NOTA: 10
O CHAMADO DE
CTHULHU é o trabalho mais famoso de H.P. Lovecraft, e um de seus melhores,
sem sombra de dúvida.
Para quem já conhece o trabalho do autor, Cthulhu deve ser a história que todos
se lembram quando pensam em Lovecraft, principalmente porque é um texto
excepcional, escrito de uma maneira única, e além disso, é uma trama
absolutamente original, que originou aquilo que se tornou conhecido como “ Os Mitos
de Cthulhu”.
O termo foi criado por um amigo de Lovecraft para
designar uma série de histórias compartilhadas, tendo O Chamado como peça principal.
Na trama, um homem decide investigar a vida de seu
tio após sua morte súbita. Ele então se depara com uma série de documentos que
relatam acontecimentos estranhos ao redor do mundo, envolvendo um culto à uma
criatura conhecida como Cthulhu. Ele então decide investigar por conta própria o
que é esse culto, e acaba descobrindo coisas muito mais sinistras.
Parece ser uma trama simples, não é?
Mas, em se tratando de Lovecraft, há sempre algo a
mais, porque o autor é conhecido por sempre dar um toque quase filosófico em
suas obras, além de escrevê-las sempre com as suas características, ou seja, em
primeira pessoa, sem muitos diálogos, e, o mais importante, nunca descrevendo a
ameaça. Nos textos de Lovecraft, a ameaça é sempre indefinida, inominável.
Mas, em Cthulhu,
o autor muda essa regra, e resolve descrever o seu monstro, e o faz de duas
maneiras bem distintas. Na primeira, ele faz uma descrição rápida, apresentando
detalhes da criatura; já na segunda, a descrição é bem mais profunda, com as
formas sendo detalhadas para o leitor, e assim, facilitando a visualização.
Essa é uma das grandes características da narrativa
lovecraftiana. O autor descreve seus monstros de maneira única, com detalhes
pequenos, deixando tudo para o leitor imaginar como é aquela criatura. Lovecraft
faz uso de muitos adjetivos para descrever suas criaturas, e não se enganem,
isso não é um defeito.
No entanto, para quem não conhece as obras do autor,
deve ser muito estranho ler qualquer texto dele, principalmente por causa de
suas características e seu estilo, portanto, eu aconselho aqueles que estão curiosos
para ler Lovecraft, começar por algumas histórias mais curtas e simples.
Mas, voltando a Cthulhu,
este é um texto excelente, que faz o leitor mergulhar em sua trama de mistério,
que parece se misturar com outros gêneros, como por exemplo, o de investigação policial,
passando por história de antropologia, e por fim, chegando ao horror cósmico, gênero
muito presente nas narrativas de Lovecraft.
O autor combina todos esses temas com maestria, e faz
isso na medida certa, começando por uma trama de assassinato misterioso, até
chegar ao ponto principal, que é a trama de horror cósmico, desencadeado pelo
surgimento do Grande Cthulhu, que traz o caos e a loucura.
A trama de Cthulhu
tem muito a ver também com a presença dos Antigos, entidades cósmicas, que,
segundo o próprio autor, existem desde o início dos tempos e foram os responsáveis
pela criação da vida, mas que agora, querem o seu lugar de direito no universo,
e não se importam conosco. Lovecraft viria a explorar mais sobre os Antigos em
seus textos posteriores, principalmente em Nas
Montanhas da Loucura.
Além de explorar a questão dos Antigos, Lovecraft também
explora aqui a questão do caos e da loucura, que seriam as consequências da
vinda dos próprios Antigos à Terra.
Ao longo da narrativa, vamos acompanhando o narrador –
algo bem comum nas narrativas de Lovecraft – em sua jornada para descobrir o
que de fato aconteceu com seu tio nas ruas de Providence. À primeira vista,
parece ter sido uma morte acidental, mas, conforme vamos lendo, acabamos
descobrindo que o professor estava investigando detalhes a respeito de um culto
à Cthulhu, que age principalmente no estado da Louisiana.
O narrador também que um inspetor da polícia estava
investigando fenômenos estranhos, como pessoas tendo ataques de loucura em
outros lugares do mundo, e tudo pode estar relacionado à uma estátua de argila que
ele confiscou de um culto que testemunhou.
Além de uma trama de culto, e de horror cósmico,
também temos uma trama de monstro marinho, visto que Cthulhu é uma entidade que
vive em uma cidade misteriosa que foi varrida da Terra pelas ondas do mar e
agora se encontra nas profundezas. Lovecraft nos conta que a cidade foi varrida
para as profundezas, e que Cthulhu aguarda seu momento de despertar, e quando
isso acontece, é o grande momento do conto, porque finalmente, podemos quem é o
Grande Cthulhu, e quais são suas habilidades.
Eu também enxerguei um toque de trama de conspiração,
porque o narrador fica intrigado e começa a suspeitar que seu tio foi na
verdade, assassinado, porque sabia demais sobre o culto, e no fim, ele próprio acaba
temendo por sua vida, pois acredita que os servos de Cthulhu virão busca-lo.
Eu já li esse conto algumas vezes, e sempre me
impressionei, e, na última leitura, não foi diferente. É um conto muito bem
escrito, sem dúvida.
Enfim, O
Chamado de Cthulhu é um conto excelente. Uma narrativa intrigante, que
chama a atenção do leitor aos poucos, e o convida a mergulhar em sua trama de conspiração,
aliada ao terror cósmico característico de H.P. Lovecraft. Uma trama onde o
mistério vai sendo apresentado lentamente, até chegar ao grande ápice. Lovecraft
faz o leitor acompanhar o narrador ao longo de sua investigação, e o faz de
forma brilhante, com os elementos aparecendo devagar, até não haver mais
caminho de volta. Um conto excepcional, muito bem escrito, que mostra toda a
capacidade de autor de H.P. Lovecraft. Altamente recomendado.
H.P. LOVECRAFT. |