NOTA: 8
Em 1975, o diretor Steven Spielberg lançou Tubarão, que se tornou um dos maiores
clássicos do cinema, e um grande sucesso, arrecadando mais de US$ 100 milhões
em bilheteria.
Mas hoje não estou aqui para falar do filme de
Spielberg, mas, sim do livro que deu origem ao mesmo: TUBARÃO, livro de estreia de Peter Benchley.
Bom, já vou começar pelo obvio. O livro é muito
diferente do filme, principalmente no que diz respeito a algumas cenas e alguns
personagens. Claro, a cena de abertura é praticamente a mesma do filme, mas
ainda assim tem suas diferenças. A principal delas é que o autor já resolveu
mostrar o animal logo de cara, numa cena carregada de tensão e violência.
A partir do primeiro ataque, a história segue mais ou
menos igual ao filme, como já disse, com suas diferenças. No primeiro momento,
temos mais destaque para os coadjuvantes da trama, para depois focarmos no
Chefe Brody e em sua família.
O livro é dividido em três partes.
Na primeira, temos o foco nos ataques do tubarão, que
até acontecem na mesma ordem do filme, mas, com destaque para a presença do
animal. Temos também o impacto que isso gera na comunidade de Amity, com Brody
fazendo o possível para impedir que novos ataques aconteçam, sugerindo para as
autoridades a interdição das praias, mas elas não aceitam, chegando a
ameaçá-lo. Assim como no filme, a segunda pessoa a morrer é o garotinho na
boia, e logo após, temos o confronto entre Brody e a mãe do garoto, na minha
opinião, um dos momentos mais interessantes do livro, pelo modo como foi
escrito – mais detalhes sobre isso adiante. Ainda na primeira parte, somos
apresentados ao oceanógrafo Matt Hooper, que rapidamente cria uma divergência
com Brody.
Na segunda parte, somos apresentados à vida na
comunidade de Amity, com destaque para a relação entre Hooper e Ellen Brody.
Esse é um dos pontos mais estranhos do livro, na minha opinião, porque parece
surgir do nada, por causa de um relacionamento que Ellen teve com o irmão mais
velho de Hooper. Bom, a segunda parte apresenta uma melhora quando chega ao
ultimo capitulo, pois temos o foco no tubarão novamente.
Já a última parte é focada na caça ao peixe gigante. Ao
contrário do que acontece no filme, nós somos apresentados à rotina diária de Brody,
Hooper e Quint a bordo do Orca, enquanto eles esperam pelo peixe. No primeiro
dia, acompanhamos os três enquanto discutem sobre a vida de pescador de Quint,
enquanto o mesmo mostra a eles suas habilidades. No segundo dia, temos um breve
encontro com o tubarão, mas antes disso, somos novamente apresentados à rotina
dos três personagens a bordo do barco. Os dois últimos dias envolvem os
confrontos finais com o peixe.
Pois bem, agora vamos falar sobre o livro em si. Como
deu para ver, o livro é diferente do filme – algo muito comum – e apresenta
momentos que foram aproveitados no longa de Spielberg, mas, a partir da segunda
parte, temos uma história um pouco mais dramática, onde a rotina de Brody e dos
demais personagens é apresentada, quase nos mínimos detalhes.
No entanto, um dos maiores problemas do livro, para
mim, é a caracterização dos personagens. Se na primeira parte é possível ter
simpatia por eles, o mesmo não pode ser dito da segunda parte, porque somos
apresentados a Hooper, o oceanógrafo que chega à cidade para ajudar as
autoridades. Ao contrario do filme, Hooper é mostrado como um personagem arrogante,
que acha que sabe mais do que os outros por causa de sua profissão, apesar de
às vezes se mostrar prestativo.
Os demais personagens também possuem caracterizações
bizarras. Ellen, por exemplo, é descrita como uma dondoca que se arrepende de
ter abandonado a vida de luxo que tinha após se casar com Brody; e o prefeito
Vaughn, apesar de estar mais preocupado com a situação financeira da
comunidade, em certos momentos, se mostra como um homem covarde e beberrão, que
se envolve com membros da máfia de Nova York. Claro, não vejo nenhum problema
com a visão pessoal do autor, mas em certos momentos, eu não consegui engolir
as caracterizações dos personagens.
A escrita de Benchley é muito boa, porque em sua
estreia, o autor conseguiu descrever o que queria mostrar com habilidade,
principalmente as cenas envolvendo a cidade. No entanto, em certos momentos,
ele apresenta algumas falhas, como descrever situações que parecem deslocadas
ou extensas demais. O principal problema é que no final de alguns capítulos, o
autor resolveu colocar cenas que não condizem com a narrativa, apenas para
preencher espaço – na minha visão. As cenas de ataques são descritas muito bem
e o suspense é construído aos poucos e consegue prender a atenção.
No entanto, o maior problema do livro é a relação
entre Brody e Hooper. Desde o primeiro encontro, o autor faz questão de colocar
um atrito entre eles, e tal atrito vai aumentando ao longo da historia, beirando
ao exagero. E a coisa piora principalmente por causa do envolvimento de Hooper
com Ellen, que, conforme mencionei acima, parece ter saído do nada, por causa
de uma relação que ela tinha com o irmão dele.
A personalidade de Brody também apresenta um grave
defeito na segunda parte, na sequencia do jantar. Durante toda a sequência,
Brody é descrito como alguém extremamente desagradável, que não está nem um
pouco à vontade com a situação, mas não se esforça para mudar. Na verdade, eu
não gosto muito dessa sequência, porque ela parece sair do nada, a fim de
mostrar como as personalidades dos envolvidos são fúteis.
E para finalizar os problemas, eu achei o final do
livro muito apressado, com a solução acontecendo de uma vez, de forma quase impossível
de acompanhar na leitura.
E o principal problema, não se refere ao livro como
um todo, mas sim à tradução da editora DarkSide, que apresentou erros na
escrita, principalmente nos diálogos. Para uma melhor leitura, eu recomendo a
edição clássica da Círculo do Livro.
Mas, deixando esses problemas de lado, eu digo que Tubarão é um ótimo livro e serve como
um bom pontapé inicial para quem não conhece a história, e para quem conhece
apenas o filme.
Enfim, Tubarão
é um livro muito bom. Uma história de horror e aventura escrita com grande
habilidade, com momentos de tensão e suspense que prendem o leitor.
Recomendado.
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