O LIVROS & FILMES DE HORROR está em recesso.
Obrigado.
Resenhas de Filmes de Terror e Livros em geral. Filmes de outros gêneros também são resenhados. Livros técnicos não terão resenhas publicadas.
NOTA: 10
LISA E O DIABO
é um filme belíssimo.
Uma história de horror, fantasia e mistério contada
com a maestria do Maestro Mario Bava, e um de seus melhores filmes.
Eu já comentei sobre alguns filmes do Maestro aqui, e
até agora, não encontrei nenhum que me decepcionasse.
Lisa e o Diabo
faz parte do ciclo gótico do cineasta, ciclo esse que o tornou bastante
conhecido, visto que ele foi um dos responsáveis por torna-lo popular na Itália,
graças ao sucesso que O Vampiro da Noite
(1957) fez no país.
Podemos também encarar o filme como uma espécie de
homenagem que Bava faz a si mesmo, visto que existem cenas que lembram seus
filmes anteriores, além do uso de suas técnicas bastante conhecidas.
Na trama, Lisa é uma turista que se perde em Toledo,
na Espanha, e vaga pelas ruas da cidade, até se encontrar com um casal rico, e
o carro deles quebra nas proximidades de uma antiga mansão, onde moram uma
condessa e seu filho, além de um estranho mordomo que intriga Lisa, por se
parecer com o Diabo.
Essa é a sinopse básica do filme, e pode até parecer
simples, mas, na verdade, o roteiro envolve alguns outros elementos, como
segredos de família e triângulos amorosos, que necessitam de um pouco de raciocínio
do espectador para serem compreendidos.
Esse é um detalhe da trama que precisa ser analisado
com muita calma, pois, não é explicado para nós logo de cara, ele acontece aos
poucos. E a cada revisão, o mistério parece aumentar, o que pede ainda mais raciocínio
de quem está assistindo.
Mas não se engane. Apesar dessa trama um pouco
complicada, Lisa e o Diabo é um
filme belíssimo, feito com as técnicas que somente o diretor Bava conhecia e
sabia utilizar.
A começar pela direção. Bava era um mestre com a
câmera, e sabia fazer coisas que nenhum outro cineasta soube. Aqui, mais uma
vez, ele mostra sua competência e cria cenas memoráveis, com ângulos inspirados,
além de uma movimentação suave, combinada a uma fotografia habilidosa.
Além da fotografia, o roteiro também merece menção,
porque, conforme mencionei, é um grande quebra-cabeça, onde as peças vão se
encaixando lentamente, com um mistério em torno dos três habitantes da mansão,
que aos poucos vai mostrando sua face e seu motivo.
Os cenários também são maravilhosos, principalmente a
mansão, que parece um gigantesco labirinto, com seus quartos vazios, um jardim
enorme e aspecto de decadência, algo que Bava adorava utilizar em seus filmes. Como
o filme se passa praticamente durante a noite, não é difícil nos sentirmos
ameaçados dentro daquele ambiente, principalmente o quarto do mordomo Leandro,
cheio de manequins.
Os personagens também são um ponto positivo, e os
atores atuam maravilhosamente. É possível acreditar que aquelas pessoas são reais,
que vivem naquela mansão decadente, presos em seu próprio mundo repleto de
segredos macabros. Lisa é a mocinha indefesa, que não entende o que está
acontecendo, nem como foi parar naquele mundo estranho, e acredita o tempo todo
que tudo não se trata de um sonho. O casal rico também não faz feio, e passam a
sensação de já estarem casados há muito tempo, e se cansaram um do outro, tanto
que a mulher procura conforto nos braços do chofer.
Mas o melhor personagem é o mordomo Leandro,
magistralmente interpretado por Telly Savalas. Ele é diabolicamente educado,
misterioso e perigoso, e deixa transparecer essas sensações desde a primeira aparição,
até o final do filme. Seu melhor momento é quando está em seu quarto recitando
um monólogo sobre trabalho e tradição, enquanto come suspiros e bebe conhaque. Além
disso, ele se mostra um grande fabricante de manequins, que desempenham um
papel importante na história, pois representam os personagens principais.
O filme todo possui um aspecto de sonho e fantasia, e
isso está presente desde a primeira cena, quando Lisa ouve a caixa de música ao
longe e aparenta ser enfeitiçada por ela, visto que acaba se perdendo de seu
grupo de excursão. E a sensação predomina até o final do filme, com eventos
estranhos e misteriosos acontecendo, como o fato de Lisa se parecer com a amante
do padrasto de Maximiliano, o que a deixa completamente confusa.
Esse é o grande segredo da trama. Lisa aparenta se
dividir entre ela mesma, e Ellena, amante do padrasto de Maximiliano, que
também se encanta por ela, e a mata. Como eu disse, é um mistério que vai se
resolvendo aos poucos, o que obriga o espectador a pensar no que está
acontecendo.
Acredito que tal sensação de estranheza se deve ao
fato do produtor Alfredo Leone, após o sucesso do filme anterior de Bava, Os Horrores no Castelo de Nuremberg (1972),
ter dado carta branca ao cineasta para fazer o filme que quisesse; então, chamou
dois roteiristas que haviam trabalhado com ele anteriormente, e os dois
desenvolveram a história a partir das ideias do diretor.
Tal mistério não impede o filme de ser uma verdadeira
obra de arte, onde Bava aparentemente faz um resumo de sua vida, segundo dizem
os biógrafos do cineasta. De fato, existem conexões com outros filmes
anteriores do diretor, seja em takes e cenas, seja na própria história. Menções
à A Maldição do Demônio (1960), O Ciclo do Pavor (1966) e Hércules no Centro da Terra (1961), por
exemplo, estão presentes no longa.
Além disso, o filme também pode ser encarado como uma
espécie de final de ciclo, visto que, naquela época, o gênero gótico dava
sinais de declínio, e o que entrava em vigor eram os filmes mais pesados, os exploitation, por exemplo, algo que o
cineasta explorou no Giallo Banho de Sangue
(1971), que se tornou uma espécie de precursor do Slasher americano.
Por esse e outros motivos, Lisa e o Diabo é um filme que merece ser visto pelos fãs de terror.
Foi lançado em DVD no Brasil pela Versátil Home Vídeo,
na coleção Obras-Primas do Terror 2,
que conta com um documentário nos extras.
Enfim Lisa e o
Diabo é um filme excelente. Uma história de horror, mistério, romance e
fantasia contada com maestria pelo Maestro Mario Bava, que faz uso de suas técnicas
impares e únicas para contá-la. Um clima de mistério toma conta do filme desde
a primeira cena e permanece até o final, com a protagonista presa em uma espécie
de sonho macabro que encanta. Um dos melhores filmes de Mario Bava, e sua
grande obra-prima.
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Créditos: Versátil Home Vídeo. |
NOTA: 9
O Ciclo dos Monstros Clássicos da Universal foi um
dos mais importantes de todos os tempos, não apenas para o cinema de horror,
mas para o próprio estúdio também, pois, foi graças aos clássicos Drácula (1931) e Frankenstein (1931), que os lucros aumentaram durante a famigerada
época da Grande Depressão.
O HOMEM
INVISÍVEL, lançado em 1933, e dirigido por James Whale, é mais um exemplar
desse maravilhoso ciclo, e um dos melhores, também.
Aliás, eu me arrisco a dizer que o Ciclo Clássico não
tem filmes ruins.
Além de ser um dos melhores, este aqui também é a
segunda adaptação de uma obra de H.G. Wells para o cinema; a primeira havia
sido A Ilha das Almas Selvagens,
lançada um ano antes pela Paramount, baseada no livro A Ilha do Dr. Moreau.
Mas, segundo os historiadores de cinema, Wells não ficou
satisfeito com o resultado da adaptação, e, quando a Universal resolveu adaptar
O
Homem Invisível, ele pediu que o estúdio tivesse mais cuidado e
respeito com o material original.
Mas, falarei sobre os detalhes da produção mais para
frente.
O Homem
Invisível é um filme excelente, realizado com excelentes técnicas de direção,
e efeitos especiais que até hoje impressionam.
Não apenas isso, este é também um dos filmes mais
divertidos do Ciclo, graças à direção de James Whale, que imprime seu característico
humor camp, que esteve presente no seu filme anterior, o ótimo A Casa Sinistra (1932).
Whale entrou no projeto graças à sua influência no
estúdio, que se tornou evidente após o sucesso da adaptação da peça Journey’s End, que foi adaptada pelo
estúdio no começo dos anos 30, e que possibilitou de Whale dirigisse Frankenstein, lançado em 1931, que impulsionou
a carreira de Boris Karloff, e deu início a uma das franquias mais rentáveis da
Universal, os filmes de terror.
No entanto, a produção de O Homem Invisível não foi fácil, porque o filme passou pelo
processo que hoje é conhecido como “Inferno de desenvolvimento”, visto que o
roteiro passou por várias pessoas diferentes, que se diferenciavam bastante do
romance de Wells. Esse processo demorado continuou até Wells chamar R.C.
Sheriff, que havia escrito Journey’s End,
para escrever o roteiro, desta vez, parcialmente inspirado no romance de Wells
e no romance The Murderer Invisible,
cujos direitos foram adquiridos pelo estúdio.
Como eu ainda não li o livro de Wells, não sei se o
filme ficou próximo do mesmo, mas, eu digo que é um roteiro muito bem escrito,
com pequenas peças que vão se encaixando aos poucos, e que mistura elementos de
terror e ficção cientifica com um toque especial, além de conter alguns
elementos de humor negro, que se tornariam característicos de Whale durante sua
curta carreira.
Além do roteiro inteligente, o filme conta com um
ótimo elenco, liderado pelo ator Claude Rains, que atua de maneira brilhante,
principalmente com sua voz impactante. Em momento nenhum, o elenco escolhido
por Whale faz feio em suas performances, e cada um atua de acordo com as instruções
que devem ter sido passadas pelo diretor, com menção para o colorido elenco de
apoio, que conta com atores cômicos.
No entanto, eu acredito que o que mais chama atenção em
O Homem Invisível são seus efeitos
especiais, que, como eu disse, ainda surpreendem e não ofendem o espectador. Os
efeitos foram criados por John Fulton, e contavam com o que mais havia de
moderno na época. Para as cenas em que o ator não estava presente, foram
utilizados cabos especiais, invisíveis na lente da câmera; no entanto, quando Rains
estava presente com algumas peças de roupa, o ator foi coberto por um tecido
preto, e fotografado contra um fundo da mesma cor, e as cenas foram combinadas
na pós-produção. De acordo com os historiadores de cinema, Fulton teve mais
dificuldade na cena em que o Homem Invisível está sentado diante de um espelho,
tirando suas faixas de gaze. Foi uma sequência difícil porque quatro peças
diferentes de filme foram fotografadas e depois combinadas.
Como eu disse acima, os efeitos são impressionantes
até hoje, e devem ter servido de inspiração para vários técnicos e cineastas
futuros, além de ter arrancados suspiros das plateias, que ainda estavam
impressionadas pelos efeitos especiais de King
Kong, que foi lançado no mesmo ano.
No entanto, apesar de gostar muito do filme, eu devo
dizer que não sou muito fã desse humor camp do diretor Whale; eu considero
muito exagerado em certos pontos, e isso se deve principalmente a alguns dos atores
que ele escala para seus filmes; isso ficou evidente para mim em A Casa Sinistra, e me incomodou um
pouco. Aqui, também temos um pouco disso, e é um pouco demais.
Mas isso não impede O Homem Invisível de ser um grande filme, que merece visto por fãs
de cinema.
Enfim, O Homem Invisível é um filme excelente. Um filme de terror e ficção cientifica contado com uma maestria inspirada, auxiliada por um elenco inteligente, e por efeitos especiais que impressionam até hoje. Um roteiro muito bem escrito, que combina terror, ficção cientifica e humor negro muito bem, e deixa os elementos quase imperceptíveis. Um dos melhores filmes do Ciclo dos Monstros Clássicos da Universal Studios.
NOTA: 10
O DESPERTAR
DOS MORTOS é, sem dúvida, o melhor filme de George A. Romero, além de ser o
melhor filme de zumbis de todos os tempos.
Filme do meio da trilogia dos zumbis, esse filme
apresentou tudo aquilo que hoje é utilizado em mídias sobre apocalipse zumbi.
Algumas regras já haviam sido estabelecidas em A Noite dos Mortos-Vivos, mas, em Despertar, elas foram aumentadas, e
hoje em dia, tornaram-se praticamente obrigatórias.
Isso sem falar que, assim como seu antecessor, é um
filme repleto de comentário social, desta vez, voltado para o consumismo.
Essa era uma característica nos filmes de Romero,
mas, acredito que ficaram ainda mais em evidência dos seus filmes de zumbi,
visto que o cineasta soube fazer isso com maestria, maestria essa que até hoje
é discutida por cinéfilos e cineastas.
Além de tudo isso, Despertar também é um marco do gore, graças aos efeitos especiais
do mestre Tom Savini, mas, mais detalhes sobre isso adiante.
Na trama, o mundo está quase todo devastado pelos
zumbis. Sabendo disso, um grupo de quatro pessoas foge em um helicóptero e
acaba encontrado um shopping center, onde acaba se instalando para escapar do
ataque dos mortos-vivos.
Assim como no anterior, é uma trama simples que
também está carregada de comentários sociais, mas, ao contrário do primeiro
filme, é possível perceber que o orçamento foi um pouco maior aqui.
A grandeza do filme está presente desde os seus
bastidores.
Romero estava com dificuldades de produzir uma continuação
para o primeiro filme, mas acabou recebendo apoio do diretor Dario Argento, que
já era um grande fã do cineasta, e vice-versa. Assim, Romero viajou para a Itália,
onde conseguiu desenvolver o roteiro e conseguiu financiamento para realizar o
filme.
É legal saber que Romero teve apoio de Argento para
fazer o filme, o que formou uma grande amizade entre eles, que se consolidou
ainda mais quando se uniram novamente para dirigir o filme Dois Olhos Satânicos (1990), antologia baseada em dois contos de Edgar
Allan Poe.
Ainda segundo Romero, a ideia para este filme surgiu
quando ele estava em um shopping center em Pittsburg, e imaginou como seria se
uma horda de zumbis invadisse o lugar.
Conforme mencionado acima, a crítica da vez está no consumismo
exagerado, e não deixa de ser verdade, visto que, quando as pessoas vão ao
shopping, elas passam horas no local, olhando para os itens em oferta, e além
disso, quando acontece alguma promoção em alguma loja, não é incomum ver um
grupo de pessoas se formando na porta do estabelecimento, prontas para agarrar
os itens o quanto antes. Eu já vi uma imagem dessas na internet, mas, graças a Deus,
nunca presenciei algo como esse pessoalmente.
Agora que já comentei um pouco a respeito do
comentário social presente no filme, deixe-me falar sobre os personagens.
O roteiro é focado em grupo de quatro pessoas,
formado por dois policias da SWAT, uma repórter de TV e um piloto da emissora. A
interação entre eles é muito boa, e é possível identificá-los rapidamente,
assim que aparecem no filme. Fran se encaixa a princípio no perfil da mocinha
indefesa, visto que ela começa o filme toda fragilizada, mas, conforme a trama
avança, ela se mostra tão forte quanto os homens. Stephen é o seu namorado, e é
o piloto do grupo; no início, ele também se mostra receoso em matar as
criaturas, mas muda de atitude quando percebe que não há outra saída. Peter e Roger
são os agentes da SWAT, e cada um possui sua própria personalidade; Roger é
valente e não tem medo do perigo; Peter, por outro lado, é mais racional, mas
valente, também.
Juntos, os personagens formam um grupo bastante
unido, e se apoiam nas decisões importantes que devem ser tomadas. Além disso,
eles se unem também na hora de tomar o shopping, chegando a construir quase que
uma casa dentro do prédio, no local onde escolheram para se esconder. E na hora
do combate, eles se unem ainda mais, cada um dentro de suas habilidades.
O roteiro de Romero também é muito afiado no que quis
respeito ao ritmo. Logo no começo, fomos brindados com uma confusão no estúdio de
TV, passando para uma guerra no conjunto habitacional de cubanos. Depois desse
início frenético, as coisas começam a andar de forma mais lenta, com os
personagens tomando o shopping, procurando um lugar para se esconder, depois, começam
a tomar as coisas das lojas, até que conseguem se firmar no local. Mas não é só
isso. A trama também se preocupa em explorar as relações entre os quatro,
principalmente entre Fran e Stephen.
Em determinado momento, um grupo de motoqueiros
saqueadores invade o prédio e provoca uma guerra com os quatro, o que leva a
trama de volta à ação, visto que eles também lutam contra os zumbis das formas
mais criativas possíveis.
Conforme mencionado acima, o filme é também um marco
do gore, graças aos excelentes efeitos especiais de Tom Savini. O visual dos
zumbis é básico, até, com uma tonalidade cinza e azulada, mais os efeitos de
morte são o auge. Logo na primeira sequência de ação, no conjunto habitacional
dos cubanos, somos presenteados com uma cabeça explodindo em frente à câmera,
além de cenas de pessoas sendo mordidas. No shopping, a coisa não é muito
diferente, com os zumbis sendo derrotados com tiros na cabeça, mas com efeitos
diversos. No entanto, o melhor acontece quando eles matam os motoqueiros,
arrancando seus órgãos na base da unha, e devorando-os vivos. No entanto, Savini
deixaria o melhor para o filme seguinte da trilogia, Dia dos Mortos (1985), mas isso é assunto para outra resenha.
Despertar dos Mortos
foi financiado por Dario Argento, conforme mencionei, e com isso, acabou
ganhado uma versão remontada pelo cineasta italiano para o mercado europeu, que
recebeu o título de Zombie. Além da versão
editada por Argento, o filme também possui uma versão estendida, com 139
minutos, considerada por muitos como a Versão do Diretor; no entanto, Romero afirmava
que a sua Versão do Diretor era a versão original, com 127 minutos. A versão escolhida
para esta resenha é justamente a Versão do Diretor.
Foi lançado em Blu-ray e DVD no Brasil pela Versátil Home
Vídeo, numa edição que apresenta as três edições, em versões restauradas, com
um disco só de extras. Atualmente, tais edições estão fora de catálogo.
Enfim, O
Despertar dos Mortos é um filme excelente. O filme que apresentou as
principais regras para as mídias posteriores, além de contar com uma direção inspirada,
roteiro afiado, e efeitos especiais bastante criativos. Um filme que se tornou
um marco do gore, e também, o melhor filme de zumbis de todos os tempos, além
de ser o melhor filme do diretor George A. Romero.
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Créditos: Versátil Home Vídeo. |
NOTA: 6
Dez anos após sua primeira aparição, Michael Myers está
de volta em HALLOWEEN 4 – O RETORNO DE
MICHAEL MYERS.
E chegamos a Halloween
4, o filme que retoma a linha do tempo que terminou em Halloween II, e que dá início à polêmica Trilogia de Thorn, que, na
opinião de muitos críticos, destruiu a mitologia da franquia, além de não fazer
muito sentido.
Além disso, esse filme também não se iguala ao
primeiro, e nem ao segundo em questões técnicas e de roteiro, mas, mais
detalhes sobre isso mais para frente.
Primeiro, vamos começar dizendo como essa sequência
ganhou a luz do dia.
Depois da recepção fria do filme anterior, o produtor
Moustapha Akkad queria retomar as raízes da franquia, ou seja, queria trazer Michael
de volta. Sendo assim, ele chamou os criadores, John Carpenter e Debra Hill,
para escreverem o roteiro, mas, a ideia deles se distanciou muito do que Akkad tinha
em mente.
Segundo informações da internet, e de um livro que
fala sobre as ideias rejeitadas de continuações para a franquia, o roteiro de Carpenter
e Hill focava nas consequências do massacre de 1978, com a cidade de Haddonfield
abandonando o Halloween, e com uma nova onda de assassinatos acontecendo, o que
despertaria a possibilidade de que um novo Michael Myers estaria surgindo.
No entanto, a Akkad não gostou da proposta e rejeitou
o roteiro, o que levou Carpenter e Hill a abandonarem a franquia, e Akkad a
adquirir os direitos. Então, um novo roteirista foi contratado, e, segundo informações,
ele teve de agir rápido, porque, naquele ano, uma greve de roteiristas estava
prestes a estourar. O roteirista conseguiu finalizar o trabalho em alguns dias,
mas não havia tempo para revisões e reescritas, o que prejudicou o resultado.
O diretor Dwight H. Little também não tinha muita experiência
no cinema, e teve que trabalhar num ritmo acelerado para concluir o filme a
tempo para o lançamento. Posso dizer que ele fez um trabalho decente, apesar de
cometer alguns erros, principalmente na hora de montar o filme.
Assim como o primeiro, Halloween 4 foi rodado na primavera, o que levou os realizadores a
se virar para encontrar folhas secas e abóboras para decorar os cenários. Levando em conta o tempo que tiveram, eu diria
que eles conseguiram se virar muito bem.
Na trama, Michael passa dez anos em um hospital, e
será transferido para Smith’s Grove. No entanto, ele consegue matar os paramédicos
e parte de volta para Haddonfield, com o intuito de matar sua sobrinha. Sabendo
que Michael está à solta novamente, o Dr. Loomis decide ir à caça do assassino.
Passado esse resumo da trama, vamos falar sobre o
filme em si.
Halloween 4 é
um filme que tenta seguir a fórmula criada por Carpenter, além de tentar seguir
também a fórmula dos slashers que estavam em vigor na época. Mas, além disso,
ele se esforça para ser uma continuação, visto que apresenta novos personagens
e situações que não estavam presentes nos filmes anteriores.
Eu vou sincero aqui e dizer que até gosto dos
personagens novos, e eles funcionam bem no filme, principalmente a garotinha Jamie
Lloyd, a filha de Laurie Strode, que, segundo a trama, morreu em um acidente automobilístico,
o que levou Jamie a ser adotada por outra família.
A família de Jamie convence bem, e os atores não fazem
feio em suas performances, assim como boa parte do elenco. A irmã mais velha, Rachel,
se apresenta como uma possível final-girl certinha, que cuida da irmã mais nova
e a leva para pedir doces no Halloween.
O mesmo pode ser dito a respeito dos outros jovens
que compõem o elenco, o namorado de Rachel, e a filha do novo xerife, eles
cumprem bem seus papéis.
No entanto, isso não livra o filme de muitos erros,
principalmente no roteiro. Como eu disse acima, o roteiro foi escrito em poucos
dias antes da greve, portanto, não foi possível fazer uma revisão, ou
reescrevê-lo, o que leva o filme a apresentar situações absurdas, que não fazem
sentido, em sua maioria.
A principal delas, para mim, é quando um dos homens
do xerife informa a ele que descobriu que os demais policiais foram massacrados
na delegacia. Isso não faz o menor sentido, visto que há repórteres na cidade,
e também ocorreu um blackout. Como ele descobriu isso, então? Porque deve ter
ouvido os linchadores comentando entre si? Como, se ele ficou na casa de Jamie o
tempo todo? Eu não engulo essa cena.
Outro erro está na sequência final na caminhonete. De
acordo com a cena, Michael surge por trás do veículo e mata todos os homens. Mas,
como ele apareceu lá, se, na cena anterior, ele foi derrubado por um extintor
de incêndio na escola? Em momento nenhum, ele é visto saindo da escola e se
escondendo debaixo do veículo. Eu não sei como essa cena faz sentido.
Além disso, a montagem às vezes também parece não fazer
sentido, principalmente na sequência de perseguição na escola, porque, parece
que Michael está em vários lugares do prédio ao mesmo tempo, o que deixa a sequência
mais confusa, e parece que a geografia do prédio é confusa.
Quando eu era mais novo, eu admito que não dava importância
para esses problemas, mas, conforme fui ficando mais velho, com um certo senso
crítico, fui percebendo o quão bagunçado é esse filme.
Outro problema apresentado por alguns críticos, é o
visual do vilão. Após sua fuga, fica claro que Michael roubou o macacão de um mecânico,
mas o problema é o visual de sua máscara. É mostrado que Michael a rouba de uma
loja de fantasias, mas, ela não lembra em nada a máscara original, sendo
aparentemente lisa, contando com os olhos negros e expressão facial neutra. Aliás,
essa questão da máscara ficaria mal resolvida ao longo das demais continuações.
As cenas de morte também não são muito inspiradas;
para falar a verdade, eu diria que elas aparentam terem sido censuradas pela
MPAA, o que as deixou incompletas. Mas isso não as impediu de apresentar
problemas, em especial, a cena em que a filha do xerife é empalada na parede
por uma espingarda. Essa é mais uma cena que não faz o menor sentido, além de não
ser nem um pouco prática e inverossímil.
E claro, não podemos deixar que falar do maior
problema do filme – e das duas sequências –, que é a presença do Dr. Loomis. Conforme
vimos em Halloween II, ele provoca
uma explosão no hospital que deixa Michael incapacitado, e que, na teoria,
deveria matá-lo. O fato de Michael sobreviver à explosão pode até ser perdoado,
mas Loomis sobreviver e ficar com uma cicatriz minúscula no rosto e nas mãos
também não é verossímil. Se foi uma condição imposta por Moustapha Akkad,
mostra que realmente ele não estava interessando em coerências.
E a derrota de Michael deixa evidente que o fato dele
ter sobrevivido em Halloween 5
também não faz sentido, principalmente por causa do local onde ele foi
derrotado.
No entanto, apesar dos erros, Halloween 4 tem seus bons momentos, como boas cenas de suspense,
além de contar com uma boa cena de ação na caminhonete, e uma ótima sequência
de créditos iniciais, e uma boa trilha sonora.
Enfim, Halloween 4 é um filme bom. Uma continuação decente para a franquia Halloween, que traz seu principal personagem de volta, além de fazer adições razoáveis ao elenco. Um filme que contêm muitos erros, principalmente no roteiro, mas eles são compensados pela trilha sonora e por um elenco que atua bem.
NOTA: 8.5
A NOITE DOS
DEMÔNIOS é um dos filmes de terror mais cultuados de todos os tempos.
Além disso, é um dos filmes mais arrepiantes e
divertidos que eu já vi, mesmo após ter visto as continuações.
Na verdade, eu não sei se o filme é de fato cultuado
lá fora, mas acredito que a sua vilã principal, a adolescente Angela, seja uma
das figuras mais conhecidas do gênero.
Este é um grande filme com temáticas de Halloween e possessão
demoníaca, e os aborda de maneira bem sincera, e principalmente, faz questão de
ser arrepiante.
O longa é também parte daqueles filmes de terror dos
anos 80 que possuem um roteiro bem criativo, aliado a uma técnica de direção afiada,
que foca em detalhes importantes da narrativa.
Na trama, a adolescente Angela promove uma festa de Halloween
numa casa funerária abandonada. Durante a festa, ela propõe uma brincadeira com
um espelho da casa, e, após o espelho cair acidentalmente, um demônio é
libertado e todos passam a ser possuídos.
É uma trama básica de possessão demoníaca, não?
Somando isso o fato do filme se passar no Halloween, deixa-o ainda melhor e
mais sinistro.
A Noite dos Demônios
é um filme muito criativo, a começar pela técnica de direção de Kevin Tenney,
que faz uso de câmeras que simulam o ponto de vista da entidade, a lá Uma Noite Alucinante, além de truques impecáveis
de maquiagem, e uma trilha sonora inspirada.
O elenco de jovens também está afiado, principalmente
a atriz Amelia Kinkade, que interpreta a icônica Angela, com seu vestido de noiva
negro e brincos de cruzes. Ao lado de Amelia, Linnea Quigley também brilha, com
sua divertida Suzanne, que está sempre preocupada com a maquiagem. Quem também
funciona é Cathy Podewell, no papel da heroína Judy, que pode ser considerada
uma final-girl.
Mas não se engane. A maquiagem é o grande destaque, e
os efeitos funcionam muito bem. O maquiador Steve Johnson criou grandes coisas,
e a aparência dos demônios é muito boa e não exagerada, o que é de bom tamanho.
Eu diria que o visual de Angela é o melhor, com seus dentes afiados e voz grossa,
combinado com o figurino negro. A personagem retornaria nas continuações com o
mesmo visual.
É possível perceber que os demônios aqui têm as suas próprias
regras, e elas funcionam muito bem. A possessão acontece após um contato
imediato, e afeta também aqueles que morrem nas mãos dos demônios.
O design de produção também merece destaque,
principalmente a casa funerária abandonada. O lugar é aquilo que se pode
esperar de um filme de terror, com as janelas cobertas por tábuas, corredores
escuros e luminosidade muito limitada. E quando os personagens tentam fugir dos
demônios, a casa parece se transformar em um labirinto, o que deixa as cenas de
terror ainda mais angustiantes.
No entanto, apesar do roteiro esperto, que dá foco a
pequenos detalhes, como o fato dos brincos de Angela se inverterem após ela ser
possuída, existe uma questão que, ao meu ver, não foi bem explorada: a presença
de água corrente abaixo da casa, o que impede os demônios de cruzar o local. Apesar
de ser mencionado no começo, esse fato não retorna no final.
Mas, apesar desse pequeno detalhe, a Noite dos Demônios é muito divertido.
Nos anos 90, recebeu duas continuações direto para vídeo, ambos que marcam o
retorno de Amelia Kinkade no papel de Angela.
Foi lançado em DVD no Brasil na coleção Sessão de Terror Anos 80 – Vol.4, da Obras-Primas
do Cinema, em versão remasterizada, com uma entrevista de Amelia Kinkade nos
extras.
Enfim, A Noite
dos Demônios é um filme muito bom. Uma história de Halloween e possessão demoníaca
contada com uma grande técnica de direção, e grandes efeitos de maquiagem. Um filme
muito divertido, que consegue ser assustador em determinados momentos, graças à
câmera do diretor Kevin Tenney. Um dos filmes mais divertidos dos anos 80.
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Créditos: Obras-Primas do Cinema. |
NOTA: 8.5
GEMINI é
um dos melhores filmes de terror que eu já vi.
Não apenas isso; é um dos filmes mais perturbadores e
sujos que já vi, graças à técnica de direção de Shinya Tsukamoto. Mais detalhes
sobre isso logo depois.
Primeiro, deixe-me dizer que eu tinha um certo
preconceito com o cinema de terror oriental, principalmente porque eu achava
que não era o tipo de cinema que eu fosse gostar, mais por causa das diferenças
em relação ao cinema ocidental.
Mas, hoje em dia, tais preconceitos não existem mais,
e já me considero um fã de filmes de terror orientais, em especial, do cinema
de terror japonês, principalmente dos kwaidan.
Mas, hoje não estou aqui para falar de um kwaidan, e
sim, de um filme de terror japonês ambientado já no começo do século XX, no
caso, o filme de Tsukamoto.
Gemini é o
clássico filme sobre gêmeos, ou seja, no gênero do terror, estamos falando da
história do gêmeo bom e do gêmeo mal. Mas, não se engane, este aqui é um grande
exemplar do gênero.
Na trama, o Dr. Daitokuji Yukio é um bem-sucedido
médico na Tokyo de 1910, que tem sua vida virada de cabeça para baixo quando
seu irmão gêmeo mata sua família e se apodera de sua vida pessoal e de sua
esposa.
No fundo, é uma clássica trama de gêmeos que trocam
de lugar, mas no fundo, é muito mais do que isso, porque descobrimos que existe
um plano de vingança por trás de tudo isso, viso que Sutekichi, o gêmeo malvado,
foi abandonado ainda bebê e criado na favela, enquanto Yukio foi criado na
riqueza.
Quando Sutekichi descobre que existe outro homem
igual a ele, dá início ao seu plano de vingança, matando primeiro os pais de
seu irmão, para depois se apossar de sua vida e de sua esposa, que, conforme
descobrimos, também morava na favela e era esposa de Sutekichi.
É um filme com uma trama de vingança bem amarrada, e
parece ficar melhor a cada revisão, principalmente porque existem segredos
escondidos ao longo da projeção, que parecem surgir toda vez que vemos o filme
de novo; pelo menos comigo foi assim, principalmente agora, depois dessa última
conferida.
Aliada à essa trama de vingança, temos uma técnica
muito boa, que mistura câmera de mão, montagem frenética e truques de filmagem,
principalmente quando os gêmeos estão juntos, que, apesar de serem poucas
cenas, são muito bem dirigidas e enquadradas.
O diretor Tsukamoto tem uma grande habilidade para
dirigir cenas frenéticas, não sei se isso faz parte do seu estilo de contar
histórias, mas aqui, funciona muito bem. As cenas causam um certo desconforto à
primeira vista, e não é fácil imaginar como elas devem ter sido filmadas,
principalmente as sequências na favela, que fazem um belo contraste com as
cenas na casa de Yukio. A favela é filmada com cores quentes, enquanto que a
casa de Yukio é filmada com cores frias.
Além da técnica exemplar, o elenco também não faz
feio, principalmente o ator Masahiro Motoki, que interpreta os gêmeos. Logo na
primeira conferida, fica fácil distinguir um do outro, principalmente por causa
de suas vestes; Yukio se veste de maneira impecável, enquanto Sutekichi se
veste em trapos; além disso, ele tem uma marca de nascença na perna, o que
torna mais fácil distinguir os dois, principalmente após Sutekichi assumir a
identidade do irmão.
A atriz e modelo Ryo também não faz feio, e sua Rin transmite
tudo aquilo que o diretor deve ter pedido, a doçura na casa de Yukio, e a
maldade na favela. A caracterização da atriz também é muito boa, e combina com
as fases da personagem.
Além de ser uma trama de vingança, Gemini também é um filme que pode ser
interpretado como uma regressão ao estado animalesco, visto que Yukio
praticamente se transforma em um animal quando é deixado pelo irmão no poço da
propriedade, sendo obrigado a comer comida do chão, além de ficar coberto de
sujeira.
O que mais pode ser dito, é que Gemini também possui uma conclusão aberta à interpretação, visto
que realmente nunca fica evidente qual dos gêmeos venceu no final.
Foi lançado em DVD no Brasil pela Versátil Home Vídeo,
na coleção Obras-Primas do Terror: Horror
Japonês, com muitos extras.
Enfim, Gemini é um filme muito bom. Uma trama de horror e vingança contada de maneira brilhante por Shinya Tsukamoto, graças à sua câmera de mão frenética, montagem rápida e fotografia que contrasta bem os cenários. O elenco também merece destaque, porque estão todos atuando muito bem, principalmente os dois atores principais. Um dos melhores filmes de terror que já vi, e um dos melhores do cinema japonês.
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Créditos: Versátil Home Vídeo. |