NOTA: 7.5
Durante o final da década de 80 e começo da década de
90, o cinema de horror italiano começava a dar seus últimos suspiros, com obras
ruins e de gosto duvidoso; no entanto, alguns cineastas ainda tentavam extrair
o máximo de conseguiam em filmes que até possuíam um certo charme. Michele Soavi
foi um desses cineastas, tendo apresentado ao publico filmes que possuíam um
teor lírico, mas assustadores ao mesmo tempo.
A FILHA DO
DEMÔNIO é um desses exemplos. Lançado em 1991, produzido e co-escrito pelo
mestre Dario Argento, este é um filme um tanto quanto difícil de classificar,
por causa do seu roteiro um tanto elaborado, que às vezes demora um pouco para
engatar e apresentar uma trama concreta.
A começar pelo seu prólogo, ambientado no Norte da Califórnia
em 1970, onde um grupo de hippies é assassinado por um grupo de satanistas no
deserto. Em seguida, somos levados para a Alemanha, onde um homem mata uma
mulher e arranca seu coração, e, antes de ser preso pela policia, comete suicídio.
Após essa introdução, somos apresentados aos seus
protagonistas, um estranho velho que quase é atropelado por Miriam, uma professora
local. A partir daí, uma serie de eventos estranhos começam a acontecer,
principalmente após a morte do velho, eventos que aparentemente não têm nenhuma
relação entre si e com a trama propriamente dita. Ao meu ver, a própria trama
se desenrola próximo ao final do filme, com a volta de personagens que haviam
aparecido anteriormente.
Mas, apesar do roteiro um tanto confuso no início,
como de costume para os demais filmes de Soavi, temos uma técnica muito boa,
apostando em algumas cenas no lirismo e na beleza, além de uma direção de arte
digna de nota, misturado a uma fotografia inspirada, principalmente nas cenas
ambientadas no porão da casa de Miriam, com uma tonalidade azul forte,
misturada com uma luz que vem de uma janela redonda.
Essa é uma característica muito presente nos filmes
de Michele Soavi, talvez inspirado por Argento e por seus antecessores; mas o
fato é que o diretor dá um toque muito pessoal em suas obras, deixando-as
sempre bonitas e fantasiosas.
Um exemplo é uma sequência em que uma chuva de pólen
cai sobre os cenários, começando pela sequência da escola; uma sequência muito
bonita e muito bem feita, e que remete aos filmes anteriores – e futuros – de Soavi.
Ainda sobre essa cena da escola, uma das crianças utiliza uma mascara de
pássaro enquanto espera por seus pais; outro exemplo da técnica de Soavi, além de
ser um indicio da presença de um pássaro em si no filme.
Além da beleza e do lirismo, Soavi faz uso de lentes
grande-angulares em algumas cenas, principalmente na cena em que o velho pinga
um estranho liquido em seus olhos. O take seja a ser um tanto desconfortante,
visto que Soavi faz questão de focar nos olhos do ator Herbert Lom, de maneira
profunda, enquanto ele pinga o liquido em seus olhos. Faz lembrar os takes nos
olhos de Marylin Burns em O Massacre da Serra
Elétrica, mas com um toque a mais.
Conforme mencionado acima, o roteiro não é um dos
grandes pontos do filme, visto que nunca deixa claro o que está acontecendo ou
qual a relação entre alguns eventos, deixando as respostas apenas para os
momentos finais, onde somos apresentados à uma seita de satanistas, entre eles,
o mesmo homem que apareceu no prólogo. Ao invés de explicações, temos uma enxurrada
de eventos sobrenaturais acontecendo, aparentemente todos ligados ao porão da
casa de Miriam. Eu já assisti ao filme algumas vezes e tive algumas
dificuldades para entender o que está acontecendo.
Mas, apesar desse roteiro um tanto confuso, vale uma
conferida, seja pela direção inspirada de Michele Soavi, seja pelo seu elenco,
liderado por Kelly Curtis e Herbert Lom. Os dois atores interpretam muito bem seus
papeis, principalmente Lom, que dá vida ao misterioso velho, que se revela
membro da seita satânica.
Foi lançado em DVD no Brasil pela Versátil Home Vídeo
na coleção Obras-Primas do Terror – Volume
8, com áudio em italiano e em versão restaurada, com um depoimento do
diretor.
Enfim, A Filha
do Demônio é um filme bom. Uma obra fantasiosa e lírica, comandada com
maestria por Michele Soavi, conforme é comum em seus filmes. A fotografia e a direção
de arte também merecem menção, principalmente nas cenas do porão, com uma iluminação
que enche os olhos. O roteiro não é o grande atrativo, mas a direção e a técnica
compensam e valem uma conferida. Recomendado.
Créditos: Versátil Home Vídeo. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário