segunda-feira, 18 de setembro de 2023

A NOITE DAS BRUXAS (2023). Dir.: Kenneth Branagh.

 

NOTA: 9.5


Desde que se aventurou a adaptar as obras de Agatha Christie, com o excelente Assassinato no Expresso do Oriente, lançado em 2017, o ator e cineasta Kenneth Branagh tem acertado na mosca. Os filmes são muito bem feitos, principalmente os roteiros, que deixam o espectador envolvido e ansioso para desvendar o mistério.

 

Foi assim com Expresso, foi assim com Morte no Nilo, lançado no ano passado, e é assim também com A NOITE DAS BRUXAS, terceira incursão do cineasta no chamado “Agathaverso”, novamente dirigindo e interpretando o clássico detetive Hercule Poirot.

 

E que filme!

 

Um aviso. Acabei de sair do cinema, então, tentarei conter os spoilers. Então vamos lá.

 

Temos aqui mais um acerto na mosca do cineasta, que soube adaptar a obra da escritora com maestria, desta vez, segundo consta, tomando liberdades criativas. Como ainda não li o livro, não posso dizer que liberdades criativas foram essas, mas digo que ambientar a historia em Veneza foi um grande acerto, porque criou um clima de mistério – e por que não, terror – ainda maior para a trama, além de acender minha memoria – mais detalhes adiante.

 

Mais uma vez, eu saí muito satisfeito do cinema, e desde já, peço por mais filmes ambientados nesse universo!

 

A Noite das Bruxas é excelente. É muito bem feito, bem dirigido, com ótimo design de produção, e como de praxe, um elenco estelar. O diretor Branagh fez mais uma vez um grande trabalho aqui, tanto atuando, quanto dirigindo. Mesmo não tendo assistido a todos os seus filmes, eu sei o grande cineasta que ele é, principalmente quando resolve se aventurar no universo de Shakespeare, por exemplo. Mas devo dizer que ele também encontrou seu lugar no “Agathaverso”, e espero que continue assim.

 

Como de costume, temos aqui uma história de mistério, contada com a maestria que a autora sabia empregar em suas obras – só digo isso com base na leitura do livro que originou o primeiro filme desse universo, que vai ganhar releitura e resenha aqui. No entanto, ao contrario das demais, aqui temos também uma leve história de terror, com fantasmas e lugares amaldiçoados. Novamente, não sei como é no livro original, mas devo dizer que achei a ideia de um palazzo assombrado genial, quase igual aos filmes de terror gótico realizados na Itália nos anos 60.

 

Eu gostei bastante da ambientação e do cenário. Parecia mesmo uma casa assombrada há séculos, do tipo que ganham fama com o boca-a-boca. E claro, o fato de ambientar a historia no Dia das Bruxas foi outro acerto, porque deu voz àquela velha regra, a de que as assombrações são mais fortes na Noite das Bruxas.

 

E como é um filme de Dia das Bruxas – sim, é um filme de Dia das Bruxas! – temos tudo que se espera de um filme como esse. Isso porque a história começa com uma festa de Dia das Bruxas, dada pela dona do palazzo, a Srta. Rowena Drake. No entanto, a festa é apenas um disfarce para uma sessão espirita, que terá como convidada, a médium Joyce Reynolds, que está ali com o pretexto de entrar em contato com a filha da Srta. Drake, que morreu misteriosamente anos antes. Mas pode esperar por mais, principalmente um mistério de assassinato – obviamente, não direi quem morreu e quem matou – que obriga Poirot a sair da aposentadoria.

 

E vou parar por aqui, pois não vou entregar detalhes da trama. O filme acabou de estrear no cinema, então, corra para a sala mais próxima e confira por si mesmo.

 

Como já mencionei, o filme possui alguns elementos de terror, e isso se deve principalmente à ideia de um lugar assombrado por fantasmas, o que culmina em algumas aparições durante a projeção, e jump-scares espertos. Sim, temos jump-scares, mas eles são muito diferentes dos usados no cinema atualmente. E a presença de figuras vestidas de preto, usando as famosas máscaras também contribui para deixar o filme mais assustador.

 

Além disso, é um filme que se passa todo durante a noite, uma noite chuvosa, que obriga os personagens a ficarem trancados no palazzo, reaproveitando uma técnica narrativa utilizada no primeiro filme – os personagens ficam presos por causa de um evento natural, no caso, uma tempestade. E tal fato contribui para deixar a trama ainda mais claustrofóbica, com Poirot interrogando os suspeitos, um por um, de diferentes métodos, até que um ou mais acabem agindo de forma suspeita e quase revelando demais. E claro, a lista de suspeitos é enorme.

 

O elenco também é um grande destaque, novamente composto por grandes astros do cinema, como de costume. Todos os atores estão muito bem aqui, e não passam a sensação de atuação forçada ou caricata; eles realmente passam tudo o que os personagens devem passar, conforme está escrito, tanto no livro, quanto no roteiro. E é sempre bom ver atores de outros gêneros em papéis fora de sua zona de conforto.

 

E antes de encerrar, conforme mencionei acima, o filme despertou minha memoria por causa de sua ambientação em Veneza. Durante toda a projeção, eu tive a impressão de estar assistindo a um Giallo, principalmente Quem a Viu Morrer? (1971), do diretor Aldo Lado; ou então, ao filme Inverno de Sangue em Veneza (1973). Tal sensação foi muito boa, e despertou em mim a vontade de assistir a esses filmes novamente.

 

E que venham mais filmes do “Agathaverso”!

 

Enfim, A Noite das Bruxas é um filme excelente. Uma historia de mistério e horror contada com a maestria do cineasta Kenneth Branagh, que brilha novamente no papel do detetive Poirot. A ambientação em Veneza também é um atrativo, em especial o cenário principal, que passa uma sensação de medo, misturada com desconforto e claustrofobia. E o elenco também não faz feio, com seus nomes de peso, como é costume nas adaptações da autora Agatha Christie. Um filme excelente e assustador. Altamente recomendado.



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