NOTA: 9
PRÍNCIPE DAS SOMBRAS
é um dos meus filmes favoritos do diretor John Carpenter, porque é um dos filmes
do cineasta que eu mais vejo.
Na teoria, o longa é um filme de terror, mas na
prática, é um filme que contém muitas coisas ao mesmo tempo e muitos temas
misturados.
O roteiro, escrito pelo próprio diretor – usando pseudônimo
–, mistura física com religião e terror cósmico, além de contar com um elenco
de muitos personagens.
Mas não se engane. Essa confusão tonal faz parte do
charme do longa, que é feito com as técnicas milenares do cineasta, que faz
aqui, um dos seus melhores filmes.
Na trama, o Padre Loomis recruta um professor de Física
e seus alunos para investigar estranhos fenômenos que estão acontecendo na
cidade de Los Angeles. Durante as investigações, eles descobrem que tais fenômenos
estão relacionados a um estranho recipiente guardado no porão de uma velha
igreja.
Parece uma trama simples, não é? Mas, conforme
mencionei acima, o roteiro de Carpenter lida com vários assuntos diversos. O diretor
lida com questões de Física e religião de uma forma que eu nunca tinha visto em
um filme; ele quase junta os dois, como se fossem uma coisa só.
De acordo com o próprio diretor, a ideia veio por
causa do interesse que ele tem nessas questões de Física, nas equações, etc., e
com isso, criou um filme que merece ser visto com a mente aberta.
Eu acho que isso é importante. Assistir ao filme com
a mente aberta, e não com o olhar de um Físico, ou Teólogo, porque Carpenter com
questões um tanto quanto problemáticas, principalmente em determinado trecho,
quando diz quem foi Jesus Cristo, e de onde Ele veio. Com certeza, não é todo
mundo que vai engolir a explicação que o roteiro dá.
Conforme também mencionei acima, o roteiro contém um
elenco bem grande de personagens, e acredito que Carpenter teve que fazer um
malabarismo para conseguir colocá-los juntos na narrativa, visto a quantidade
de atores ali presentes. Acredito que esse é um detalhe que pode deixar o
espectador confuso, até mesmo porque, alguns deles não são mencionados pelo
nome.
No entanto, apesar do elenco bem grande, temos um
protagonista, o Padre Loomis, interpretado por Donald Pleasence, em sua
terceira colaboração com Carpenter, que é o fio condutor da trama toda. Ao seu
lado, temos outros personagens importantes, que estão presentes desde o começo.
O primeiro é o professor Birack, que se mostra um conhecido do padre; temos
também os alunos Brian, Catherine e Walter, um dos personagens mais divertidos
do filme. Brian e Catherine são o casal de mocinhos, que acabam fazendo parte
do time de físicos que são contratados para investigar o estranho cilindro com
líquido verde. Eu confesso que tenho meus problemas com Brian, porque ele não me
convence em alguns pontos do filme – não sei se é por causa do ator, ou por
causa do próprio personagem. Walter é o aluno convencido, de quem ninguém
gosta, que fala besteiras nos momentos errados.
Outro detalhe que merece ser mencionado é o cenário. O
filme inteiro se passa dentro de uma antiga igreja em Los Angeles, e Carpenter soube
aproveitar o cenário ao máximo. Sua câmera foca em diversos locais diferentes
da igreja, mesmo tendo seu foco no porão, onde o recipiente misterioso está
localizado. Aparentemente pequena do lado de fora, a igreja é bem grande do
lado de dentro, com vários lances de escadas, e diversos quartos e uma
enfermaria. É um cenário bem dinâmico.
Os efeitos especiais também merecem menção especial. Temos aqui efeitos de corpos se despedaçando, truques de maquiagem e insetos. A maquiagem do filme é muito boa, além de contar com alguns efeitos de body horror, principalmente quando o receptor do líquido verde é revelado. O corpo e o rosto do personagem em questão fica coberto de feridas e pústulas, dando um aspecto até que nojento, diga-se de passagem.
O efeito do líquido verde também é digno de nota. Ao longo
do filme, ele aparenta estar rodando dentro do cilindro, e o efeito não se
perde nem mesmo quando o recipiente é filmado em planos abertos. Temos também
efeitos de gotas e rachadas do líquido caindo de baixo para cima, com truques
muito bem feitos.
Além da maquiagem e efeitos do líquido, temos também
a presença de insetos e minhocas, e são muitos deles, principalmente na cena em
que um personagem se desfaz diante dos protagonistas, coberto por milhares de
besouros. Temos também minhocas presas na janela e formigas se acumulando no
formigueiro. Faço ideia de como esses efeitos foram criados, de tão bem feitos
que são.
Vale aqui também uma menção ao estranho líquido
verde. No primeiro momento, não sabemos exatamente qual sua origem, ou seu
significado, mas fica claro que ele é capaz de se infectar diversas pessoas,
sendo passado de uma para outra por meio de jatos. Ele permanece um mistério,
até que o professor revela ao padre que todas as partículas do mundo possuem um
reflexo, então, o padre chega à conclusão que o líquido seja um fluído do próprio
Satã, mesmo que isso não fique explícito no roteiro.
E por fim, além das questões religiosas e físicas,
temos também um pouco de viagem no tempo, visto que os personagens têm um sonho
específico, com a entrada da igreja e com uma figura negra misteriosa; a voz
presente no sonho informa ao espectador que a mensagem está sendo passada do
ano de 1999, ou seja, do futuro. Talvez, tal sonho signifique que o mundo está
acabando, e que o Apocalipse chegará no ano de 1999, conforme se acreditava.
E antes de encerrar, temos uma participação especial
de Alice Cooper, no papel de um líder de um grupo de moradores de rua que são infectados
pelo líquido de forma indireta. Mesmo com a pouca presença, o cantor rouba a
cena quando aparece, e seu personagem é muito assustador.
Foi lançado em Blu-ray no Brasil pela Obras-Primas do
Cinema, em versão remasterizada em 4k, aprovada pelo diretor de fotografia, com
muitos extras.
Enfim, Príncipe
das Sombras é um filme excelente. Um filme bizarro, que mistura diversos
assuntos ao mesmo tempo, além de contar com muitos personagens em seu elenco. Uma
trama sobrenatural de mistério e terror cósmico, contada com a maestria característica
do diretor John Carpenter. O diretor lida com questões religiosas e de Física de
maneira brilhante, e cria uma trama bem elaborada. Um dos melhores filmes do
diretor. Altamente recomendado.
Créditos: Obras-Primas do Cinema. |
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