sexta-feira, 25 de outubro de 2019

HALLOWEEN, A NOITE DO TERROR (1978). Dir.: John Carpenter.


NOTA: 10


HALLOWEEN, A NOITE DO TERROR
(1978)
HALLOWEEN, A NOITE DO TERROR, é, sem duvida, a obra máxima de John Carpenter. Lançado há 40 anos – completa 41 anos de lançamento em 25/out – , ainda é o maior exemplar do gênero Slasher. Além disso, é um dos maiores filmes de terror de todos os tempos.

O que o torna um filme excepcional é a própria historia. Vale lembrar que quando o filme foi lançado, o gênero ainda engatinhava no cinema; o único exemplar lançado até então era o excelente Noite de Terror (1974), do diretor Bob Clark, considerado o primeiro Slasher da historia. Nessa época, o Slasher tinha algo de especial, simplesmente porque os responsáveis sabiam como contar uma historia. Ou seja, não havia necessidade de mostrar sangue o tempo todo na tela; antes disso tudo, havia um enredo, com personagens estabelecidos, enfim. Coisas que fazem muita falta hoje em dia.

Halloween é perfeito até hoje, não apenas pela historia redonda, mas também pela maneira como foi produzido. Claramente um filme de baixo orçamento, rodado em pouco tempo, com atores novatos, quase sem nenhum efeito especial... A fórmula para se contar uma boa historia, conforme já mencionei varias vezes.

Carpenter soube fazer grandes coisas com o orçamento que dispunha. Como exemplo, Jamie Lee Curtis e suas colegas não tinham dinheiro para o figurino, então, usaram suas próprias roupas; a icônica máscara do assassino Michael Myers foi confeccionada a partir de uma máscara do Capitão Kirk de Star Trek, e outras coisas mais. Viram como é possível fazer um grande filme com o mínimo possível de recursos?

O roteiro, escrito por Carpenter e sua colega Debra Hill, é excelente. Não tem nenhuma ponta solta, e durante boa parte da historia, não mostra nada de assustador, apostando mais no suspense. Além disso, não acontece uma carnificina, coisa esperada em filmes do gênero; ao contrário, Michael mata apenas cinco pessoas, e não há sangue em nenhuma das cenas, uma delas acontece off-screen. O único momento em que o filme mostra uma certa quantidade de sangue, é no inicio, quando Michael esfaqueia sua irmã.

Aliás, essa é outra grande tirada do roteiro. Ao contrario dos filmes de hoje, onde é preciso haver uma explicação para determinados eventos assustadores, Carpenter não diz absolutamente nada sobre o passado de Michael Myers. Em menos de 10 minutos, ele já mostra o garoto esfaqueando a irmã e depois sendo descoberto pelos pais, que removem sua mascara e revelam sua expressão neutra. E já é suficiente. Não há necessidade nenhuma de contar quem era o garoto antes do assassinato da irmã, nem de contar por que ele se tornou um assassino. Existem coisas que é melhor não explicar, e ponto.

Outro mérito do filme é a sua trilha sonora, composta por Carpenter. É uma das trilhas mais memoráveis do cinema de horror, ao lado da trilha de Psicose (1960), com certeza. É aquele tipo de trilha que quando escutamos, já sabemos de qual filme se trata; e o melhor, não fica chata de ouvir. Eu gosto muito dessa trilha, é uma das melhores, talvez a melhor, composta pelo diretor. E também se tornou uma das marcas do filme, ao lado do vilão Michael Myers.

O elenco também se destaca. Jamie Lee Curtis, em seu primeiro filme, está perfeita como Laurie Strode, a final girl. Inclusive, acho que ela se tornou o modelo para as futuras final girls do gênero: ingênua, tímida, virgem, inteligente... O tipo de mocinha perfeita, que vencerá o mal e sobreviverá no final. Suas colegas de elenco também não fazem feio. Nancy Loomis e P.J. Soles também estão ótimas nos papeis de Annie e Lynda, respectivamente; os outros coadjuvantes também estão muito bem. Mas, ninguém está melhor do que o astro Donald Pleasence, no papel do Dr. Sam Loomis. Ao lado de Blofeld, de Com 007 Só se Vive duas Vezes (1967), esse o papel mais memorável do ator. Loomis é implacável, e não mede esforços para encontrar Michael. Mesmo com pouca presença, Pleasence rouba a cena, e faz de Loomis um personagem memorável. Em certo momento do filme, Loomis proclama um dos mais famosos monólogos do cinema de horror, em uma cena muito bem feita:

“Eu o conheci há 15 anos; disseram-me que não havia nada.
Nem razão, nem consciência, nem compreensão, 
ou a mais remota noção de vida ou morte; bem ou mal; certo ou errado.
Eu conheci esse menino de 6 anos com esse rosto vazio, 
pálido, sem emoção, e... olhos negros. Os olhos do Mal. 
Eu passei 8 anos tentando alcança-lo, e depois mais 7 tentando 
mantê-lo preso, porque eu sabia que o que existia por
trás dos olhos daquele menino era pura e simplesmente... o Mal.”

Sem duvida, uma das melhores falas do filme, e Pleasence o faz de maneira brilhante, sem apelar para caras e bocas e gestos exagerados. O tipo de cena que merece ser estudada, não apenas pela atuação de Pleasence, mas também pelo roteiro. Uma cena brilhante.

Ainda sobre Loomis, é possível ver que ao longo do filme, ele se transforma num personagem obcecado. Como mencionado acima, ele não mede esforços para encontrar Michael, mas tem um porém aí. Ele não está disposto a sacrificar alguém; pelo contrario, está disposto a se sacrificar para capturar o vilão. Na minha opinião, é um dos melhores anti-heróis do gênero. Sim, porque o Dr. Loomis não é um herói, que salva a cidade da ameaça do vilão. É mais um anti-herói.

Halloween é um Slasher. É fato. E como tal, apresentou uma fórmula que se repetiria a exaustão pela década seguinte:

1) É preciso ter acontecido algo ruim no passado;
2) Você precisa apresentar um grupo de adolescentes sozinhos em um ambiente em que não podem contar com a ajuda de adultos;
3) Se você fizer sexo, você vai morrer;
4) Deve ter a cena do “don’t go in there!”;
5) You can’t kill the Boogeyman.

Essas eram as “regras” estabelecidas pelo gênero naquela época, além das demais apresentadas pela franquia Pânico, nos anos 90. As principais eram, talvez, a dos adolescentes cheios de libido que transam loucamente e são mortos pelo assassino; e a final girl, que é a garota tímida e virgem, que sempre derrota o assassino. No quesito anterior, Halloween tem outra coisa: os adolescentes libidinosos são extremamente folgados. Meu Deus, como são folgados! Isso vale tanto para a Annie, quanto para a Lynda, e o namorado dela, o Bob. Eles não têm vergonha nenhuma na cara, e transam sem pudor na casa dos outros. Não sei como uma coisa dessas é permitida, mas, funciona. Vou ser honesto, não gosto muito das amigas da Laurie por causa disso, mas, ao contrario do que viria depois nos outros filmes do gênero, elas são personagens simpáticas, bacanas, até, o tipo de amigos que todos nós tivemos no colégio.

Esse é também outro ponto. A nostalgia. Quando eu assisti esse filme pela primeira vez, eu ainda estava na escola, então, eu me identificava muito com aqueles estudantes na sala de aula, escrevendo em seus fichários. Eu adoro essa sensação que o filme me passa, ainda hoje. Dá vontade de voltar àqueles tempos de colégio. Os outros filmes da minha coleção que passam a mesma sensação são Carrie, A Estranha (1976) e Christine, O Carro Assassino (1983); no entanto, desses três, Carrie possui impacto maior – mas esse é assunto para outra resenha.

Como mencionado acima, o roteiro de John Carpenter e Debra Hill foca muito mais no clima de suspense do que no terror. Como já mencionei em outras resenhas, é o tipo de filme que faz muita falta hoje em dia, porque existe uma historia sendo contada. Hoje em dia, o filme pode parecer arrastado para os mais exigentes, mas, para mim, isso ainda funciona; tanto que, até a metade do filme, nada de assustador acontece – assustador no sentido “horror” da palavra, porque a tensão está presente em todos os momentos. Nós quase não vemos Michael durante o filme, ele está sempre na penumbra, observando as adolescentes, antes de mata-las; e quando a primeira delas morre, já se passaram mais de 40 minutos de filme. Hoje em dia, é muito difícil se ver um filme construído dessa maneira. E as outras mortes também demoram um pouco para acontecer, e acontecem do mesmo jeito: na base do suspense e da lentidão da cena. E como mencionado também, aqui morrem somente cinco pessoas. E, apesar de ser um Slasher, não há uma gota de sangue. É perfeito.

Não posso encerrar esse texto sem falar sobre Michael Myers. O que dizer sobre ele? Michael é, sem duvida, um dos maiores vilões do cinema de horror. Uma figura que vive nas sombras, um stalker, um voyeur, implacável, selvagem... Tudo isso e um pouco mais. Michael é uma força da natureza, o Mal encarnado, conforme Carpenter definiu. É um vilão que não precisa de origem, nem de explicação para seus atos; uma figura que mete medo só de olhar para ele; nada consegue impedi-lo. É o vilão perfeito. E já aqui, Carpenter apresentou a ideia de que o assassino não pode morrer, algo estabelecido também nos filmes seguintes. E outra coisa que o torna assustador, é o fato de não conseguirmos vê-lo direito. Carpenter e o diretor de fotografia Dean Cundey foram muito espertos nesse sentido; Michael passa boa parte do filme escondido nas sombras, e só conseguimos vê-lo ao longe, sem mostrar seu rosto. Ele só aparece mesmo nos momentos finais, por poucos segundos. Sua icônica máscara rendeu uma das historias mais famosas de bastidores. Um dos problemas estabelecidos no roteiro é justamente a máscara do assassino. Em certo ponto, Carpenter cogitou utilizar uma máscara de palhaço, mas não agradou. Então, eles alteraram o roteiro, e substituíram a mascara. Então, o diretor de arte, Tommy Lee Wallace, foi a uma loja de fantasias e comprou uma máscara do ator William Shatner, famoso pelo seriado Star Trek, onde interpretava o Capitão Kirk. Eles então cortaram mais os olhos, pintaram-na de branco e pintaram o cabelo de preto. O resto é historia. Michael Myers fixou seu lugar no hall dos vilões do cinema de horror.

Halloween tornou-se um sucesso de bilheteria, arrecadando mais de 70 milhões de dólares, em comparação ao orçamento de US$ 300 mil. Por anos, tornou-se o filme independente de maior bilheteria de todos os tempos, perdendo o posto para As Tartarugas-Ninja (1990).

O sucesso do filme motivou o lançamento de uma sequência, Halloween II, de 1981, considerado tão bom quanto o primeiro. O filme seguinte, Halloween III (1983), dirigido por Tommy Lee Wallace, foi um fracasso de bilheteria, por não apresentar os personagens dos filmes anteriores. A franquia retornou em 1988 com Halloween 4, O Dia das Bruxas, com Michael Myers e o Dr. Loomis de volta. Halloween 5, A Vingança de Michael Myers, foi lançado em 1989, e na opinião de muitos, começou a apresentar a queda de qualidade da franquia. A verdadeira “queda de qualidade” só viria mesmo em Halloween 6, A Última Vingança, lançado em 1995, e ultimo filme de Donald Pleasence, que faleceu antes do termino das filmagens. Halloween 6 teve inúmeros problemas de bastidores, sendo esquartejado pelo estúdio, e lançado duas vezes: a primeira, lançado nos cinemas, mostrou-se uma verdadeira bomba; já a segunda versão, batizada de Producer’s Cut, é considerada a mais próxima da versão final, além de apresentar diferenças na narrativa. Em 1998, a série foi retomada com Halloween H2O: Vinte Anos Depois, novamente com Jamie Lee Curtis no papel principal e Steve Miner na direção. H2O tornou-se o primeiro reboot da franquia, porque ignorou tudo o que foi feito depois do segundo filme, além de terminar de maneira a saga de Michael Myers de forma definitiva. Infelizmente, não foi bem assim. Eu pessoalmente adoro todos os filmes da franquia – que para mim, acaba em H2O – até mesmo “os ruins” Halloween 5 Halloween 6 – Producer’s Cut.

Enfim, Halloween, A Noite do Terror é um Clássico absoluto. Um dos maiores filmes de terror de todos os tempos. Mesmo depois de 40 anos, ainda se mantém imbatível. Uma história muito bem contada, redonda e sem pontas soltas. Um clássico dos Slashers, e sem dúvida, o maior filme do gênero. Brilhante. Assustador. Tenso. Um filme excelente.  

Altamente recomendado.







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