NOTA: 9.5
Não há dúvidas que Halloween – A Noite do Terror (1978) é um dos maiores filmes de
terror de todos os tempos, e um clássico absoluto do gênero Slasher. Motivados
pelo sucesso do primeiro filme, e inspirados pelo sucesso de outros exemplares
do gênero, os produtores logo se animaram para lançar uma sequência. HALLOWEEN II – O PESADELO CONTINUA foi
a primeira delas, distribuída pela Universal e produzida por Dino de
Laurentiis.
Lançado em 1981, o filme é uma continuação direta do
Clássico de John Carpenter, pois começa exatamente onde o primeiro filme parou,
algo raro de ser nas continuações, mesmo hoje em dia. Aliás, esse é o primeiro
ponto positivo do filme, porque geralmente, sequencias tendem a começar de
forma independente, muitas vezes com passagens de tempo entre um filme e outro,
mas aqui foi diferente.
Halloween II é
um exemplo de sequência que não ofende o filme original, pelo contrário, chega
a ser tão bom quanto, mesmo sem o brilhantismo do antecessor. Inclusive,
conforme mencionado em diversos sites, os dois filmes juntos formam um longa
único com 3 horas de duração. Outra coisa que é sempre mencionada, é que este é
conhecido pelos fãs da franquia como o “Filme do Hospital”, uma vez que a
historia se passa dentro do Hospital Memorial de Haddonfield, o que, para
muitos, é motivo de algumas criticas, mas, mais detalhes sobre isso adiante. E
outra coisa que chama atenção no filme, é o fato de haver mais sangue, ação e
violência e cenas icônicas, mas não entrarei em detalhes ainda.
O fato é que Halloween
II é um dos melhores da franquia, justamente por ser um filme que de certa
forma, tentou seguir a tradição do primeiro filme, mantendo um clima de
suspense e mistério, apesar de também apresentar cenas de violência e nudez,
algo que não estava presente no filme anterior. O principal motivo para tais
mudanças foi o fato de que naquela época, o gênero Slasher já apresentava tais
características, principalmente nos primeiros filmes da franquia Sexta-Feira
13, cuja primeira sequência foi lançada no mesmo ano. Então, o jeito
foi seguir a formula. E deu muito certo.
Eu sou um grande fã de Halloween II, e considero um dos meus favoritos da franquia. Eu
assisti ao filme pela primeira vez em 2002 e gostei imediatamente, principalmente
porque naquela época, eu estava descobrindo a franquia, então, quando surgiu a
oportunidade, eu agarrei. Até hoje, eu gosto muito do filme e fica melhor a
cada revisão. Aliás, conforme mencionei outra vezes, eu sou um fã assumido da
franquia – menos dos filmes que vieram depois de Halloween H2O no inicio dos anos 2000 – até mesmo dos mais
problemáticos, principalmente Halloween 5 e Halloween 6 (somente a
Versão do Produtor). Felizmente, a franquia voltou com tudo em 2018, com o
maravilhoso reboot de David Gordon Green, e suas duas continuações.
Halloween II foi
novamente produzido por Moustapha Akkad e Irwin Yablans, que demonstraram
interesse em realizar uma sequencia após o sucesso do gênero Slasher nos
cinemas; então, para isso, chamaram novamente John Carpenter e Debra Hill; no
entanto, na época, ambos estavam envolvidos na produção de A Bruma Assassina (1980),
que seria lançado pela Avco Embassy. Tanto Carpenter quanto Hill na realidade
não tinham muito interesse em uma sequência de Halloween, pelo menos não
tão cedo, mas mesmo assim, acabaram entrando no projeto, mesmo após desavenças
com Yablans, que acabou processando Carpenter após este se desvincular do
projeto inicialmente e se dedicar à Bruma. Para prestar auxilio, o
produtor Dino de Laurentiis também acabou se envolvendo, mesmo que por meio de
sua companhia, a Dino de Laurentiis Corportation. No final, Carpenter e Hill
escreveram o roteiro e assumiram o cargo de produtores, mas novos problemas
surgiram. Segundo o próprio Carpenter, ele mesmo não gostou do trabalho que fez
no roteiro, tendo inclusive, declarado que o escreveu enquanto bebia sua
cerveja favorita, o que acabou explicando algumas decisões na trama – inclusive
a principal delas. E além de escrever o roteiro e co-produzir, Carpenter também
ficou novamente responsável pela trilha sonora, e contou com a ajuda de Alan
Howarth; mas mesmo assim, o diretor acabou não se envolvendo tanto, porque
acabou se dedicando a O Enigma de Outro Mundo, sua
obra-prima, que sairia no ano seguinte. Mesmo assim, a trilha sonora ficou
muito boa, principalmente o tema principal, que ganhou uma ótima variação. E
para completar, Carpenter e Hill ainda estavam envolvidos com a produção de Fuga
de Nova York, lançado no mesmo ano.
Halloween II, inicialmente,
seria dirigido por Tommy Lee Wallace, que trabalhou no original como designer
de produção e co-editor. No entanto, após o ler o roteiro, Wallace detestou e
acabou abandonando o projeto, que acabou sendo dirigido por Rick Rosenthal, um
conhecido de Carpenter, aqui em sua estreia na função. O diretor fez um ótimo
trabalho e se mostrou muito competente, principalmente como diretor de atores,
e conseguiu arrancar ótimas performances de seu elenco.
O filme marcou o retorno de Jamie Lee Curtis e Donald
Pleasence à franquia, nos respectivos papeis de Laurie Strode e Dr. Loomis.
Além deles, os atores Charles Cyphers e Nancy Stephens também retornaram,
reprisando seus papeis. Cyphers não tem muita presença em tela, realmente, mas
sua participação é memorável. Outros como a enfermeira-chefe Sra. Alves; os
motoristas de ambulância, Jimmy e Budd; as enfermeiras Janet e Jill; e o vigia
Sr. Garret; além do policial Hunt, completam o elenco de novos personagens do
longa, e todos são muito bons, assim como os atores que os interpretam. Além do
elenco, o diretor de fotografia Dean Cundey também retornou, e seu trabalho é excelente,
principalmente nas cenas dos corredores escuros do hospital, que ganharam um
clima soturno e macabro.
Alias, como mencionado acima, Halloween II é conhecido como o “Filme do Hospital”, e devo dizer
que funcionou muito bem, porque eu acho que se o roteiro tivesse optado por uma
trama parecida com o primeiro filme, talvez o resultado não fosse tão bom
assim. No entanto, apesar da inovação na trama, para os mais exigentes, ela
apresenta um grande problema: não tem absolutamente ninguém naquele hospital! Não sei realmente como os hospitais são
retratados nos filmes americanos, mas, devo dizer que não me importo tanto assim para esse detalhe; claro,
ver um hospital vazio e escuro num filme é estranho, mas isso não faz muita
diferença para mim. Eu gosto desse clima.
Além de ser considerado o “Filme do Hospital Vazio”, Halloween II é o filme da franquia com
as cenas de morte mais memoráveis para os fãs, e são muitas. Carpenter e Hill
capricharam na violência aqui, com direito a mortes verdadeiramente sangrentas
e pesadas, principalmente dentro do hospital. Temos também algumas cenas ótimas
fora do hospital, sendo a melhor delas, a cena do atropelamento seguido da
explosão de uma van. No entanto, as cenas mais famosas ficam mesmo dentro do
hospital, com destaque para a enfermeira que tem seu rosto mergulhado em uma
piscina de água quente, além da outra enfermeira que é levantada no ar após ser
esfaqueada por um bisturi; além, é claro, da destruição de Michael, no final.
Não posso concluir este texto sobre Halloween II sem mencionar Michael
Myers. Se no primeiro filme, nós tínhamos um Michael Myers mais misterioso, com
ares de stalker, aqui a coisa é diferente. Michael assume uma personalidade
mais mortal, que mata suas vítimas com requintes de crueldade, e ele
praticamente não poupa ninguém. O vilão percorre os corredores do Hospital de
Haddonfield como um predador a procura de sua presa, e não mede esforços para
encontrá-la e matá-la. Em relação ao seu visual, temos aqui o que talvez o
“Michael Myers de Halloween II”, com a mascara um pouco deformada e a gola do
macacão rente ao pescoço, e o bisturi ao invés da faca. Além disso, temos o
famoso visual no final do filme, com sangue escorrendo pelos olhos da máscara.
Mesmo assim, ele continua o mesmo, e tais mudanças são quase imperceptíveis.
Outra coisa que ronda pela internet, é o fato de Halloween II ser o filme que “definiu”
a franquia, ou seja, ele estabeleceu os rumos que a franquia tomaria nos anos
seguintes, e muito disso provavelmente se deve ao fato de Carpenter ter escrito
o roteiro enquanto bebia sua cerveja favorita – sem julgamentos, pelo amor de Deus!
Quer dizer, talvez não seja exatamente o caso, mas o fato é que o filme
apresenta situações que foram seguidas nas continuações, como por exemplo, a
cena da escola, onde a palavra “Samhain” está escrita com sangue na lousa. Essa
cena serviu para estabelecer a ligação de Michael Myers com a cultura druida e
a celebração do Festival de Samhain, além de estabelecer ligação com a
famigerada “Maldição de Thorn”, o que transformou o personagem numa entidade
sobrenatural ligada a rituais de sacrifícios e seitas, conforme estabelecido em
Halloween
5 e principalmente em Halloween 6. Outra coisa que Carpenter
acrescentou aqui foi o fato de Laurie Strode – ALERTA DE SPOILER! – ser irmã de Michael Myers, o que
explica a obsessão do maníaco por ela. Segundo Carpenter, ele estava sem ideias
para o filme e resolveu acrescentar esse detalhe na historia, talvez para
explicar por que Michael persegue Laurie. Tal fato foi estabelecido nas
sequencias, principalmente em Halloween
H2O, onde Laurie e Michael se reencontram e se enfrentam como irmão e irmã.
Nas demais continuações, os laços familiares aparecem na perseguição de Michael
a sua sobrinha, mas, mais detalhes sobre isso nas resenhas de Halloween
4, Halloween 5 e Halloween 6 – Versão do Produtor.
Halloween II foi
lançado nos cinemas em 30/out/1981 – há 40 anos – e tornou-se um sucesso de
bilheteria, apesar das críticas negativas. O sucesso do filme inspirou John Carpenter
e Debra Hill a produzir mais uma sequência, Halloween III – A Noite das Bruxas,
lançado no ano seguinte, mas que tomou um caminho diferente, conforme veremos
no futuro.
Foi lançado em DVD no Brasil, mas permaneceu fora de
catálogo por anos, até ser lançado em Blu-Ray pela Obras-Primas do Cinema, numa
edição caprichada, em versão restaurada, juntamente com o Clássico de John Carpenter,
que também foi lançado em versão restaurada em 4k, além das versões estendidas
para TV. Lá fora, os cinco primeiros filmes da franquia receberam um lançamento
recente em novas versões restauradas em 4k, com artes de capa muito bonitas. Não
sei se chegarão aqui no Brasil, principalmente os dois primeiros, mas, não custa
sonhar, não é mesmo?
Enfim, Halloween
II – O Pesadelo Continua é excelente. Um filme cheio de ação, violência, e
cenas que são lembradas com muito carinho pelos fãs da franquia. Um exemplo de
sequência que não ofende o filme original, pelo contrário, merece lugar ao seu
lado, mesmo não contendo o brilhantismo do antecessor. O retorno de Michael Myers
e outros personagens clássicos, aliados a um roteiro bem amarrado, uma direção afiada
e trilha sonora inspirada, fazem deste um dos melhores filmes da franquia Halloween.
Excelente. Sangrento. Arrepiante.
FELIZ DIA DAS BRUXAS!
Créditos: Obras-Primas do Cinema |
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