NOTA: 9.5
Não é novidade nenhuma que os anos 80 foram a década
mais prolifera do terror, com inúmeras produções baratas, muitas de gosto
duvidoso, mas muito divertidas. A NOITE
DOS ARREPIOS (1986), do diretor Fred Dekker, é uma delas.
Devo confessar que sempre tive uma impressão errada a
respeito desse filme; achava que se tratava de uma comedia adolescente de humor
negro, com zumbis no meio; e muito disso se deve a um dos pôsteres, que
mostrava um zumbi vestido de smoking em frente a uma janela, segurando um buque
de flores.
Bem, eis que tive a oportunidade de assistir ao
filme. Eu não podia estar mais errado! A
Noite dos Arrepios é um filme super legal, do tipo que faz falta hoje em
dia. É um filme B? Sim! A história é absurda? Com certeza! Tem atores
canastrões e atuações exageradas? Pode apostar! Mas tudo isso faz parte do
charme do longa. É sério, desde a primeira vez que vi esse filme, eu adorei. É
tanta besteira e canastrice jogadas na tela, mas são besteiras e canastrices
divertidas, daquelas que arrancam sorrisos e risos propositais.
Sem contar que o roteiro é uma bela homenagem ao
cinema Classe B dos anos 50, e também ao próprio gênero terror. São tantas
referencias apresentadas que não soam forçadas, e são fáceis de aceitar; e cada
uma é melhor que a anterior. Nomes de cineastas do gênero como David
Cronenberg, John Landis, Tobe Hooper, Sam Raimi e John Carpenter são citados no
longa, no caso, os personagens foram batizados assim; além, é claro, do nome da
universidade: Corman University! Não é genial? Não seria demais se essa universidade
existisse de verdade? E temos também uma ponta do saudoso Dick Miller no papel
do faz-tudo Walter Paisley.
Além das citações a cineastas, temos também citações
a filmes do gênero, como por exemplo, o clássico de Ed Wood, Plano 9 do Espaço Sideral (1959),
mencionado logo no começo do filme. Aliás, o começo do filme merece uma
citação. Todo rodado em preto e branco, com ambientação nos anos 50, ficou
perfeito. Parece mesmo que estamos assistindo a um filme B de ficção cientifica
daquela época. Muito bom.
A Noite dos
Arrepios é um filme de zumbi, com tudo que tem direito. Só que existe algo
a mais. É um filme de zumbi com pitadas de ficção cientifica, uma vez que a
ameaça é desencadeada por um experimento alienígena que cai na Terra. O prologo
ambientado dentro da nave extraterreste também é muito legal. Tem até legenda
para os diálogos dos ETs. E o melhor é que parece não ter relação nenhuma com o
título do longa; por exemplo: “O que uma nave extraterrestre tem a ver com
arrepios?”, ou então, “É um filme de invasão alienígena? Então por que tem esse
título?”. Com certeza, qualquer pessoa que vá assistir ao filme pela primeira
vez vai fazer essa pergunta.
Além de ser um dos melhores filmes de zumbis dos anos
80, é também um dos maiores representantes do Terrir, que tomou conta do gênero
na época. O filme é propositalmente uma comedia de humor negro. Tem tudo que
faz parte: situações absurdas, diálogos estúpidos e personagens idiotas. A
dupla de protagonistas, Chris e JC, é um exemplo. Os dois são completos losers,
que vivem tentando azarar as garotas, mas não conseguem, principalmente Chris.
Quando se apaixona pela mocinha, ele é tão medroso, que JC precisa ir falar com
ela. Situação corriqueira e familiar. Outros personagens como os membros da fraternidade,
o faxineiro, o cientista, os policiais incompetentes, as garotas da
fraternidade e uma garota CDF completam o elenco de personagens imbecis e
caricatos. Um prato cheio.
No entanto, nenhum deles é melhor do que o detetive
Cameron. Interpretado pelo sempre canastrão Tom Atkins, outra figura carimbada
do cinema de terror, o policial é o dono do filme. Ele tem as melhores tiradas,
os melhores diálogos, as melhores cenas e a melhor fala do longa. Impossível
esquecer: “Eu tenho boas e más notícias,
garotas! A boa notícia é que seus
namorados chegaram. A má notícia é que eles estão mortos”. É genial! É a
frase que resume o filme inteiro. E como todo personagem de comédia, ele também
seu próprio bordão: o também clássico “Thrill
me!”, “Manda ver!”. Não sei quantas vezes ele diz a frase, mas não fica
chato; pelo contrário, a gente até espera por ela! Hilário. Fora a
caracterização do personagem. Sempre de sobretudo, com a gravata desfeita, e
arma na mão; além disso, é um fracassado de marca maior, traumatizado por um
trauma do passado. E a fama do personagem é tanta que a NECA lançou uma
action-figure do personagem com uma espingarda e uma lata de cerveja. Item de
colecionador.
Essa também é outra sacada do filme. Tem umas três
histórias diferentes dentro do roteiro. A primeira é sobre alienígenas; a
segunda é sobre zumbis; e a terceira é sobre um maníaco foragido. E o melhor é
que todas se encaixam. Sem dúvida, o roteiro é muito bem amarrado e não deixa
nada de fora, até os detalhes que aparecem no começo são retomados depois.
Novamente, é o tipo de coisa que faz falta hoje em dia.
E claro, não dá pra não mencionar os zumbis. Como
todo filme de terror dos anos 80, foram utilizados efeitos práticos para dar
vida aos mortos-vivos; e tais efeitos são espetaculares. Tem de tudo:
maquiagem, animatrônicos e marionetes. Os zumbis são excelentes, com o clássico
andar arrastado e expressão neutra. No entanto, o melhor de todos é um cujo
rosto foi rasgado e apenas a caveira ficou a mostra. Muito bom. Existe até um
gato zumbi!
Para finalizar, A
Noite dos Arrepios possui um enorme apelo cult nos Estados Unidos. É um dos
filmes de zumbi mais lembrados pelos fãs do gênero por lá. Aqui no Brasil,
permanecia inédito por anos – não sei se chegou a passar na televisão – até que
foi lançado em DVD pela Versátil Home Vídeo, na coleção Zumbis no Cinema, em versão restaurada, na Versão do Diretor, com o
final original.
Enfim, A Noite dos Arrepios é um filme super legal. Um festival de bobagens e sustos, combinados de maneira perfeita, do jeito que somente cineastas criativos sabiam fazer. Um filme com apelo saudosista absoluto, e que fica melhor a cada revisão. O tipo de filme que podemos assistir embarcando na piada, e continuamos rindo até o final. Um roteiro bem amarrado e uma direção experiente, aliados a atuações canastronas e efeitos especiais de primeira, foram uma combinação perfeita. Um exemplo de filme que faz falta atualmente. Genial. Engraçado. Assustador. Exagerado. Excelente. Altamente recomendado.
Créditos: Versátil Home Vídeo |
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