NOTA: 10
VOO NOTURNO (1997) |
Para mim, VOO NOTURNO (1997), baseado no conto O Piloto da Noite, tem
uma grande importância, porque foi meu primeiro contato como escritor Stephen
King, que se deu por meio da capa do VHS, quando minha mãe mostrou para mim na
locadora.
Naquela ocasião, não aluguei o filme; somente alguns anos depois, como
sempre fazia nos fins de semana. Quando pus a fita no videocassete, o resultado
foi uma das experiências mais aterrorizantes da minha vida! Eu quase não
consegui ver o filme direito; passei a maior parte do tempo escondido atrás da
parede do corredor. Numa outra oportunidade, até consegui assistir, mas quando
chegou ao clímax, fiquei a noite sem dormir, porque era muito assustador – e
ainda é, mas hoje, consigo assistir sem problemas. Eu só consegui assistir ao
filme, sem medo, depois de outras tentativas, conforme fui ficando mais velho,
e me acostumando com ele.
Não se engane. Mesmo sendo uma das adaptações mais assustadoras –
talvez a mais assustadora – de Stephen King, Voo Noturno é excelente! Com sua simplicidade impar, consegue
assustar e provocar pesadelos, sem o menor esforço, e tudo contribui pra isso.
O primeiro fator talvez seja o clima. Desde o começo, o filme tem um
clima de mistério, com sua fotografia escura e trilha sonora de piano – aliás,
brilhante trilha sonora. E desde a abertura, o filme não nega fogo, mostrando
logo de cara uma cena sangrenta e silhueta do vampiro. E o mesmo acontece até o
final. O diretor Mark Pavia conduz a trama de maneira brilhante, e com certeza,
fez uma excelente adaptação do conto original. Posso dizer que o filme, de
certa forma, completa a experiência de ler o conto, e vice-versa. Durante
certos momentos da leitura, eu me lembrei das cenas descritas no texto original
– o mesmo aconteceu enquanto lia a história.
O que mais contribui é a própria ambientação. O filme foi inteiramente
rodado na Carolina do Norte, e isso também causa uma sensação de medo, não
pelas locações, mas pela sensação que elas passam. Durante todo o filme, parece
que os lugares que o protagonista visita não são reais – e obviamente não são –
e não parecem passar uma sensação de segurança, mesmo durante o dia. Parece até
outra dimensão.
A trilha sonora, composta por Brian Keane, também é mais um fator.
Praticamente toda tocada no piano, ela parece entrar na mente do espectador, e
no momento em que ouvimos a melodia na nossa cabeça, na hora, lembramos do
filme. Existem momentos em que a trilha é mais pesada, de acordo com a cena,
mas, nada é melhor do que o tema do filme.
E por fim, os efeitos especiais e a própria sensação de pavor.
Impossível falar de um, sem falar do outro. Os efeitos de maquiagem, cortesia
da KNB Effects Group, são a melhor coisa do filme. Como o diretor faz questão
de esconder seu vampiro durante boa parte do filme, ele compensa a curiosidade
com a maquiagem. E olha, que excelente trabalho. Eu falo de perfurações nos
corpos das vitimas, membros espalhados e sangue manchado nas paredes – muito
sangue. E claro, a maquiagem do vampiro. Devo dizer que a expectativa em ver
seu rosto é compensada, porque, é um dos melhores visuais de vampiro e todos os
tempos, talvez um dos mais aterrorizantes. E a sensação de pavor, como já
disse, está presente no filme inteiro, mas com certeza, ela aumenta no clímax
no terminal, naquela que é a cena mais assustadora do filme inteiro. E olha, coisas
assim são difíceis de fazer hoje em dia.
Sobre os personagens, o seguinte. O protagonista, Richard Dees, é um
verdadeiro cretino. Sempre de cara fechada, arrogante e presunçoso, ele não
passa em nenhum momento a imagem do herói que está lutando contra o vilão, pelo
contrario; não dá pra torcer por ele. Katherine Blair, a jovem estagiaria do
tabloide, apesar de sua pouca presença, é o oposto. Ela já se mostra
prestativa, disposta a provar que é capaz de escrever sobre os crimes e ganhar
primeira pagina. Os demais personagens surgem apenas por pouco tempo, mas é
possível ver que são pessoas comuns, que tiveram uma relação verdadeira com as
vitimas, e que estão com medo do assassino.
E claro, o Vampiro Dwight Renfield. Como mencionado acima, o diretor
Paiva e o diretor de fotografia fazem questão de esconder seu rosto, mas, para
mim, isso não importa, porque ele consegue ser assustador; o tipo de personagem
que mete medo quando aparece na tela. Alto, magro, cabeludo, e com sua enorme
capa preta, quando ele surge, pode ter certeza que coisa boa não vai acontecer.
O vampiro é um verdadeiro monstro, sempre desmembrando, decapitando e mutilando
suas vitimas, com uma selvageria impar e implacável. Realmente, dá a sensação
de que nada nem ninguém, conseguirá impedi-lo. Nada! E claro, quando seu rosto
finalmente aparece, é um espetáculo. Seu avião é a mesma coisa. Um belíssimo
Cessna Skymaster negro, que percorre os céus como uma criatura sobrenatural, e
quando o vemos, no solo, já sentimos um calafrio.
Claramente, o filme foi rodado com baixo orçamento, mas, tudo foi
compensado na criatividade. Por exemplo, as cenas em que Dees está voando com
seu avião, foram rodadas em estúdio, mas o filme não passa essa sensação;
parece mesmo que o diretor filmou o ator Miguel Ferrer num avião no ar. Muito
bem feito. Quase não há efeitos digitais – apenas uma cena, que eu consegui
identificar – e muitos, muitos efeitos práticos, principalmente de maquiagem. A
ambientação no jornal é convincente, parece mesmo que aqueles personagens são
jornalistas, e que aquele tabloide existe – talvez, pudesse ser encontrado até
nas nossas bancas, vai saber. A direção de arte fez um ótimo trabalho nesse
quesito; a gente quase consegue tocar no jornal, de tão realista que ele é. Sem
duvida, um trabalho incrível.
E qual a melhor cena do filme? Sem duvida, a mais assustadora, o
clímax no terminal. A cena é construída de maneira brilhante, sem trilha
sonora, apenas com som ambiente, com excelentes efeitos de maquiagem, e em
preto e branco. Não sei se houve intenção do diretor de filmá-la em cores, mas
o fato é que a fotografia em preto e branco, consegue deixa-la muito mais
aterrorizante, digna de provocar calafrios e causar pesadelos. E toda vez que
eu vejo, eu sinto um leve arrepio, porque é uma cena brilhante, de verdade.
Vale muito a pena.
Voo Noturno teve um
lançamento limitado nos Estados Unidos, e infelizmente, foi um fracasso de
critica e bilheteria. No entanto, hoje em dia, possui status de cult, tanto entre os fãs de filmes de
vampiro, quanto entre os fãs da obra de Stephen King.
Enfim, Voo Noturno é um
filme excelente. Um dos filmes mais assustadores que já vi. Um excelente filme
de vampiros. Uma das melhores adaptações de Stephen King.
Altamente recomendado.
- Resenha do conto “O Piloto da Noite”: https://livrosefilmesdehorror.blogspot.com/2019/03/o-piloto-da-noite-stephen-king.html