sábado, 1 de junho de 2019

A ORGIA DA MORTE (1964). Dir.: Roger Corman


NOTA: 9.5


A ORGIA DA MORTE (1964)
A ORGIA DA MORTE é o sexto filme do bem-sucedido “Ciclo Edgar Allan Poe”, que o diretor Roger Corman realizou em parceria com a American International Pictures. Novamente, contou com Vincent Price no papel principal, em uma de suas melhores atuações, sem a menor dúvida.

Conforme o título original entrega, o filme é baseado no conto A Máscara da Morte Rubra, ou O Baile da Morte Vermelha, um dos textos mais populares de Egdar Allan Poe. Sem dúvida, pode ser considerado um dos melhores filmes do Ciclo, que começou em 1960 com O Solar Maldito, baseado em A Queda da Casa de Usher, e terminou em 1965, com O Túmulo Sinistro, baseado em Ligeia.

Conforme o diretor Corman afirmou, esse é o seu melhor trabalho baseado em Poe, e não é pra menos. O filme é um espetáculo visual, repleto de cores vibrantes – sobretudo o vermelho – , clima gótico autentico e atmosfera de sonho. Tudo funciona muito bem, apesar do orçamento limitado e o tempo de filmagem apertado: cerca de 5 semanas de filmagem e cerca de 300 mil dólares de orçamento. E não faltou criatividade.

Como o texto de Poe em si só acontece no último ato, os roteiristas Charles Beaumont e R. Wright Campbell tiveram que preencher muitas lacunas na narrativa, o que tornou o filme ainda mais rico. Beaumont e Campbell dedicaram boa parte da historia ao seu protagonista, o sádico Príncipe Prospero e também à sua relação com a jovem Francesca, sua prisioneira. Foi possível perceber que, além de sádico, Próspero também mostrou-se de certa forma, fascinado pela moça, uma vez que não a tortura em nenhum momento – pelo menos não fisicamente; pelo contrario, ela tem livre acesso ao castelo, veste-se elegantemente e participa dos jantares promovidos pelo anfitrião. No entanto, mesmo com essa liberdade, Próspero mostra-se onipresente, pois tem planos diabólicos para a menina, como inicia-la em seus rituais de adoração ao Diabo; inclusive, desde o primeiro momento, o personagem deixa isso muito claro: é um adorador do Diabo, e bane, implacavelmente, qualquer forma de adoração a Deus.

Porém, existem outros pontos que merecem destaque. O primeiro deles é a forma como a monarquia é representada. Numa visão pessoal, eu sempre achei que os ricos eram de fato vulgares, desrespeitosos, e cruéis (ao contrario do que diziam dos pobres), e, aqui, é a mais pura verdade. Na primeira cena de festa promovida pelo Príncipe, os nobres surgem rindo, bebendo, gritando e debochando dos camponeses, tudo sem o menor pudor e discrição. Um desses nobres, Alfredo, mostra-se o pior deles. É um personagem perverso, com a maldade impressa no rosto – porém, não menor que a Próspero, vale lembrar – e disposto a tudo, inclusive, a passar a perna em seu amigo. Grande parte disso, deve-se à magnifica interpretação do ator Patrick Magee, que, com certeza, levou esse sadismo e crueldade para o seu personagem no clássico Laranja Mecânica (1971), de Stanley Kubrick. A atriz Jane Asher também merece destaque: sua Francesca é a personificação da bondade e da pureza, sempre mostrando-se fiel a seu pai e seu amado, e pregando amor a Deus, mesmo diante de Próspero. Juliana, interpretada pela atriz Hazel Court, pretendente de Próspero também merece destaque: ao contrario de Francesca, ela é própria imagem da crueldade, submissa, e perversa, disposta até a unir-se ao Diabo para ter Próspero ao seu lado.

Outro ponto é a ambientação. Naquela época, o cinema de horror era mais focado no clima gótico, de fantasia, o que rendeu grandes obras, e aqui, não é diferente. Com suas florestas de arvores mortas, envoltas em nevoa, o castelo de Próspero todo coberto por teias de aranha, o filme é uma das melhores representações do Gótico no cinema de horror. A direção de arte, a cargo de Robert Jones, e o design de produção, a cargo de Daniel Haller, com certeza, contribuíram para a ambientação medieval da trama. Em todos os momentos, é possível acreditar que aqueles personagens vivem naquela época e vestem aquelas roupas. Trabalho excelente, indicado ao BAFTA, o Oscar® do cinema britânico.

E por fim, duas cenas também devem ser mencionadas. A primeira é a cena do corvo, que culmina na morte de um personagem importante da historia. É uma cena belíssima, bem dirigida, onde, mesmo não sendo possível ver o corvo bicando e arranhando, é crível o que está acontecendo; e quando a cena termina, é um verdadeiro espetáculo. E a ultima menção fica a cargo do ultimo ato, que narra o conto de Poe em si. É um deslumbre visual e colorido, uma representação realista de um baile de máscaras, como visto em muitos filmes clássicos de décadas anteriores, principalmente as décadas de 30 e 40. E claro, o desfecho, onde o vermelho predomina toda a tela, em tons vivos que enchem os olhos.

E como todo filme de terror, possui seus momentos arrepiantes. O melhor deles, sem duvida, é quando os espectros da Morte se juntam no bosque envolto em nevoas, após realizaram seus trabalhos nas regiões próximas. Uma cena sem trilha sonora, onde os personagens sussurram o tempo todo, e, envoltos em suas vestes, tornam-se ainda mais assustadores, uma vez que não vemos seus rostos ou seus olhos. Talvez, uma das melhores personificações da Morte já mostradas em um filme.

Porém, o filme tem um pequeno defeito: uma cena em que Juliana tem uma alucinação, antes de seu matrimonio com Satã. Mesmo sendo bem executada, com seus efeitos visuais e lentes distorcidas, é uma cena que, ao meu ver, não precisava estar no filme, porque, sinceramente, parece muito longa e arrastada. Vale lembrar que Corman fez algumas cenas parecidas nos demais filmes do Ciclo.

E claro, não poderia concluir esse texto sem mencionar o astro Vincent Price. Como mencionado acima, o Príncipe Próspero talvez seja um de seus melhores personagens. Desde sua primeira aparição, o Príncipe mostra-se um verdadeiro sádico, com seu olhar cruel e sua expressão diabólica. Ele não mede esforços para realizar seus desejos sádicos, seja torturando seus prisioneiros, seja realizando seus bailes regados a orgia. Sem duvida, um vilão perfeito, como o ator sempre soube interpretar. Price não se mostra caricato ou atua demais, pelo contrário, faz na medida certa. Próspero é a representação do Mal, sem dúvida.

Enfim, com todos esses toques, A Orgia da Morte é um maravilhoso filme de terror. Uma das melhores adaptações de Edgar Allan Poe. Um dos melhores filmes de Roger Corman. Uma das melhores atuações de Vincent Price.

Foi lançado em DVD aqui no Brasil pela Versátil Home Vídeo, no primeiro volume da Coleção Obras-Primas do Terror.

Altamente recomendado.




Créditos: Versátil Home Vídeo



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