NOTA: 10
EM MEMÓRIA DE ANNE RICE
Ao longo de sua carreira, Anne Rice foi uma das
autoras mais populares de todos os tempos, principalmente graças às Crônicas Vampirescas, que ganharam milhões
de fãs ao redor do mundo. ENTREVISTA COM
O VAMPIRO foi o primeiro livro da série, além de ser o primeiro livro da
autora.
Esse não foi o meu primeiro contato com o universo
vampiresco de Anne Rice; há alguns anos, eu resolvi encarar o livro Pandora, e achei excelente – merece
releitura e resenha. E também, eu tinha certo conhecimento em relação a esta
história, até porque eu já vira o filme dezenas de vezes, mas nunca cheguei a
ler o livro. Cheguei a buscar um exemplar na internet, mas nunca conseguia
encontrar, até que a Editora Rocco se propôs a relança-lo em capa dura e novo
projeto gráfico, mas com a clássica tradução da autora Clarice Lispector. Dito
e feito.
Este aqui é um dos melhores livros de vampiro que já
li na vida. Anne Rice é uma autora habilidosa e conta uma história dramática e
assustadora, com tudo que tem direito.
A história, quem já leu – ou viu o filme – conhece, e
é muito boa. O vampiro Louis – e a autora – conta sua história com precisão
impressionante, e as descrições contribuem para deixar a leitura ainda melhor,
e principalmente, fica fácil associar ao filme.
O modo como a autora estrutura o livro também merece
menção. Ela consegue misturar as passagens do passado do protagonista com o
presente de maneira quase imperceptível, tal o nível de mergulho na obra.
E claro, temos os personagens. Lestat é sem dúvida, o
melhor vampiro da literatura, depois de Drácula, claro. A autora o descreve
como um ser perverso, que sente gosto pelo sangue e por matar, seja por
necessidade, seja por diversão – algo visto no filme com perfeição. Louis é a
figura do vampiro melancólico, que passa a eternidade se lamentando e sofrendo
por sua condição, algo que eu abraço também. A vampirinha Cláudia é uma das
melhores personagens vampiras da literatura. Não sei se antes dela, existiu
alguma personagem como ela, mas, ela é muito boa. Talvez a melhor
característica da menina, seja o fato de que ela nunca vai crescer depois de
virar vampiro, algo que eu acho muito legal, mas não concordo completamente.
Antes de mencionar a passagem deles por Paris, deixa
eu falar sobre a segunda parte do livro, onde eles viajam pela Europa,
principalmente por Varna, onde encontram diversas superstições sobre vampiros.
Em especial, uma sequência em que eles passam a noite numa hospedaria é muito
boa. Ali, eles encontram diversas pessoas que tem muito medo dos vampiros,
tanto que enfeitam o lugar com coroas de alho e crucifixo; ou seja, a
superstição clássica presente nas histórias de vampiros. Dessas pessoas, um homem
que está prestes a enterrar a esposa é o melhor, porque ele conta para Louis
como foi o seu próprio encontro com um vampiro que acabou de ser enterrado. É
uma cena muito boa, digna dos filmes de vampiro da Hammer, por exemplo;
inclusive, já digo que virou uma das minhas partes favoritas do livro.
No entanto, a melhor parte acontece em Paris, quando
Louis e Cláudia conhecem o enigmático Armand e o Teatro dos Vampiros. A autora
os descreve como os vampiros realmente devem ser: seres da escuridão, que vestem
negro e tem a pele branca como papel, além de serem cruéis e ao mesmo tempo,
enigmáticos, principalmente Armand, o segundo melhor personagem da história. Eu
já havia conhecido essa parte no filme, mas no livro é muito melhor, porque as
descrições são mais profundas, assim como os dilemas do protagonista. Além
disso, a personagem Madeleine tem uma participação maior após virar vampira; e
temos também outra vampira com mais destaque. Mas o melhor fica com a ideia do
Teatro dos Vampiros, algo que a autora descobriu que existe realmente em Paris
anos após publicar o livro. Eu acho muito interessante essa ideia de um teatro
composto somente por vampiros, que todas as noites encenam suas peças mórbidas
para o público parisiense. No filme, isso já era sensacional, mas no livro, é
muito melhor. Não posso deixar de mencionar a maravilhosa primeira peça, com a
mortal interagindo com os vampiros no palco, aterrorizada. Mesmo lendo o livro,
eu não ainda não sei se a mortal é uma atriz ou não. E para finalizar essa parte,
temos aqui um conflito do protagonista com seus sentimentos por Armand, que vão
consumindo-o por dentro e fazendo-o sofrer mais ainda. Confesso que enquanto eu
lia, eu estava esperando que algo fosse acontecer. Enfim, essa é a melhor parte
da história, sem dúvida.
E o que vem depois não fica atrás, com Louis e Armand
viajando pelo mundo, conhecendo lugares famosos, além de lidar com seus próprios
problemas, principalmente por causa do que aconteceu em Paris, além disso, temos
também o reencontro entre Louis e Lestat, uma das cenas mais tristes do livro,
que acontece já em Nova Orleans no século XX. E a conclusão da história também é
muito boa.
Não é novidade que em 1994, o livro ganhou uma adaptação
para o cinema, dirigida por Neil Jordan e roteirizada pela própria autora. E ainda
esse ano, a AMC irá lançar uma nova adaptação do livro, desta vez para a
televisão, com os mesmos personagens, mas também com alterações na questão da
época.
Anne Rice nos deixou em dezembro de 2021. Suas obras,
no entanto, viverão para sempre, principalmente suas Crônicas Vampirescas, que até hoje, têm legiões de fãs espalhados
pelo mundo.
Enfim, Entrevista com o Vampiro é um livro excelente. Uma história trágica de horror e sofrimento contada com maestria. A escrita da autora é fantástica e transporta o leitor para dentro da obra e o envolve completamente. Seus vampiros são a representação do puro Mal, com todas as características, além de novas regras. Um dos melhores livros de vampiro de todos os tempos.
ANNE RICE |
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