sexta-feira, 28 de junho de 2024

O CHAMADO DE CTHULHU (H.P. Lovecraft).

 

NOTA: 10


O CHAMADO DE CTHULHU é o trabalho mais famoso de H.P. Lovecraft, e um de seus melhores, sem sombra de dúvida.

 

Para quem já conhece o trabalho do autor, Cthulhu deve ser a história que todos se lembram quando pensam em Lovecraft, principalmente porque é um texto excepcional, escrito de uma maneira única, e além disso, é uma trama absolutamente original, que originou aquilo que se tornou conhecido como “ Os Mitos de Cthulhu”.

 

O termo foi criado por um amigo de Lovecraft para designar uma série de histórias compartilhadas, tendo O Chamado como peça principal.

 

Na trama, um homem decide investigar a vida de seu tio após sua morte súbita. Ele então se depara com uma série de documentos que relatam acontecimentos estranhos ao redor do mundo, envolvendo um culto à uma criatura conhecida como Cthulhu. Ele então decide investigar por conta própria o que é esse culto, e acaba descobrindo coisas muito mais sinistras.

 

Parece ser uma trama simples, não é?

 

Mas, em se tratando de Lovecraft, há sempre algo a mais, porque o autor é conhecido por sempre dar um toque quase filosófico em suas obras, além de escrevê-las sempre com as suas características, ou seja, em primeira pessoa, sem muitos diálogos, e, o mais importante, nunca descrevendo a ameaça. Nos textos de Lovecraft, a ameaça é sempre indefinida, inominável.

 

Mas, em Cthulhu, o autor muda essa regra, e resolve descrever o seu monstro, e o faz de duas maneiras bem distintas. Na primeira, ele faz uma descrição rápida, apresentando detalhes da criatura; já na segunda, a descrição é bem mais profunda, com as formas sendo detalhadas para o leitor, e assim, facilitando a visualização.

 

Essa é uma das grandes características da narrativa lovecraftiana. O autor descreve seus monstros de maneira única, com detalhes pequenos, deixando tudo para o leitor imaginar como é aquela criatura. Lovecraft faz uso de muitos adjetivos para descrever suas criaturas, e não se enganem, isso não é um defeito.

 

No entanto, para quem não conhece as obras do autor, deve ser muito estranho ler qualquer texto dele, principalmente por causa de suas características e seu estilo, portanto, eu aconselho aqueles que estão curiosos para ler Lovecraft, começar por algumas histórias mais curtas e simples.

 

Mas, voltando a Cthulhu, este é um texto excelente, que faz o leitor mergulhar em sua trama de mistério, que parece se misturar com outros gêneros, como por exemplo, o de investigação policial, passando por história de antropologia, e por fim, chegando ao horror cósmico, gênero muito presente nas narrativas de Lovecraft.

 

O autor combina todos esses temas com maestria, e faz isso na medida certa, começando por uma trama de assassinato misterioso, até chegar ao ponto principal, que é a trama de horror cósmico, desencadeado pelo surgimento do Grande Cthulhu, que traz o caos e a loucura.

 


A trama de Cthulhu tem muito a ver também com a presença dos Antigos, entidades cósmicas, que, segundo o próprio autor, existem desde o início dos tempos e foram os responsáveis pela criação da vida, mas que agora, querem o seu lugar de direito no universo, e não se importam conosco. Lovecraft viria a explorar mais sobre os Antigos em seus textos posteriores, principalmente em Nas Montanhas da Loucura.

 


Além de explorar a questão dos Antigos, Lovecraft também explora aqui a questão do caos e da loucura, que seriam as consequências da vinda dos próprios Antigos à Terra.

 

Ao longo da narrativa, vamos acompanhando o narrador – algo bem comum nas narrativas de Lovecraft – em sua jornada para descobrir o que de fato aconteceu com seu tio nas ruas de Providence. À primeira vista, parece ter sido uma morte acidental, mas, conforme vamos lendo, acabamos descobrindo que o professor estava investigando detalhes a respeito de um culto à Cthulhu, que age principalmente no estado da Louisiana.

 

O narrador também que um inspetor da polícia estava investigando fenômenos estranhos, como pessoas tendo ataques de loucura em outros lugares do mundo, e tudo pode estar relacionado à uma estátua de argila que ele confiscou de um culto que testemunhou.

 

Além de uma trama de culto, e de horror cósmico, também temos uma trama de monstro marinho, visto que Cthulhu é uma entidade que vive em uma cidade misteriosa que foi varrida da Terra pelas ondas do mar e agora se encontra nas profundezas. Lovecraft nos conta que a cidade foi varrida para as profundezas, e que Cthulhu aguarda seu momento de despertar, e quando isso acontece, é o grande momento do conto, porque finalmente, podemos quem é o Grande Cthulhu, e quais são suas habilidades.

 

Eu também enxerguei um toque de trama de conspiração, porque o narrador fica intrigado e começa a suspeitar que seu tio foi na verdade, assassinado, porque sabia demais sobre o culto, e no fim, ele próprio acaba temendo por sua vida, pois acredita que os servos de Cthulhu virão busca-lo.

 

Eu já li esse conto algumas vezes, e sempre me impressionei, e, na última leitura, não foi diferente. É um conto muito bem escrito, sem dúvida.

 

Enfim, O Chamado de Cthulhu é um conto excelente. Uma narrativa intrigante, que chama a atenção do leitor aos poucos, e o convida a mergulhar em sua trama de conspiração, aliada ao terror cósmico característico de H.P. Lovecraft. Uma trama onde o mistério vai sendo apresentado lentamente, até chegar ao grande ápice. Lovecraft faz o leitor acompanhar o narrador ao longo de sua investigação, e o faz de forma brilhante, com os elementos aparecendo devagar, até não haver mais caminho de volta. Um conto excepcional, muito bem escrito, que mostra toda a capacidade de autor de H.P. Lovecraft. Altamente recomendado.


H.P. LOVECRAFT.


sábado, 22 de junho de 2024

INVERNO DE SANGUE EM VENEZA (1973). Dir.: Nicolas Roeg.

 

EM MEMÓRIA DE DONALD SUTHERLAND.


NOTA: 9


INVERNO DE SANGUE EM VENEZA é um dos maiores filmes de terror de todos os tempos.

 

Lançado em 1973, com direção de Nicolas Roeg, baseado em um conto de Daphne du Marier, é considerado o maior filme britânico de todos os tempos, além de ser um dos filmes mais assustadores da história.

 

Motivos para isso não faltam, visto que o longa é mergulhado em uma atmosfera de suspense e terror que enche o espectador de tensão, auxiliado às maravilhosas locações em Veneza, na Itália.

 

Temos a direção segura e inspirada de Roeg, que contribui para deixar o filme ainda melhor e mais assustador a cada conferida.

 

Mas, antes de falar mais, deixo um aviso. À princípio, para quem vai conferir o longa pela primeira vez, o roteiro pode parecer um tanto confuso, visto que deixa algumas questões abertas à interpretação, mas, conforme assistimos mais vezes, as coisas começam a fazer sentido. Foi assim que aconteceu comigo.

 

Na trama, o casal John e Laura Baxter perde a filha de maneira trágica, e, traumatizados, eles viajam para Veneza, onde John trabalha como restaurador de uma igreja. Durante um almoço num restaurante, Laura conhece duas irmãs, e, uma delas, que é cega e médium, avisa que John corre perigo na cidade, que é aterrorizada por um maníaco.

 

Parece ser uma trama simples, não é? Até é, mas, como eu disse, existem algumas coisas no filme que podem ser abertas à interpretação, então, numa visão mais ampla, a trama é mais profunda do que isso. Envolve questões como mediunidade, e comunicação com o mundo dos espíritos, além de conter alguns elementos de Giallo.

 

Para os fãs de Giallo, Inverno de Sangue pode ser encarado como uma variação curiosa do gênero, visto que é ambientado na Itália, e a cidade de Veneza é aterrorizada por um maníaco. Existe, de fato, um maníaco na cidade, e há algumas cenas envolvendo a descoberta de corpos, então, é uma parte importante da narrativa.

 

A trama principal, ao meu ver, é sobre a relação entre John e Laura, que tentam se recuperar da morte da filha. A amizade de Laura com as duas irmãs também é fundamental, porque, Heather, a irmã cega, diz a ela que a filha está tentando alertar John sobre o perigo que ele está correndo na cidade, e essa pergunta é respondida apenas no final do filme.

 

Não vou entrar em detalhes para não dar spoilers, mas, digo que, apesar de sabermos o tempo todo que John corre perigo, quando acontece, é muito chocante.

Mas, vamos ao filme. Como eu disse, ele é muito bem feito, graças à direção de Roeg. O cineasta faz belo uso da locação em Veneza, focando os prédios e os canais da cidade com maestria impressionante, de fato, dignas de um filme Giallo. Durante toda a projeção, eu senti como se estivesse assistindo a um exemplar do gênero ambientado na cidade, como Quem a Viu Morrer? (1971), do diretor Aldo Lado, por exemplo.

 

As tomadas de Veneza são maravilhosas, principalmente naquela época do ano, o inverno. É um daqueles filmes que dá vontade de assistir em um dia de inverno chuvoso, visto a qualidade das tomadas com a câmera de Roeg, e a aparência do filme como um todo.

 

O elenco também é um grande destaque, principalmente os astros Donald Sutherland e Julie Christie, no papel do casal Baxter. Os dois atores se mostram muito eficazes em suas performances, e se mostram grandes veteranos do ofício, visto que nenhum deles atua de maneira exagerada. Sutherland e Christie passam de maneira ímpar a sensação de um casal que perdeu um filho, por exemplo, oscilando entre a tristeza e o amor.

 

As cenas de suspense e terror também merecem ser mencionadas. O diretor Roeg faz uso de várias tomadas noturnas, além de utilizar o som de passos noturnos em alguns momentos, o que aumenta a tensão e o medo no espectador. O filme não tem muitas cenas de mortes, mas, mesmo assim, as cenas assustadoras metem medo de fato, principalmente a sequência em que o casal se perde os becos e pontes noturnos da cidade.

 

A revelação do assassino também é um ponto positivo para o filme. Ela é aquele tipo de revelação que acontece aos poucos, assim como toda a trama, mas é bem preparada, principalmente no começo do filme, com a filha dos Baxter usando um casaco vermelho vibrante, que chama a atenção de John. Esse é um grande visual de assassino, e a cor do casaco é forte o suficiente para servir de chamariz da morte.

 

Foi lançado em DVD no Brasil pela Versátil Home Vídeo, em versão restaurada, com muitos extras.

 

Enfim, Inverno de Sangue em Veneza é um filme excelente. Um filme de terror e suspense que prende o espectador desde o começo, e o convida a embarcar em sua trama repleta de mistérios. A direção de Nicolas Roeg é um dos destaques, com sua câmera acompanhando as locações em Veneza de maneira brilhante. Quem merece menção também é o elenco, principalmente Donald Sutherland e Julie Christie, que entregam grandes atuações. Um dos melhores filmes de terror de todos os tempos. Altamente recomendado.


Créditos: Versátil Home Vídeo.


sexta-feira, 21 de junho de 2024

PAGUE PARA ENTRAR, REZE PARA SAIR (1981). Dir.: Tobe Hooper.

 

NOTA: 8.5


PAGUE PARA ENTRAR, REZE PARA SAIR é um interessante exemplar do gênero slasher.

 

Lançado em 1981, e dirigido por Tobe Hooper, é um dos filmes considerados menores do cineasta, mas, não deixa de ser um dos melhores.

 

Além de ser um dos melhores filmes do diretor, é também um exemplar curioso do gênero Slasher, visto que apresenta as características que estavam presentes no gênero naquela época.

 

Este é um dos filmes mais criativos dirigidos por Hooper, graças às técnicas empregadas pelo cineasta, principalmente no que diz respeito à câmera do diretor, que realiza movimentos incríveis.

 

O roteiro apresenta uma trama bem simples, de parque de diversões maldito, onde um assassino se esconde. A protagonista Amy e seus amigos decidem passar a noite nesse mesmo parque, e acabam testemunhando um assassinato, e precisam fugir do assassino.

 

Parece ser uma trama bem simples, não? Na verdade, até é, mas existe uma diferença aqui. Ao invés de um assassino convencional, temos um assassino literalmente monstruoso, com um rosto deformado, que mata suas vítimas com requintes de crueldade.

 

É uma trama simples, não é? Sim, é bem simples. As diferenças são a ambientação – que foge do padrão tradicional dos Slashers – e o próprio assassino. Os personagens são os típicos de um filme Slasher, com seus estereótipos característicos, como o valentão, o figura cômica e a garota virginal.

 

No entanto, há uma diferença aqui. Amy, a protagonista, até se encaixa no perfil da garota virginal – a final girl –, mas, em determinados momentos, ela é vista fumando maconha, e se pegando com o namorado. Mas, apesar dessas diferenças, Amy ainda se encaixa no perfil característico da final girl, também presente no subgênero.

 

Conforme mencionado acima, um dos fatores que diferem este de outros Slashers, é a ambientação, no caso, um parque de diversões itinerante. Eu digo isso, porque, no gênero, era comum os filmes se passarem em fraternidades ou em acampamentos, então, ao meu ver, a mudança de ares, é um dos pontos positivos do filme.

 

O parque é aquele típico parque de diversões que percorre o país, com seus brinquedos característicos, e personagens estranhos. Mas não se engane; o design de produção é muito bem feito, considerando que o filme foi rodado em locações e em estúdios na Flórida. O lugar é muito bem iluminado, e tem as atrações clássicas, como o show de mágica, a roda-gigante, a montanha-russa, e o show de aberrações, além de outras atrações.

 

No entanto, nenhuma das atrações supera o trem-fantasma, que entra na tal Funhouse do título original. O local é repleto de atrações fantasmagóricas e arrepiantes, como um show de bonecos animados, além de aranhas gigantes e esqueletos que saem do chão. Eu nunca estive em um desses, mas, se estivesse, não sei qual seria a minha reação.

 

A câmera de Hooper também é um ponto positivo. O diretor faz uso de planos criativos, colocando-a em lugares específicos para contar sua história. Uma das tomadas mais impressionantes, sem dúvida, é a grua, que acontece quando o parque está prestes a fechar. A câmera começa acompanhando o irmão mais novo da protagonista, e depois, vai subindo, até chegar a um grande plano geral do parque; a própria grua é mais alta que a roda-gigante. Tal sequência meio que se repete no final do filme.

 

Antes de encerrar, deixe-me falar sobre o assassino e as cenas de morte. Como todo exemplar do gênero Slasher, é viável que o filme tenha boas cenas de morte, certo? Mas não é esse o caso aqui. As cenas de morte são bem reduzidas, e quase não temos o gore, que se espera de um filme desse gênero. Já o assassino é outro detalhe. Ao contrário dos assassinos de costume, temos aqui um ser literalmente monstruoso, com rosto deformado e atitudes animalescas.

 

Mas digo que ele é a melhor coisa do filme. O design do monstro foi criado pelo mestre da maquiagem, Rick Baker, o que já é um grande ponto positivo para ele. Mesmo com as limitações, Hooper faz uso de truques criativos para escondê-las, deixando o assassino sempre nas sombras, e poucos closes. É um assassino animalesco, e um dos melhores do gênero.

 

Foi lançado em DVD no Brasil pela Obras-Primas do Cinema, na coleção Sessão de Terror Anos 80 Vol.3.

 

Enfim, Pague para Entrar, Reze para Sair, é um filme muito bom. Uma história assustadora com toques de Slasher. A temática de parque de diversão assombrado, combinado a uma direção criativa, fazem deste um dos melhores filmes do diretor Tobe Hooper. O vilão também é um destaque, graças aos efeitos especiais do mestre Rick Baker. Um dos Filmes Mais Assustadores de Todos os Tempos. Recomendado.


Créditos: Obras-Primas do Cinema.

 

segunda-feira, 10 de junho de 2024

A NOITE DOS MORTOS-VIVOS (1968). Dir.: George A. Romero.

 

NOTA: 10


A NOITE DOS MORTOS-VIVOS é um filme atemporal.

 

Lançado há quase 60 anos, é considerado um dos maiores filmes de terror de todos os tempos, e foi o responsável por apresentar várias características que se tornariam regras para o subgênero de zumbi, além de colocar os mortos-vivos de vez na cultura pop.

 

Aliado a tudo isso, temos as técnicas de direção e produção, que se mostram muito eficientes desde o começo.

 

O diretor George A. Romero fez sua estreia com esse filme, e se mostrou muito competente na arte de comandar e escrever o roteiro de um filme.

 

O roteiro de Romero, escrito em parceria com John Russo, apresenta uma trama simples na verdade, onde um grupo de pessoas se vê preso em uma casa de fazenda abandonada, cercada por vários zumbis. O grupo então precisa se unir para sobreviver a esse ataque.

 

É uma trama simples, não é? Sim, e misturada às técnicas de direção e roteiro, contribui para deixar o filme melhor a cada revisão.

 

Mas não é apenas a técnica que deixa o filme melhor. Outra coisa que contribui para isso é a crítica que o roteiro faz à situação que o país vivia naquele momento, mas, falarei sobre isso mais para frente.

 

Não é novidade que este é um filme de zumbi, mas, não foi o primeiro – o primeiro foi Zumbi Branco (1932), com Bela Lugosi. Apesar de não ser o primeiro, foi o responsável por apresentar o zumbi moderno para a cultura pop, além de ser o filme que definiu o gênero de terror moderno, influenciando gerações de cinéfilos e cineastas ao longo das décadas.

 

Além disso, é um dos filmes mais claustrofóbicos de todos os tempos. A ambientação na casa é a principal fonte de claustrofobia, porque ela está sempre fechada para impedir a entrada dos zumbis. Os personagens ficam enclausurados dentro daquela casa, e com isso, nós, os espectadores também.

 

Uma curiosidade interessante. Apesar de ser um filme de zumbi, a própria palavra “zumbi” não é mencionada em momento nenhum, e nem a origem das criaturas é explicada com clareza. Em determinado momento, o noticiário diz que o responsável pela ressurreição dos mortos foi um satélite que caiu em algum lugar os Estados Unidos. É uma boa explicação.

 

Além de ser um dos filmes mais claustrofóbicos de todos os tempos, este é também um dos filmes mais chocantes e assustadores de todos os tempos, e motivos para isso não faltam. Um exemplo claro disso é a cena em que os zumbis comem os pedaços de dois personagens que morreram; mesmo sendo em preto e branco, é uma cena pesada até hoje.

 

É um dos filmes mais assustadores porque a tensão e o medo estão presentes desde o primeiro momento, e conforme o filme vai passando, parece que as duas sensações vão aumentando, porque não sabemos o que vai acontecer com os personagens, principalmente dentro da casa, visto que eles se enfrentam o tempo todo.

 

Essa é a grande crítica que o roteiro de Romero e Russo faz. Romero pegou como inspiração os conflitos raciais que estavam acontecendo no país na época, combinado ao terror da Guerra do Vietnã, e montou uma grande crítica em torno do racismo, porque o protagonista Ben é um homem negro, que entra em conflito com Cooper, que é um pai de família tradicional, que não aceita opiniões de ninguém, nem mesmo da esposa.

 

Até hoje, cenas de conflitos raciais estão presentes nos Estados Unidos, vide o movimento “Black Lives Matter!”, que surgiu após um episódio revoltante envolvendo um cidadão afro-americano e um policial. Quem disser que este filme é datado, está enganado.

 

Foi lançado no Brasil em DVD e Blu-ray pela Versátil Home Vídeo, em inédita versão restaurada, com muitos extras acompanhando.

 

Enfim, A Noite dos Mortos-Vivos é Um Clássico do Terror. Um filme que revolucionou o gênero e trouxe os zumbis para a cultura popular e influenciou gerações de cineastas e cinéfilos. Um filme importante em muitos aspectos, pois aborda temas que até hoje são relevantes e importantes, e merece ser visto. Uma trama muito simples, mas que consegue ser assustadora até hoje. Uma trama claustrofóbica que não deixa o espectador respirar. Muito bem feito, muito bem dirigido, com roteiro redondo, sem falhas na concepção. Um dos maiores filmes de terror de todos os tempos, que deu um novo sopro ao gênero. Um dos Filmes Mais Assustadores de Todos os Tempos. O maior filme de zumbis de todos os tempos. Assustador. Claustrofóbico. Chocante. Excelente. 


Créditos: Versátil Home Vídeo.

 

terça-feira, 4 de junho de 2024

PRÍNCIPE DAS SOMBRAS (1987). Dir.: John Carpenter.

 

NOTA: 9


PRÍNCIPE DAS SOMBRAS é um dos meus filmes favoritos do diretor John Carpenter, porque é um dos filmes do cineasta que eu mais vejo.

 

Na teoria, o longa é um filme de terror, mas na prática, é um filme que contém muitas coisas ao mesmo tempo e muitos temas misturados.

 

O roteiro, escrito pelo próprio diretor – usando pseudônimo –, mistura física com religião e terror cósmico, além de contar com um elenco de muitos personagens.

 

Mas não se engane. Essa confusão tonal faz parte do charme do longa, que é feito com as técnicas milenares do cineasta, que faz aqui, um dos seus melhores filmes.

 

Na trama, o Padre Loomis recruta um professor de Física e seus alunos para investigar estranhos fenômenos que estão acontecendo na cidade de Los Angeles. Durante as investigações, eles descobrem que tais fenômenos estão relacionados a um estranho recipiente guardado no porão de uma velha igreja.

 

Parece uma trama simples, não é? Mas, conforme mencionei acima, o roteiro de Carpenter lida com vários assuntos diversos. O diretor lida com questões de Física e religião de uma forma que eu nunca tinha visto em um filme; ele quase junta os dois, como se fossem uma coisa só.

 

De acordo com o próprio diretor, a ideia veio por causa do interesse que ele tem nessas questões de Física, nas equações, etc., e com isso, criou um filme que merece ser visto com a mente aberta.

 

Eu acho que isso é importante. Assistir ao filme com a mente aberta, e não com o olhar de um Físico, ou Teólogo, porque Carpenter com questões um tanto quanto problemáticas, principalmente em determinado trecho, quando diz quem foi Jesus Cristo, e de onde Ele veio. Com certeza, não é todo mundo que vai engolir a explicação que o roteiro dá.

 

Conforme também mencionei acima, o roteiro contém um elenco bem grande de personagens, e acredito que Carpenter teve que fazer um malabarismo para conseguir colocá-los juntos na narrativa, visto a quantidade de atores ali presentes. Acredito que esse é um detalhe que pode deixar o espectador confuso, até mesmo porque, alguns deles não são mencionados pelo nome.

 

No entanto, apesar do elenco bem grande, temos um protagonista, o Padre Loomis, interpretado por Donald Pleasence, em sua terceira colaboração com Carpenter, que é o fio condutor da trama toda. Ao seu lado, temos outros personagens importantes, que estão presentes desde o começo. O primeiro é o professor Birack, que se mostra um conhecido do padre; temos também os alunos Brian, Catherine e Walter, um dos personagens mais divertidos do filme. Brian e Catherine são o casal de mocinhos, que acabam fazendo parte do time de físicos que são contratados para investigar o estranho cilindro com líquido verde. Eu confesso que tenho meus problemas com Brian, porque ele não me convence em alguns pontos do filme – não sei se é por causa do ator, ou por causa do próprio personagem. Walter é o aluno convencido, de quem ninguém gosta, que fala besteiras nos momentos errados.

 


Outro detalhe que merece ser mencionado é o cenário. O filme inteiro se passa dentro de uma antiga igreja em Los Angeles, e Carpenter soube aproveitar o cenário ao máximo. Sua câmera foca em diversos locais diferentes da igreja, mesmo tendo seu foco no porão, onde o recipiente misterioso está localizado. Aparentemente pequena do lado de fora, a igreja é bem grande do lado de dentro, com vários lances de escadas, e diversos quartos e uma enfermaria. É um cenário bem dinâmico.

 

Os efeitos especiais também merecem menção especial. Temos aqui efeitos de corpos se despedaçando, truques de maquiagem e insetos. A maquiagem do filme é muito boa, além de contar com alguns efeitos de body horror, principalmente quando o receptor do líquido verde é revelado. O corpo e o rosto do personagem em questão fica coberto de feridas e pústulas, dando um aspecto até que nojento, diga-se de passagem.



O efeito do líquido verde também é digno de nota. Ao longo do filme, ele aparenta estar rodando dentro do cilindro, e o efeito não se perde nem mesmo quando o recipiente é filmado em planos abertos. Temos também efeitos de gotas e rachadas do líquido caindo de baixo para cima, com truques muito bem feitos.

 

Além da maquiagem e efeitos do líquido, temos também a presença de insetos e minhocas, e são muitos deles, principalmente na cena em que um personagem se desfaz diante dos protagonistas, coberto por milhares de besouros. Temos também minhocas presas na janela e formigas se acumulando no formigueiro. Faço ideia de como esses efeitos foram criados, de tão bem feitos que são.

 

Vale aqui também uma menção ao estranho líquido verde. No primeiro momento, não sabemos exatamente qual sua origem, ou seu significado, mas fica claro que ele é capaz de se infectar diversas pessoas, sendo passado de uma para outra por meio de jatos. Ele permanece um mistério, até que o professor revela ao padre que todas as partículas do mundo possuem um reflexo, então, o padre chega à conclusão que o líquido seja um fluído do próprio Satã, mesmo que isso não fique explícito no roteiro.

 

E por fim, além das questões religiosas e físicas, temos também um pouco de viagem no tempo, visto que os personagens têm um sonho específico, com a entrada da igreja e com uma figura negra misteriosa; a voz presente no sonho informa ao espectador que a mensagem está sendo passada do ano de 1999, ou seja, do futuro. Talvez, tal sonho signifique que o mundo está acabando, e que o Apocalipse chegará no ano de 1999, conforme se acreditava.

 

E antes de encerrar, temos uma participação especial de Alice Cooper, no papel de um líder de um grupo de moradores de rua que são infectados pelo líquido de forma indireta. Mesmo com a pouca presença, o cantor rouba a cena quando aparece, e seu personagem é muito assustador.

 

Foi lançado em Blu-ray no Brasil pela Obras-Primas do Cinema, em versão remasterizada em 4k, aprovada pelo diretor de fotografia, com muitos extras.

 

Enfim, Príncipe das Sombras é um filme excelente. Um filme bizarro, que mistura diversos assuntos ao mesmo tempo, além de contar com muitos personagens em seu elenco. Uma trama sobrenatural de mistério e terror cósmico, contada com a maestria característica do diretor John Carpenter. O diretor lida com questões religiosas e de Física de maneira brilhante, e cria uma trama bem elaborada. Um dos melhores filmes do diretor. Altamente recomendado.


Créditos: Obras-Primas do Cinema.


LISA E O DIABO (1973). Dir.: Mario Bava.

  NOTA: 10 LISA E O DIABO é um filme belíssimo.   Uma história de horror, fantasia e mistério contada com a maestria do Maestro Mario Ba...