terça-feira, 10 de novembro de 2020

A NOITE DOS ARREPIOS (1986). Dir.: Fred Dekker.

 

NOTA: 9.5



Não é novidade nenhuma que os anos 80 foram a década mais prolifera do terror, com inúmeras produções baratas, muitas de gosto duvidoso, mas muito divertidas. A NOITE DOS ARREPIOS (1986), do diretor Fred Dekker, é uma delas.

 

Devo confessar que sempre tive uma impressão errada a respeito desse filme; achava que se tratava de uma comedia adolescente de humor negro, com zumbis no meio; e muito disso se deve a um dos pôsteres, que mostrava um zumbi vestido de smoking em frente a uma janela, segurando um buque de flores.

 

Bem, eis que tive a oportunidade de assistir ao filme. Eu não podia estar mais errado! A Noite dos Arrepios é um filme super legal, do tipo que faz falta hoje em dia. É um filme B? Sim! A história é absurda? Com certeza! Tem atores canastrões e atuações exageradas? Pode apostar! Mas tudo isso faz parte do charme do longa. É sério, desde a primeira vez que vi esse filme, eu adorei. É tanta besteira e canastrice jogadas na tela, mas são besteiras e canastrices divertidas, daquelas que arrancam sorrisos e risos propositais.

 

Sem contar que o roteiro é uma bela homenagem ao cinema Classe B dos anos 50, e também ao próprio gênero terror. São tantas referencias apresentadas que não soam forçadas, e são fáceis de aceitar; e cada uma é melhor que a anterior. Nomes de cineastas do gênero como David Cronenberg, John Landis, Tobe Hooper, Sam Raimi e John Carpenter são citados no longa, no caso, os personagens foram batizados assim; além, é claro, do nome da universidade: Corman University! Não é genial? Não seria demais se essa universidade existisse de verdade? E temos também uma ponta do saudoso Dick Miller no papel do faz-tudo Walter Paisley.

 

Além das citações a cineastas, temos também citações a filmes do gênero, como por exemplo, o clássico de Ed Wood, Plano 9 do Espaço Sideral (1959), mencionado logo no começo do filme. Aliás, o começo do filme merece uma citação. Todo rodado em preto e branco, com ambientação nos anos 50, ficou perfeito. Parece mesmo que estamos assistindo a um filme B de ficção cientifica daquela época. Muito bom.

 

A Noite dos Arrepios é um filme de zumbi, com tudo que tem direito. Só que existe algo a mais. É um filme de zumbi com pitadas de ficção cientifica, uma vez que a ameaça é desencadeada por um experimento alienígena que cai na Terra. O prologo ambientado dentro da nave extraterreste também é muito legal. Tem até legenda para os diálogos dos ETs. E o melhor é que parece não ter relação nenhuma com o título do longa; por exemplo: “O que uma nave extraterrestre tem a ver com arrepios?”, ou então, “É um filme de invasão alienígena? Então por que tem esse título?”. Com certeza, qualquer pessoa que vá assistir ao filme pela primeira vez vai fazer essa pergunta.

 

Além de ser um dos melhores filmes de zumbis dos anos 80, é também um dos maiores representantes do Terrir, que tomou conta do gênero na época. O filme é propositalmente uma comedia de humor negro. Tem tudo que faz parte: situações absurdas, diálogos estúpidos e personagens idiotas. A dupla de protagonistas, Chris e JC, é um exemplo. Os dois são completos losers, que vivem tentando azarar as garotas, mas não conseguem, principalmente Chris. Quando se apaixona pela mocinha, ele é tão medroso, que JC precisa ir falar com ela. Situação corriqueira e familiar. Outros personagens como os membros da fraternidade, o faxineiro, o cientista, os policiais incompetentes, as garotas da fraternidade e uma garota CDF completam o elenco de personagens imbecis e caricatos. Um prato cheio.

 

No entanto, nenhum deles é melhor do que o detetive Cameron. Interpretado pelo sempre canastrão Tom Atkins, outra figura carimbada do cinema de terror, o policial é o dono do filme. Ele tem as melhores tiradas, os melhores diálogos, as melhores cenas e a melhor fala do longa. Impossível esquecer: “Eu tenho boas e más notícias, garotas! A boa notícia é que seus namorados chegaram. A má notícia é que eles estão mortos”. É genial! É a frase que resume o filme inteiro. E como todo personagem de comédia, ele também seu próprio bordão: o também clássico “Thrill me!”, “Manda ver!”. Não sei quantas vezes ele diz a frase, mas não fica chato; pelo contrário, a gente até espera por ela! Hilário. Fora a caracterização do personagem. Sempre de sobretudo, com a gravata desfeita, e arma na mão; além disso, é um fracassado de marca maior, traumatizado por um trauma do passado. E a fama do personagem é tanta que a NECA lançou uma action-figure do personagem com uma espingarda e uma lata de cerveja. Item de colecionador.

 

Essa também é outra sacada do filme. Tem umas três histórias diferentes dentro do roteiro. A primeira é sobre alienígenas; a segunda é sobre zumbis; e a terceira é sobre um maníaco foragido. E o melhor é que todas se encaixam. Sem dúvida, o roteiro é muito bem amarrado e não deixa nada de fora, até os detalhes que aparecem no começo são retomados depois. Novamente, é o tipo de coisa que faz falta hoje em dia.

 

E claro, não dá pra não mencionar os zumbis. Como todo filme de terror dos anos 80, foram utilizados efeitos práticos para dar vida aos mortos-vivos; e tais efeitos são espetaculares. Tem de tudo: maquiagem, animatrônicos e marionetes. Os zumbis são excelentes, com o clássico andar arrastado e expressão neutra. No entanto, o melhor de todos é um cujo rosto foi rasgado e apenas a caveira ficou a mostra. Muito bom. Existe até um gato zumbi!

 

Para finalizar, A Noite dos Arrepios possui um enorme apelo cult nos Estados Unidos. É um dos filmes de zumbi mais lembrados pelos fãs do gênero por lá. Aqui no Brasil, permanecia inédito por anos – não sei se chegou a passar na televisão – até que foi lançado em DVD pela Versátil Home Vídeo, na coleção Zumbis no Cinema, em versão restaurada, na Versão do Diretor, com o final original.


Enfim, A Noite dos Arrepios é um filme super legal. Um festival de bobagens e sustos, combinados de maneira perfeita, do jeito que somente cineastas criativos sabiam fazer. Um filme com apelo saudosista absoluto, e que fica melhor a cada revisão. O tipo de filme que podemos assistir embarcando na piada, e continuamos rindo até o final. Um roteiro bem amarrado e uma direção experiente, aliados a atuações canastronas e efeitos especiais de primeira, foram uma combinação perfeita. Um exemplo de filme que faz falta atualmente. Genial. Engraçado. Assustador. Exagerado. Excelente. Altamente recomendado. 


Créditos: Versátil Home Vídeo



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