terça-feira, 2 de agosto de 2022

O GATO DE NOVE CAUDAS (1971). Dir.: Dario Argento.

 

NOTA: 9.5



Entre 1970 e 1971, o diretor Dario Argento lançou sua Trilogia dos Animais, que se tornaram um marco no Giallo italiano.

 

O GATO DE NOVE CAUDAS é o filme do meio dessa trilogia, e o meu favorito, embora não seja melhor do que o anterior, o Clássico O Pássaro das Plumas de Cristal (1970).

 

Por que é o meu favorito? Bem, o principal fator é a relação entre os protagonistas, o jornalista Carlo Giordani, e o criador de enigmas Franco Arnò, interpretados por James Franciscus e Karl Malden, respectivamente. Mas não é só isso.

 

O filme é um dos mais bem dirigidos pelo diretor, que aqui começou a apresentar algumas de suas características da carreira. Além disso, temos também uma das melhores variações do Giallo clássico, visto que aqui, não temos a presença das luvas pretas. Conforme mencionei em outras resenhas, eu gosto das variações do gênero, mas prefiro muito mais o clássico, com as clássicas luvas pretas e a navalha. No entanto, O Gato de Nove Caudas me agrada muito por ser um filme do mestre Argento, considerado um dos principais nomes do gênero.

 

Esse é o truque. Eu já vi algumas variações do Giallo, algumas dirigidas por especialistas, mas elas não me agradaram muito. Este aqui é diferente, porque estamos vendo o nascimento do gênero pelas mãos de Dario Argento, então, a meu ver, tais alterações são bem-vindas.

 

Além disso, temos também os personagens, que são muito criveis e simpatizantes, e quando algum morre, é um pouco triste até, porque todos possuem sua importância para a trama. Os melhores são os quatro protagonistas, principalmente a menininha Lori, que acompanha Arnò o tempo todo, porque o personagem é deficiente visual.

 

Além de um Giallo, temos aqui também um filme com elementos de espionagem, visto que após a invasão no instituto, todos começam a suspeitar que foi algo envolvendo espionagem, porque uma das pesquisas era muito secreta, e poderia trazer problemas – a existência do cromossomo XYY, que poderia levar o ser humano a desenvolver tendências criminalísticas, algo que o próprio diretor e o roteirista Dardano Sacchetti pesquisaram antes de desenvolver o roteiro.

 

E a trama toda se desenvolve a partir dessa invasão, porque a partir daí, temos o Giallo clássico, com inúmeros suspeitos, cujas peças vão se encaixando aos poucos, até a conclusão, onde o culpado é revelado. Eu confesso que fiquei surpreso na primeira vez que vi o filme, pois eu não sabia que aquele personagem era o culpado, algo que o gênero faz com maestria, independente do cineasta.

 

E como de costume, temos também os personagens estranhos e engraçados: o barbeiro; Gigi, um ex-condenado especialista em arrombamentos; Morsella, o detetive que adora falar sobre receitas; e alguns dos cientistas do instituto, como por exemplo, o Dr. Braum, que se torna um dos principais suspeitos. Desses personagens, os meus favoritos são Morsella e Gigi, o Perdedor, porque eles protagonizam as cenas mais engraçadas do filme.

 

Temos também o elemento do romance, que se desenvolve entre Giordani e Anna, a filha do dono do instituto, o Dr. Tersi. Pode parecer meio obvio que os dois acabariam se envolvendo, mas eu gosto, acho muito bacana. Os dois protagonizam uma das melhores cenas do filme, uma perseguição de carro por toda a cidade, apenas para despistar a polícia.

 

Mas o que mais impressiona é a técnica. Diferentemente do que veríamos no futuro, aqui temos um Argento ainda em fase de desenvolvimento como cineasta, com seus truques de câmera para simular a presença do criminoso, no caso, a câmera em POV e closes nas pupilas, algo que seria recorrente em sua filmografia. Com sua câmera, o diretor cria cenas verdadeiramente carregadas na tensão, visto que nunca vemos a figura do criminoso, nem mesmo quando há a presença de objetos, como cigarros e seringas, por exemplo. A câmera em POV seria também utilizada por outros diretores nos Gialli futuros, e acabou se tornando também uma característica do gênero; tanto que acabou migrando para os EUA nos Slashers.

 

Além de tudo isso, temos também a relação entre os protagonistas, para mim, a melhor coisa do filme. Desde o primeiro encontro, os dois personagens se dão super bem, e rapidamente começam a investigar o ocorrido, mesmo que isso signifique correr riscos. Como eu disse, é a melhor coisa do filme, e uma inspiração para mim como escritor, porque me lembra de dois personagens que eu e meu irmão criamos quando éramos crianças. Inclusive, essa é outra característica do gênero. Os dois não são policiais e decidem bancar os detetives, porque nos Gialli, a polícia nunca é eficiente, e cabe ao protagonista descobrir a identidade do criminoso. O melhor momento é quando Giordani pede ajuda ao seu amigo Gigi para entrar na casa de Tersi a fim de descobrir alguma pista.

 

E como em todo Giallo, temos as cenas de morte. Aqui, como de costume, o diretor Argento transforma as mortes em espetáculos visuais, principalmente a cena do trem, violenta ao extremo. Mas não se engane, são cenas muito boas de se ver, e o diretor começa a dar os primeiros passos em direção às cenas de assassinatos grandiosos.

 

Não posso concluir essa resenha sem falar da cena mais tensa do filme inteiro, a cena do cemitério. Em determinado momento, Arnò se lembra do relógio que a noiva de uma das vítimas usa, e conclui que ali pode estar a peça-chave do enigma. Então, ele e Giordani vão ao cemitério encontrar o relógio, o que culmina na cena com o jornalista trancado dentro da cripta escura. Mesmo sendo uma cena que dura poucos minutos, é uma cena muito tensa, pois dá para sentir o medo no protagonista. Segundo o roteirista Sacchetti, a cena lhe serviu de inspiração para criar outras cenas tensas no futuro.

 

Como mencionado acima, O Gato de Nove Caudas é o filme do meio da Trilogia dos Animais, produzida entre 1970 e 1971, com todos os filmes dirigidos pelo mestre Dario Argento, que se tornaram clássicos em sua filmografia e no gênero Giallo.

 

Foi lançado em DVD no Brasil pela Versátil Home Vídeo na coleção A Arte de Dario Argento, em versão restaurada com áudio em italiano.

 

Enfim, O Gato de Nove Caudas é um filme excelente. Uma história de mistério com toques de espionagem e cenas de ação que o deixam ainda mais divertido. Um verdadeiro quebra-cabeça, onde as peças vão se juntando aos poucos e revelando o mistério para o espectador. Aqui, temos ainda um Dario Argento em fase de desenvolvimento cinematográfico, mas que mostra sua capacidade como cineasta. Um dos melhores filmes do diretor e um clássico dos Gialli italianos.


Créditos: Versátil Home Vídeo

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