NOTA: 10
CARNAVAL DE ALMAS (1962) |
Um pequeno Clássico do Terror. Assim pode ser definido CARNAVAL DE ALMAS (1962), um dos filmes
mais assustadores que já tive o prazer de assistir. De verdade.
Desde a primeira vez que coloquei o DVD no aparelho e apertei o Play,
esse filme me deu enormes calafrios na espinha. E não é para menos. Rodado com
um orçamento mínimo, e de forma independente, o filme é um exemplo de que não há
necessidade de grandes orçamentos, nem de grandes estúdios, para contar uma boa
historia; o que precisa é ter criatividade, e aqui, o diretor Herk Harvey tem
de sobra.
Com uma historia até simples, mas que precisa de raciocínio para
assistir, o diretor criou um dos filmes mais assustadores de todos os tempos,
mas que, infelizmente, boa parte do publico não conhece. O que é uma pena,
porque é um filme que vale a pena ser conferido, mais de uma vez, até.
Mas o que o torna um filme tão assustador? Bom, como acabei de
mencionar, tem criatividade de sobra; mas, não é só isso. Talvez um dos
principais fatores seja a trilha sonora, composta exclusivamente por órgãos,
que desde o primeiro momento, é digna de arrepios, seja pela melodia sombria,
seja pela melodia alegre de parque de diversões. Outro fator que contribui para
o clima de horror é a atmosfera enigmática e de pesadelo; a partir do momento
em que a protagonista, Mary, se recupera do acidente que sofreu, fica impossível
saber se o que ela está vivendo é real ou não, uma vez que a figura do Homem de
Preto que a persegue o filme todo, é vista somente por ela. Na minha opinião,
essa atmosfera dá mais um charme ao filme, porque, realmente, é impossível saber
se a garota está imaginando tudo aquilo, ou se é algo pior. E, acredite, é
pior.
Mesmo com essa clima de suspense psicológico, Carnaval de Almas é um verdadeiro filme de fantasmas, talvez um dos
melhores que eu já vi. A concepção das aparições é a melhor possível, de uma
simplicidade impar: todos vestem roupas negras e têm o rosto branco como papel,
lábios escuros e manchas pretas em volta dos olhos. Não precisa ser mais
assustador do que isso; e olha, eles conseguem ser assustadores, principalmente
o Homem de Preto, com sua expressão neutra e sorriso diabólico. É sério, ele é
o melhor personagem do filme, um daqueles casos em que o personagem dá medo só
de olhar pra ele; não há necessidade de diálogos, apenas a expressão é digna de
pesadelos! E o mesmo vale para os outros fantasmas.
No entanto, a protagonista não fica atrás. Mesmo sendo uma garota de
personalidade forte, às vezes meio insensível, não dá para não simpatizar com
ela, seja pelo o que acontece a ela no começo do filme, seja pelos pesadelos
que a atormentam ao longo da historia. E não são perrengues simples de se
resolver, não. Em certo momento, ela torna-se “invisível” para o mundo,
percorrendo as ruas da cidade sem ouvir nada, nem falar com ninguém.
Agora, devo destacar aqui os momentos mais assustadores do filme, que não
são poucos, mas, destacarei apenas dois. O primeiro acontece depois que Mary se
recupera do primeiro “transe invisível” e vai tomar água num bebedouro próximo,
e se assusta com um homem que pela pensa ser o Fantasma. Num filme qualquer,
seria mais uma cena simples, mas aqui não é nada disso. A cena toda é construída
de maneira brilhante, sem trilha sonora, somente com os sons do ambiente; e toda
vez que eu vejo o filme, eu repito a cena pelo menos duas vezes, porque é muito
bem feita – é a minha cena favorita. Outra, é quando ela embarca num delírio dentro
da igreja, enquanto toca o órgão: ela se vê dentro do parque abandonado, onde
os fantasmas estão dançando em uma espécie de Baile da Morte. Assim como a cena
descrita anteriormente, essa também é muito bem feita, e consegue, facilmente,
provocar arrepios – parte disso graças à trilha sonora fúnebre.
Como mencionado acima, Carnaval
de Almas é uma produção independente de baixo orçamento. Segundo o diretor Harvey,
a ideia surgiu após ele deparar-se com um pavilhão abandonado em Salt Lake City.
Após essa experiência, ele pediu a um amigo que escrevesse um roteiro para um
filme, sendo que ele descreveu apenas a ultima cena. O roteiro foi escrito em três
semanas. Harvey alugou o pavilhão por cerca de US$ 50, além de outras cenas. Foi
uma produção marcada pela chamada “Guerrilla filmmaking”, que é a maneira como
é conhecida a produção de produções independentes de baixo orçamento.
No entanto, a produção feita na garra, não impediu a baixa distribuição
do filme, o que contribuiu para sua baixa atenção. Atualmente, o filme possui
uma certa aura cult, sendo exibido
nas noites de Halloween, além de influenciar cineastas como George A. Romero e David
Lynch.
Para finalizar, Carnaval de Almas
é foi o único filme de Harvey na direção, e sua protagonista, a atriz Candace
Hilligoss, fez apenas mais dois filmes, antes de se aposentar, em 2001.
Por muitos anos, permaneceu raro no Brasil, até ser lançado em DVD na coleção
Obras-Primas do Terror 3, da Versátil
Home Vídeo.
Enfim, Carnaval de Almas é
um filme excelente. Uma historia simples, mas que consegue assustar sem fazer
esforço. Um dos filmes mais assustadores que eu já vi. Uma brilhante historia
de fantasmas.
Altamente recomendado.
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