILLIAM FRIEDKIN


NOTA: 8


William Friedkin foi um dos grandes nomes do cinema, responsável por alguns dos maiores clássicos da Nova Hollywood, entre eles, o absoluto O Exorcista (1973), o maior filme de terror de todos os tempos.

 

Mas hoje, não irei falar sobre o clássico absoluto do gênero, e sim, sobre A ÁRVORE DA MALDIÇÃO (1990), segunda incursão do cineasta no gênero.

 

Mesmo sendo considerado um filme menor de sua carreira, este é um ótimo filme de terror, com uma atmosfera de conto de fadas macabro, misturado com altas dozes de gore.

 

Esse filme para mim representa uma certa doze de nostalgia, não porque eu assisti muito na infância, mas por causa do VHS da saudosa CIC Vídeo, com aquela imagem negra contra a luz azul; tal imagem me impactava sempre que eu ia a locadora, e me deparava com ela, na seção de filmes de terror.

 

Não sei qual a opinião de muitas pessoas, mas eu gostei muito do filme na primeira vez que vi, e gostei um pouco mais na segunda vez, principalmente das cenas envolvendo os lobos – mais detalhes adiante.

 

Mesmo tendo fincado seu lugar no hall dos grandes diretores de todos os tempos, não dá para negar que aqui temos de fato um filme menor do cineasta, que meio que se perde em sua filmografia, talvez porque, por ser um filme de terror, talvez as pessoas esperassem algo no mesmo nível de O Exorcista, mas não é esse o caso, porque temos aqui um filme diferente, com atmosfera e ambientações diferentes; e talvez seja por isso que muitas pessoas não gostam dele.

 

Eu não sou uma dessas pessoas, e considero este um dos filmes de terror mais notáveis dos anos 90, década em que o gênero estava fadado ao esquecimento, visto a quantidade de produções questionáveis – salvo exceções – que eram lançadas naquele período – especialistas podem contextualizar com mais clareza do que eu.

 

Bom, mas do que se trata o filme? A Árvore da Maldição se trata, em sua essência, de uma criatura que sacrifica bebês para uma arvore amaldiçoada. Já nos créditos de abertura, temos um breve texto sobre sacerdotes da religião druida, que idolatravam as arvores, e às vezes, sacrificavam pessoas para elas. E é isso que temos aqui; uma história sobre uma criatura mitológica que realiza sacrifícios humanos. Simples, não? Pois bem, além disso, temos também uma típica história de uma babá perversa, algo, na minha opinião, que torna o terror desse filme ainda maior.

 

Maior porque, se tirarmos a questão da criatura mitológica, podemos encaixar esse filme na categoria do suspense, porque, em certo momento, ficamos sabendo de um incidente assustador envolvendo a babá e a criança que estava sob seus cuidados. Dois anos depois, o tema de babá psicótica seria aproveitado no filme A Mão que Balança o Berço, com Rebecca de Mornay.

 

Mas voltando ao filme de Friedkin, eu gosto da ideia de uma criatura mitológica se infiltrando na casa de uma família para realizar um sacrifício humano. Temos uma subversão do tema da babá psicótica, além de termos também uma espécie de conto de fadas de horror, visto a presença do clássico João e Maria no longa.

 

Bom, deixe-me falar da técnica. Não é novidade para ninguém que Friedkin era um grande diretor, e aqui ele não faz feio. Seu elenco está muito bem, principalmente a atriz Jenny Seagrove, no papel da ninfa Camilla. A fotografia também é muito boa, principalmente nas cenas noturnas envolvendo a ninfa e a árvore; e os efeitos especiais também merecem menção, principalmente na sequência em que três bandidos são trucidados pela arvore maldita. Os bebês e os rostos encravados na árvore também merecem destaque, principalmente os bebês, que chegam a ser chocantes.  

 

Apesar do casal protagonista ter mais destaque, na minha opinião quem rouba a cena é Jenny Seagrove. Sua Camilla é uma grande personagem, passando tanto a doçura quanto a maldade que o roteiro e a direção pedem; além disso, ela se mostra também muito sedutora, visto que vez ou outra, invade os sonhos de Phil.

 

Como mencionado acima, A Árvore da Maldição é um filme carregado de gore, e podemos ver isso na sequência em que três bandidos são massacrados pela árvore. Friedkin não poupa o espectador de cenas grotescas, com membros decepados e pessoas sendo empaladas e literalmente devoradas. Mais para frente, temos outro exemplo, quando Phil utiliza uma motosserra na árvore, e literalmente decepa seus membros, num verdadeiro banho de sangue.

 

Também conforme mencionado, o filme possui outras grandes sequencias, desta vez envolvendo lobos negros. Eu adoro lobos, e é sempre um prazer vê-los no cinema, e aqui, Friedkin não decepciona. Os lobos, possivelmente guardiães da árvore maldita, dão um show quando entram em cena, principalmente quando atacam os personagens, tanto um secundário em sua casa – outra cena carregada no gore – quanto o casal protagonista, numa sequência que me lembrou o final de Lobos (1981), por sinal.

 

No entanto, apesar de ser um filme muito bom, A Árvore da Maldição foi uma produção conturbada. Segundo informações da internet, o diretor Sam Raimi estava inicialmente cogitado, mas desistiu para comandar Darkman – Vingança Sem Rosto, então, Friedkin foi chamado. Mas os problemas continuaram, porque todos ficaram entusiasmados por ser o segundo filme de terror do cineasta, então, com certeza, estavam esperando algo na mesma linha de O Exorcista. Mas não foi isso que aconteceu.

 

Após sua contratação, Friedkin fez alterações no roteiro, que, segundo ele, seria focado em uma babá que sequestra crianças, mas o estúdio queria algo voltado para o sobrenatural. Então, Friedkin e mais um roteirista fizeram novas alterações, mas mesmo assim, os problemas não acabaram, porque o roteiro passaria a ser escrito enquanto o filme estava sendo rodado. No final, o filme não obteve grandes resultados de bilheteria, mas hoje em dia possui um status de cult. A coisa piorou com uma versão lançada para a TV a cabo, que desagradou Friedkin, que pediu para ter seu nome desvinculado do projeto. O próprio Friedkin aparentava ter sentimentos conflitantes sobre o filme, dando apenas uma entrevista sobre o longa, onde relatou sobre o que o inspirou a fazê-lo, no caso, um incidente envolvendo sua família e uma babá.

 

Foi lançado em DVD no Brasil pela Versátil Home Vídeo, na coleção Obras-Primas do Terror – Volume 13, após anos fora de catálogo.

 

William Friedkin nos deixou em Agosto deste ano, mas seu nome está sempre gravado no hall dos grandes cineastas de todos os tempos. Seu legado será eterno.

 

Enfim, A Árvore da Maldição é um filme muito bom. Uma historia sombria e assustadora, com toques de conto de fadas, misturado à técnica milenar do diretor William Friedkin. O elenco também merece menção, principalmente Jenny Seagrove, em uma interpretação arrepiante como a babá perversa; e os efeitos especiais também, caprichados no gore. Um filme que merece ser redescoberto. Recomendado.


Créditos: Versátil Home Vídeo.

 

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