sexta-feira, 10 de março de 2023

TUBARÃO (Peter Benchley).

 

NOTA: 8



Em 1975, o diretor Steven Spielberg lançou Tubarão, que se tornou um dos maiores clássicos do cinema, e um grande sucesso, arrecadando mais de US$ 100 milhões em bilheteria.

 

Mas hoje não estou aqui para falar do filme de Spielberg, mas, sim do livro que deu origem ao mesmo: TUBARÃO, livro de estreia de Peter Benchley.

 

Bom, já vou começar pelo obvio. O livro é muito diferente do filme, principalmente no que diz respeito a algumas cenas e alguns personagens. Claro, a cena de abertura é praticamente a mesma do filme, mas ainda assim tem suas diferenças. A principal delas é que o autor já resolveu mostrar o animal logo de cara, numa cena carregada de tensão e violência.

 

A partir do primeiro ataque, a história segue mais ou menos igual ao filme, como já disse, com suas diferenças. No primeiro momento, temos mais destaque para os coadjuvantes da trama, para depois focarmos no Chefe Brody e em sua família.

 

O livro é dividido em três partes.

 

Na primeira, temos o foco nos ataques do tubarão, que até acontecem na mesma ordem do filme, mas, com destaque para a presença do animal. Temos também o impacto que isso gera na comunidade de Amity, com Brody fazendo o possível para impedir que novos ataques aconteçam, sugerindo para as autoridades a interdição das praias, mas elas não aceitam, chegando a ameaçá-lo. Assim como no filme, a segunda pessoa a morrer é o garotinho na boia, e logo após, temos o confronto entre Brody e a mãe do garoto, na minha opinião, um dos momentos mais interessantes do livro, pelo modo como foi escrito – mais detalhes sobre isso adiante. Ainda na primeira parte, somos apresentados ao oceanógrafo Matt Hooper, que rapidamente cria uma divergência com Brody.

 

Na segunda parte, somos apresentados à vida na comunidade de Amity, com destaque para a relação entre Hooper e Ellen Brody. Esse é um dos pontos mais estranhos do livro, na minha opinião, porque parece surgir do nada, por causa de um relacionamento que Ellen teve com o irmão mais velho de Hooper. Bom, a segunda parte apresenta uma melhora quando chega ao ultimo capitulo, pois temos o foco no tubarão novamente.

 

Já a última parte é focada na caça ao peixe gigante. Ao contrário do que acontece no filme, nós somos apresentados à rotina diária de Brody, Hooper e Quint a bordo do Orca, enquanto eles esperam pelo peixe. No primeiro dia, acompanhamos os três enquanto discutem sobre a vida de pescador de Quint, enquanto o mesmo mostra a eles suas habilidades. No segundo dia, temos um breve encontro com o tubarão, mas antes disso, somos novamente apresentados à rotina dos três personagens a bordo do barco. Os dois últimos dias envolvem os confrontos finais com o peixe.

 

Pois bem, agora vamos falar sobre o livro em si. Como deu para ver, o livro é diferente do filme – algo muito comum – e apresenta momentos que foram aproveitados no longa de Spielberg, mas, a partir da segunda parte, temos uma história um pouco mais dramática, onde a rotina de Brody e dos demais personagens é apresentada, quase nos mínimos detalhes.

 

No entanto, um dos maiores problemas do livro, para mim, é a caracterização dos personagens. Se na primeira parte é possível ter simpatia por eles, o mesmo não pode ser dito da segunda parte, porque somos apresentados a Hooper, o oceanógrafo que chega à cidade para ajudar as autoridades. Ao contrario do filme, Hooper é mostrado como um personagem arrogante, que acha que sabe mais do que os outros por causa de sua profissão, apesar de às vezes se mostrar prestativo.

 

Os demais personagens também possuem caracterizações bizarras. Ellen, por exemplo, é descrita como uma dondoca que se arrepende de ter abandonado a vida de luxo que tinha após se casar com Brody; e o prefeito Vaughn, apesar de estar mais preocupado com a situação financeira da comunidade, em certos momentos, se mostra como um homem covarde e beberrão, que se envolve com membros da máfia de Nova York. Claro, não vejo nenhum problema com a visão pessoal do autor, mas em certos momentos, eu não consegui engolir as caracterizações dos personagens.

 

A escrita de Benchley é muito boa, porque em sua estreia, o autor conseguiu descrever o que queria mostrar com habilidade, principalmente as cenas envolvendo a cidade. No entanto, em certos momentos, ele apresenta algumas falhas, como descrever situações que parecem deslocadas ou extensas demais. O principal problema é que no final de alguns capítulos, o autor resolveu colocar cenas que não condizem com a narrativa, apenas para preencher espaço – na minha visão. As cenas de ataques são descritas muito bem e o suspense é construído aos poucos e consegue prender a atenção.

 

No entanto, o maior problema do livro é a relação entre Brody e Hooper. Desde o primeiro encontro, o autor faz questão de colocar um atrito entre eles, e tal atrito vai aumentando ao longo da historia, beirando ao exagero. E a coisa piora principalmente por causa do envolvimento de Hooper com Ellen, que, conforme mencionei acima, parece ter saído do nada, por causa de uma relação que ela tinha com o irmão dele.

 

A personalidade de Brody também apresenta um grave defeito na segunda parte, na sequencia do jantar. Durante toda a sequência, Brody é descrito como alguém extremamente desagradável, que não está nem um pouco à vontade com a situação, mas não se esforça para mudar. Na verdade, eu não gosto muito dessa sequência, porque ela parece sair do nada, a fim de mostrar como as personalidades dos envolvidos são fúteis.

 

E para finalizar os problemas, eu achei o final do livro muito apressado, com a solução acontecendo de uma vez, de forma quase impossível de acompanhar na leitura.

 

E o principal problema, não se refere ao livro como um todo, mas sim à tradução da editora DarkSide, que apresentou erros na escrita, principalmente nos diálogos. Para uma melhor leitura, eu recomendo a edição clássica da Círculo do Livro.

 

Mas, deixando esses problemas de lado, eu digo que Tubarão é um ótimo livro e serve como um bom pontapé inicial para quem não conhece a história, e para quem conhece apenas o filme.

 

Enfim, Tubarão é um livro muito bom. Uma história de horror e aventura escrita com grande habilidade, com momentos de tensão e suspense que prendem o leitor. Recomendado. 


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