quarta-feira, 29 de maio de 2019

O HOMEM DE PALHA (1973). Dir.: Robin Hardy.


NOTA: 9


O HOMEM DE PALHA (1973)
Lançado em 1973, O HOMEM DE PALHA é um filme maravilhoso. Uma obra de horror com toques musicais, eróticos e de fantasia. Erroneamente considerado um filme da produtora Hammer, contou com dois astros do estúdio em seu elenco: Christopher Lee e Ingrid Pitt. Em diversas entrevistas, o astro considerava este o seu melhor filme. E não é pra menos.

Porém, antes de ser considerado um dos melhores filmes britânicos de todos os tempos, e o “Cidadão Kane dos filmes de horror”, esse filme teve uma historia conturbada, durante e após sua produção.

Tudo começou quando o roteirista Anthony Shaffer tinha interesse em contar uma historia envolvendo uma seita pagã, em especial os antigos druidas. Seu roteiro foi enviado à produtora British Lion, que demonstrou interesse em realiza-lo. No entanto, após o inicio das filmagens, os problemas começaram, na locação na Escócia. O filme foi rodado no inverno, então o elenco teve que se esforçar para se adaptar ao clima, principalmente quando envolvia cenas de nudez. O ator Edward Woodward enfrentou problemas na sequencia em que seu personagem é trancafiado no interior do Homem de Palha do título, sendo o maior deles ter sido “banhado” em urina de uma cabra que estava acima de sua cabeça. O baixo orçamento também foi um problema, tanto que o astro Christopher Lee não recebeu nenhum salario, fato esse que comentou sem pudores. E por fim, na distribuição, os problemas aumentaram, uma vez que a British Lion não demonstrou interesse em distribui-lo, após uma recepção negativa nas exibições-teste. O medo dos produtores foi tanto, que chegaram a pedir ao produtor Roger Corman para distribuir o filme nos Estados Unidos, o que também causou problemas, uma vez que não houve publicidade. E por fim, anos mais tarde, quando houve interesse por parte de Christopher Lee em recuperar as inúmeras cenas que foram cortadas, os negativos foram despachados e sumiram misteriosamente, o que deixou os envolvidos muito abalados.

Mas, apesar de seus inúmeros problemas, O Homem de Palha é um filme maravilhoso, com um clima de horror quase inexistente, fotografia inspirada e direção de arte também inspirada. Como já comentei antes, o filme é construído em slowburn, uma técnica que aprecio muito, e que faz falta hoje em dia.

O fato é que o filme consegue assustar sem fazer esforço, seja pela ambientação interiorana, a fotografia ou a direção de arte ou até mesmo pelas atuações, muitas delas a cargo de figurantes reais. São muitos os momentos que causam arrepios, sendo que os principais ficam no ultimo ato, quando ocorre o ritual de sacrifícios humanos que faz parte da religião dos habitantes da ilha.

Esse também é um ponto que merece destaque, porque, se por um lado, temos o oficial Howie, um religioso fervoroso, que procura sempre seguir os ensinamentos cristãos, do outro, temos os residentes daquela comunidade, com seus métodos nada ortodoxos, como por exemplo, a pratica de amor ao ar livre, ou ensinamentos sobre sexo para crianças ou então, o ritual das jovens de dançarem nuas ao ar livre. Tudo isso é visto com desaprovação pelo Sargento, que não tem pudores de expor suas crenças para aquelas pessoas, mesmo quando sua vida está em perigo. Esse é um dos pontos altos do filme, a religião cristã contra a religião pagã, e, conforme assisti ao filme, ficou claro qual lado iria vencer.

Olhando por esse lado, pode-se dizer que o Sargento Howie é o típico mocinho idealista, que enfrenta até a autoridade máxima para provar seu ponto de vista. Sinceramente, acho esse tipo de personagem desinteressante, por causa da forma como são desenvolvidos; mas aqui, não foi difícil torcer pelo Sargento, porque ele se mostrou determinado a cumprir suas duas missões.

Como mencionado acima, o filme possui de fato, momentos que assustam, sendo um deles, a sequencia em que o Sargento percorre a ilha de ponta a ponta para encontrar a menina desaparecida, em especial uma cena em que uma criança sai de dentro de um armário, e outra, ocorrida logo depois, quando ele encontra uma peça de ritual em sua cama. Cenas de causar calafrios. Além desses toques assustadores, o filme também é repleto de erotismo, como na já mencionada cena que um grupo de garotas dança em volta de uma fogueira – todas aparecem nuas – , ou então, quando Willow, a filha do dono da pousada onde Howie se hospeda, dança nua pelo quarto, numa tentativa de seduzir o policial. Willow foi interpretada pela atriz Britt Ekland, talvez mais conhecida por ter sido casada com o ator Peter Sellers – na época, eles já estavam divorciados. No ano seguinte, a atriz participou de The Man With the Golden Gun, no papel de Bond Girl, que também contou com a presença de Christopher Lee, no papel do vilão.

E além de seus momentos de horror, o filme também tem contornos musicais, seja numa rápida cena quando o sargento vai até a escola, descobrir se a menina desaparecida estudava lá, seja no ultimo ato, o do sacrifício, quando todos os habitantes da ilha dançam e cantam fantasiados, conforme a tradição. Essa é talvez, a sequencia mais bonita do filme, seja pela canção, seja pelo trabalho dos atores.

E claro, não poderia deixar de mencionar o astro Christopher Lee, aqui, conforme ele mesmo declarava, em seu melhor filme. Seu personagem, Lorde Summerisle, é o grande líder da comunidade. Todos ali seguem suas ordens com obediência quase cega, sem questionar suas decisões e autoridade. Não sei se o personagem pode ser considerado um vilão, coisa que o ator sabia interpretar muito bem, principalmente o Conde Drácula nos filmes da Hammer. Summerisle mostra-se prestativo na investigação do policial, um homem elegante, gentil e educado. E quando está junto dos residentes da ilha, nada disso desaparece, o que talvez, torne-o mais ameaçador. Este é sem, duvida, um dos melhores personagens do saudoso ator, que deixou sua marca no cinema de horror para sempre.

Enfim, O Homem de Palha é um filme maravilhoso. Uma produção envolta em mistério, fantasia, erotismo e terror. Um dos melhores filmes de horror de todos os tempos.



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