NOTA: 8.5
Eu já disse – e vou continuar dizendo – que Stephen
King é um dos maiores escritores de todos os tempos, com uma capacidade ímpar
de contar histórias. E como vocês sabem, eu já resenhei algumas de suas
histórias aqui.
E hoje, vou falar novamente sobre Stephen King, mas
não sobre suas histórias, e sim, sobre CORAÇÃO
ASSOMBRADO, da autora Lisa Rogak. Mas o que esse livro tem a ver com
Stephen King? Bem, tudo, porque se trata da biografia, ainda que não
autorizada, do mesmo.
A autora faz um ótimo trabalho ao contar a história
de vida do autor mais famoso do Maine, passando por sua infância pobre,
chegando à juventude, até o sucesso como escritor.
Aqui, ela faz um relato quase que detalhado da vida
de King, e conta tudo com maestria digna de nota.
Primeiro ela começa a falar sobre o passado da
família de King, mais precisamente o de sua mãe, Ruth, que teve de criar os
filhos sozinha, uma vez que o pai de King saiu de casa quando o autor tinha
apenas dois anos, conforme ele mesmo conta diversas vezes. Rogak conta a
respeito das dificuldades de Ruth em arranjar comida para os filhos, e às
vezes, sobre como eles não tinham nem o que comer para que King pudesse
estudar.
Além da pobreza de família, Rogak também nos conta
como Stephen King descobriu o gosto pela literatura, através dos gibis da EC
Comics – Tales from the Crypt, principalmente, e de obras de diversos
autores. A autora relata que o jovem King vivia sempre acompanhado de um livro
e que gastava horas do dia lendo e devorando as páginas.
Temos também o relato de quando King começou a
escrever, quando ainda estava na escola, e teve, por exemplo, de escrever uma
versão própria do conto O Poço e o
Pendulo, clássico de Edgar Allan Poe, que ele vendia pelos corredores da
escola. Além disso, temos também os relatos de King na faculdade, onde
continuou a escrever suas histórias, além de trabalhar no jornal da escola, e
de criar o seu próprio, onde publicava notícias do campus.
Rogak também faz um apanhado das encrencas em que
King se meteu na época de faculdade, quando foi preso por conta de bebida, e
sobre como conheceu sua esposa, Tabitha Spruce, com quem é casado até hoje. E
mais para frente, temos os primeiros contos publicados do autor, que eram
lançados em revistas masculinas, e rendiam bons cheques a ele, mas nem todos
eram suficientes para pagar as contas.
King passou um bom tempo com dificuldades
financeiras, tendo de trabalhar como professor para poder pagar as contas, mas
ele mesmo acabava gastando o dinheiro com bebida, o que gerava problemas para a
família.
Mas como sabemos, tudo isso mudou em 1973, quando
King enviou para a editora Doubleday o original do que seria o seu primeiro
romance, o clássico Carrie – A Estranha.
A autora revela que King não tinha muita fé no manuscrito, visto que seus
manuscritos anteriores haviam sido rejeitados pela mesma editora. Porém,
contrariando suas expectativas, Carrie foi
vendido e se tornou um sucesso absoluto, assim como seu segundo livro, ‘Salem’s Lot.
Nos capítulos seguintes, a autora nos conta mais detalhes
sobre a vida do autor, destacando como King criou seu pseudônimo, Richard
Bachman, e sobre os livros que escreveu sob esse pseudônimo, entre eles, o
polêmico Fúria, que foi banido pelo
próprio autor após o massacre de Columbine, em 1999. Rogak nos revela que King
escreveu alguns dos livros de Bachman ainda antes de escrever Carrie, e que, após o sucesso do mesmo,
os livros foram publicados.
Rogak também nos revela também o período em King foi
viciado em drogas, principalmente cocaína, que o consumiu por anos. Foi nessa
época que o autor começou a escrever compulsivamente, chegando a lançar três
livros em um curto espaço de tempo, dentre eles, A Incendiaria, A Zona Morta e Cujo,
que, como o próprio King relata, não se lembra de ter escrito devido ao vício.
Além disso, somos também apresentados ao lado
cinematográfico do autor, com sua passagem pelo cinema, graças ao sucesso das
primeiras adaptações de seus livros e contos, dentre eles, claro, O Iluminado, dirigido por Stanley
Kubrick, que desagradou King. Rogak nos conta por exemplo, como foi a criação
de Creepshow, além das recepções –
por parte do próprio King – às versões para cinema produzidas até então.
Nessa mesma época, King enfrentou desavenças com sua
principal editora, a Doubleday, que publicou muitos de seus grandes sucessos, e
foi obrigado a mudar para outras editoras, mas mesmo assim, enfrentou
problemas, porque a Doubleday não queria lhe dar o dinheiro que achava que
precisava. Ao invés disso, o autor firmou um acordo e publicou O Cemitério em 1983, livro que ele
odiava e não queria ver publicado.
Além disso, a autora também nos conta como foi a
relação de King com as drogas, e sua luta para se manter sóbrio durante a
década de 90. Também ficamos sabendo da relação do autor com seus fãs,
destacando dois episódios envolvendo fãs malucos, que invadiram a casa dos King
e os ameaçaram com bombas.
Temos também um relato de como King montou sua banda,
e as apresentações que fizeram ao redor dos Estados Unidos ao longo dos anos. A
autora também faz um apanhado de como os filhos do autor resolveram se
aventurar na arte do pai, e acidente que Naomi sofreu.
E para finalizar os eventos importantes na vida do
autor, o livro também descreve como foi o atropelamento que ele sofreu em Junho
de 1999, que quase lhe custou a vida. Rogak nos conta o que King estava fazendo
antes de ser atropelado, bem como foi a sua vida após o acidente, e sua luta
para se livrar de um novo vicio, desta vez de analgésicos.
E claro, temos diversas menções à aposentadoria de
King, algo que ele sempre diz que vai se concretizar, mas nunca fez, visto que
em Setembro, teremos o lançamento de Holly,
seu livro mais recente.
Não entrarei em mais detalhes para não dar spoilers –
até porque eu já falei de muita coisa aqui.
No geral, eu achei o livro muito bem escrito e até um
pouco bem humorado – não sei se teve alguma coisa a ver com a tradução, mas foi
essa a impressão que tive.
Além de ser uma biografia, também pode ser encarado
como uma espécie de manual para quem quer escrever – digo isso porque, conforme
eu lia, me senti com mais vontade de retomar minhas escritas, principalmente os
livros que estão empacados.
A autora fez um ótimo trabalho de pesquisa, mas eu
senti um pouco de falta de mais informações sobre o passado da família do
autor, uma pesquisa um pouco mais aprofundada, mas isso não atrapalhou a
leitura.
A escrita do livro também é muito boa, e às vezes,
parece que a autora está conversando conosco, vide o modo como ela usou as
palavras. Eu confesso que me diverti com algumas passagens, apesar de ter
encontrado dificuldades em outras – deve ter sido por causa do meu modo e ritmo
de leitura.
Mas no geral, eu gostei bastante de Coração Assombrado, e recomendo a
leitura para quem gosta de biografias, e principalmente, de Stephen King.
Enfim, Coração
Assombrado é um livro muito bom. Uma leitura rápida e às vezes divertida,
que prende a atenção do leitor e o deixa curioso para saber o que mais
aconteceu na vida do Mestre Stephen King. A autora fez um ótimo trabalho e nos
apresentou os grandes momentos da vida do autor com sensibilidade e até bom
humor. Um livro recomendado para quem gosta de biografias, e principalmente,
gosta de Stephen King.
Nenhum comentário:
Postar um comentário