NOTA: 9
Stan Winston foi um dos grandes mestres dos efeitos
especiais do cinema. Desde os anos 80, ele foi o responsável pelas maiores
criaturas do cinema de fantasia. Seus trabalhos incluem o androide do Exterminador do Futuro (1984), os
dinossauros de Jurassic Park (1993),
o Pinguim de Batman, o Retorno (1992) e
Edward Mãos-de-Tesoura (1990), entre
outros. Todas essas criaturas foram criadas dentro de seu estúdio, com o
auxilio de grandes profissionais.
Além de ser o responsável por essas e outras
criaturas fantásticas, Winston também foi o diretor de um dos melhores filmes
de terror dos anos 80, mas que infelizmente, não é tão conhecido assim: PUMPKINHEAD - A VINGANÇA DO DIABO,
lançado em 1988.
Devo dizer o seguinte sobre esse filme: é, sem
duvida, um dos melhores filmes do gênero, que contou com uma direção segura do
mestre e claro, efeitos especiais de ponta, que deram vida a um monstro
espetacular e assustador.
O filme é excelente. Ao contrario dos demais
exemplares que surgiram na mesma década, esse é um filme de terror sério, sem
nenhum espaço para alivio cômico, e com uma atmosfera de tragédia, pesadelo e
conto de fadas. Sim, conto de fadas. Por quê? Porque o tempo todo parece que
estamos assistindo a uma fábula, com uma criatura assustadora e uma moral no
final, além do clima sombrio e assustador dos contos de fadas de antigamente,
como eram contados realmente.
Além disso, outra coisa que torna o filme digno de
nota é a sua concepção. O roteiro foi inspirado num poema de Ed Justin e numa
lenda do folclore americano – que se é real ou não, não sei – e o tempo todo
essa questão dessa criatura mitológica é mostrada na tela, principalmente
levando em conta a ambientação interiorana americana, com as pessoas pobres,
sujas, que moram em casas simples. Tudo é mostrado de forma convincente, o que
aumenta ainda mais o grau de realismo. E a lenda do Cabeça de Abóbora aumenta
ainda mais essa sensação, uma vez que o filme mostra que a criatura é vista
como maldita pela região, e seus habitantes não querem nem ajudar quem está a
sua mercê. Ou seja, é o tipo de lenda que circula com força pela região e
assusta as pessoas há gerações.
Outro ponto positivo é a direção. Anteriormente, Winston
vinha de direção de segunda equipe em O
Exterminador do Futuro, mas aqui, ele estreou de fato no comando de um
longa com o pé direito. Winston faz um excelente trabalho, e sua direção é
segura e até madura, e ele se mostra um grande diretor de atores, uma vez que o
elenco entrega atuações convincentes, fazendo a gente acreditar que aquelas
pessoas são reais. E a caracterização deles também é muito boa, com destaque
para o personagem Ed Harley, interpretado por Lance Henriksen, com seu ar de
ingenuidade de homem do campo. Um trabalho de gênio. Além disso, a direção de
fotografia também é um ponto positivo. Basicamente, o filme possui três cores,
o laranja, o vermelho e o azul. O laranja é usado para as sequencias diurnas; o
vermelho para as cenas a luz de velas e na casa da bruxa; e o azul para a
noite. E as cores pulsam na tela de forma brilhante, principalmente o vermelho
e o azul. É quase um filme do Maestro Mario Bava, quase porque ninguém é capaz de refazer o que ele fazia, que fique
claro.
A direção de arte e o design também não ficam para trás. Como é um filme ambientado no interior dos Estados Unidos, a gente talvez espera encontrar pequenas comunidades, de casas simples, com animais perambulando. Pois é exatamente isso que é mostrado aqui, sem pudor. Toda a simplicidade, a falta de recursos e a sujeira são mostrados com detalhes impressionantes que beiram ao realismo. A paisagem é abandonada, com aspecto gótico e assombrado; o tipo de paisagem que mete medo em qualquer um. Um dos destaques vai para a casa da bruxa; toda decorada com animais mortos, ossos e crânios e uma lareira que lança labaredas amarelas. Ou seja, a casa de bruxa clássica dos contos de fadas. O cemitério de aboboras também merece menção. Um lugar cheio de nevoa, com arvores podres e aboboras velhas. Um lugar assustador. E tem também uma pequena igreja gótica em ruínas, muito bem feita também.
E por fim, não posso deixar de mencionar os efeitos
especiais, criados pelo estúdio de Winston. O Cabeça de Abobora é uma das
melhores e mais assustadoras criaturas do cinema de horror: alto, esquelético,
de pernas e braços longos, garras afiadas e uma cabeça em formato de abobora. Uma
criatura digna de pesadelos. O monstro foi interpretado por Tom Woodruff Jr.,
que passou o filme inteiro dentro de uma fantasia de borracha. Pois bem, aí que
está a magia. Os efeitos são tão bons que a gente esquece que aquilo é um homem
numa fantasia; parece de fato um monstro de verdade. Tudo criado com efeitos práticos,
que não ficam datados e fazem muita falta hoje em dia. O filme também tem boas
cenas de gore, com destaque para a cena da janela; um banho de sangue. Mas quem
ganha destaque mesmo é o monstro, e suas cenas são arrepiantes. O filme faz questão
de escondê-lo até o ultimo instante, mostrando apenas detalhes de suas mãos e
garras. E quando ele finalmente aparece, a espera é compensada.
Uma ultima coisa que vale comentar é a relação entre Harley
e seu filho Billy. Desde que eles aparecem, fica claro que os dois são sozinhos
e mundo e dependem um do outro para sobreviver. Harley é um pai amoroso, que
cuida do filho com carinho e demonstra seu amor o tempo todo. As cenas em que
ambos aparecem juntos são dignas de lagrimas nos olhos, de tão bonitas. E quando
a tragédia acontece, nós ficamos com pena do pai. E a cena da tragédia é toda construída
de maneira brilhante, com cortes para o pai e o filho e para os jovens na
motocicleta. Qualquer um que assiste é capaz de adivinhar o que vai acontecer,
sem esforço.
Pumpkinhead foi
lançado primeiramente em 1988 de maneira limitada. O que aconteceu foi que a
produtora, a De Laurentiis Entertainment Group, enfrentou problemas financeiros
e acabou indo à falência. Em seguida, foi lançado novamente em Janeiro de 1989
pela MGM, mas não obteve bons resultados de bilheteria. No entanto, com o
passar dos anos, acabou adquirindo status de cult entre os fãs do gênero. Recebeu quatro continuações, uma
direto para o vídeo, e duas para a TV, uma delas com Doug Bradley no elenco. Dessas
continuações, somente a primeira, Pumpkinhead II - O Retorno (1994),
vale a pena.
Stan Winston faleceu em 15/jun/2008. Até hoje, é reconhecido como um dos maiores criadores de efeitos especiais, e suas criações são reverenciadas por vários cinéfilos e cineastas.
Foi lançado em VHS no Brasil com o título de A Vingança do Diabo, mas também é
conhecido por aqui como Sangue Demoníaco.
Após anos fora de catalogo, foi lançado aqui em DVD pela 1Films Entretenimento,
em edição especial em DVD duplo, com um disco cheio de extras.
Enfim, Pumpkinhead,
A Vingança do Diabo é um filme excelente. Uma historia de horror com
elementos de fantasia e conto de fadas, que consegue assustar sem o menor
esforço. A direção segura e madura de Stan Winston, combinados com uma
fotografia colorida e efeitos especiais de ponta, fazem deste um dos melhores
filmes de terror dos anos 80. O Cabeça de Abóbora é uma das melhores e mais
assustadoras criaturas do cinema de horror. Um filme assustador. Altamente recomendado.
Créditos: 1Films Entretenimento. |
EXTRA:
O poema de Ed Justin, que serviu que serviu inspiração
para o filme:
“Keep away from
Pumpkinhead,
Unless you’re tired of living,
His enemies are mostly dead,
He’s mean and unforgiving,
Laugh at him and you’re undone,
But in some dreadful fashion,
Vengeance, he considers fun,
And plans it with a passion,
Time will not erase or blot,
A plot that he has brewing,
It’s when you think that he’s forgot,
He’ll conjure your undoing,
Bolted doors and windows barred,
Guard dogs prowling in the yard,
Won’t protect you in your bed,
Nothing will, from Pumpkinhead!”
Agradecimentos: https://www.horrorgeeklife.com/2017/03/02/pumpkinhead-poem/
https://livrosfilmesdehorror.home.blog/
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