NOTA: 10
Existem filmes que são atemporais. Isso se refere a
todos os filmes de todos os gêneros, inclusive aos filmes de terror.
O EXORCISTA,
dirigido por William Friedkin, é um desses casos. Desde o seu lançamento, em
Dezembro de 1973 – há 50 anos – ,o filme mantem o seu impacto até hoje como o
maior filme de terror de todos os tempos.
Mas o que eu posso dizer a respeito desse filme, que
não tenha sido dito anteriormente por outras pessoas ao longo dos anos?
Bom, acho que posso começar pelo obvio, não é? É um
filme excelente. Mas por que é um filme excelente? Por vários motivos,
principalmente no que diz respeito à técnica.
O filme foi dirigido por William Friedkin, um dos
grandes nomes da Nova Hollywood, a partir de um roteiro de William Peter Blatty,
baseado em seu livro.
Friedkin era um diretor milenar e soube empregar suas
técnicas na direção do filme e faz isso muito bem. O cineasta fez uso de
ângulos e movimentos de câmera criativos para criar as cenas, a partir de
câmera na mão e mecanismos até então inéditos no cinema.
Além disso, ele soube criar cenas verdadeiramente
tensas, aos poucos, até culminar na sequencia do exorcismo, que com certeza é a
mais lembrada até hoje.
Minha historia com esse filme começou por causa da
minha mãe, que assistiu a ele no cinema e se impressionou muito, tanto que
ficou com muito medo, por anos. Acredito que a primeira vez que soube desse
filme, foi no vídeo de comemoração de 75 anos da Warner Bros., onde foram
exibidos diversos clipes de vários filmes do estúdio. Não me lembro o que
aconteceu depois, mas eu descobri que a minha mãe havia assistido no cinema e
tinha medo dele. Ao longo dos anos, a presença do filme foi proibida em casa,
por vários motivos, até que em 2001, quando compramos nosso primeiro aparelho
de DVD, a minha mãe alugou esse filme. Eu não consegui assistir a ele por
completo, mas a sequencia do exorcismo me assustou muito. Ao longo dos anos, eu
consegui assistir a ele por completo, e atualmente, faço isso todo ano, no mês
de Outubro.
Mas antes de voltar a falar sobre o filme, devo dizer
que essa resenha corresponde à chamada Versão que Você Nunca Viu, lançada no
ano 2000, com cenas adicionais, que é a que estava disponível no mercado até
recentemente.
Dado o recado, vamos continuar.
Conforme mencionei acima, o diretor William Friedkin
constrói a tensão aos poucos, apostando mais no desenvolvimento dos personagens
e das cenas, apresentando um pouco de terror, depois voltando a cenas
dramáticas, e depois voltando para o terror, até chegar, como eu disse, na
sequencia do exorcismo.
Ou seja, O
Exorcista é contado na técnica slowburn,
que é uma técnica que me chama muito a atenção, porque ajuda a criar a tensão
com mais maestria e até naturalidade. Não que apresentar o terror nos primeiros
cinco minutos não funcione, até funciona, mas depende do filme.
Outra coisa que chama a atenção é o elenco. Todos os
atores estão muito bem, sem atuações exageradas ou caricatas. Quem merece
destaque, com certeza, é a atriz Linda Blair, no papel mais famoso da sua
carreira. A jovem atriz passa tudo aquilo que estava presente no roteiro,
aliado à direção de Friedkin, e claro, os efeitos especiais de maquiagem. A
jovem Regan é uma das personagens mais emblemáticas do cinema de horror de
todos os tempos, sem duvida.
O roteiro de William Platty também é um ponto
positivo. O roteiro possui umas três ou quatro histórias paralelas, que se
entrelaçam com maestria, principalmente a trama do Padre Karras, que quase se
torna a trama principal, porque, de acordo com o diretor Friedkin, o personagem
de Jason Miller era o verdadeiro alvo do demônio; então, tudo que acontece na
tela, é apenas um pretexto para atrair Karras e testar sua fé.
Os efeitos especiais também merecem destaque, criados
pelo mestre Dick Smith. De acordo com o maquiador, ele fez vários testes até
chegar ao resultado que vemos na tela, porque a maquiagem foi um desafio para
ele. Até hoje, os resultados impressionam e assustam, e criaram uma das imagens
mais icônicas do cinema de horror de todos os tempos.
Uma das questões mais pesadas do filme, é a historia
do Padre Karras com sua mãe, sem duvida. É possível perceber que Karras não
aguenta aquela situação, que se tornou um peso enorme para ele, principalmente
porque a mãe está doente e mora sozinha. Toda vez que vejo essa historia no
filme, com base em experiências pessoais, eu sinto que tudo aquilo é muito
pesado para ele.
O Padre Merrin é outro personagem que merece ser
mencionado, graças à interpretação afiada do ator Max von Sydow. A sequencia de
apresentação do personagem, no Norte do Iraque, é muito boa, porque o que a
gente precisa saber sobre ele, que ele é um padre mas também é um arqueólogo, e
que está doente. Uma das melhores, é quando ele encontra a cabeça do demônio
enterrada na terra e sua expressão facial muda na hora; e a cena final desse
prologo, quando ele encontra a estátua do seu antigo inimigo, é muito boa e
muito assustadora, principalmente por causa da imagem do demônio.
A atuação da atriz Ellen Burstyn também é muito boa,
e a atriz passa toda a dor e angustia que estão presentes no roteiro, em
conjunto com a direção de Friedkin. É possível perceber que aquela mãe está
sofrendo com a situação da filha, e não sabe o que fazer. Primeiramente, ela
leva Regan à vários médicos, mas eles não identificam nenhum problema, e
enquanto isso, as manifestações demoníacas continuam; finalmente, após perceber
que não há nada de errado fisicamente com Regan, ela decide procurar um padre
para realizar um exorcismo, reapresentando assim, o Padre Merrin.
O Exorcista faz
parte de uma leva de filmes que são considerados amaldiçoados, por causa de
diversos fatores, acidentes e mortes que ocorreram no set de filmagem, como por
exemplo, o incêndio que aconteceu um dia no set, onde apenas o quarto de Regan
foi poupado, o que obrigou o diretor Friedkin a chamar um padre para abençoar
os sets. Não vou entrar em mais detalhes porque acredito que não se deve mexer
em um vespeiro como esse.
Para encerrar, vou mencionar a grande sequencia do
exorcismo. Ela é, sem dúvida, a melhor sequencia do filme, onde tudo aquilo que
foi apresentado aos poucos levou à ela. O que a torna assustadora é justamente
a técnica de direção de Friedkin. O diretor optou por mantê-la dentro do
quarto, com os padres fazendo o que podem para exorcizar o demônio de Regan, o
que leva à tragédia que todos nós conhecemos. Mas é uma sequencia que
impressiona e assusta é hoje, por causa de tudo que acabei de falar aqui. É uma
das sequencias mais emblemáticas do cinema de horror de todos os tempos.
Foi lançado em Dezembro de 1973 e se tornou um campeão
de bilheteria, tendo sido indicado a 10 Oscars®, mas no entanto, levou apenas
dois, após um boicote armado pelos membros mais velhos da Academia. Além das indicações
ao Oscar®, recebeu também indicações ao Globo de Ouro, tendo levado quatro,
entre eles, o de Melhor Filme Drama. Até hoje, é considerado um dos maiores
filmes de todos os tempos.
Está fora de catalogo há muitos anos, mas lá fora,
foi recentemente lançado em Blu-ray 4k, numa celebração aos 100 anos dos
estúdios Warner.
Enfim, O
Exorcista é um filme excelente. Um filme muito bem feito, com a técnica
milenar e criativa de William Friedkin, aliado a um roteiro afiado e um elenco
inspirado. As atuações são excelentes, e nenhum dos atores está atuando de
forma exagerada e caricata. Os efeitos especiais também são o grande destaque,
principalmente os efeitos de maquiagem de Dick Smith, que criou uma das imagens
mais icônicas do cinema de horror. Sem dúvida, o maior filme de terror de todos
os tempos, e um verdadeiro clássico.
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