NOTA: 10
NOSFERATU – O VAMPIRO
DA NOITE é um filme maravilhoso.
É um daqueles casos de refilmagens que não ofendem a
obra original, e merecem estar junto com ela numa sessão dupla.
Como já deu para perceber, o filme de Herzog é uma
refilmagem do Clássico de Murnau, que é um marco do Expressionismo Alemão, além
de ser a primeira adaptação para cinema do livro de Bram Stoker.
Aqui não é diferente, e o filme pode ser encarado
dessas duas maneiras por qualquer um que adore a obra de Stoker. Até porque, o
filme foi lançado em um ano que pode ser chamado de “Ano do Drácula no Cinema”,
visto a quantidade de adaptações e filmes de vampiros que foram lançados.
A trama é basicamente a mesma do filme de Murnau, então,
não vou descrevê-la aqui, e irei me concentrar apenas nos quesitos técnicos.
Conforme disse acima, o filme é maravilhoso, e isso
se deve principalmente às habilidades de Herzog como diretor, e isso ele tem de
sobra.
O cineasta é capaz de criar cenas lindas de várias
formas, sem apelar para artifícios; tudo é feito de forma natural, e no tempo
certo, e deixam o filme ainda melhor a cada revisão.
O principal fator que deixa o filme lindo são as locações.
O filme foi rodado na Alemanha e na França, e o diretor soube aproveitar os cenários
de maneira única, assim como Murnau fez em seu filme. As cenas diurnas são o
grande destaque, com foco nas montanhas e vales, além de cachoeiras e grutas.
O castelo do conde não fica atrás. A locação é belíssima,
e nas cenas diurnas, fica ainda melhor, com aspecto gótico e com decorações mórbidas,
além de ser repleto de morcegos pendurados nas janelas.
A locação para a cidade de Wismar também é linda, e
possui um aspecto de parada no tempo, além de contar com uma belíssima praça central,
diante de uma torre de relógio.
Sempre que vejo as locações desse filme eu fico em
paz, porque elas são simplesmente lindas, sem exceção.
Além das locações, preciso falar sobre o elenco
também. Nosferatu marca mais uma
parceria entre Herzog e o ator Klaus Kinski, aqui no papel do vampiro. Não é
novidade para ninguém que o ator era problemático no set, e que ambos tiveram
momentos difíceis em sua parceria ao longo dos anos.
Kinski está excelente como o vampiro, e sua caracterização
se distancia completamente do filme de Murnau, e aqui, o conde é retratado como
uma figura trágica, que não pode morrer, e que sofre por amar e não ser amado. E
assim como no filme de Murnau, ele vai à Wismar para espalhar a peste,
representada por um exército de ratos.
Além de Kinski, temos também as presenças de Isabelle
Adjani e Bruno Ganz, como Lucy e Jonathan, respectivamente, e os dois também estão
excelentes.
Isabelle interpreta uma Lucy fragilizada, que ama o
marido e teme por sua vida quando ele vai viajar para a Transilvânia. Mas não é
só isso. Sua Lucy também é uma mulher determinada, que está disposta a se
sacrificar para salvar a vida do marido e também acabar com a peste. A caracterização
da personagem também é excelente, com seu rosto pálido e cabelos negros; e fica
ainda melhor quando ela está de camisola branca, que dá um belo contraste.
Ganz, por outro lado, interpreta Harker, e o
personagem pode ser dividido em duas fases. No começo do filme, ele é um homem
seguro, que não tem medo de viajar para uma terra distante, e não liga para as
conversas supersticiosas dos locais. No entanto, após fugir do castelo, ele se
transforma em outra pessoa, em um homem fragilizado, com aspecto doente, que não
reconhece mais a esposa. E a coisa fica pior no final do filme.
Como eu disse anteriormente, Herzog sabe criar ótimas
cenas, e ele faz isso com maestria. As cenas aqui acontecem aos poucos, de
maneira lenta mesmo, mas não ficam entediantes. São várias cenas aqui, e fica difícil
dizer qual é a melhor, mas eu destaco a sequência em o conde morde Lucy; é uma
cena tensa, que deixa o espectador angustiado, porque, quando achamos que ela
acabou, ela continua.
Além de criar cenas de ritmo lento, Herzog também faz
uso de imagens de arquivo de morcegos voando em câmera lenta, para simular a
chegada do vampiro, e também indicar sua presença em cena. Assim como as cenas
mencionadas acima, esses takes de morcegos voando são maravilhosos,
principalmente por causa dos animais que os protagonizam.
Assim como o filme de Murnau, o filme de Herzog é um
filme sobre a peste, representada na forma de um exército de ratos. Quando eles
chegam à Wismar, a bordo do navio abandonado, o caos está instalado, e as
pessoas não tem outra alternativa, a não ser sucumbir e morrer. As cenas da
presença da peste são tristes, e eu destaco uma em particular: a sequência em
que Lucy está andando pela praça e se depara com várias pessoas adoecidas
dançando alegremente e comendo ao ar livre. É a clássica representação da Dança
da Morte, vista na época da Peste Negra, mas sem a presença do Ceifador. A sequência
é acompanhada por uma trilha sonora lúgubre, que a deixa ainda mais melancólica.
E já que toquei nisso, deixe-me falar sobre a trilha
sonora, antes de encerrar. Herzog utilizou música clássica, além de uma banda
para compor a trilha sonora de seu filme, e a trilha não decepciona. Desde a
primeira cena, nas catacumbas de múmias, a trilha fúnebre se faz presente, e
passa uma sensação de tensão, que vai crescendo à medida que ela mesma vai
crescendo. É uma trilha sonora perfeita para o clima lúgubre e melancólico do
filme.
Foi lançado em DVD no Brasil pela Versátil Home Vídeo,
primeiramente em versão individual, depois na caixa Nosferatu, que contém também o filme de Murnau. A versão disponível
na caixa é restaurada e está no formato Widescreen Anamórfico, além de vir
acompanhada de muitos extras.
Para uma ótima experiência, assista primeiro o filme
de Murnau, e na sequência, embarque neste filme aqui.
Enfim, Nosferatu
– O Vampiro da Noite é um filme excelente. Uma obra melancólica e fúnebre,
que enche os olhos com suas locações maravilhosas, além de contar com as técnicas
milenares de direção de Werner Herzog. O elenco principal também é o destaque,
e os atores estão excelentes em suas performances, e a trilha sonora deixa o
espectador ainda mais imerso no longa, com seu tema fúnebre e melancólico. Um exemplo
de refilmagem que não ofende a obra original, e merece estar ao seu lado em uma
sessão dupla. Altamente recomendado.
Créditos: Versátil Home Vídeo. |
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