NOTA: 9.5
Desde que se aventurou a adaptar as obras de Agatha
Christie, com o excelente Assassinato no
Expresso do Oriente, lançado em 2017, o ator e cineasta Kenneth Branagh tem
acertado na mosca. Os filmes são muito bem feitos, principalmente os roteiros,
que deixam o espectador envolvido e ansioso para desvendar o mistério.
Foi assim com Expresso,
foi assim com Morte no Nilo,
lançado no ano passado, e é assim também com A NOITE DAS BRUXAS, terceira incursão do cineasta no chamado
“Agathaverso”, novamente dirigindo e interpretando o clássico detetive Hercule
Poirot.
E que filme!
Um aviso. Acabei de sair do cinema, então, tentarei
conter os spoilers. Então vamos lá.
Temos aqui mais um acerto na mosca do cineasta, que
soube adaptar a obra da escritora com maestria, desta vez, segundo consta,
tomando liberdades criativas. Como ainda não li o livro, não posso dizer que
liberdades criativas foram essas, mas digo que ambientar a historia em Veneza
foi um grande acerto, porque criou um clima de mistério – e por que não, terror
– ainda maior para a trama, além de acender minha memoria – mais detalhes
adiante.
Mais uma vez, eu saí muito satisfeito do cinema, e
desde já, peço por mais filmes ambientados nesse universo!
A Noite das
Bruxas é excelente. É muito bem feito, bem dirigido, com ótimo design de
produção, e como de praxe, um elenco estelar. O diretor Branagh fez mais uma
vez um grande trabalho aqui, tanto atuando, quanto dirigindo. Mesmo não tendo
assistido a todos os seus filmes, eu sei o grande cineasta que ele é,
principalmente quando resolve se aventurar no universo de Shakespeare, por
exemplo. Mas devo dizer que ele também encontrou seu lugar no “Agathaverso”, e
espero que continue assim.
Como de costume, temos aqui uma história de mistério,
contada com a maestria que a autora sabia empregar em suas obras – só digo isso
com base na leitura do livro que originou o primeiro filme desse universo, que
vai ganhar releitura e resenha aqui. No entanto, ao contrario das demais, aqui
temos também uma leve história de terror, com fantasmas e lugares amaldiçoados.
Novamente, não sei como é no livro original, mas devo dizer que achei a ideia
de um palazzo assombrado genial,
quase igual aos filmes de terror gótico realizados na Itália nos anos 60.
Eu gostei bastante da ambientação e do cenário.
Parecia mesmo uma casa assombrada há séculos, do tipo que ganham fama com o
boca-a-boca. E claro, o fato de ambientar a historia no Dia das Bruxas foi
outro acerto, porque deu voz àquela velha regra, a de que as assombrações são
mais fortes na Noite das Bruxas.
E como é um filme de Dia das Bruxas – sim, é um filme
de Dia das Bruxas! – temos tudo que se espera de um filme como esse. Isso
porque a história começa com uma festa de Dia das Bruxas, dada pela dona do palazzo, a Srta. Rowena Drake. No
entanto, a festa é apenas um disfarce para uma sessão espirita, que terá como
convidada, a médium Joyce Reynolds, que está ali com o pretexto de entrar em
contato com a filha da Srta. Drake, que morreu misteriosamente anos antes. Mas
pode esperar por mais, principalmente um mistério de assassinato – obviamente,
não direi quem morreu e quem matou – que obriga Poirot a sair da aposentadoria.
E vou parar por aqui, pois não vou entregar detalhes
da trama. O filme acabou de estrear no cinema, então, corra para a sala mais
próxima e confira por si mesmo.
Como já mencionei, o filme possui alguns elementos de
terror, e isso se deve principalmente à ideia de um lugar assombrado por
fantasmas, o que culmina em algumas aparições durante a projeção, e jump-scares
espertos. Sim, temos jump-scares, mas eles são muito diferentes dos usados no
cinema atualmente. E a presença de figuras vestidas de preto, usando as famosas
máscaras também contribui para deixar o filme mais assustador.
Além disso, é um filme que se passa todo durante a
noite, uma noite chuvosa, que obriga os personagens a ficarem trancados no palazzo, reaproveitando uma técnica
narrativa utilizada no primeiro filme – os personagens ficam presos por causa
de um evento natural, no caso, uma tempestade. E tal fato contribui para deixar
a trama ainda mais claustrofóbica, com Poirot interrogando os suspeitos, um por
um, de diferentes métodos, até que um ou mais acabem agindo de forma suspeita e
quase revelando demais. E claro, a lista de suspeitos é enorme.
O elenco também é um grande destaque, novamente
composto por grandes astros do cinema, como de costume. Todos os atores estão
muito bem aqui, e não passam a sensação de atuação forçada ou caricata; eles
realmente passam tudo o que os personagens devem passar, conforme está escrito,
tanto no livro, quanto no roteiro. E é sempre bom ver atores de outros gêneros
em papéis fora de sua zona de conforto.
E antes de encerrar, conforme mencionei acima, o
filme despertou minha memoria por causa de sua ambientação em Veneza. Durante
toda a projeção, eu tive a impressão de estar assistindo a um Giallo,
principalmente Quem a Viu Morrer? (1971),
do diretor Aldo Lado; ou então, ao filme Inverno
de Sangue em Veneza (1973). Tal sensação foi muito boa, e despertou em mim
a vontade de assistir a esses filmes novamente.
E que venham mais filmes do “Agathaverso”!
Enfim, A Noite
das Bruxas é um filme excelente. Uma historia de mistério e horror contada
com a maestria do cineasta Kenneth Branagh, que brilha novamente no papel do
detetive Poirot. A ambientação em Veneza também é um atrativo, em especial o
cenário principal, que passa uma sensação de medo, misturada com desconforto e
claustrofobia. E o elenco também não faz feio, com seus nomes de peso, como é
costume nas adaptações da autora Agatha Christie. Um filme excelente e
assustador. Altamente recomendado.
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