NOTA: 8
Não há duvidas que o universo de Hellraiser, criado
pelo escritor Clive Barker, é um dos mais ricos do terror. Em Hellraiser, o autor deu uma pequena
amostra de como esse universo funciona, apresentando aquele que seria o
personagem principal desse universo: o Cenobita Pinhead. Além disso, Barker mostrou
que não estava para brincadeira, e criou uma historia banhada em sangue e sexo.
EVANGELHO DE
SANGUE é mais uma historia do autor ambientada nesse universo, e também serve
como uma espécie de prequel dos
eventos narrados em Hellraiser. Aqui,
o autor apresenta os dois principais elementos do universo de Hellraiser: a
caixa de Lemarchand e o próprio Pinhead, descrevendo ambos nos mínimos detalhes,
ao contrario do que fizera no livro anterior. Mas não é só isso.
Em Evangelho de
Sangue, Barker mostra mais uma vez que é um escritor afiado, com uma
escrita que penetra na mente do leitor com uma força impressionante. As descrições
que ele faz dos cenários é muito bem feita, e não fica difícil para o leitor
imaginá-los em sua mente; o mesmo vale para as cenas ambientadas no Inferno,
quando Harry e seus amigos vão resgatar Norma. Não sei como foi para os outros
leitores, mas eu consegui visualizar aquele Inferno como um lugar de fantasia,
com um tom branco ou cinza, ou invés do tradicional vermelho. Barker o descreve
quase como uma espécie de jardim morto, com tudo que tem direito. O mesmo vale
para os demônios. Eles são descritos como criaturas humanoides, mas sem os
chifres e asas de morcego. Sem duvida, uma visão diferente e original.
E da mesma forma que fizera no livro anterior, Barker
começa a historia com os dois pés no peito, apresentando cenas grotescas de violência
e sexo já no prologo. E o restante da historia vai pelo mesmo caminho. Durante toda
a leitura, o leitor não é poupado de cenas dignas de pesadelos, com toques
grotescos de violência, e principalmente, sexo. Isso mesmo. Barker mistura
sangue e sexo em todos os momentos, de uma forma assustadoramente natural, e
cada vez que isso acontece, é chocante, e o autor não mostra pudor nenhum,
principalmente quando descreve o que as criaturas estão fazendo com seus “membros”
– para usar um termo “leve”. É praticamente um terror pornográfico.
E falando em terror, novamente, esqueça os torture porn da vida: as cenas de horror
descritas por Barker são dignas de pesadelo, com o sangue escorrendo aos
montes; claro, não chegam aos pés do livro anterior, mas conseguem ser quase
tão grotescas quanto – não há outra palavra para descrever. Com certeza, não é
tipo de leitura recomendada para leitores de coração fraco.
Os personagens humanos são muito bons e quase parecem
pessoas reais, com a diferença que todos têm ligação com o sobrenatural,
principalmente o protagonista, o detetive Harry D’Amour. Desde que ele surgiu
na historia, eu o visualizei como um detetive particular de filme noir, com o casaco e o chapéu. Aliás, as
cenas de investigação do personagem quase parecem com cenas de um filme noir, daqueles clássicos, estrelados por
Humphery Bogart. Os outros personagens também são bem descritos, cada um com
sua característica própria.
No entanto, apesar de contar uma historia muito boa, Barker
cometeu alguns erros. O primeiro deles acontece no prologo, quando ele
apresenta um demônio-fêmea que nasceu em uma cena grotesca. Eu achei que aquela
personagem seria relevante para a historia, mas ela simplesmente desaparece. Eu
pelo menos não consegui reencontrá-la. Outro ponto negativo acontece no Inferno,
quando Pinhead comete um ato de violência contra Norma, ato esse que não faz
parte de seu repertorio. E eu também achei a historia de Lúcifer incompleta.
Aliás, esse é outro ponto. Barker criou um universo
tão original para os Cenobitas, com um deus próprio, o Leviatã e também o
Engenheiro, e aqui, ele apresenta justamente Lúcifer como líder do Inferno. Apesar
de descrever uma batalha épica entre ele e Pinhead, eu achei que o autor
poderia ter utilizado outra criatura para comandar o Inferno, até porque, como
eu disse, a descrição do Inferno não combina com a imagem clássica que temos
dele.
No entanto, devo dizer que o autor criou, sem duvida,
uma batalha épica. Ele mostra que Pinhead está disposto a tudo para tomar o
poder e não tem medo de derrubar Lúcifer, mesmo que para isso, tenha que
derrubar o próprio Inferno. Toda essa sequencia da luta entre eles é
espetacular, com direito a armadura e sangue, muito sangue. E quando Lúcifer ressurge,
a atmosfera épica continua. E no final, temos quase um Pinhead arrependido do
que fez. Muito bom.
E aqui também temos a Caixa de Lemarchand, que abre o
portal para o Inferno dos Cenobitas. Como mencionado acima, quando Barker a
introduz, faz questão de descrevê-la nos mínimos detalhes, descrevendo até a
musiquinha que ela produz ao ser aberta. Por um momento, eu até havia me
esquecido dela, mas quando ela retorna, é uma surpresa. E ainda falando do
universo de Hellraiser, aqui temos também as clássicas correntes com ganchos; e
elas fazem um estrago. Sério.
Bem, seja como for, o fato é que Evangelho de Sangue é um livro muito bom; não chega aos pés de Hellraiser, mas, se me perguntassem se
merecia uma adaptação para o cinema, eu diria que sim, dependendo de quem
assumisse as rédeas.
Enfim, Evangelho de Sangue é um livro muito bom. Uma historia épica de terror com toques grotescos de sangue e sexo. A escrita de Clive Barker prende o leitor com suas cenas dignas de pesadelo. Uma viagem literal ao Inferno, onde poucos saem com vida. O reencontro com Pinhead, o principal personagem do universo de Hellraiser. Um livro sangrento e arrepiante. Recomendado.
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