segunda-feira, 11 de novembro de 2024

LISA E O DIABO (1973). Dir.: Mario Bava.

 

NOTA: 10


LISA E O DIABO é um filme belíssimo.

 

Uma história de horror, fantasia e mistério contada com a maestria do Maestro Mario Bava, e um de seus melhores filmes.

 

Eu já comentei sobre alguns filmes do Maestro aqui, e até agora, não encontrei nenhum que me decepcionasse.

 

Lisa e o Diabo faz parte do ciclo gótico do cineasta, ciclo esse que o tornou bastante conhecido, visto que ele foi um dos responsáveis por torna-lo popular na Itália, graças ao sucesso que O Vampiro da Noite (1957) fez no país.

 

Podemos também encarar o filme como uma espécie de homenagem que Bava faz a si mesmo, visto que existem cenas que lembram seus filmes anteriores, além do uso de suas técnicas bastante conhecidas.

 

Na trama, Lisa é uma turista que se perde em Toledo, na Espanha, e vaga pelas ruas da cidade, até se encontrar com um casal rico, e o carro deles quebra nas proximidades de uma antiga mansão, onde moram uma condessa e seu filho, além de um estranho mordomo que intriga Lisa, por se parecer com o Diabo.

 

Essa é a sinopse básica do filme, e pode até parecer simples, mas, na verdade, o roteiro envolve alguns outros elementos, como segredos de família e triângulos amorosos, que necessitam de um pouco de raciocínio do espectador para serem compreendidos.

 

Esse é um detalhe da trama que precisa ser analisado com muita calma, pois, não é explicado para nós logo de cara, ele acontece aos poucos. E a cada revisão, o mistério parece aumentar, o que pede ainda mais raciocínio de quem está assistindo.

 

Mas não se engane. Apesar dessa trama um pouco complicada, Lisa e o Diabo é um filme belíssimo, feito com as técnicas que somente o diretor Bava conhecia e sabia utilizar.

 

A começar pela direção. Bava era um mestre com a câmera, e sabia fazer coisas que nenhum outro cineasta soube. Aqui, mais uma vez, ele mostra sua competência e cria cenas memoráveis, com ângulos inspirados, além de uma movimentação suave, combinada a uma fotografia habilidosa.

 

Além da fotografia, o roteiro também merece menção, porque, conforme mencionei, é um grande quebra-cabeça, onde as peças vão se encaixando lentamente, com um mistério em torno dos três habitantes da mansão, que aos poucos vai mostrando sua face e seu motivo.

 

Os cenários também são maravilhosos, principalmente a mansão, que parece um gigantesco labirinto, com seus quartos vazios, um jardim enorme e aspecto de decadência, algo que Bava adorava utilizar em seus filmes. Como o filme se passa praticamente durante a noite, não é difícil nos sentirmos ameaçados dentro daquele ambiente, principalmente o quarto do mordomo Leandro, cheio de manequins.

 

Os personagens também são um ponto positivo, e os atores atuam maravilhosamente. É possível acreditar que aquelas pessoas são reais, que vivem naquela mansão decadente, presos em seu próprio mundo repleto de segredos macabros. Lisa é a mocinha indefesa, que não entende o que está acontecendo, nem como foi parar naquele mundo estranho, e acredita o tempo todo que tudo não se trata de um sonho. O casal rico também não faz feio, e passam a sensação de já estarem casados há muito tempo, e se cansaram um do outro, tanto que a mulher procura conforto nos braços do chofer.

 

Mas o melhor personagem é o mordomo Leandro, magistralmente interpretado por Telly Savalas. Ele é diabolicamente educado, misterioso e perigoso, e deixa transparecer essas sensações desde a primeira aparição, até o final do filme. Seu melhor momento é quando está em seu quarto recitando um monólogo sobre trabalho e tradição, enquanto come suspiros e bebe conhaque. Além disso, ele se mostra um grande fabricante de manequins, que desempenham um papel importante na história, pois representam os personagens principais.

 

O filme todo possui um aspecto de sonho e fantasia, e isso está presente desde a primeira cena, quando Lisa ouve a caixa de música ao longe e aparenta ser enfeitiçada por ela, visto que acaba se perdendo de seu grupo de excursão. E a sensação predomina até o final do filme, com eventos estranhos e misteriosos acontecendo, como o fato de Lisa se parecer com a amante do padrasto de Maximiliano, o que a deixa completamente confusa.

 

Esse é o grande segredo da trama. Lisa aparenta se dividir entre ela mesma, e Ellena, amante do padrasto de Maximiliano, que também se encanta por ela, e a mata. Como eu disse, é um mistério que vai se resolvendo aos poucos, o que obriga o espectador a pensar no que está acontecendo.

 

Acredito que tal sensação de estranheza se deve ao fato do produtor Alfredo Leone, após o sucesso do filme anterior de Bava, Os Horrores no Castelo de Nuremberg (1972), ter dado carta branca ao cineasta para fazer o filme que quisesse; então, chamou dois roteiristas que haviam trabalhado com ele anteriormente, e os dois desenvolveram a história a partir das ideias do diretor.

 

Tal mistério não impede o filme de ser uma verdadeira obra de arte, onde Bava aparentemente faz um resumo de sua vida, segundo dizem os biógrafos do cineasta. De fato, existem conexões com outros filmes anteriores do diretor, seja em takes e cenas, seja na própria história. Menções à A Maldição do Demônio (1960), O Ciclo do Pavor (1966) e Hércules no Centro da Terra (1961), por exemplo, estão presentes no longa.

 

Além disso, o filme também pode ser encarado como uma espécie de final de ciclo, visto que, naquela época, o gênero gótico dava sinais de declínio, e o que entrava em vigor eram os filmes mais pesados, os exploitation, por exemplo, algo que o cineasta explorou no Giallo Banho de Sangue (1971), que se tornou uma espécie de precursor do Slasher americano.

 

Por esse e outros motivos, Lisa e o Diabo é um filme que merece ser visto pelos fãs de terror.

 

Foi lançado em DVD no Brasil pela Versátil Home Vídeo, na coleção Obras-Primas do Terror 2, que conta com um documentário nos extras.

 

Enfim Lisa e o Diabo é um filme excelente. Uma história de horror, mistério, romance e fantasia contada com maestria pelo Maestro Mario Bava, que faz uso de suas técnicas impares e únicas para contá-la. Um clima de mistério toma conta do filme desde a primeira cena e permanece até o final, com a protagonista presa em uma espécie de sonho macabro que encanta. Um dos melhores filmes de Mario Bava, e sua grande obra-prima.


Créditos: Versátil Home Vídeo.


sábado, 26 de outubro de 2024

O HOMEM INVISÍVEL (1933). Dir.: James Whale.

 

NOTA: 9


O Ciclo dos Monstros Clássicos da Universal foi um dos mais importantes de todos os tempos, não apenas para o cinema de horror, mas para o próprio estúdio também, pois, foi graças aos clássicos Drácula (1931) e Frankenstein (1931), que os lucros aumentaram durante a famigerada época da Grande Depressão.

 

O HOMEM INVISÍVEL, lançado em 1933, e dirigido por James Whale, é mais um exemplar desse maravilhoso ciclo, e um dos melhores, também.

 

Aliás, eu me arrisco a dizer que o Ciclo Clássico não tem filmes ruins.

 

Além de ser um dos melhores, este aqui também é a segunda adaptação de uma obra de H.G. Wells para o cinema; a primeira havia sido A Ilha das Almas Selvagens, lançada um ano antes pela Paramount, baseada no livro A Ilha do Dr. Moreau.

 

Mas, segundo os historiadores de cinema, Wells não ficou satisfeito com o resultado da adaptação, e, quando a Universal resolveu adaptar O Homem Invisível, ele pediu que o estúdio tivesse mais cuidado e respeito com o material original.

 

Mas, falarei sobre os detalhes da produção mais para frente.

 

O Homem Invisível é um filme excelente, realizado com excelentes técnicas de direção, e efeitos especiais que até hoje impressionam.

 

Não apenas isso, este é também um dos filmes mais divertidos do Ciclo, graças à direção de James Whale, que imprime seu característico humor camp, que esteve presente no seu filme anterior, o ótimo A Casa Sinistra (1932).

 

Whale entrou no projeto graças à sua influência no estúdio, que se tornou evidente após o sucesso da adaptação da peça Journey’s End, que foi adaptada pelo estúdio no começo dos anos 30, e que possibilitou de Whale dirigisse Frankenstein, lançado em 1931, que impulsionou a carreira de Boris Karloff, e deu início a uma das franquias mais rentáveis da Universal, os filmes de terror.

 

No entanto, a produção de O Homem Invisível não foi fácil, porque o filme passou pelo processo que hoje é conhecido como “Inferno de desenvolvimento”, visto que o roteiro passou por várias pessoas diferentes, que se diferenciavam bastante do romance de Wells. Esse processo demorado continuou até Wells chamar R.C. Sheriff, que havia escrito Journey’s End, para escrever o roteiro, desta vez, parcialmente inspirado no romance de Wells e no romance The Murderer Invisible, cujos direitos foram adquiridos pelo estúdio.

 

Como eu ainda não li o livro de Wells, não sei se o filme ficou próximo do mesmo, mas, eu digo que é um roteiro muito bem escrito, com pequenas peças que vão se encaixando aos poucos, e que mistura elementos de terror e ficção cientifica com um toque especial, além de conter alguns elementos de humor negro, que se tornariam característicos de Whale durante sua curta carreira.

 

Além do roteiro inteligente, o filme conta com um ótimo elenco, liderado pelo ator Claude Rains, que atua de maneira brilhante, principalmente com sua voz impactante. Em momento nenhum, o elenco escolhido por Whale faz feio em suas performances, e cada um atua de acordo com as instruções que devem ter sido passadas pelo diretor, com menção para o colorido elenco de apoio, que conta com atores cômicos.

 

No entanto, eu acredito que o que mais chama atenção em O Homem Invisível são seus efeitos especiais, que, como eu disse, ainda surpreendem e não ofendem o espectador. Os efeitos foram criados por John Fulton, e contavam com o que mais havia de moderno na época. Para as cenas em que o ator não estava presente, foram utilizados cabos especiais, invisíveis na lente da câmera; no entanto, quando Rains estava presente com algumas peças de roupa, o ator foi coberto por um tecido preto, e fotografado contra um fundo da mesma cor, e as cenas foram combinadas na pós-produção. De acordo com os historiadores de cinema, Fulton teve mais dificuldade na cena em que o Homem Invisível está sentado diante de um espelho, tirando suas faixas de gaze. Foi uma sequência difícil porque quatro peças diferentes de filme foram fotografadas e depois combinadas.

 

Como eu disse acima, os efeitos são impressionantes até hoje, e devem ter servido de inspiração para vários técnicos e cineastas futuros, além de ter arrancados suspiros das plateias, que ainda estavam impressionadas pelos efeitos especiais de King Kong, que foi lançado no mesmo ano.

 

No entanto, apesar de gostar muito do filme, eu devo dizer que não sou muito fã desse humor camp do diretor Whale; eu considero muito exagerado em certos pontos, e isso se deve principalmente a alguns dos atores que ele escala para seus filmes; isso ficou evidente para mim em A Casa Sinistra, e me incomodou um pouco. Aqui, também temos um pouco disso, e é um pouco demais.

 

Mas isso não impede O Homem Invisível de ser um grande filme, que merece visto por fãs de cinema.

 

Enfim, O Homem Invisível é um filme excelente. Um filme de terror e ficção cientifica contado com uma maestria inspirada, auxiliada por um elenco inteligente, e por efeitos especiais que impressionam até hoje. Um roteiro muito bem escrito, que combina terror, ficção cientifica e humor negro muito bem, e deixa os elementos quase imperceptíveis. Um dos melhores filmes do Ciclo dos Monstros Clássicos da Universal Studios.



 

sábado, 19 de outubro de 2024

O DESPERTAR DOS MORTOS (1978). Dir.: George A. Romero.

 

NOTA: 10


O DESPERTAR DOS MORTOS é, sem dúvida, o melhor filme de George A. Romero, além de ser o melhor filme de zumbis de todos os tempos.

 

Filme do meio da trilogia dos zumbis, esse filme apresentou tudo aquilo que hoje é utilizado em mídias sobre apocalipse zumbi.

 

Algumas regras já haviam sido estabelecidas em A Noite dos Mortos-Vivos, mas, em Despertar, elas foram aumentadas, e hoje em dia, tornaram-se praticamente obrigatórias.

 

Isso sem falar que, assim como seu antecessor, é um filme repleto de comentário social, desta vez, voltado para o consumismo.

 

Essa era uma característica nos filmes de Romero, mas, acredito que ficaram ainda mais em evidência dos seus filmes de zumbi, visto que o cineasta soube fazer isso com maestria, maestria essa que até hoje é discutida por cinéfilos e cineastas.

 

Além de tudo isso, Despertar também é um marco do gore, graças aos efeitos especiais do mestre Tom Savini, mas, mais detalhes sobre isso adiante.

 

Na trama, o mundo está quase todo devastado pelos zumbis. Sabendo disso, um grupo de quatro pessoas foge em um helicóptero e acaba encontrado um shopping center, onde acaba se instalando para escapar do ataque dos mortos-vivos.

 

Assim como no anterior, é uma trama simples que também está carregada de comentários sociais, mas, ao contrário do primeiro filme, é possível perceber que o orçamento foi um pouco maior aqui.

 

A grandeza do filme está presente desde os seus bastidores.

 

Romero estava com dificuldades de produzir uma continuação para o primeiro filme, mas acabou recebendo apoio do diretor Dario Argento, que já era um grande fã do cineasta, e vice-versa. Assim, Romero viajou para a Itália, onde conseguiu desenvolver o roteiro e conseguiu financiamento para realizar o filme.

 

É legal saber que Romero teve apoio de Argento para fazer o filme, o que formou uma grande amizade entre eles, que se consolidou ainda mais quando se uniram novamente para dirigir o filme Dois Olhos Satânicos (1990), antologia baseada em dois contos de Edgar Allan Poe.

 

Ainda segundo Romero, a ideia para este filme surgiu quando ele estava em um shopping center em Pittsburg, e imaginou como seria se uma horda de zumbis invadisse o lugar.

Conforme mencionado acima, a crítica da vez está no consumismo exagerado, e não deixa de ser verdade, visto que, quando as pessoas vão ao shopping, elas passam horas no local, olhando para os itens em oferta, e além disso, quando acontece alguma promoção em alguma loja, não é incomum ver um grupo de pessoas se formando na porta do estabelecimento, prontas para agarrar os itens o quanto antes. Eu já vi uma imagem dessas na internet, mas, graças a Deus, nunca presenciei algo como esse pessoalmente.

 

Agora que já comentei um pouco a respeito do comentário social presente no filme, deixe-me falar sobre os personagens.

 

O roteiro é focado em grupo de quatro pessoas, formado por dois policias da SWAT, uma repórter de TV e um piloto da emissora. A interação entre eles é muito boa, e é possível identificá-los rapidamente, assim que aparecem no filme. Fran se encaixa a princípio no perfil da mocinha indefesa, visto que ela começa o filme toda fragilizada, mas, conforme a trama avança, ela se mostra tão forte quanto os homens. Stephen é o seu namorado, e é o piloto do grupo; no início, ele também se mostra receoso em matar as criaturas, mas muda de atitude quando percebe que não há outra saída. Peter e Roger são os agentes da SWAT, e cada um possui sua própria personalidade; Roger é valente e não tem medo do perigo; Peter, por outro lado, é mais racional, mas valente, também.

 

Juntos, os personagens formam um grupo bastante unido, e se apoiam nas decisões importantes que devem ser tomadas. Além disso, eles se unem também na hora de tomar o shopping, chegando a construir quase que uma casa dentro do prédio, no local onde escolheram para se esconder. E na hora do combate, eles se unem ainda mais, cada um dentro de suas habilidades.

 

O roteiro de Romero também é muito afiado no que quis respeito ao ritmo. Logo no começo, fomos brindados com uma confusão no estúdio de TV, passando para uma guerra no conjunto habitacional de cubanos. Depois desse início frenético, as coisas começam a andar de forma mais lenta, com os personagens tomando o shopping, procurando um lugar para se esconder, depois, começam a tomar as coisas das lojas, até que conseguem se firmar no local. Mas não é só isso. A trama também se preocupa em explorar as relações entre os quatro, principalmente entre Fran e Stephen.

 

Em determinado momento, um grupo de motoqueiros saqueadores invade o prédio e provoca uma guerra com os quatro, o que leva a trama de volta à ação, visto que eles também lutam contra os zumbis das formas mais criativas possíveis.

 

Conforme mencionado acima, o filme é também um marco do gore, graças aos excelentes efeitos especiais de Tom Savini. O visual dos zumbis é básico, até, com uma tonalidade cinza e azulada, mais os efeitos de morte são o auge. Logo na primeira sequência de ação, no conjunto habitacional dos cubanos, somos presenteados com uma cabeça explodindo em frente à câmera, além de cenas de pessoas sendo mordidas. No shopping, a coisa não é muito diferente, com os zumbis sendo derrotados com tiros na cabeça, mas com efeitos diversos. No entanto, o melhor acontece quando eles matam os motoqueiros, arrancando seus órgãos na base da unha, e devorando-os vivos. No entanto, Savini deixaria o melhor para o filme seguinte da trilogia, Dia dos Mortos (1985), mas isso é assunto para outra resenha.

 

Despertar dos Mortos foi financiado por Dario Argento, conforme mencionei, e com isso, acabou ganhado uma versão remontada pelo cineasta italiano para o mercado europeu, que recebeu o título de Zombie. Além da versão editada por Argento, o filme também possui uma versão estendida, com 139 minutos, considerada por muitos como a Versão do Diretor; no entanto, Romero afirmava que a sua Versão do Diretor era a versão original, com 127 minutos. A versão escolhida para esta resenha é justamente a Versão do Diretor.

 

Foi lançado em Blu-ray e DVD no Brasil pela Versátil Home Vídeo, numa edição que apresenta as três edições, em versões restauradas, com um disco só de extras. Atualmente, tais edições estão fora de catálogo.

 

Enfim, O Despertar dos Mortos é um filme excelente. O filme que apresentou as principais regras para as mídias posteriores, além de contar com uma direção inspirada, roteiro afiado, e efeitos especiais bastante criativos. Um filme que se tornou um marco do gore, e também, o melhor filme de zumbis de todos os tempos, além de ser o melhor filme do diretor George A. Romero.


Créditos: Versátil Home Vídeo.


sexta-feira, 18 de outubro de 2024

HALLOWEEN 4 – O RETORNO DE MICHAEL MYERS (1988). Dir.: Dwight H. Little.

 

NOTA: 6


Dez anos após sua primeira aparição, Michael Myers está de volta em HALLOWEEN 4 – O RETORNO DE MICHAEL MYERS.

 

E chegamos a Halloween 4, o filme que retoma a linha do tempo que terminou em Halloween II, e que dá início à polêmica Trilogia de Thorn, que, na opinião de muitos críticos, destruiu a mitologia da franquia, além de não fazer muito sentido.

 

Além disso, esse filme também não se iguala ao primeiro, e nem ao segundo em questões técnicas e de roteiro, mas, mais detalhes sobre isso mais para frente.

 

Primeiro, vamos começar dizendo como essa sequência ganhou a luz do dia.

 

Depois da recepção fria do filme anterior, o produtor Moustapha Akkad queria retomar as raízes da franquia, ou seja, queria trazer Michael de volta. Sendo assim, ele chamou os criadores, John Carpenter e Debra Hill, para escreverem o roteiro, mas, a ideia deles se distanciou muito do que Akkad tinha em mente.

 

Segundo informações da internet, e de um livro que fala sobre as ideias rejeitadas de continuações para a franquia, o roteiro de Carpenter e Hill focava nas consequências do massacre de 1978, com a cidade de Haddonfield abandonando o Halloween, e com uma nova onda de assassinatos acontecendo, o que despertaria a possibilidade de que um novo Michael Myers estaria surgindo.

 

No entanto, a Akkad não gostou da proposta e rejeitou o roteiro, o que levou Carpenter e Hill a abandonarem a franquia, e Akkad a adquirir os direitos. Então, um novo roteirista foi contratado, e, segundo informações, ele teve de agir rápido, porque, naquele ano, uma greve de roteiristas estava prestes a estourar. O roteirista conseguiu finalizar o trabalho em alguns dias, mas não havia tempo para revisões e reescritas, o que prejudicou o resultado.

 

O diretor Dwight H. Little também não tinha muita experiência no cinema, e teve que trabalhar num ritmo acelerado para concluir o filme a tempo para o lançamento. Posso dizer que ele fez um trabalho decente, apesar de cometer alguns erros, principalmente na hora de montar o filme.

 

Assim como o primeiro, Halloween 4 foi rodado na primavera, o que levou os realizadores a se virar para encontrar folhas secas e abóboras para decorar os cenários.  Levando em conta o tempo que tiveram, eu diria que eles conseguiram se virar muito bem.

 

Na trama, Michael passa dez anos em um hospital, e será transferido para Smith’s Grove. No entanto, ele consegue matar os paramédicos e parte de volta para Haddonfield, com o intuito de matar sua sobrinha. Sabendo que Michael está à solta novamente, o Dr. Loomis decide ir à caça do assassino.

 

Passado esse resumo da trama, vamos falar sobre o filme em si.

 

Halloween 4 é um filme que tenta seguir a fórmula criada por Carpenter, além de tentar seguir também a fórmula dos slashers que estavam em vigor na época. Mas, além disso, ele se esforça para ser uma continuação, visto que apresenta novos personagens e situações que não estavam presentes nos filmes anteriores.

 

Eu vou sincero aqui e dizer que até gosto dos personagens novos, e eles funcionam bem no filme, principalmente a garotinha Jamie Lloyd, a filha de Laurie Strode, que, segundo a trama, morreu em um acidente automobilístico, o que levou Jamie a ser adotada por outra família.

 

A família de Jamie convence bem, e os atores não fazem feio em suas performances, assim como boa parte do elenco. A irmã mais velha, Rachel, se apresenta como uma possível final-girl certinha, que cuida da irmã mais nova e a leva para pedir doces no Halloween.

 

O mesmo pode ser dito a respeito dos outros jovens que compõem o elenco, o namorado de Rachel, e a filha do novo xerife, eles cumprem bem seus papéis.

 

No entanto, isso não livra o filme de muitos erros, principalmente no roteiro. Como eu disse acima, o roteiro foi escrito em poucos dias antes da greve, portanto, não foi possível fazer uma revisão, ou reescrevê-lo, o que leva o filme a apresentar situações absurdas, que não fazem sentido, em sua maioria.

 

A principal delas, para mim, é quando um dos homens do xerife informa a ele que descobriu que os demais policiais foram massacrados na delegacia. Isso não faz o menor sentido, visto que há repórteres na cidade, e também ocorreu um blackout. Como ele descobriu isso, então? Porque deve ter ouvido os linchadores comentando entre si? Como, se ele ficou na casa de Jamie o tempo todo? Eu não engulo essa cena.

 

Outro erro está na sequência final na caminhonete. De acordo com a cena, Michael surge por trás do veículo e mata todos os homens. Mas, como ele apareceu lá, se, na cena anterior, ele foi derrubado por um extintor de incêndio na escola? Em momento nenhum, ele é visto saindo da escola e se escondendo debaixo do veículo. Eu não sei como essa cena faz sentido.

 

Além disso, a montagem às vezes também parece não fazer sentido, principalmente na sequência de perseguição na escola, porque, parece que Michael está em vários lugares do prédio ao mesmo tempo, o que deixa a sequência mais confusa, e parece que a geografia do prédio é confusa.

 

Quando eu era mais novo, eu admito que não dava importância para esses problemas, mas, conforme fui ficando mais velho, com um certo senso crítico, fui percebendo o quão bagunçado é esse filme.

 

Outro problema apresentado por alguns críticos, é o visual do vilão. Após sua fuga, fica claro que Michael roubou o macacão de um mecânico, mas o problema é o visual de sua máscara. É mostrado que Michael a rouba de uma loja de fantasias, mas, ela não lembra em nada a máscara original, sendo aparentemente lisa, contando com os olhos negros e expressão facial neutra. Aliás, essa questão da máscara ficaria mal resolvida ao longo das demais continuações.

 

As cenas de morte também não são muito inspiradas; para falar a verdade, eu diria que elas aparentam terem sido censuradas pela MPAA, o que as deixou incompletas. Mas isso não as impediu de apresentar problemas, em especial, a cena em que a filha do xerife é empalada na parede por uma espingarda. Essa é mais uma cena que não faz o menor sentido, além de não ser nem um pouco prática e inverossímil.

 

E claro, não podemos deixar que falar do maior problema do filme – e das duas sequências –, que é a presença do Dr. Loomis. Conforme vimos em Halloween II, ele provoca uma explosão no hospital que deixa Michael incapacitado, e que, na teoria, deveria matá-lo. O fato de Michael sobreviver à explosão pode até ser perdoado, mas Loomis sobreviver e ficar com uma cicatriz minúscula no rosto e nas mãos também não é verossímil. Se foi uma condição imposta por Moustapha Akkad, mostra que realmente ele não estava interessando em coerências.

 

E a derrota de Michael deixa evidente que o fato dele ter sobrevivido em Halloween 5 também não faz sentido, principalmente por causa do local onde ele foi derrotado.

 

No entanto, apesar dos erros, Halloween 4 tem seus bons momentos, como boas cenas de suspense, além de contar com uma boa cena de ação na caminhonete, e uma ótima sequência de créditos iniciais, e uma boa trilha sonora.

 

Enfim, Halloween 4 é um filme bom. Uma continuação decente para a franquia Halloween, que traz seu principal personagem de volta, além de fazer adições razoáveis ao elenco. Um filme que contêm muitos erros, principalmente no roteiro, mas eles são compensados pela trilha sonora e por um elenco que atua bem.



 

terça-feira, 15 de outubro de 2024

A NOITE DOS DEMÔNIOS (1988). Dir.: Kevin S. Tenney.

 

NOTA: 8.5


A NOITE DOS DEMÔNIOS é um dos filmes de terror mais cultuados de todos os tempos.

 

Além disso, é um dos filmes mais arrepiantes e divertidos que eu já vi, mesmo após ter visto as continuações.

 

Na verdade, eu não sei se o filme é de fato cultuado lá fora, mas acredito que a sua vilã principal, a adolescente Angela, seja uma das figuras mais conhecidas do gênero.

 

Este é um grande filme com temáticas de Halloween e possessão demoníaca, e os aborda de maneira bem sincera, e principalmente, faz questão de ser arrepiante.

 

O longa é também parte daqueles filmes de terror dos anos 80 que possuem um roteiro bem criativo, aliado a uma técnica de direção afiada, que foca em detalhes importantes da narrativa.

 

Na trama, a adolescente Angela promove uma festa de Halloween numa casa funerária abandonada. Durante a festa, ela propõe uma brincadeira com um espelho da casa, e, após o espelho cair acidentalmente, um demônio é libertado e todos passam a ser possuídos.

 

É uma trama básica de possessão demoníaca, não? Somando isso o fato do filme se passar no Halloween, deixa-o ainda melhor e mais sinistro.

 

A Noite dos Demônios é um filme muito criativo, a começar pela técnica de direção de Kevin Tenney, que faz uso de câmeras que simulam o ponto de vista da entidade, a lá Uma Noite Alucinante, além de truques impecáveis de maquiagem, e uma trilha sonora inspirada.

 

O elenco de jovens também está afiado, principalmente a atriz Amelia Kinkade, que interpreta a icônica Angela, com seu vestido de noiva negro e brincos de cruzes. Ao lado de Amelia, Linnea Quigley também brilha, com sua divertida Suzanne, que está sempre preocupada com a maquiagem. Quem também funciona é Cathy Podewell, no papel da heroína Judy, que pode ser considerada uma final-girl.

 

Mas não se engane. A maquiagem é o grande destaque, e os efeitos funcionam muito bem. O maquiador Steve Johnson criou grandes coisas, e a aparência dos demônios é muito boa e não exagerada, o que é de bom tamanho. Eu diria que o visual de Angela é o melhor, com seus dentes afiados e voz grossa, combinado com o figurino negro. A personagem retornaria nas continuações com o mesmo visual.

 

É possível perceber que os demônios aqui têm as suas próprias regras, e elas funcionam muito bem. A possessão acontece após um contato imediato, e afeta também aqueles que morrem nas mãos dos demônios.

 

O design de produção também merece destaque, principalmente a casa funerária abandonada. O lugar é aquilo que se pode esperar de um filme de terror, com as janelas cobertas por tábuas, corredores escuros e luminosidade muito limitada. E quando os personagens tentam fugir dos demônios, a casa parece se transformar em um labirinto, o que deixa as cenas de terror ainda mais angustiantes.

 

No entanto, apesar do roteiro esperto, que dá foco a pequenos detalhes, como o fato dos brincos de Angela se inverterem após ela ser possuída, existe uma questão que, ao meu ver, não foi bem explorada: a presença de água corrente abaixo da casa, o que impede os demônios de cruzar o local. Apesar de ser mencionado no começo, esse fato não retorna no final.

 

Mas, apesar desse pequeno detalhe, a Noite dos Demônios é muito divertido. Nos anos 90, recebeu duas continuações direto para vídeo, ambos que marcam o retorno de Amelia Kinkade no papel de Angela.

 

Foi lançado em DVD no Brasil na coleção Sessão de Terror Anos 80 – Vol.4, da Obras-Primas do Cinema, em versão remasterizada, com uma entrevista de Amelia Kinkade nos extras.

 

Enfim, A Noite dos Demônios é um filme muito bom. Uma história de Halloween e possessão demoníaca contada com uma grande técnica de direção, e grandes efeitos de maquiagem. Um filme muito divertido, que consegue ser assustador em determinados momentos, graças à câmera do diretor Kevin Tenney. Um dos filmes mais divertidos dos anos 80.


Créditos: Obras-Primas do Cinema.


sábado, 12 de outubro de 2024

GEMINI (1999). Dir.: Shinya Tsukamoto.

 

NOTA: 8.5


GEMINI é um dos melhores filmes de terror que eu já vi.

 

Não apenas isso; é um dos filmes mais perturbadores e sujos que já vi, graças à técnica de direção de Shinya Tsukamoto. Mais detalhes sobre isso logo depois.

 

Primeiro, deixe-me dizer que eu tinha um certo preconceito com o cinema de terror oriental, principalmente porque eu achava que não era o tipo de cinema que eu fosse gostar, mais por causa das diferenças em relação ao cinema ocidental.

 

Mas, hoje em dia, tais preconceitos não existem mais, e já me considero um fã de filmes de terror orientais, em especial, do cinema de terror japonês, principalmente dos kwaidan.

 

Mas, hoje não estou aqui para falar de um kwaidan, e sim, de um filme de terror japonês ambientado já no começo do século XX, no caso, o filme de Tsukamoto.

 

Gemini é o clássico filme sobre gêmeos, ou seja, no gênero do terror, estamos falando da história do gêmeo bom e do gêmeo mal. Mas, não se engane, este aqui é um grande exemplar do gênero.

 

Na trama, o Dr. Daitokuji Yukio é um bem-sucedido médico na Tokyo de 1910, que tem sua vida virada de cabeça para baixo quando seu irmão gêmeo mata sua família e se apodera de sua vida pessoal e de sua esposa.

 

No fundo, é uma clássica trama de gêmeos que trocam de lugar, mas no fundo, é muito mais do que isso, porque descobrimos que existe um plano de vingança por trás de tudo isso, viso que Sutekichi, o gêmeo malvado, foi abandonado ainda bebê e criado na favela, enquanto Yukio foi criado na riqueza.

 

Quando Sutekichi descobre que existe outro homem igual a ele, dá início ao seu plano de vingança, matando primeiro os pais de seu irmão, para depois se apossar de sua vida e de sua esposa, que, conforme descobrimos, também morava na favela e era esposa de Sutekichi.

 

É um filme com uma trama de vingança bem amarrada, e parece ficar melhor a cada revisão, principalmente porque existem segredos escondidos ao longo da projeção, que parecem surgir toda vez que vemos o filme de novo; pelo menos comigo foi assim, principalmente agora, depois dessa última conferida.

 

Aliada à essa trama de vingança, temos uma técnica muito boa, que mistura câmera de mão, montagem frenética e truques de filmagem, principalmente quando os gêmeos estão juntos, que, apesar de serem poucas cenas, são muito bem dirigidas e enquadradas.

 

O diretor Tsukamoto tem uma grande habilidade para dirigir cenas frenéticas, não sei se isso faz parte do seu estilo de contar histórias, mas aqui, funciona muito bem. As cenas causam um certo desconforto à primeira vista, e não é fácil imaginar como elas devem ter sido filmadas, principalmente as sequências na favela, que fazem um belo contraste com as cenas na casa de Yukio. A favela é filmada com cores quentes, enquanto que a casa de Yukio é filmada com cores frias.

 

Além da técnica exemplar, o elenco também não faz feio, principalmente o ator Masahiro Motoki, que interpreta os gêmeos. Logo na primeira conferida, fica fácil distinguir um do outro, principalmente por causa de suas vestes; Yukio se veste de maneira impecável, enquanto Sutekichi se veste em trapos; além disso, ele tem uma marca de nascença na perna, o que torna mais fácil distinguir os dois, principalmente após Sutekichi assumir a identidade do irmão.

 

A atriz e modelo Ryo também não faz feio, e sua Rin transmite tudo aquilo que o diretor deve ter pedido, a doçura na casa de Yukio, e a maldade na favela. A caracterização da atriz também é muito boa, e combina com as fases da personagem.

 

Além de ser uma trama de vingança, Gemini também é um filme que pode ser interpretado como uma regressão ao estado animalesco, visto que Yukio praticamente se transforma em um animal quando é deixado pelo irmão no poço da propriedade, sendo obrigado a comer comida do chão, além de ficar coberto de sujeira.

 

O que mais pode ser dito, é que Gemini também possui uma conclusão aberta à interpretação, visto que realmente nunca fica evidente qual dos gêmeos venceu no final.

 

Foi lançado em DVD no Brasil pela Versátil Home Vídeo, na coleção Obras-Primas do Terror: Horror Japonês, com muitos extras.

 

Enfim, Gemini é um filme muito bom. Uma trama de horror e vingança contada de maneira brilhante por Shinya Tsukamoto, graças à sua câmera de mão frenética, montagem rápida e fotografia que contrasta bem os cenários. O elenco também merece destaque, porque estão todos atuando muito bem, principalmente os dois atores principais. Um dos melhores filmes de terror que já vi, e um dos melhores do cinema japonês.


Créditos: Versátil Home Vídeo.

 

terça-feira, 8 de outubro de 2024

GATO NEGRO (1981). Dir.: Lucio Fulci.

 

NOTA: 8


GATO NEGRO é o encontro entre o escritor Edgar Allan Poe, e o diretor Lucio Fulci.

 

Lançado em 1981, o filme faz parte da grande fase de Fulci no horror, que começou com o clássico Zombie (1979), onde o cineasta mostrou que o seu lugar era no terror.

 

Gato Negro faz parte desse período, e pessoalmente, eu o considero um dos filmes mais bizarros dessa época. Bizarro porque, apesar de ser muito livremente baseado em O Gato Preto, o roteiro foca em uma trama com elementos paranormais, misturada com trama de serial killer, mas, nesse caso, o tal serial killer é o gato preto do título.

 

Parece estranho, mas, também é muito divertido, porque, os níveis de absurdo fazem o espectador fã de Fulci curtir o longa até o final da projeção.

 

Na trama, os habitantes de um vilarejo inglês são assassinados de maneira misteriosa, e, preocupados com o desaparecimento de um casal de jovens, recebem a visita de um inspetor da Scotland Yard, que conta com a ajuda de uma fotografa, que acredita que o responsável pelas mortes é um gato preto que pertence a um professor.

 

Parece ser uma trama um tanto simples, não? Bem, na superfície, até que é, mas, no fundo, ela é bem mais complicada.

 

É uma trama um tanto complexa em certos momentos, porque envolve um pouco de paranormalidade, principalmente por causa do Professor Miles, que possui o dom de se comunicar com os mortos.

 

Eu vou ser sincero aqui, e dizer que tais habilidades do professor não servem para praticamente nada, principalmente por causa de uma cena no cemitério, onde Miles tenta convencer um amigo morto a dizer onde está um determinado item. Infelizmente, isso nunca é explicado, e nunca mais é mencionado no roteiro.

 

Tirando esse problema, eu confesso que me diverti com Gato Negro, e digo que é um ótimo filme de animal assassino, além de ser um ótimo filme de Fulci.

 

Animais assassinos às vezes rendem bons filmes, e este aqui, felizmente, é um desses casos. E o filme não nega a que veio.

 

Logo na primeira cena, somos presenteados com um acidente causado pelo estranho felino, onde o proprietário de um veículo se choca contra o para-brisa, num espetáculo de gore. A partir daí, prepare-se para não levar o filme a sério, com o gato matando diversos personagens ao longo da projeção.

 

As cenas de morte acontecem em momentos aparentemente importantes, e de forma quase aleatória, mas, são muito criativas. Falo de pessoas sufocadas, queimadas e perfuradas por canos de metal. Além disso, não podemos deixar de presenciar cenas com o felino usando suas garras afiadas.

 

A maquiagem é muito boa, e aqui, Fulci quase dá uma pisada no freio no quesito gore, porque não temos corpos mutilados e pessoas com os olhos arrancados, mas, quando os efeitos aparecem, eles convencem muito bem. Ao meu ver, isso era algo comum no cinema de terror italiano da época; a preocupação em criar efeitos convincentes, principalmente nos filmes de Fulci.

 

Além dos efeitos, temos também a direção afiada de Fulci, principalmente nas cenas envolvendo o gato. Em determinados momentos, Fulci faz sua câmera imitar o ponto de vista do animal, ou seja, ela fica próxima ao chão, e as lentes aparentam ser distorcidas. Em relação aos atores, Fulci também consegue fazer um bom trabalho, e quase todos estão muito bem em seus papéis.

 

E por último, temos as locações inglesas. O filme foi rodado em três vilarejos no interior da Inglaterra, além dos estúdios em Roma. As tomadas do vilarejo são muito boas, e chegam até a ser nostálgicas e convidativas. Nostálgicas porque parece que estamos assistindo a algum filme britânico dos anos 70.

 

Outras locações que merecem menção, são a tumba que aparece no começo do filme, e o próprio cemitério do vilarejo. A tumba é cheia de teias de aranhas, esqueletos e ossos espalhados; e o cemitério é envolto pela névoa, e fica mais sinistro durante a noite. Dois cenários perfeitos para um filme de terror.

 

Foi lançado em DVD no Brasil pela Versátil Home Vídeo, na coleção Edgar Allan Poe no Cinema – Vol.2, em versão restaurada com áudio em italiano. 

 

Enfim, Gato Negro é um filme muito bom. Uma história de animal assassino contada com maestria pelo Padrinho do Gore, Lucio Fulci, livremente baseado na clássica história de Edgar Allan Poe. A direção de Fulci é um dos pontos positivos, com sua câmera que simula o ponto de vista do felino; além disso, o filme conta com boas cenas de morte criativas, levemente carregadas no gore. Um filme que faz parte da melhor fase de Fulci no gênero, e um de seus trabalhos mais interessantes.


 

Créditos: Versátil Home Vídeo.


LISA E O DIABO (1973). Dir.: Mario Bava.

  NOTA: 10 LISA E O DIABO é um filme belíssimo.   Uma história de horror, fantasia e mistério contada com a maestria do Maestro Mario Ba...