NOTA: 10
PELO AMOR E PELA MORTE (1994) |
O último suspiro do Cinema de Horror Italiano. Assim pode ser definido
PELO AMOR E PELA MORTE (1994), do
diretor Michele Soavi, discípulo de Dario Argento, em sua quarta excursão na direção.
Além de ser o último filme de terror produzido na Itália, é também um dos filmes de terror mais lindos produzidos na Itália. Desde que estreou na direção, com o excelente O Pássaro Sangrento (1987), Soavi mostrou-se um diretor de mão cheia. Começou como ator em Pavor na Cidade dos Zumbis (1981), de Lucio Fulci, depois, passou a trabalhar com Dario Argento, em Tenebre (1982), como assistente de direção. A partir daí, os dois firmaram uma parceria, que resultou em Demons (1985), de Lamberto Bava, onde trabalhou como ator, Phenomena (1985), também como ator, e por fim, A Catedral (1989) e A Filha do Demônio (1991), agora como diretor. Nessa função, como mencionado acima, Soavi mostrou que tem capacidade, uma vez que seus filmes possuíam um estilo quase poético, belo, mesmo, e aqui não é diferente.
Pelo Amor e Pela Morte é
lindo. Uma obra de horror, amor e morte, com toques de humor negro, e também,
um dos melhores filmes de zumbis de todos os tempos. Fato. Com roteiro adaptado
do livro de Tiziano Sclavi, autor de Dylan Dog, o filme é, sem duvida, um
dos melhores do gênero.
Diferente dos zumbis criados por Lucio Fulci, os zumbis de Soavi são mais
“limpos”, vamos dizer assim, uma vez que os corpos estão “frescos”, saindo dos túmulos
apenas sete dias após o sepultamento. Então, aqui, os cadáveres ainda têm pele,
olhos, mãos, são brancos, enfim, estão completos; porém, ainda comem carne
humana, o que resulta em mais problemas para o protagonista.
Interpretado pelo ator britânico Rupert Everett, Dellamorte é o típico
personagem loser. Alto, magro, sempre
de roupas pretas e expressão triste, ele não parece em nada com os típicos heróis
do cinema de horror; talvez, seja até um anti-herói. Vive ali, naquele cemitério
velho, rodeado de lapides e cruzes, ao lado de seu amigo Gnaghi, um baixinho
com mentalidade infantil, alheio à vida, sempre cabisbaixo, enfim... Alguém que
se cansou da vida.
Talvez seja um retrato de como era o cinema de horror naquela época. Nos
anos 90, o terror passou por um baque. As grandes produções já não existiam
mais, eram produzidos filmes de qualidade duvidosa, muitos deles direto para o
home vídeo, e o publico já não se interessava pelo gênero. Havia uma explicação
para isso, a própria mudança no cenário social, em razão do fim da União Soviética,
que o presidente Ronald Reagan jurou destruir em seu mandato. Então, ao que
parece, as pessoas esperavam que o mundo iria mudar, que talvez um apocalipse
iria surgir, por causa de uma provável guerra, enfim. Então, como nada disso
acabou acontecendo, o mundo mergulhou num vazio que acabou refletindo no gênero,
até a chegada de Pânico, de Wes Craven, em 1996. As informações mencionadas
foram obtidas graças aos comentários de Marcos Brolia, em seu site, 101 Horror Movies.
No entanto, além de ser um perdedor completo, não é difícil sentir
pena de Dellamorte. Mesmo preso à sua rotina, ele se mostra também um sujeito simpático,
sempre disposto a ajudar Gnaghi no serviço, além de tentar ser um bom cidadão,
mesmo que nunca visite a cidade, nem veja a cara das outras pessoas. E como
todo ser humano, quer também encontrar o amor. E isso acontece, quando uma
jovem misteriosa chega ao cemitério. Dellamorte se apaixona por ela a primeira
vista, e rapidamente, eles iniciam um breve romance, que termina de forma trágica,
o que acaba trazendo consequências para Francesco.
Como todo filme de horror produzido na Itália, Pelo Amor e Pela Morte possui imagens belíssimas. Difícil dizer
qual a mais bonita, porém, posso destacar a minha favorita, quando o Anjo da Morte
surge para Dellamorte. É uma cena linda, construída com maestria, com uma bela
trilha sonora, e em câmera lenta, do jeito que Soavi sabia fazer. A caracterização
do Anjo da Morte também não fica atrás: um esqueleto gigante, com sua capa
preta, asas negras, e segurando sua foice. Não me lembro de ter visto uma caracterização
tão linda e tão perfeita; só perde para as representações da Idade Média.
Além de ser um filme de terror, é também uma comedia de humor negro, e
como todo o resto, é brilhante. Não me refiro a humor físico, com os
personagens caindo toda hora; falo de momentos onde a comedia surge
naturalmente, onde os personagens mostram que não são perfeitos, e podem errar,
como todos nós. Isso vale para os vivos e principalmente para os mortos. Os zumbis
se mostram tão desastrados, sempre cambaleando e esbarrando uns nos outros,
principalmente quando estão juntos.
E claro, pode também ser considerado uma historia de amor, seja pelo
paragrafo mencionado anteriormente, seja pelo ajudante Gnaghi com a filha do
prefeito, principalmente depois que ela volta dos mortos. Os dois passam o
tempo juntos na casinha dele, cantando uma canção fofa, rindo e fazendo declarações
de amor, tudo da forma mais inusitada possível, uma vez que a garota está sem o
corpo! Ou seja, é apenas uma cabeça com véu de noiva, porque foi enterrada com
vestido de noiva! Vai saber o motivo. O importante é que esses são os melhores
momentos do filme, e chegam a ofuscar Dellamorte em certo ponto.
Ainda sobre a historia de amor entre Dellamorte e a garota misteriosa,
que é apresentada apenas como “Ela”, o seguinte. Ela surge três vezes, em
formas diferentes, todas interpretadas pela mesma atriz. É quase como uma
fantasia do próprio personagem, como se todas as mulheres bonitas tivessem o
mesmo rosto e se apaixonassem por ele imediatamente, a típica ilusão de quem
vive em seu próprio mundo. Seja como for, o importante é que é o tipo de coisa
que não precisa de explicação, apenas acontece, e com naturalidade.
O mesmo vale para o principal fenômeno apresentado: a ressurreição dos
mortos, sete dias após o sepultamento. Conforme o próprio Dellamorte explica no
começo do filme, não fica claro se é um fenômeno restrito apenas àquela cidade,
ou se está acontecendo em outros lugares, ou por que está acontecendo. Na verdade,
não importa também. Aquilo está acontecendo, e pronto.
E como todo o filme, os demais personagens também são estranhos: o policial
que visita o cemitério regularmente, Franco, o ex-colega de Dellamorte, o
prefeito da cidade, e uma senhorinha que também visita o cemitério. Todos são esquisitos
e engraçados, até, cada um com sua esquisitice.
Como mencionado no inicio, o filme é baseado em um livro de Tiziano Sclavi,
que tornou-se conhecido por ser o criador de Dylan Dog, o detetive sobrenatural
italiano que apareceu em vários gibis produzidos no país. Talvez não seja
novidade que o personagem ganhou uma péssima adaptação para o cinema nos anos
2000 – que é bem ruim mesmo. No entanto, o filme de Soavi também pode ser considerado uma
tradução do universo de Dylan Dog para o cinema, mesmo que tenha vinho antes do
gibi. Talvez, seja a melhor tradução do personagem para o cinema.
Chegou a ser lançado em VHS por aqui, mas permaneceu raro durante anos,
até ser lançado em DVD pela Versátil Home Vídeo, em excelente versão restaurada,
na maravilhosa coleção Obras-Primas do
Terror 2.
Enfim, Pelo Amor e Pela Morte é
um filme excelente. Uma bela historia de horror, amor e morte com toques de
humor negro. O ultimo filme de terror produzido na Itália. Um dos Filmes Mais
Assustadores de Todos os Tempos. Maravilhoso.
Altamente recomendado.
Agradecimentos: 101 Horror Movies
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