NOTA: 10
CARRIE, A ESTRANHA |
CARRIE, A ESTRANHA é um
Clássico de Stephen King. Seu romance de estreia, até hoje, é uma de suas
melhores obras, e um livro relevante e atual.
Primeiro, é importante dizer que, muito mais que um livro de terror, Carrie é um livro sobre bullying. É um
assunto muito presente na narrativa, e que sempre é alvo de discussões,
principalmente quando acontece alguma tragédia em nossa sociedade. Sempre que
vemos alguma noticia sobre um massacre escolar, acabamos descobrindo que o
responsável cometeu o crime motivado por uma coisa: raiva acumulada por anos de
bullying no ambiente escolar; raiva que explodiu de forma implacável. E é por
isso que a questão do bullying deve ser trazida a tona, para talvez evitar que
tais tragédias aconteçam. Então, no fundo, é justo dizer que Stephen King
escreveu um livro sobre bullying nas escolas, e as consequências que ele traz.
Acredito que seja a melhor maneira de definir o livro.
Pois bem, mudando o foco para a escrita do livro, digo o seguinte: já
em seu livro de estreia, Stephen King soube criar uma historia excelente,
perturbadora e apavorante. Seu texto é brilhante, escrito de uma forma simples,
mas que prende o leitor até o final. Já comentei em outras resenhas que esse é
o brilhantismo do autor, sua capacidade de criar enredos e personagens
cativantes, que pegam o leitor pela mão e atiçam sua imaginação. Não é difícil
imaginar como são aqueles personagens e aqueles cenários, porque eles são,
realmente, criveis. É o tipo de coisa que somente grandes contadores de
historias conseguem fazer, e sempre irei tratar disso quando fizer resenha de
algum livro de Stephen King.
Outra coisa que torna a narrativa interessante é a forma como o autor
a compôs. Ao invés de optar por algo linear, o autor resolveu conta-la em
tempos diferentes, oscilando entre o passado e o presente, utilizando trechos
de documentos sobre o fenômeno da telecinesia – a capacidade de mover objetos
com a força do pensamento – e entrevistas sobre a tal Noite do Baile, evento
que abalou a cidade onde a história se passa. Esses trechos de documentos
científicos e entrevistas são muito interessantes e bem realistas; em certos
momentos, eu imaginava se tudo aquilo existia mesmo. Um trabalho magistral.
Carrie é também uma
historia brutal. As cenas da menina com sua mãe são arrepiantes, e a tortura
psicológica ao qual a protagonista é submetida é muito pesada, e chega a ser
triste ler essas passagens; é quase como se estivéssemos lá, vendo tudo aquilo,
mas incapazes de agir. Eu já tive essa impressão na primeira vez que li o
livro, e nessa releitura, a coisa não foi diferente. São cenas dignas de
pesadelos.
Conforme mencionado acima, o principal evento da historia é a Noite do
Baile, um evento muito comentado na narrativa, seja pelos alunos, seja pelos
cientistas que estudaram o caso de Carrie depois. Muito bem, quando o autor
finalmente o apresenta, a gente já tem uma vaga ideia do que vai acontecer,
porque é citado nos trechos de estudos científicos e entrevistas, e o que
aconteceu não foi nada bom; e quando é revelado o ocorrido, é o momento em que
a historia se transforma numa verdadeira historia de horror, graças à Carrie e
seus poderes. Ela é terrivelmente humilhada por uma das alunas, e decide se
vingar. E sua vingança é terrível, atingindo seus colegas na Noite do Baile,
metade da cidade, e sua mãe. Ela não poupa ninguém, e destrói tudo em seu
caminho. Também não foi difícil imaginar toda a destruição, muito menos nos
efeitos que isso causou na população. Para resumir, as pessoas nunca mais foram
as mesmas depois disso tudo. Impressionante.
Outra coisa que podemos dizer sobre Carrie, é que é uma historia sobre o sangue. Ele está presente na
narrativa do começo ao fim, e King não economiza, principalmente na sequencia
da vingança de Carrie. O autor literalmente dá a ela um banho de sangue, e não
a poupa disso. É sério, é arrepiante o que o autor faz com ela, com direito a
facada, partes do corpo em carne viva, e sangue de porco. Um verdadeiro banho
de sangue.
Com certeza o maior impacto da narrativa é a cena do vestiário, quando
Carrie tem sua primeira menstruação. É uma cena que já surge com os dois pés na
porta, uma cena forte e muito pesada, com a protagonista sofrendo humilhações
das colegas, porque não sabia o que estava acontecendo com seu corpo, porque a
mãe nunca lhe contou sobre isso. Tal selvageria foi muito bem retratada na
excelente adaptação dirigida por Brian de Palma.
Devido ao seu conteúdo referente ao bullying, Carrie é, sim, um livro atual e relevante para discussões.
Em 1976, dois anos após sua publicação, recebeu uma excelente
adaptação para o cinema dirigida por Brian de Palma, e estrelada por Sissy
Spacek e Piper Laurie, nos papeis de Carrie e sua mãe, respectivamente.
Para finalizar, talvez não seja novidade que o livro quase não viu a
luz do dia, porque Stephen King não se empolgou com o que estava escrevendo, e
jogou as primeiras paginas no lixo. Felizmente, sua esposa recolheu as mesmas,
deu uma lida e o incentivou a continuar, porque havia gostado. O resto é
historia.
Enfim, Carrie, a Estranha é
um clássico absoluto de Stephen King. Uma historia brutal de violência, tortura
e sangue, contada com maestria. O autor consegue prender a atenção do leitor
desde a primeira pagina, e não o poupa de situações pesadas e chocantes. Um
livro construído de forma brilhante, cuja simplicidade é sua maior
característica, e que cona com cenas verdadeiramente assustadoras e dignas de
pesadelos. Uma historia de tirar o folego. Um livro excelente, e um dos maiores
de Stephen King. Brilhante. Assustador. Maravilhoso. Altamente recomendado.
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