NOTA: 10
HALLOWEEN, A NOITE DO TERROR (1978) |
HALLOWEEN, A NOITE DO TERROR, é,
sem duvida, a obra máxima de John Carpenter. Lançado há 40 anos – completa 41
anos de lançamento em 25/out – , ainda é o maior exemplar do gênero Slasher.
Além disso, é um dos maiores filmes de terror de todos os tempos.
O que o torna um filme excepcional é a própria historia. Vale lembrar
que quando o filme foi lançado, o gênero ainda engatinhava no cinema; o único
exemplar lançado até então era o excelente Noite de Terror (1974), do diretor
Bob Clark, considerado o primeiro Slasher da historia. Nessa época, o Slasher
tinha algo de especial, simplesmente porque os responsáveis sabiam como contar
uma historia. Ou seja, não havia necessidade de mostrar sangue o tempo todo na
tela; antes disso tudo, havia um enredo, com personagens estabelecidos, enfim.
Coisas que fazem muita falta hoje em dia.
Halloween é perfeito até
hoje, não apenas pela historia redonda, mas também pela maneira como foi
produzido. Claramente um filme de baixo orçamento, rodado em pouco tempo, com
atores novatos, quase sem nenhum efeito especial... A fórmula para se contar
uma boa historia, conforme já mencionei varias vezes.
Carpenter soube fazer grandes coisas com o orçamento que dispunha.
Como exemplo, Jamie Lee Curtis e suas colegas não tinham dinheiro para o
figurino, então, usaram suas próprias roupas; a icônica máscara do assassino
Michael Myers foi confeccionada a partir de uma máscara do Capitão Kirk de Star Trek, e outras coisas mais. Viram
como é possível fazer um grande filme com o mínimo possível de recursos?
O roteiro, escrito por Carpenter e sua colega Debra Hill, é excelente.
Não tem nenhuma ponta solta, e durante boa parte da historia, não mostra nada
de assustador, apostando mais no suspense. Além disso, não acontece uma
carnificina, coisa esperada em filmes do gênero; ao contrário, Michael mata
apenas cinco pessoas, e não há sangue em nenhuma das cenas, uma delas acontece off-screen. O único momento em que o
filme mostra uma certa quantidade de sangue, é no inicio, quando Michael
esfaqueia sua irmã.
Aliás, essa é outra grande tirada do roteiro. Ao contrario dos filmes de
hoje, onde é preciso haver uma explicação para determinados eventos
assustadores, Carpenter não diz absolutamente nada sobre o passado de Michael
Myers. Em menos de 10 minutos, ele já mostra o garoto esfaqueando a irmã e
depois sendo descoberto pelos pais, que removem sua mascara e revelam sua
expressão neutra. E já é suficiente. Não há necessidade nenhuma de contar quem
era o garoto antes do assassinato da irmã, nem de contar por que ele se tornou
um assassino. Existem coisas que é melhor não explicar, e ponto.
Outro mérito do filme é a sua trilha sonora, composta por Carpenter. É
uma das trilhas mais memoráveis do cinema de horror, ao lado da trilha de Psicose
(1960), com certeza. É aquele tipo de trilha que quando escutamos, já
sabemos de qual filme se trata; e o melhor, não fica chata de ouvir. Eu gosto
muito dessa trilha, é uma das melhores, talvez a melhor, composta pelo diretor.
E também se tornou uma das marcas do filme, ao lado do vilão Michael Myers.
O elenco também se destaca. Jamie Lee Curtis, em seu primeiro filme,
está perfeita como Laurie Strode, a final
girl. Inclusive, acho que ela se tornou o modelo para as futuras final girls do gênero: ingênua, tímida,
virgem, inteligente... O tipo de mocinha perfeita, que vencerá o mal e
sobreviverá no final. Suas colegas de elenco também não fazem feio. Nancy
Loomis e P.J. Soles também estão ótimas nos papeis de Annie e Lynda,
respectivamente; os outros coadjuvantes também estão muito bem. Mas, ninguém
está melhor do que o astro Donald Pleasence, no papel do Dr. Sam Loomis. Ao
lado de Blofeld, de Com 007 Só se Vive duas Vezes (1967), esse o papel mais
memorável do ator. Loomis é implacável, e não mede esforços para encontrar
Michael. Mesmo com pouca presença, Pleasence rouba a cena, e faz de Loomis um
personagem memorável. Em certo momento do filme, Loomis proclama um dos mais
famosos monólogos do cinema de horror, em uma cena muito bem feita:
“Eu o conheci há 15 anos;
disseram-me que não havia nada.
Nem razão, nem consciência, nem
compreensão,
ou a mais remota noção de vida ou morte; bem ou mal; certo ou errado.
ou a mais remota noção de vida ou morte; bem ou mal; certo ou errado.
Eu conheci esse menino de 6
anos com esse rosto vazio,
pálido, sem emoção, e... olhos negros. Os olhos do Mal.
Eu passei 8 anos tentando alcança-lo, e depois mais 7 tentando
mantê-lo preso, porque eu sabia que o que existia por
trás dos olhos daquele menino era pura e simplesmente... o Mal.”
pálido, sem emoção, e... olhos negros. Os olhos do Mal.
Eu passei 8 anos tentando alcança-lo, e depois mais 7 tentando
mantê-lo preso, porque eu sabia que o que existia por
trás dos olhos daquele menino era pura e simplesmente... o Mal.”
Sem duvida, uma das melhores falas do filme, e Pleasence o faz de
maneira brilhante, sem apelar para caras e bocas e gestos exagerados. O tipo de
cena que merece ser estudada, não apenas pela atuação de Pleasence, mas também
pelo roteiro. Uma cena brilhante.
Ainda sobre Loomis, é possível ver que ao longo do
filme, ele se transforma num personagem obcecado. Como mencionado acima, ele não
mede esforços para encontrar Michael, mas tem um porém aí. Ele não está
disposto a sacrificar alguém; pelo contrario, está disposto a se sacrificar
para capturar o vilão. Na minha opinião, é um dos melhores anti-heróis do gênero.
Sim, porque o Dr. Loomis não é um herói, que salva a cidade da ameaça do vilão.
É mais um anti-herói.
Halloween é um Slasher. É fato.
E como tal, apresentou uma fórmula que se repetiria a exaustão pela década
seguinte:
1) É preciso ter acontecido algo
ruim no passado;
2) Você precisa apresentar um
grupo de adolescentes sozinhos em um ambiente em que não podem contar com a
ajuda de adultos;
3) Se você fizer sexo, você vai
morrer;
4) Deve ter a cena do “don’t go
in there!”;
5) You can’t kill the Boogeyman.
Essas eram as “regras” estabelecidas pelo gênero naquela época, além das
demais apresentadas pela franquia Pânico, nos anos 90. As principais
eram, talvez, a dos adolescentes cheios de libido que transam loucamente e são mortos
pelo assassino; e a final girl, que é
a garota tímida e virgem, que sempre derrota o assassino. No quesito anterior, Halloween tem outra coisa: os
adolescentes libidinosos são extremamente folgados. Meu Deus, como são folgados!
Isso vale tanto para a Annie, quanto para a Lynda, e o namorado dela, o Bob. Eles
não têm vergonha nenhuma na cara, e transam sem pudor na casa dos outros. Não sei
como uma coisa dessas é permitida, mas, funciona. Vou ser honesto, não gosto
muito das amigas da Laurie por causa disso, mas, ao contrario do que viria
depois nos outros filmes do gênero, elas são personagens simpáticas, bacanas,
até, o tipo de amigos que todos nós tivemos no colégio.
Esse é também outro ponto. A nostalgia. Quando eu assisti esse filme
pela primeira vez, eu ainda estava na escola, então, eu me identificava muito
com aqueles estudantes na sala de aula, escrevendo em seus fichários. Eu adoro
essa sensação que o filme me passa, ainda hoje. Dá vontade de voltar àqueles
tempos de colégio. Os outros filmes da minha coleção que passam a mesma sensação
são Carrie,
A Estranha (1976) e Christine, O Carro Assassino (1983);
no entanto, desses três, Carrie possui impacto maior – mas esse
é assunto para outra resenha.
Como mencionado acima, o roteiro de John Carpenter e Debra Hill foca
muito mais no clima de suspense do que no terror. Como já mencionei em outras
resenhas, é o tipo de filme que faz muita falta hoje em dia, porque existe uma
historia sendo contada. Hoje em dia, o filme pode parecer arrastado para os mais
exigentes, mas, para mim, isso ainda funciona; tanto que, até a metade do
filme, nada de assustador acontece – assustador no sentido “horror” da palavra,
porque a tensão está presente em todos os momentos. Nós quase não vemos Michael
durante o filme, ele está sempre na penumbra, observando as adolescentes, antes
de mata-las; e quando a primeira delas morre, já se passaram mais de 40 minutos
de filme. Hoje em dia, é muito difícil se ver um filme construído dessa
maneira. E as outras mortes também demoram um pouco para acontecer, e acontecem
do mesmo jeito: na base do suspense e da lentidão da cena. E como mencionado também,
aqui morrem somente cinco pessoas. E, apesar de ser um Slasher, não há uma gota
de sangue. É perfeito.
Não posso encerrar esse texto sem falar sobre Michael Myers. O que
dizer sobre ele? Michael é, sem duvida, um dos maiores vilões do cinema de
horror. Uma figura que vive nas sombras, um stalker,
um voyeur, implacável, selvagem... Tudo
isso e um pouco mais. Michael é uma força da natureza, o Mal encarnado,
conforme Carpenter definiu. É um vilão que não precisa de origem, nem de
explicação para seus atos; uma figura que mete medo só de olhar para ele; nada consegue
impedi-lo. É o vilão perfeito. E já aqui, Carpenter apresentou a ideia de que o
assassino não pode morrer, algo estabelecido também nos filmes seguintes. E outra
coisa que o torna assustador, é o fato de não conseguirmos vê-lo direito. Carpenter
e o diretor de fotografia Dean Cundey foram muito espertos nesse sentido; Michael
passa boa parte do filme escondido nas sombras, e só conseguimos vê-lo ao
longe, sem mostrar seu rosto. Ele só aparece mesmo nos momentos finais, por
poucos segundos. Sua icônica máscara rendeu uma das historias mais famosas de
bastidores. Um dos problemas estabelecidos no roteiro é justamente a máscara do
assassino. Em certo ponto, Carpenter cogitou utilizar uma máscara de palhaço,
mas não agradou. Então, eles alteraram o roteiro, e substituíram a mascara. Então,
o diretor de arte, Tommy Lee Wallace, foi a uma loja de fantasias e comprou uma
máscara do ator William Shatner, famoso pelo seriado Star Trek, onde interpretava o Capitão Kirk. Eles então cortaram
mais os olhos, pintaram-na de branco e pintaram o cabelo de preto. O resto é
historia. Michael Myers fixou seu lugar no hall dos vilões do cinema de horror.
Halloween tornou-se um
sucesso de bilheteria, arrecadando mais de 70 milhões de dólares, em comparação
ao orçamento de US$ 300 mil. Por anos, tornou-se o filme independente de maior
bilheteria de todos os tempos, perdendo o posto para As Tartarugas-Ninja (1990).
O sucesso do filme motivou o lançamento de uma sequência, Halloween
II, de 1981, considerado tão bom quanto o primeiro. O filme seguinte, Halloween
III (1983), dirigido por Tommy Lee Wallace, foi um fracasso de
bilheteria, por não apresentar os personagens dos filmes anteriores. A franquia
retornou em 1988 com Halloween 4, O Dia das Bruxas, com Michael
Myers e o Dr. Loomis de volta. Halloween 5, A Vingança de Michael Myers,
foi lançado em 1989, e na opinião de muitos, começou a apresentar a queda de
qualidade da franquia. A verdadeira “queda de qualidade” só viria mesmo em Halloween
6, A Última Vingança, lançado em 1995, e ultimo filme de Donald Pleasence,
que faleceu antes do termino das filmagens. Halloween 6 teve inúmeros
problemas de bastidores, sendo esquartejado pelo estúdio, e lançado duas vezes:
a primeira, lançado nos cinemas, mostrou-se uma verdadeira bomba; já a segunda
versão, batizada de Producer’s Cut, é
considerada a mais próxima da versão final, além de apresentar diferenças na
narrativa. Em 1998, a série foi retomada com Halloween H2O: Vinte Anos Depois,
novamente com Jamie Lee Curtis no papel principal e Steve Miner na direção. H2O tornou-se o primeiro reboot da
franquia, porque ignorou tudo o que foi feito depois do segundo filme, além de
terminar de maneira a saga de Michael Myers de forma definitiva. Infelizmente, não
foi bem assim. Eu pessoalmente adoro todos os filmes da franquia – que para mim, acaba em H2O – até mesmo “os ruins” Halloween 5 e Halloween 6 – Producer’s Cut.
Enfim, Halloween, A Noite do Terror
é um Clássico absoluto. Um dos maiores filmes de terror de todos
os tempos. Mesmo depois de 40 anos,
ainda se mantém imbatível. Uma história muito bem contada, redonda e sem pontas
soltas. Um clássico dos Slashers, e sem dúvida, o
maior filme do gênero. Brilhante.
Assustador. Tenso. Um filme excelente.
Altamente recomendado.
Confira também a resenha em:
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