NOTA: 10
É incrível a variação que existe nas histórias de
vampiros. Desde que surgiram no cinema, tivemos uma variedade incrível do subgênero,
passando por grandes obras, clássicos obrigatórios, filmes notáveis, medianos e
grandes bombas. Eu mesmo já tive contato com muitos desses filmes e posso dizer
que, mesmo já tendo visto praticamente tudo, eu ainda me surpreendo com o que
aparece de vez em quando.
A NOITE DOS
DEMÔNIOS (1972), do diretor italiano Giorgio Ferroni é um dos exemplos de grandes
obras do gênero. É um filme belíssimo, que, mesmo sendo contemporâneo, possui
um forte aspecto gótico, e esse apenas um dos seus vários atrativos.
Esse é o tipo de filme de terror que não precisa ser
feio para ser assustador; pelo contrario, um filme de terror pode, sim, ser
lindo e ser assustador ao mesmo tempo, e exemplos disso não faltam,
principalmente os filmes dirigidos pelo Maestro Mario Bava. Mas, vamos falar
sobre este filme aqui.
Pois bem, devo dizer que a primeira coisa que me
chamou a atenção nele foi justamente o seu aspecto gótico e interiorano, que,
conforme comentei anteriormente, é algo que me chama muito a atenção. Eu gosto
desse tipo de ambientação e clima num filme; faz com que eu me sinta bem, e
deixa o filme ainda mais bonito. Realmente é o tipo de coisa que não vemos
muito hoje em dia.
Outra coisa que acrescenta ao filme é sua trilha
sonora. Assim como muitas da época, quase não temos aqui uma trilha pesada,
comum nesse tipo de filme; pelo contrario, aqui a trilha é melancólica, mas
muito bonita, o tipo de trilha que pode ser ouvida sozinha, sem precisar do
filme. Outros pontos como a fotografia dessaturada, o figurino nostálgico e os
efeitos especiais também contribuem para deixar o filme ainda melhor e mais
bonito.
No entanto, conforme mencionado acima, este é um
filme de vampiros. O roteiro é baseado na novela The Family of the Vourdalak,
de Alekesy K. Tolstoy, escrita no século XIX. O Vurdalak é um vampiro que faz
parte da tradição russa, e, segundo a lenda, tem o costume de sugar o sangue
das pessoas que amou em vida. E é exatamente isso que acontece aqui. Tudo começa
com uma maldição, que aos poucos, é transmitida aos membros da família,
infectando um por um com sede de sangue. Mas não pense em encontrar vampiros
com longas presas afiadas. Aqui não temos isso, somente a pele branca como
papel e o uso da estaca de madeira no peito como arma. Não espere o uso de
crucifixos, alho e morcegos, porque nada disso aparece. Além disso, eles podem
andar livremente durante o dia. Mas esse é também um ponto positivo, uma vez
que cada um cria vampiros do jeito que quiser, conforme disse o diretor John Landis
num episodio da série History of Horror:
quando se trata de criaturas de “fantasia” como vampiros e lobisomens e outros,
não existem regras. E é verdade. Com isso, os autores podem ser criativos. E temos
também a questão da maldição que é passada para os membros da família, aliados
à superstição. Como disse em outra resenha, essa questão da superstição me
atrai muito por causa do medo que os personagens sentem ao cair da noite.
E novamente, esse é um fator que faz deste um filme
assustador. As cenas envolvendo os vampiros são as melhores possíveis, com o
medo e tensão sendo construídos aos poucos, sem apelar para jump-scares e
sangue em excesso. E aqui os vampiros são o que deveriam ser, criaturas
sugadoras de sangue que matam suas vitimas com requintes de crueldade. Não estou
dizendo que vampiros não podem ter remorso, do contrario, podem, sim; mas aqui
nós não temos essa característica e podemos nos familiarizar com os vampiros
tradicionalmente perversos.
Antes de encerrar, devo dar um parecer sobre os
efeitos especiais, criados pelo mestre Carlo Rambaldi. Quem está familiarizado
com seu trabalho, sabe que ele não brincava em serviço, e foi responsável pelas
mais extraordinárias criações do cinema fantástico. Aqui, mais uma vez, ele
mostra seu talento ao criar cenas arrepiantes, com direito a corações arrancados,
peitos perfurados e rostos derretendo. Um trabalho de mestre que não fica
datado.
A Noite dos Demônios
foi dirigido por Giorgio Ferroni, em sua segunda excursão no gênero. Doze anos
antes, ele foi responsável pelo também excelente O Moinho das Mulheres de Pedra,
um clássico do terror gótico italiano. Infelizmente, apesar sua considerável filmografia,
o diretor só se aventurou no gênero com esses dois filmes, e A Noite dos Demônios foi seu ultimo
trabalho na direção.
The Family of the Vourdalak foi
adaptada para o cinema anteriormente em 1963, no também excelente As Três
Máscaras do Terror, antologia dirigida pelo Maestro Mario Bava, no
segundo segmento, estrelado por Boris Karloff, interpretando o único vampiro de
sua carreira.
Foi lançado em DVD no Brasil na excelente coleção Vampiros no Cinema, da Versátil Home Vídeo,
em versão original em italiano.
Enfim, A Noite
dos Demônios é um belíssimo filme de terror. Uma historia de horror com
toques interioranos e com forte aspecto gótico, mesmo sendo contemporâneo. Um filme
arrepiante que prende a atenção do espectador com suas imagens poéticas e
assustadoras. Um dos melhores filmes de vampiro de todos os tempos, e um
clássico do terror gótico italiano. Maravilhoso. Excelente. Altamente recomendado.
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Créditos: Versátil Home Vídeo |
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