segunda-feira, 2 de novembro de 2020

NOSFERATU (1922). Dir.: F.W. Murnau.

 

NOTA: 10



Desde que sua publicação, no final do século XIX, Drácula, do autor Bram Stoker, tornou-se um sucesso. Na virada do século XX, a obra passou a ser adaptada para o cinema, por vários cineastas, ao longo dos anos. Foram mais de 200 adaptações, entre elas, clássicos absolutos, produções medianas, produções trash e grandes bombas. A primeira adaptação surgiu em 1920, em um filme húngaro chamado A Morte de Drácula. Infelizmente, não sabemos quase nada a respeito desse filme, porque ele foi perdido. Então, eis que, em 1922, surgiu aquela que é considerada a primeira adaptação oficial do livro de Bram Stoker: NOSFERATU, dirigido por F.W. Murnau. 

 

Nosferatu é um Clássico do Cinema, não apenas do cinema de horror. É um dos filmes mais assustadores de todos os tempos, e até hoje, mantém o seu poder de causar calafrios no espectador. Lançado no auge do Expressionismo Alemão, o filme é um dos maiores representantes do movimento; o maior ainda é O Gabinete do Dr. Caligari, lançado dois anos antes. O Expressionismo Alemão foi um estilo de cinema que surgiu nos anos 20, cuja maior caraterística eram as imagens distorcidas, geralmente de personagens e cenários, graças ao uso de recursos cinematográficos e maquiagem. Além do filme de Murnau e de Caligari, o movimento teve outros grandes exemplares, como Metrópolis (1927), de Fritz Lang, considerado um marco no cinema de ficção cientifica.

 

Mas não é apenas seu papel no movimento que faz de Nosferatu uma obra atemporal. Ele também foi o responsável pela introdução do cinema de terror gótico, apresentando algumas das características que se tornariam marcas no gênero, como por exemplo, portas que se abrem sozinhas, o castelo no alto da colina, a própria ambientação, com teias de aranha, e cortinas esvoaçantes. Tudo o que conhecemos do terror, pode-se dizer que surgiu com o filme de Murnau, apesar de eu não ter 100% de certeza a respeito disso.

 

Bom, o fato é que o filme é, sim, muito assustador. Desde o momento em que o Conde Orlok, interpreto por Max Schreck, surge, já sentimos um calafrio na espinha, principalmente por causa de sua aparência – mais sobre isso adiante. E o terror não para. Vale lembrar que o filme foi lançado numa época em que o cinema de terror era mais artístico, com toques belos, que conseguiam assustar, muito diferente do que vemos atualmente. Nosferatu é um exemplo. Não há dúvida que o filme é belíssimo. A fotografia é um dos principais fatores, e deu ao filme um ar de mistério e fantasia, que passou a ser copiado por diversos cineastas nas décadas seguintes.

 

A direção de Murnau é excelente. O diretor conseguiu criar cenas belíssimas com os recursos que tinha à disposição, e, praticamente com uma única câmera, devido a questões de orçamento. Graças a isso, o filme é repleto de cenas memoráveis, desde o começo, quando Hutter e sua esposa se abraçam apaixonadamente, passando pelas cenas no castelo, a cena na praia, e a famosa cena das sombras de Orlok nas escadas.

 

E o medo está presente, principalmente após a chegada do vampiro a Wisborg. Não sabemos o que ele vai fazer, mas ficamos apreensivos, e não conseguimos tirar os olhos da tela. Tudo isso acompanhado às cenas da esposa de Hutter angustiada, esperando que o marido volte para casa. E a coisa fica ainda pior, uma vez que a chegada do vampiro é acompanhada pela chegada da Peste, o que obriga dos cidadãos a ficarem trancados em casa. Ou seja, não há escapatória. O vampiro é imbatível e está disposto a dizimar a população da cidade. Uma coisa realmente assustadora.

 

Além da fotografia, o filme também foi inovador pelo fato de ser o primeiro filme rodado em locação. O filme teve locações na Alemanha, principalmente na cidade de Wismar, além de locações em Lauenburg, Rostock e em Sylt. Outras locações foram nos próprios Montes Cárpatos, principalmente no Castelo de Orava, e também em Tatras Altos, na fronteira entre a Eslováquia e a Polônia. De todas essas locações, a mais impressionante é o Castelo de Orava, que serviu de cenário para o castelo do conde. Realmente, o lugar dá a impressão de ser um castelo assombrado, com suas janelas enormes e portas que se abrem sozinhas. Espetacular. 

 

Porém, o melhor fica para o Conde Orlok. Sua caracterização é absolutamente aterrorizante: o vampiro é alto, magro, veste-se todo de preto, careca, com orelhas e unhas pontudas e dentes frontais afiados. É uma figura digna de pesadelos. Segundo informações, Orlok é o mais próximo da ideia original que Bram Stoker tinha de Drácula; ao contrário do conde charmoso e aristocrático, ele seria repulsivo e nada atraente. Como ainda não li o livro, não posso dizer se tal afirmação está correta, mas concordo com ela.

 

Provavelmente, Nosferatu é conhecido também por sua história de bastidores problemática. O que aconteceu foi que os realizadores, e principalmente o estúdio, a Prana-Films, não consultaram a família de Stoker para comprar os direitos de adaptação, talvez porque não sabiam, ou então, não se preocuparam. O fato é que a viúva do autor ficou furiosa com todos os envolvidos, e mesmo com as alterações nos nomes dos personagens, ela ordenou que as copias do filme fossem destruídas. Felizmente, antes disso, algumas copias conseguiram ser levadas para fora da Alemanha, o que possibilitou a exibição do filme fora do país. Ainda bem, porque senão, o filme entraria para a lista de filmes perdidos, o que seria uma lástima, porque, queira ou não, o filme é um registro histórico. Hoje em dia, é considerado um dos filmes mais importantes da Alemanha, e um marco do Expressionismo Alemão, e o filme mais famoso de Murnau.

 

Outra história de bastidores, aliás, uma lenda de bastidores, é a de o ator Max Schreck era, de fato, um vampiro. Não sei de onde tal boato surgiu, mas talvez tenha relação com seu sobrenome, que em alemão significa “Medo” ou “Terror”. Seja como for, o fato é que esse boato ficou conhecido por muito tempo. Outra história de bastidores que surgiu é a de o produtor, Albin Grau, estava envolvido com ocultismo, e, inclusive, existe a historia de que símbolos ocultistas estejam presentes na carta que Knock recebe do Conde; e outra história de bastidores, envolve o provável envolvimento da produtora Prana-Films com o Nazismo, e inclusive, o próprio filme foi considerado como parte da propaganda antissemita. Se todos são verdade, talvez nunca saibamos.

 

Mesmo quase 100 anos desde seu lançamento, o filme se mantem muito forte, tendo influenciado uma série de outros filmes do gênero, e também diversos cineastas, como por exemplo, o diretor Tim Burton, fã declarado do Expressionismo Alemão, que homenageou o movimento, e o filme em Batman, o Retorno, com o vilão Max Schreck, interpretado por Christopher Walken.

 

Em 1979, ganhou um excelente remake dirigido por Werner Herzog, e estrelado por Klaus Kinski, Isabelle Adjani e Bruno Ganz.

 

Teve seus bastidores retratados no excelente A Sombra do Vampiro (2000), dirigido por E. Elias Merhige, e estrelado por John Malkovich, no papel de Murnau, Willem Dafoe, no papel de Schreck, e Udo Kier, como o produtor Albin Grau. Apesar de focar nos bastidores da produção, o filme é uma obra de ficção, principalmente porque faz uso da lenda de que Schreck era um vampiro de verdade. Mesmo assim, é altamente recomendado.

 

Foi lançado em DVD por aqui pela Versátil Home Vídeo, primeiro na coleção Vampiros no Cinema, e depois na caixa Nosferatu – Edição Definitiva Limitada, juntamente com o excelente remake de 1979.


Enfim, Nosferatu é um Clássico do Cinema. Um filme verdadeiramente assustador, que ainda mantém seu impacto, quase 100 anos após seu lançamento. Uma história arrepiante, repleta de características que se tornariam parte do cinema de terror gótico, e que consegue assustar e provocar calafrios sem o menor esforço. A direção de F.W. Munrau torna o filme ainda mais belo e impressionante, com luzes e sombras distorcidas. A atuação de Max Schreck é o grande ponto do filme, e o ator dá vida a um personagem arrepiante, diabólico e repulsivo. A primeira adaptação registrada do clássico de Bram Stoker. Um marco do Expressionismo Alemão, e um dos Filmes Mais Assustadores da História. Obrigatório para fãs de cinema. Altamente recomendado. 



Créditos: Versátil Home Vídeo 


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