sábado, 23 de novembro de 2019

A LENDA DO CAVALEIRO SEM CABEÇA (1999). Dir.: Tim Burton.


NOTA: 10



A LENDA DO CAVALEIRO SEM CABEÇA 
(1999)
A LENDA DO CAVALEIRO SEM CABEÇA é um filme belíssimo! É um dos meus filmes favoritos do diretor Tim Burton – o primeiro é Marte Ataca! (1996) – e sem duvida, um dos seus melhores – aliás, nenhum filme do Tim Burton é ruim, e ponto! Não digo isso só porque sou fã, mas porque é verdade.

Eu tive o prazer de ver esse filme no cinema com a minha família duas vezes, a primeira na semana da estreia, e outra no ultimo dia, e adorei. Foi uma das melhores experiências da minha vida, porque a historia original de Washington Irving faz parte da minha vida desde sempre, principalmente por causa da maravilhosa animação da Disney. Aliás, por anos, foi a única versão que eu conhecia, e quando soube que iria acontecer, fiquei muito animado. Eu queria ver esse filme! E minha mãe compartilhava esse sentimento, porque, uns dias antes, ela me acordou de madrugada para assistir a um especial sobre ele na TV, e eu adorei, e a minha vontade de assistir aumentou. E quando fomos ao cinema, fomos pegos de surpresa pela primeira cena, com o cocheiro decapitado. Sem duvida, uma das melhores apresentações de um filme. E o resto da sessão correu muito bem, com as surpresas surgindo a cada momento. E quando fomos novamente para o cinema, a sensação não mudou. E continua assim até hoje.

É o tipo de filme que não fica chato quando assistimos; pelo contrario, fica melhor a cada vez. E isso se deve à genialidade de Tim Burton. Desde que o descobri com Marte Ataca!, lançado três anos antes, eu me apaixonei, e essa paixão dura até hoje. Tim Burton é o meu cineasta favorito, e é o diretor que me inspira a querer fazer filmes, da mesma forma que os filmes de terror que ele assistia na infância também o inspiraram. E aqui, ele presta diversas homenagens a esses filmes.

Burton cresceu assistindo aos filmes de Roger Corman com Vincent Price, seu ídolo maior, além das produções da Hammer com Christopher Lee, e outros. Na minha opinião, infância melhor não há. Nada melhor do que assistir aos filmes que você gosta, com os atores e diretores que você gosta, e acabar se inspirando neles no futuro. Afirmo, sem medo, que Tim Burton é a minha inspiração.

Nada em A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça é ruim. A fotografia em preto e branco é linda; a direção de arte, impecável; o figurino, belíssimo; a maquiagem, incrível... Tudo é lindo. E é possível ver o quanto Burton é um cineasta excepcional. Sua direção é madura e correta, com todos os detalhes em ordem, do jeito que deveriam estar, tudo feito da maneira que ele sabe fazer.

Com certeza a paixão do cineasta pelo material é um dos fatores a favor do filme. Burton conhecia a historia desde pequeno, através da animação da Disney, e para ele, havia algo de extraordinário na figura de um Cavaleiro Sem Cabeça, correndo a cavalo pela floresta com a espada e a abobora nas mãos. E dá para ver que ele levou isso para o filme. Em vários momentos, a animação da Disney está presente, principalmente nas cenas envolvendo o Cavaleiro. Sério. Parece que Burton pegou a animação e literalmente a transformou em um filme live-action, porque é tudo muito parecido! Não apenas as cenas envolvendo o Cavaleiro, mas a cena da ponte também. A própria ponte que divide o lugarejo de Sleepy Hollow em dois, é idêntica à ponte da animação; foi inclusive uma das coisas que me chamou atenção no cinema. E as homenagens não param por aí.

Além disso, o clima soturno da animação também está presente no filme, principalmente nas cenas noturnas. Um exemplo é a cena de exumação no cemitério. Parece a abertura da animação, com as lapides inclinadas diante da igreja. Muito bem feita. E claro, a sequencia da floresta também remete ao filme da Disney, até porque, a sequencia de perseguição entre Ichabod e o Cavaleiro já era soturna e assustadora; e aqui, Burton recria essa sensação.

Mas claro, além de prestar homenagens aos filmes de sua infância, Burton também homenageia a historia original de Irving, apesar das inúmeras diferenças. A mais evidente, para mim, é a Fazenda Van Tassel. Em vários momentos, Irving descreve a casa de Baltus Van Tassel como um enorme castelo, e aqui, isso foi reproduzido com fidelidade. A casa parece mesmo um castelo; na verdade, parece um castelo de historias de fantasmas; todo imponente, que pode ser visto do topo da colina... Uma construção arrepiante. O próprio lugarejo de Sleepy Hollow também passa essa impressão. Uma pequena comunidade no meio do campo, praticamente isolada do mundo, com animais como vacas, ovelhas e gansos correndo ao ar livre. Um lugar bonito, mas com uma atmosfera assustadora. E claro, o cavalo de Ichabod Crane, Pólvora. Mesmo com pouca presença na historia, ele não poderia faltar, até porque, é o companheiro do professor no clímax. E toda a descrição desajeitada de Ichabod como cavaleiro também aparece, porque, simplesmente, não poderia faltar. É uma das principais características da historia original. Alguns dos personagens também são reflexos da historia original. Ichabod é um covarde, cheio de frescuras; Katrina é doce, amável e sensível; Brom Bones é o valentão que tenta passar a perna em Ichabod; Baltus é o fazendeiro rico; e o próprio Cavaleiro é o espirito dominante da região, que mete medo nos habitantes do lugarejo. Enfim, tudo que aparecia na historia aparece aqui, de maneira excepcional e perfeita.

Com certeza, um dos pontos principais da historia original, é quem era o Cavaleiro Sem Cabeça e como ele perdeu sua cabeça. Aqui, isso é apresentado. O Cavaleiro é um soldado hessiano que lutava em uma batalha nos arredores de Sleepy Hollow. A única coisa que mudaram foi o modo como ele perdeu a cabeça: na historia de Irving, ele é decapitado por uma bola de canhão; aqui é diferente. A cena do flashback é uma das melhores, mostrando o Cavaleiro em toda sua fúria, decapitando e trucidando soldados. Muito bem feita, bem dirigida e atuada. Sangrenta e arrepiante.

Aliás, posso dizer que A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça marca uma espécie de nova fase para o diretor Tim Burton. No inicio de sua carreira, ele fazia filmes com um tom mais família, quase sem nenhum sangue ou violência. Aqui, ele já muda de figura. O filme é repleto de cenas sangrentas, com destaque para as decapitações. Dizem que os responsáveis pela censura acharam as cenas tão pesadas que classificaram o filme para maiores; aqui no Brasil, recebeu classificação “18 anos”, o que gerou problemas para quem foi assistir no cinema. Hoje em dia, talvez as cenas não sejam tão pesadas assim, mas na época, era compreensível. Não me lembro de ver um filme do diretor anterior a esse com essa pegada. O próprio Burton inclusive optou por não cortar as cenas de decapitação. E ao que parece, o diretor seguiu essa nova linha, porque Sweeney Todd – O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet (2007) é carregado de cenas sangrentas, por causa do conteúdo original. E mesmo assim, não parece que foi dirigido por outro cineasta. Incrível.

O elenco é também um dos pontos altos. Em sua terceira colaboração com Burton, Johnny Depp está perfeito como Ichabod Crane. Também fã da animação da Disney, ele conseguiu representar o personagem de maneira crível e divertida. Suas cenas de desmaios são muito engraçadas e servem muito bem para quebrar a tensão após uma cena assustadora. Em uma entrevista, Depp declarou que chegou a cogitar a hipótese de usar próteses para ficar mais parecido com o Ichabod Crane da animação, o verdadeiro Ichabod Crane. Sinceramente, achei que foi muito bom que isso não aconteceu porque só existe um Ichabod Crane alto, extremamente magro, com uma cabeça pequena e chata em cima, e nariz comprido, que parece uma das pontas de um cata-vento preso ao seu fino pescoço. E esse Ichabod Crane é o Ichabod Crane da Disney. Ponto! No entanto, as melhores atuações são de Christina Ricci e Christopher Walken. A atriz interpreta Katrina Van Tassel com uma delicadeza e uma beleza impressionantes. Parece que ela assume a personagem, de tão perfeita que é sua atuação. Sem duvida, ela soube traduzir a personagem melhor do que ninguém. Belíssima. Já Christopher Walken está assustador no papel do Cavaleiro Sem Cabeça. Mesmo não aparecendo muito, sua presença é marcante, e dá um ar maligno ao personagem. O Cavaleiro também foi interpretado pelo dublê Ray Park no restante do filme, quando vemos o personagem sem sua cabeça. Outro dublê também deu vida ao Cavaleiro nas cenas de montaria. Mesmo assim, nenhum deles consegue superar Walken. O restante do elenco também está muito bem em suas performances, e não parecem caricatos em momento nenhum.

Como mencionado, A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça é repleto de homenagens aos filmes que Burton assistia na infância. A começar pelos clássicos da Hammer, estúdio de cinema britânico responsável pelos maiores filmes do gênero nos anos 50, 60 e 70. O filme tem todo um aspecto da Hammer, com suas cores escuras, sangue pulsante e ambientação gótica. Lembra muito os primeiros filmes coloridos do estúdio, como os filmes do Drácula, estrelados por Christopher Lee. Aliás, a presença do ator é uma das maiores homenagens ao estúdio. Christopher Lee era um dos ídolos de Burton, ao lado de Vincent Price, e sua presença é impactante. O ator aparece por poucos minutos, mas valem a pena. A presença dele é imponente, que inspira e exige respeito de quem está ali. Burton até menciona nos comentários que todos da equipe pararam para prestar a atenção no ator, dada a sua magnitude. Em outra cena, Burton cita suas inspirações também em Roger Corman e em Mario Bava. Novamente, a fotografia e a ambientação contribuem. Além de lembrar os filmes da Hammer, o filme também lembra os filmes do Ciclo Edgar Allan Poe, estrelados por Vincent Price, que Corman dirigiu nos anos 60. Eu já tive o prazer de assistir alguns dos filmes do Ciclo Edgar Allan Poe, e posso dizer que a semelhança é impressionante. A floresta assombrada parece muito com as florestas dos filmes de Corman. Aliás, um detalhe. A cena de investigação de Ichabod na floresta possui uma das melhores tomadas do cinema de horror. O investigador avista uma estranha figura branca andando por entre as arvores retorcidas e decide ver o que é; para mim, é uma bela cena de floresta mal-assombrada, e com certeza, vai servir de inspiração no futuro. Mas, voltando, parece mesmo que eu estava vendo um filme de Roger Corman, e parecia que Vincent Price iria aparecer a qualquer momento. A inspiração em Mario Bava também é evidente. A cena em que Ichabod é perseguido por um falso Cavaleiro Sem Cabeça lembra muito as cenas de A Máscara de Satã (1960) e As Três Máscaras do Terror (1963); além disso, existem também duas outras homenagens ao filme de estreia de Bava, todas muito bem feitas e respeitosas. Existe também uma homenagem ao Clássico Frankenstein (1931), estrelado por Boris Karloff: a cena do moinho. Burton já declarou que sua primeira lembrança de moinhos veio do filme de James Whale, e assim como as homenagens à Bava e Corman, ele a presta com todo o respeito que o filme merece. No entanto, além de homenagear seus filmes favoritos, o diretor também homenageia a si mesmo. Os espantalhos que aparecem no milharal no começo do filme lembram a fantasia de espantalho de Jack Skellington; o vestido que Katrina usa em determinada cena lembra a roupa de Beetlejuice; e as participações de seus ídolos, Christopher Lee e Michael Gough, remetem à presença de seu ídolo máximo em Vincent (1982) e em Edward Mãos-de-Tesoura (1990). 

A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça foi lançado em novembro de 1999 e tornou-se um sucesso de bilheteria. O filme marca a terceira colaboração entre Tim Burton e Johnny Depp, iniciada em 1990 com o inigualável Edward Mãos-de-Tesoura. Os dois trabalharam juntos novamente em Ed Wood (1994), cinebiografia do “pior diretor de todos os tempos”; A Fantástica Fábrica de Chocolates (2004); A Noiva-Cadáver (2005); Sweeney Todd – O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet (2007); Alice no País das Maravilhas (2010) e Sombras da Noite (2012), baseado na série de TV “Dark Shadows”, de Dan Curtis.

Enfim, A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça é um filme maravilhoso. Um dos meus filmes favoritos. Uma historia de amor com elementos de suspense. Um verdadeiro conto de fadas. Excelente.









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quarta-feira, 30 de outubro de 2019

HALLOWEEN (2018). Dir.: David Gordon Green.


NOTA: 9.5



HALLOWEEN (2018)
Michael Myers está de volta. 40 anos depois de sua primeira aparição no cinema, e 20 anos desde a última – porque eu desconsidero completamente tudo que veio depois de Halloween H2O: Vinte Anos Depois, de 1998 – , ele está de volta.

E que retorno! HALLOWEEN é maravilhoso! É muito melhor do que esperava que fosse; é tudo aquilo que os fãs da franquia esperavam, e muito mais. Já na minha primeira conferida, pude ver que o filme cumpriu tudo que prometeu. É assustador, é sangrento, é tenso... Tudo que o filme original era. É um filme feito para os fãs da franquia; e feito com amor.

Tudo nesse filme funciona de maneira brilhante, desde o roteiro, passando pela direção, até as atuações, os efeitos especiais; tudo se encaixa perfeitamente, numa historia magistral, sem nenhum defeito e nenhuma ponta solta.

Devo confessar que, quando soube que um novo filme seria feito, fiquei empolgado, porque, como mencionei acima, desde 1998, Michael Myers e cia. não tiveram o tratamento que mereciam nas telas; pelo contrario, o personagem foi detonado e humilhado por cineastas que nada sabiam de sua mitologia. E isso é tudo que vou dizer a respeito das experiências lamentáveis pelo qual ele passou; não só ele, toda sua turma.

Mas, felizmente, isso foi consertado. O novo filme dá uma repaginada no personagem, mas sem tirar sua essência e sem alterar sua mitologia. Aqui, Michael continua o mesmo, a pura encarnação do Mal, sanguinário, selvagem, implacável. Não apenas o vilão que foi repaginado. Laurie Strode, a sobrevivente do primeiro filme, também foi reescrita. Agora, ao invés da adolescente inocente, virgem, do primeiro filme, aqui, ela se transformou em uma eremita, que vive sozinha em sua casa, afastada da cidade, cercada por armas e armadilhas, que ela mesma construiu, pois sabia que Michael retornaria um dia. Dito e feito. Michael escapou mais uma vez, e está pronto para recomeçar seu reinado de terror.

E da mesma forma que no Original, aqui ele executa sua arte com maestria. Desde o primeiro assassinato, Michael mostra que não está “enferrujado” pelo tempo; pelo contrario, continua uma maquina de matar, sem medo ou remorso. E como sempre, ele se mostra especialista na arte de matar, executando suas vitimas com selvageria e requintes de crueldade, tudo sem o menor remorso. Porém, aqui existe uma diferença. Se, no Clássico de John Carpenter não havia sangue, aqui a coisa é diferente. O sangue corre solto, mas não no estilo “torture-porn”, que infelizmente, tomou o gênero de terror. Pelo contrario, o sangue corre do jeito certo, sem exageros, sem muita sujeira, sem artifícios. E os métodos de Michael? Mais sobre isso adiante.

Esse é aquele tipo de filme que dá gosto de assistir, porque foi feito para os fãs. Não sei os outros, mas eu adoro o Michael Myers de antigamente, uma força da Natureza, o Mal encarnado, o assassino sanguinário; e aqui ele é tudo isso. Mas não é apenas isso que faz desse um filme feito com carinho. Todo o suspense e a tensão, presentes no primeiro filme, também aparecem aqui, desde o começo. Quando eu vi aquela cena de abertura, antes dos créditos iniciais, eu fiquei arrepiado porque é muito bem feita; gostei tanto que voltei umas duas vezes. Não se fazem cenas assim hoje em dia; e quando alguém consegue, é porque tem habilidade, e o diretor David Gordon Green tem.

Mesmo sem nenhuma experiência no gênero, ele se mostrou um excelente diretor de horror, e executou tudo com brilhantismo. Ele não apelou para câmeras tremidas, movimentos rápidos e bruscos; foi tudo feito com a câmera nas posições certas, com os movimentos certos, nos ângulos certos. A fotografia também fez bonito, principalmente nas cenas noturnas. As paletas de cores são ótimas, e combinam com as cenas, e o melhor, dão uma impressão de veracidade. E as cenas noturnas são belíssimas; ao invés da horrível paleta “verde musgo”, muito usada pelo diretor David Fincher, aqui nós temos paletas escuras, pretas, mas que fazem um belo contraste com as luzes das casas e das aboboras nas ruas.

Sobre os créditos iniciais, eu acho que são os melhores da franquia desde o quinto filme. Não apenas pela forma como eles surgem, mas também o que eles representam. Representam o ressurgimento da franquia. Eu vi em algum lugar que a regeneração da abobora na abertura, representa a regeneração da franquia. E é verdade, tanto que a tipologia é a mesma – que não é utilizada desde H2O – e o modo de apresentação do elenco também é o mesmo, além da abobora ser a mesma do primeiro filme e se modificar do mesmo jeito. Se isso também não é uma homenagem, eu não sei o que é.

Aliás, o filme presta várias homenagens, não apenas ao primeiro filme, mas também à própria franquia. Por exemplo, a cena dos assassinatos no banheiro, lembra muito a cena do banheiro em H2O; um personagem diz um nome que remete ao segundo filme; a cena da sala de aula é idêntica à cena da sala de aula do primeiro filme; a própria menção do termo “boogey-man”, etc., mas talvez, um dos maiores easter eggs tenha aparecido já no trailer, um easter egg de Halloween III (1983), que não apresenta os personagens do universo criado por Carpenter e Debra Hill. Novamente, é uma prova do quão importante a Franquia Halloween se tornou.

Além de contar com momentos – muitos momentos – de terror, Halloween também tem momentos divertidos. Ou melhor, um momento divertido. Acontece na cena em que uma das amigas da neta de Laurie está cuidando de um garoto enquanto seus pais estão fora. O menino é muito engraçado. Eu dei algumas risadas nessa sequencia, porque é muito boa mesmo. Talvez, tenha servido para quebrar a tensão, porque momentos antes, tivemos algumas cenas de assassinatos.

Agora, sobre Laurie Strode. Conforme mencionado acima, aqui, ela deixou de ser a adolescente tímida do filme original, e se transformou numa eremita. Ela vive isolada em sua casa afastada da cidade, lugar que ela transformou em uma fortaleza, com armas e armadilhas por todos os lados. Não apenas isso; ela também se tornou uma espécie de pária, sendo rejeitada pela filha, de quem perdeu a guarda no passado, teve dois casamentos fracassados, e tornou-se alcóolatra. Além disso, algumas pessoas também a consideram uma louca por acreditar que Michael Myers pode retornar um dia, o que contribuiu para a destruição de sua família. A única pessoa que tenta se aproximar dela é sua neta, a quem ela também tenta proteger. Mas todo esse declínio ajuda na reconstrução da personagem. Não acho que a coisa tivesse o mesmo impacto se Laurie tivesse se tornado uma pessoa que apagou tudo de sua memoria, e vive uma vida normal. Esse declínio é o tipo de coisa que tem que acontecer com alguém como ela. Excelente reconstrução.

Além dos protagonistas, o filme também apresenta um personagem chamado Dr. Sartain, que se torna uma espécie de Dr. Loomis, uma vez que, após o falecimento do medico, ele tomou o caso de Michael para si, pois está determinado a descobrir por que ele se tornou um assassino. Mas, ao contrario de Loomis, Sartain não se mostra tão bonzinho assim, e está disposto a cometer loucuras para provar seu caso. Além dele, temos também um casal de jornalistas que tem quase o mesmo objetivo. Primeiro, eles visitam Michael em Smith’s Grove e tentam motivá-lo, mostrando-lhe sua mascara. Mas, com o fracasso da expedição, eles vão à casa de Laurie, com o objetivo de desvendar o mistério por trás daquela noite de Halloween, há 40 anos. Mas, eles também falham.

O filme tem muitos efeitos práticos, e eles funcionam muito bem. Eu falo de sangue, muito sangue. Michael é implacável nas cenas de assassinato, utilizando o que estiver ao seu alcance para matar, e o faz com requintes de crueldade e selvageria. Pescoços quebrados, queixos deslocados, rostos contra portas, gargantas perfuradas... Tudo que tem direito; e muito bem feito.

E novamente, Michael está perfeito. Um monstro implacável, movido por puro instinto assassino, sem medo ou remorso. Uma maquina de matar indestrutível, com desejo por sangue e carnificina. Seu figurino é praticamente o mesmo do filme original, com detalhe para sua icônica máscara; toda cheia de marcas do tempo, mas intacta, livre de furos ou rasgos. E quando eles finalmente se reencontram, é o melhor momento do filme, sem dúvida! Michael Myers ressurge em toda sua gloria, pronto para retornar a Haddonfield, e reiniciar seu reinado de terror.

Com certeza, Halloween é o retorno digno da franquia aos cinemas, após anos. É uma pena que Michael tenha passado por três experiências lastimáveis, antes de retornar do jeito que deveria. Mas tudo bem, o que importa é que ele está de volta, maior, melhor e mais assustador do que nunca. Recentemente, começaram a sair noticiais sobre duas continuações para o filme, que prometem encerrar definitivamente a historia de Laurie Strode e Michael Myers. A primeira, Halloween Kills, título esse que eu não consigo engolir, será lançada em 2020; a última parte, Halloween Ends, tem lançamento agendado para 2021. Vamos aguardar.

Enfim, Halloween é um filme excelente, que presta varias homenagens ao Clássico de John Carpenter, e à franquia. Maravilhoso. Assustador, sangrento, tenso. Um filme excelente.

Altamente recomendado.









Confira também a resenha em:


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sexta-feira, 25 de outubro de 2019

HALLOWEEN, A NOITE DO TERROR (1978). Dir.: John Carpenter.


NOTA: 10


HALLOWEEN, A NOITE DO TERROR
(1978)
HALLOWEEN, A NOITE DO TERROR, é, sem duvida, a obra máxima de John Carpenter. Lançado há 40 anos – completa 41 anos de lançamento em 25/out – , ainda é o maior exemplar do gênero Slasher. Além disso, é um dos maiores filmes de terror de todos os tempos.

O que o torna um filme excepcional é a própria historia. Vale lembrar que quando o filme foi lançado, o gênero ainda engatinhava no cinema; o único exemplar lançado até então era o excelente Noite de Terror (1974), do diretor Bob Clark, considerado o primeiro Slasher da historia. Nessa época, o Slasher tinha algo de especial, simplesmente porque os responsáveis sabiam como contar uma historia. Ou seja, não havia necessidade de mostrar sangue o tempo todo na tela; antes disso tudo, havia um enredo, com personagens estabelecidos, enfim. Coisas que fazem muita falta hoje em dia.

Halloween é perfeito até hoje, não apenas pela historia redonda, mas também pela maneira como foi produzido. Claramente um filme de baixo orçamento, rodado em pouco tempo, com atores novatos, quase sem nenhum efeito especial... A fórmula para se contar uma boa historia, conforme já mencionei varias vezes.

Carpenter soube fazer grandes coisas com o orçamento que dispunha. Como exemplo, Jamie Lee Curtis e suas colegas não tinham dinheiro para o figurino, então, usaram suas próprias roupas; a icônica máscara do assassino Michael Myers foi confeccionada a partir de uma máscara do Capitão Kirk de Star Trek, e outras coisas mais. Viram como é possível fazer um grande filme com o mínimo possível de recursos?

O roteiro, escrito por Carpenter e sua colega Debra Hill, é excelente. Não tem nenhuma ponta solta, e durante boa parte da historia, não mostra nada de assustador, apostando mais no suspense. Além disso, não acontece uma carnificina, coisa esperada em filmes do gênero; ao contrário, Michael mata apenas cinco pessoas, e não há sangue em nenhuma das cenas, uma delas acontece off-screen. O único momento em que o filme mostra uma certa quantidade de sangue, é no inicio, quando Michael esfaqueia sua irmã.

Aliás, essa é outra grande tirada do roteiro. Ao contrario dos filmes de hoje, onde é preciso haver uma explicação para determinados eventos assustadores, Carpenter não diz absolutamente nada sobre o passado de Michael Myers. Em menos de 10 minutos, ele já mostra o garoto esfaqueando a irmã e depois sendo descoberto pelos pais, que removem sua mascara e revelam sua expressão neutra. E já é suficiente. Não há necessidade nenhuma de contar quem era o garoto antes do assassinato da irmã, nem de contar por que ele se tornou um assassino. Existem coisas que é melhor não explicar, e ponto.

Outro mérito do filme é a sua trilha sonora, composta por Carpenter. É uma das trilhas mais memoráveis do cinema de horror, ao lado da trilha de Psicose (1960), com certeza. É aquele tipo de trilha que quando escutamos, já sabemos de qual filme se trata; e o melhor, não fica chata de ouvir. Eu gosto muito dessa trilha, é uma das melhores, talvez a melhor, composta pelo diretor. E também se tornou uma das marcas do filme, ao lado do vilão Michael Myers.

O elenco também se destaca. Jamie Lee Curtis, em seu primeiro filme, está perfeita como Laurie Strode, a final girl. Inclusive, acho que ela se tornou o modelo para as futuras final girls do gênero: ingênua, tímida, virgem, inteligente... O tipo de mocinha perfeita, que vencerá o mal e sobreviverá no final. Suas colegas de elenco também não fazem feio. Nancy Loomis e P.J. Soles também estão ótimas nos papeis de Annie e Lynda, respectivamente; os outros coadjuvantes também estão muito bem. Mas, ninguém está melhor do que o astro Donald Pleasence, no papel do Dr. Sam Loomis. Ao lado de Blofeld, de Com 007 Só se Vive duas Vezes (1967), esse o papel mais memorável do ator. Loomis é implacável, e não mede esforços para encontrar Michael. Mesmo com pouca presença, Pleasence rouba a cena, e faz de Loomis um personagem memorável. Em certo momento do filme, Loomis proclama um dos mais famosos monólogos do cinema de horror, em uma cena muito bem feita:

“Eu o conheci há 15 anos; disseram-me que não havia nada.
Nem razão, nem consciência, nem compreensão, 
ou a mais remota noção de vida ou morte; bem ou mal; certo ou errado.
Eu conheci esse menino de 6 anos com esse rosto vazio, 
pálido, sem emoção, e... olhos negros. Os olhos do Mal. 
Eu passei 8 anos tentando alcança-lo, e depois mais 7 tentando 
mantê-lo preso, porque eu sabia que o que existia por
trás dos olhos daquele menino era pura e simplesmente... o Mal.”

Sem duvida, uma das melhores falas do filme, e Pleasence o faz de maneira brilhante, sem apelar para caras e bocas e gestos exagerados. O tipo de cena que merece ser estudada, não apenas pela atuação de Pleasence, mas também pelo roteiro. Uma cena brilhante.

Ainda sobre Loomis, é possível ver que ao longo do filme, ele se transforma num personagem obcecado. Como mencionado acima, ele não mede esforços para encontrar Michael, mas tem um porém aí. Ele não está disposto a sacrificar alguém; pelo contrario, está disposto a se sacrificar para capturar o vilão. Na minha opinião, é um dos melhores anti-heróis do gênero. Sim, porque o Dr. Loomis não é um herói, que salva a cidade da ameaça do vilão. É mais um anti-herói.

Halloween é um Slasher. É fato. E como tal, apresentou uma fórmula que se repetiria a exaustão pela década seguinte:

1) É preciso ter acontecido algo ruim no passado;
2) Você precisa apresentar um grupo de adolescentes sozinhos em um ambiente em que não podem contar com a ajuda de adultos;
3) Se você fizer sexo, você vai morrer;
4) Deve ter a cena do “don’t go in there!”;
5) You can’t kill the Boogeyman.

Essas eram as “regras” estabelecidas pelo gênero naquela época, além das demais apresentadas pela franquia Pânico, nos anos 90. As principais eram, talvez, a dos adolescentes cheios de libido que transam loucamente e são mortos pelo assassino; e a final girl, que é a garota tímida e virgem, que sempre derrota o assassino. No quesito anterior, Halloween tem outra coisa: os adolescentes libidinosos são extremamente folgados. Meu Deus, como são folgados! Isso vale tanto para a Annie, quanto para a Lynda, e o namorado dela, o Bob. Eles não têm vergonha nenhuma na cara, e transam sem pudor na casa dos outros. Não sei como uma coisa dessas é permitida, mas, funciona. Vou ser honesto, não gosto muito das amigas da Laurie por causa disso, mas, ao contrario do que viria depois nos outros filmes do gênero, elas são personagens simpáticas, bacanas, até, o tipo de amigos que todos nós tivemos no colégio.

Esse é também outro ponto. A nostalgia. Quando eu assisti esse filme pela primeira vez, eu ainda estava na escola, então, eu me identificava muito com aqueles estudantes na sala de aula, escrevendo em seus fichários. Eu adoro essa sensação que o filme me passa, ainda hoje. Dá vontade de voltar àqueles tempos de colégio. Os outros filmes da minha coleção que passam a mesma sensação são Carrie, A Estranha (1976) e Christine, O Carro Assassino (1983); no entanto, desses três, Carrie possui impacto maior – mas esse é assunto para outra resenha.

Como mencionado acima, o roteiro de John Carpenter e Debra Hill foca muito mais no clima de suspense do que no terror. Como já mencionei em outras resenhas, é o tipo de filme que faz muita falta hoje em dia, porque existe uma historia sendo contada. Hoje em dia, o filme pode parecer arrastado para os mais exigentes, mas, para mim, isso ainda funciona; tanto que, até a metade do filme, nada de assustador acontece – assustador no sentido “horror” da palavra, porque a tensão está presente em todos os momentos. Nós quase não vemos Michael durante o filme, ele está sempre na penumbra, observando as adolescentes, antes de mata-las; e quando a primeira delas morre, já se passaram mais de 40 minutos de filme. Hoje em dia, é muito difícil se ver um filme construído dessa maneira. E as outras mortes também demoram um pouco para acontecer, e acontecem do mesmo jeito: na base do suspense e da lentidão da cena. E como mencionado também, aqui morrem somente cinco pessoas. E, apesar de ser um Slasher, não há uma gota de sangue. É perfeito.

Não posso encerrar esse texto sem falar sobre Michael Myers. O que dizer sobre ele? Michael é, sem duvida, um dos maiores vilões do cinema de horror. Uma figura que vive nas sombras, um stalker, um voyeur, implacável, selvagem... Tudo isso e um pouco mais. Michael é uma força da natureza, o Mal encarnado, conforme Carpenter definiu. É um vilão que não precisa de origem, nem de explicação para seus atos; uma figura que mete medo só de olhar para ele; nada consegue impedi-lo. É o vilão perfeito. E já aqui, Carpenter apresentou a ideia de que o assassino não pode morrer, algo estabelecido também nos filmes seguintes. E outra coisa que o torna assustador, é o fato de não conseguirmos vê-lo direito. Carpenter e o diretor de fotografia Dean Cundey foram muito espertos nesse sentido; Michael passa boa parte do filme escondido nas sombras, e só conseguimos vê-lo ao longe, sem mostrar seu rosto. Ele só aparece mesmo nos momentos finais, por poucos segundos. Sua icônica máscara rendeu uma das historias mais famosas de bastidores. Um dos problemas estabelecidos no roteiro é justamente a máscara do assassino. Em certo ponto, Carpenter cogitou utilizar uma máscara de palhaço, mas não agradou. Então, eles alteraram o roteiro, e substituíram a mascara. Então, o diretor de arte, Tommy Lee Wallace, foi a uma loja de fantasias e comprou uma máscara do ator William Shatner, famoso pelo seriado Star Trek, onde interpretava o Capitão Kirk. Eles então cortaram mais os olhos, pintaram-na de branco e pintaram o cabelo de preto. O resto é historia. Michael Myers fixou seu lugar no hall dos vilões do cinema de horror.

Halloween tornou-se um sucesso de bilheteria, arrecadando mais de 70 milhões de dólares, em comparação ao orçamento de US$ 300 mil. Por anos, tornou-se o filme independente de maior bilheteria de todos os tempos, perdendo o posto para As Tartarugas-Ninja (1990).

O sucesso do filme motivou o lançamento de uma sequência, Halloween II, de 1981, considerado tão bom quanto o primeiro. O filme seguinte, Halloween III (1983), dirigido por Tommy Lee Wallace, foi um fracasso de bilheteria, por não apresentar os personagens dos filmes anteriores. A franquia retornou em 1988 com Halloween 4, O Dia das Bruxas, com Michael Myers e o Dr. Loomis de volta. Halloween 5, A Vingança de Michael Myers, foi lançado em 1989, e na opinião de muitos, começou a apresentar a queda de qualidade da franquia. A verdadeira “queda de qualidade” só viria mesmo em Halloween 6, A Última Vingança, lançado em 1995, e ultimo filme de Donald Pleasence, que faleceu antes do termino das filmagens. Halloween 6 teve inúmeros problemas de bastidores, sendo esquartejado pelo estúdio, e lançado duas vezes: a primeira, lançado nos cinemas, mostrou-se uma verdadeira bomba; já a segunda versão, batizada de Producer’s Cut, é considerada a mais próxima da versão final, além de apresentar diferenças na narrativa. Em 1998, a série foi retomada com Halloween H2O: Vinte Anos Depois, novamente com Jamie Lee Curtis no papel principal e Steve Miner na direção. H2O tornou-se o primeiro reboot da franquia, porque ignorou tudo o que foi feito depois do segundo filme, além de terminar de maneira a saga de Michael Myers de forma definitiva. Infelizmente, não foi bem assim. Eu pessoalmente adoro todos os filmes da franquia – que para mim, acaba em H2O – até mesmo “os ruins” Halloween 5 Halloween 6 – Producer’s Cut.

Enfim, Halloween, A Noite do Terror é um Clássico absoluto. Um dos maiores filmes de terror de todos os tempos. Mesmo depois de 40 anos, ainda se mantém imbatível. Uma história muito bem contada, redonda e sem pontas soltas. Um clássico dos Slashers, e sem dúvida, o maior filme do gênero. Brilhante. Assustador. Tenso. Um filme excelente.  

Altamente recomendado.







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sábado, 19 de outubro de 2019

ALIEN, O 8º PASSAGEIRO (1979). Dir.: Ridley Scott.


NOTA: 10



ALIEN, O 8° PASSAGEIRO (1979)
ALIEN, O 8º PASSAGEIRO é um Clássico. Sem duvida, 40 anos depois de seu lançamento, ainda é um dos maiores filmes de horror e ficção científica de todos os tempos, que juntou os dois gêneros com maestria. 

Mas, o que o torna um filme tão grande? Bom, a começar pela própria história. Sem duvida, é um dos filmes mais tensos e claustrofóbicos já feitos, e a própria ambientação contribui para isso. E não só isso; Alien é também um dos filmes mais assustadores de todos os tempos, por esses mesmos motivos e também por contar um roteiro tão bem amarrado, sem nenhuma ponta solta.

Devo dizer que Alien foi um filme que me assustou muito quando era pequeno. Minha mãe tinha alugado o VHS, e estava assistindo e me chamou e ao meu irmão para assistir uma cena; era a famosa cena da “última ceia”, talvez a cena mais famosa do filme, que pega toda a tripulação – e o elenco – de surpresa. Só essa cena já foi suficiente para me assustar; tanto que saí correndo e voltei para o meu quarto. Anos depois, tive vontade de ver o filme pela primeira vez, e não deu outra. É um filme excelente.

Alien é perfeito, não há duvida, seja pelo que já foi mencionado, seja pela direção segura de Ridley Scott, seja pelo elenco, seja pelo monstro, enfim, não importa. O fato é que é um desses filmes que devem ser vistos pelos fãs de cinema, independente do gênero.

Não é só isso. O filme é também um marco nos gêneros de ficção cientifica e terror, justamente porque conseguiu combinar esses gêneros muito bem, tudo na medida certa. É possível ver claramente que até os primeiros 20, 30 minutos, trata-se de um filme de ficção-cientifica, justamente por causa da ambientação, a nave Nostromo, mas é apenas isso. Mesmo com poucas pistas – ou nenhuma – fica claro que o filme se passa no futuro, um futuro muito distante, inclusive. Porém, ao invés de possuir um aspecto limpinho, com a nave toda em ordem, a coisa é diferente. O interior da nave é sujo, com peças defeituosas; não é uma nave “0 km”, é uma nave que já possui anos de estrada.

Esse é um dos grandes destaques. O interior da nave é muito bem feito, com suas maquinas modernas para a época, luzes piscando, equipamentos de comunicação avançados... parece mesmo que aquela nave existe e que aquele futuro existe. Mas não é apenas o interior da nave que merece nota. As cenas no espaço também são muito boas, com a nave surgindo em toda sua grandiosidade, com a câmera focando nos menores detalhes. Tudo belíssimo.

O elenco também contribui para o excelente desempenho do filme. Formado principalmente por veteranos, com exceção de Sigourney Weaver e Veronica Cartwright, é composto por personagens absolutamente realistas. É possível acreditar que todos ali são pessoas reais, que entendem e sabem o que estão fazendo ali dentro daquela nave. Nenhum dos atores está caricato, todos atuam de maneira brilhante.

O roteiro, escrito por Dan O’Bannon, a partir de uma historia que escreveu em parceria com Ronald Shussett, é um dos mais perfeitos do gênero. Como já mencionado, durante os primeiros minutos, temos a impressão de que é um filme de ficção-cientifica; porém, quando o tripulante Kane, interpretado pelo saudoso John Hurt, é atacado, a coisa muda de figura, e o filme se transforma em um filme de terror. Boa parte disso deve-se ao fato de esconderem o Alien durante o filme inteiro. Sério. Assistindo ao filme, eu estimulei que, das duas horas de duração, ele aparece umas seis vezes, mais ou menos. Claro, ele não é apresentado logo no início, isso só acontece mais adiante. Não sei se essa técnica de escondê-lo fazia parte do roteiro ou se era uma saída encontrada pela equipe, mas, o fato é que funciona. Muito bem.

Alien é um filme claustrofóbico, não há duvidas. A própria ambientação da nave faz dele um filme claustrofóbico, porque os personagens não têm para onde correr, depois que o monstro é solto dentro da nave! Segundo a crítica da TV Guide, Maitland McDonagh, o filme soluciona o maior problema das historias de casa mal-assombrada: os personagens não têm para onde fugir! E a própria fotografia também contribui. Toda a atmosfera e a paleta de cores escuras, deixam o filme ainda mais claustrofóbico, e a experiência de assisti-lo, mais assustadora. De verdade. Mesmo tendo assistido algumas vezes, não deixo de me sentir desconfortável ao assisti-lo.

A ideia para Alien surgiu após Dan O’Bannon realizar Dark Star (1974), filme de estreia do amigo John Carpenter. O’Bannon tinha a intenção de fazer outro filme sobre alienígenas dentro de uma nave, mas desta vez, queria que fosse uma criatura real. Ronald Shussett entrou em contato com ele após assistir ao filme de Carpenter. No entanto, eles seguiram caminhos diferentes. O’Bannon foi trabalhar na adaptação do livro Duna, que viria a ser dirigida por Alejandro Jodorowsky – mas que nunca aconteceu, como sabemos; Shussett, por outro lado, estava envolvido na futura adaptação de O Vingador do Futuro, que acabou roteirizada por O’Bannon. Durante a produção de Jodorowsky, O’Bannon conheceu o artista sueco H.R. Giger, e o convenceu a se juntar ao projeto, após ver uma de suas obras. O’Bannon e Shussett ofereceram o projeto a vários estúdios, mesmo não tendo finalizado o roteiro. Quem demonstrou interesse em produzi-lo foi Roger Corman, mas o produtor Walter Hill aceitou o desafio e levou a historia para a 20th Century-Fox. Os executivos, por outro lado, mostraram-se relutantes, pois temiam que poderia ser mais um filme de monstro espacial de baixo orçamento. O que motivou a produção do filme, foi o sucesso de Star Wars, lançado pelo estúdio em 1977. O’Bannon demonstrou interesse em dirigir, mas foi afastado, dando lugar a Ridley Scott, que chamou a atenção do estúdio após seu trabalho em Os Duelistas. A Fox cedeu um orçamento de 8 milhões de dólares. As filmagens aconteceram na Inglaterra, num período de três meses. Quando foi lançado, o filme tornou-se um sucesso de critica de bilheteria.

Uma das questões mais comentadas sobre o filme, é o fato de que talvez fosse o filme que deu a primeira heroína de ação para o cinema, no caso, a Tenente Ripley, que fez de Sigourney Weaver uma estrela. Durante todo o filme, fica claro que Ripley é a única que tem calibre para combater o Alien, além de ser uma personagem forte, que não baixa a cabeça para nada e para ninguém. Ripley é determinada, passa por cima das ordens do Capitão Dallas quando ele lhe ordena que Kane seja levado a bordo após ser atacado; mas ela se recusa e acaba comprando briga com os tripulantes. Ela também não se deixa enganar pelos mecânicos Parker e Brett, e, após Dallas ser eliminado, ela assume o comando da nave e sugere explodi-la com o monstro a bordo. Ou seja, é uma personagem casca-grossa. Agora, se Alien é de fato, um filme “feminista”, não sei dizer com certeza, mesmo vendo o quão forte e determinada Ripley é. O debate permanece.

Agora, sobre a Criatura. Como mencionei acima, eu acredito que ela aparece umas seis vezes no filme inteiro, mas essas 6 vezes são belíssimas. O Monstro é um ser assustador. Alto, magro, com uma cabeça grande, sangue acido, uma boca cheia de dentes afiados, um apetite insaciável, é uma das maiores criaturas do cinema de todos os tempos. Um monstro implacável, que ninguém, absolutamente ninguém consegue impedir. Desenhado por H.R. Giger, o monstro passou por varias etapas até atingir sua forma final. Uma das alterações sugeridas por Giger foi a ausência de olhos; segundo ele, se a criatura não tivesse olhos, ela seria muito mais perigosa. E funcionou. É muito difícil, na verdade, impossível, imaginá-lo com olhos hoje em dia. Quem também ajudou em sua confecção, foi o italiano Carlo Rambaldi, mestre dos efeitos especiais. Rambaldi ficou responsável pela cabeça do alienígena, que contava com cerca 900 partes moveis, entre elas, a icônica boca em miniatura que se projeta para frente. Quem o interpretou foi um estudante de design chamado Bolaji Badejo, que foi descoberto em um bar de Londres. Em momento nenhum, dá para dizer que o monstro é um homem dentro de uma roupa, pelo contrário, parece mesmo uma criatura de verdade. E todo o seu design contribui para deixa-lo ainda mais misterioso, porque ele consegue se esconder no interior da nave, imitando pedaços da estrutura, ou entrando em buracos e fendas onde não caberia um ser humano. Ou seja, não se sabe onde ele está. Um dos maiores monstros do cinema, sem duvida.

Alien tornou-se um sucesso de bilheteria e agradou críticos do mundo inteiro. Em 1980, Giger, Rambaldi, Brian Johnson, Nick Allder e Denys Ayling foram premiados com um Oscar® de Melhores Efeitos Visuais pelo seu trabalho. O filme também foi indicado na categoria de Melhor Direção de Arte, além de levar o Saturn Awards de Melhor Filme de Ficção Científica, Melhor Direção e Melhor Atriz Coadjuvante. Em 2002, foi escolhido pelo National Film Regisrty para preservação. O Alien possui a 14º posição na Lista dos 50 Maiores Vilões do Cinema do American Film Institute, e Ripley ocupa a 8º posição na Lista dos 50 Maiores Heróis do Cinema, pela sequencia Aliens, O Resgate.

O sucesso do filme motivou a Fox a produzir três continuações: Aliens, O Resgate (1986), dirigido por James Cameron; Alien³ (1992), de David Fincher; e Alien, A Ressurreição (1997), de Jean-Pierre Jeunet. Em 2012, Ridley Scott retornou a franquia com o ótimo Prometheus, prequel estrelada por Noomi Rapace, Michael Fassbender, Charlize Theron e Guy Pierce. Apesar de ser um divisor de criticas, eu gostei muito do filme. Scott retomou a franquia também em Alien: Convenant, considerado por muitos como inferior à saga. Tanto Prometheus como Alien: Convenant serviram como prequels, e tinham como objetivo, contar a historia da franquia anos antes do primeiro filme, e encerrá-la com outra sequencia, que antecederá diretamente o primeiro. No entanto, o fracasso de Convenent parece ter abortado os planos de Ridley Scott para continuar a saga. Veremos. Uma observação: eu gosto muito de Alien³; na minha opinião, é um filme injustiçado, que foi prejudicado por problemas de bastidores.

O filme também gerou uma serie de livros, quadrinhos e jogos de videogame, que expandem seu universo e contam novas historias, além de contar historias antes de algumas das sequencias. Ou seja, Alien é uma franquia lucrativa.

Em 1980, foi lançado um filme italiano chamado Alien 2: Sulla Terra, dirigido por Ciro Ippolitto. O filme não possui nenhuma relação com o filme de Ridley Scott, mas é muito divertido. Dizem que o filme de Cameron foi batizado de “Aliens” por causa dessa “sequencia” não oficial.

Enfim, Alien, O 8º Passageiro é um clássico. Um dos maiores filmes de todos os tempos. Uma historia claustrofóbica de horror que não deixa o espectador respirar. Um dos Filmes Mais Assustadores de Todos os Tempos. Um filme inesquecível. Excelente.

Altamente recomendado.










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segunda-feira, 14 de outubro de 2019

PROJETO LIVRO AZUL (2019).


NOTA: 10




PROJETO LIVRO AZUL
PROJETO LIVRO AZUL foi uma das melhores séries que já vi esse ano. Sem dúvida, também foi uma das mais assustadoras também.

Mas, antes de falar sobre ela, quero falar um pouco sobre o Projeto Livro Azul. O Projeto Livro Azul foi um projeto de investigação criado pelo governo americano nos anos 50, com o objetivo de investigar aparições de OVNIs ao redor do país naquela época. De 1947 a 1969, o projeto investigou mais de 1.000 casos envolvendo aparições de objetos voadores não identificados; desses, apenas 6% foram classificados como inexplicáveis. O restante foi classificado como sendo de natureza terrestre. O Projeto foi a quarta tentativa do governo de investigar relatos sobre OVNIs e extraterrestres.

Agora, sobre a série. Eu já tinha uma ideia do que se tratava o Projeto Livro Azul, por causa da série Arquivos Extraterrestres, exibida pelo History Channel, que produziu essa série. Em um dos episódios, referente aos chamados “Cinzas”, o Projeto foi mencionado como uma tentativa do Governo de descobrir se relatos de aparições eram reais ou não. Ele também foi mencionado em outro episódio, referente ao Hangar 18, localizado na Base Aérea Wright-Patterson, que aparece com destaque na série.

Quando soube que o History iria exibir a série, fiquei animado, porque queria saber como iriam abordar o caso. E o fizeram de maneira brilhante.

Em seus 10 episódios, a série conseguiu prender minha atenção desde o começo, e foi assim até o final. Não foi uma série de ficção científica. Foi uma série de suspense, com toques dramáticos. E como já disse, tudo muito bem feito.

Além de focar nas investigações do Professor Hynek e do Capitão Quinn, a série também mostrou a vida de Hynek, ao lado da esposa e do filho. A esposa do Professor mostra-se uma mulher devotada ao marido, mas ao mesmo tempo, é infeliz por causa da distancia entre eles. Então, ao conhecer uma mulher numa loja de conveniências, elas rapidamente tornam-se amigas, o que a ajuda a se distrair. Porém, sua nova amiga revela-se uma espiã russa, cujo objetivo é vigiar Hynek, sua família, e descobrir sobre o Projeto Livro Azul. Ao invés de maçantes, esses momentos também merecem destaque porque, de certa forma, servem para preencher o tempo, uma vez que os episódios focam principalmente nas investigações de Hynek e Quinn.

As cenas de investigação são as melhores. Em diversos momentos, parece uma serie policial, até porque os dois protagonistas fazem muito bem o seu trabalho, e mostram-se dispostos a investigar os relatos, entrevistar testemunhas e, se necessário, descobrir os culpados por eventuais farsas, e existem farsas. É tudo muito bem feito, bem filmado, bem escrito e, principalmente, bem atuado. O Dr. Hynek foi interpretado pelo ator Aidan Gillen, que brilhou na inesquecível série Game of Thrones, como o vilão Mindinho; o Capitão Quinn foi interpretado por Michael Malarkey, que atuou em Vampire Diaries. Ambos estão excelentes em suas performances e não parecem caricatos, do contrario. O restante do elenco também está excepcional, com destaque para Neal McDonough como o General James Harding e Laura Mennell como Mimi Hynek, esposa do Dr. Hynek. A série também contou com Robert John Burke como o Secretário de Defesa William Fairchild, e Bob Gutton, como o Presidente Harry Truman.

Os efeitos visuais também são um atrativo. Nenhum deles parece falso, e chegam até a ofuscar os atores em alguns momentos. O melhor momento surge no ultimo episodio, quando um grupo de esferas luminosas voa sobre a capital do País em plena luz do dia. Parece que aquelas luzes estão mesmo lá. É impressionante.

Como mencionado nos créditos, a série é baseada nas investigações reais do Projeto Livro Azul. Entre os casos apresentados na série estão “As Luzes de Lubbock”, que ocorreu no Texas, quando várias pessoas avistaram luzes estranhas em forma de V sobrevoando a cidade; “As Bolas de Fogo Verdes”, que foram avistadas por pilotos de caça e “O Monstro de Flatwoods” onde uma família afirmou ter visto um monstro nas florestas perto de sua casa. O caso também tornou-se conhecido na Criptzoologia, que estuda relatos de aparições de criaturas estranhas, como o Monstro do Lago Ness e o Chupacabra.

Esse também é um fato que contribuiu para tornar a série tão assustadora. Só de saber que boa parte daquilo aconteceu de verdade foi suficiente para prender minha atenção. Confesso que acredito na existência de OVNIs e vida em outros planetas, então, acompanhar tudo o que foi mostrado, serviu para aumentar ainda mais a minha credibilidade no assunto.

O que também que me chamou a atenção na série, foi a pretensão do governo dos EUA em esconder as possíveis aparições e avistamentos a qualquer custo, jogando toda a culpa nos Russos, que estavam em alta no País naquela época. O motivo de fazerem isso é o fato de que, se de fato a Terra fosse invadida, eles não conseguiriam conter o pânico e teriam que admitir suas falhas. Não sei se tudo o que foi mostrado aconteceu de fato, como a infiltração dos russos no País, mas o fato é que serviu como um ingrediente a mais para o mistério.

Enfim, Projeto Livro Azul foi uma das melhores séries de TV assisti em 2019, ao lado de NOS4A2, a segunda temporada de Siren, Legacies, e a última temporada de Games of Thrones. Recentemente, foi anunciada a renovação para segunda temporada, que deve estrear ainda esse ano nos Estados Unidos.

O Projeto foi encerrado em 1969. Dos mais de 1.000 casos investigados, apenas 6% permaneceram inexplicáveis. Até hoje, é considerado um dos maiores casos da Ufologia mundial. O Dr. Allen Hynek, cético assumido quando entrou para o Projeto, tornou-se ufólogo e fundou o Centro para Estudo de ÓVNIs. Hynek faleceu em 27/abr/1986.










Confira a resenha também em:


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LISA E O DIABO (1973). Dir.: Mario Bava.

  NOTA: 10 LISA E O DIABO é um filme belíssimo.   Uma história de horror, fantasia e mistério contada com a maestria do Maestro Mario Ba...