NOTA: 9.5
A ORGIA DA MORTE (1964) |
A ORGIA DA MORTE é o sexto
filme do bem-sucedido “Ciclo Edgar Allan Poe”, que o diretor Roger Corman realizou
em parceria com a American International Pictures. Novamente, contou com Vincent
Price no papel principal, em uma de suas melhores atuações, sem a menor dúvida.
Conforme o título original entrega, o filme é baseado no conto A Máscara da Morte Rubra, ou O Baile da Morte Vermelha, um dos
textos mais populares de Egdar Allan Poe. Sem dúvida, pode ser considerado um
dos melhores filmes do Ciclo, que começou em 1960 com O Solar Maldito, baseado em A
Queda da Casa de Usher, e terminou em 1965, com O Túmulo Sinistro, baseado em Ligeia.
Conforme o diretor Corman afirmou, esse é o seu melhor trabalho
baseado em Poe, e não é pra menos. O filme é um espetáculo visual, repleto de
cores vibrantes – sobretudo o vermelho – , clima gótico autentico e atmosfera
de sonho. Tudo funciona muito bem, apesar do orçamento limitado e o tempo de
filmagem apertado: cerca de 5 semanas de filmagem e cerca de 300 mil dólares de
orçamento. E não faltou criatividade.
Como o texto de Poe em si só acontece no último ato, os roteiristas Charles
Beaumont e R. Wright Campbell tiveram que preencher muitas lacunas na
narrativa, o que tornou o filme ainda mais rico. Beaumont e Campbell dedicaram
boa parte da historia ao seu protagonista, o sádico Príncipe Prospero e também à
sua relação com a jovem Francesca, sua prisioneira. Foi possível perceber que,
além de sádico, Próspero também mostrou-se de certa forma, fascinado pela moça,
uma vez que não a tortura em nenhum momento – pelo menos não fisicamente; pelo
contrario, ela tem livre acesso ao castelo, veste-se elegantemente e participa
dos jantares promovidos pelo anfitrião. No entanto, mesmo com essa liberdade, Próspero
mostra-se onipresente, pois tem planos diabólicos para a menina, como inicia-la
em seus rituais de adoração ao Diabo; inclusive, desde o primeiro momento, o
personagem deixa isso muito claro: é um adorador do Diabo, e bane,
implacavelmente, qualquer forma de adoração a Deus.
Porém, existem outros pontos que merecem destaque. O primeiro deles é
a forma como a monarquia é representada. Numa visão pessoal, eu sempre achei
que os ricos eram de fato vulgares, desrespeitosos, e cruéis (ao contrario do
que diziam dos pobres), e, aqui, é a mais pura verdade. Na primeira cena de
festa promovida pelo Príncipe, os nobres surgem rindo, bebendo, gritando e
debochando dos camponeses, tudo sem o menor pudor e discrição. Um desses nobres,
Alfredo, mostra-se o pior deles. É um personagem perverso, com a maldade
impressa no rosto – porém, não menor que a Próspero, vale lembrar – e disposto
a tudo, inclusive, a passar a perna em seu amigo. Grande parte disso, deve-se à
magnifica interpretação do ator Patrick Magee, que, com certeza, levou esse
sadismo e crueldade para o seu personagem no clássico Laranja Mecânica (1971), de Stanley Kubrick. A atriz Jane Asher também
merece destaque: sua Francesca é a personificação da bondade e da pureza,
sempre mostrando-se fiel a seu pai e seu amado, e pregando amor a Deus, mesmo
diante de Próspero. Juliana, interpretada pela atriz Hazel Court, pretendente
de Próspero também merece destaque: ao contrario de Francesca, ela é própria imagem
da crueldade, submissa, e perversa, disposta até a unir-se ao Diabo para ter Próspero
ao seu lado.
Outro ponto é a ambientação. Naquela época, o cinema de horror era
mais focado no clima gótico, de fantasia, o que rendeu grandes obras, e aqui, não
é diferente. Com suas florestas de arvores mortas, envoltas em nevoa, o castelo
de Próspero todo coberto por teias de aranha, o filme é uma das melhores representações
do Gótico no cinema de horror. A direção de arte, a cargo de Robert Jones, e o
design de produção, a cargo de Daniel Haller, com certeza, contribuíram para a ambientação
medieval da trama. Em todos os momentos, é possível acreditar que aqueles
personagens vivem naquela época e vestem aquelas roupas. Trabalho excelente,
indicado ao BAFTA, o Oscar® do cinema britânico.
E por fim, duas cenas também devem ser mencionadas. A primeira é a
cena do corvo, que culmina na morte de um personagem importante da historia. É uma
cena belíssima, bem dirigida, onde, mesmo não sendo possível ver o corvo
bicando e arranhando, é crível o que está acontecendo; e quando a cena termina,
é um verdadeiro espetáculo. E a ultima menção fica a cargo do ultimo ato, que
narra o conto de Poe em si. É um deslumbre visual e colorido, uma representação
realista de um baile de máscaras, como visto em muitos filmes clássicos de
décadas anteriores, principalmente as décadas de 30 e 40. E claro, o desfecho,
onde o vermelho predomina toda a tela, em tons vivos que enchem os olhos.
E como todo filme de terror, possui seus momentos arrepiantes. O melhor
deles, sem duvida, é quando os espectros da Morte se juntam no bosque envolto
em nevoas, após realizaram seus trabalhos nas regiões próximas. Uma cena sem
trilha sonora, onde os personagens sussurram o tempo todo, e, envoltos em suas
vestes, tornam-se ainda mais assustadores, uma vez que não vemos seus rostos ou
seus olhos. Talvez, uma das melhores personificações da Morte já mostradas em
um filme.
Porém, o filme tem um pequeno defeito: uma cena em que Juliana tem uma
alucinação, antes de seu matrimonio com Satã. Mesmo sendo bem executada, com
seus efeitos visuais e lentes distorcidas, é uma cena que, ao meu ver, não precisava
estar no filme, porque, sinceramente, parece muito longa e arrastada. Vale lembrar
que Corman fez algumas cenas parecidas nos demais filmes do Ciclo.
E claro, não poderia concluir esse texto sem mencionar o astro Vincent
Price. Como mencionado acima, o Príncipe Próspero talvez seja um de seus
melhores personagens. Desde sua primeira aparição, o Príncipe mostra-se um
verdadeiro sádico, com seu olhar cruel e sua expressão diabólica. Ele não mede
esforços para realizar seus desejos sádicos, seja torturando seus prisioneiros,
seja realizando seus bailes regados a orgia. Sem duvida, um vilão perfeito,
como o ator sempre soube interpretar. Price não se mostra caricato ou atua
demais, pelo contrário, faz na medida certa. Próspero é a representação do Mal,
sem dúvida.
Enfim, com todos esses toques, A
Orgia da Morte é um maravilhoso filme de terror. Uma das melhores adaptações
de Edgar Allan Poe. Um dos melhores filmes de Roger Corman. Uma das melhores atuações
de Vincent Price.
Foi lançado em DVD aqui no Brasil pela Versátil Home Vídeo, no
primeiro volume da Coleção Obras-Primas
do Terror.
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