NOTA: 10
ZOMBIE (1979) |
ZOMBIE (1979) é a Obra Máxima
de Lucio Fulci, o Padrinho do Gore. Mais do que isso, é um filme que merece
destaque em todas as listas dos maiores filmes de zumbi de todos os tempos.
Zombie é excelente, sem
duvida, um dos melhores do gênero. É difícil dizer qual o melhor momento, mas o
fato é que, quando o terror começa, não poupa ninguém.
Como já mencionei anteriormente, desde que resolveu se aventurar no
terror, Fulci mostrou-se um mestre no gênero, e neste filme, ele mostrou toda
sua força. Isso é fato.
Se parar pra pensar, o filme apresenta uma historia simples, até, mas
é nessa simplicidade que está o brilhantismo. Fulci conseguiu fazer coisas
espetaculares, dignas de estudo, não só do gênero de horror, mas do cinema em
geral. O diretor mostra-se um mestre com a câmera, e seus enquadramentos são maravilhosos,
desde a primeira cena.
Não apenas a direção de Fulci merece destaque, como também a edição de
Vincenzo Tomassi. Novamente, desde a primeira cena, o filme é um primor, e
nesse caso, também não é diferente. Tomassi conseguiu editar as cenas aéreas do
veleiro em Nova York muito bem, intercalando com tomadas mais fechadas, e isso
continua conforme a cena avança, culminando em um dos momentos mais memoráveis do
filme, o surgimento do primeiro zumbi. Já vi muitas sequencias de abertura bem
feitas antes, e com certeza, essa é uma delas.
A trilha sonora, composta por Fabio Frizzi e Giorgio Tucci também
merece ser mencionada. Em alguns momentos, o tema musical é um tanto diferente
para um filme do gênero; na verdade, parece de filme de ação; no entanto,
quando surgem os tambores, aí a coisa muda de figura. O tema causa calafrios na
espinha, e não fica cansativo; o mesmo vale para os outros temas musicais. É também
o tipo de musica que fica na nossa cabeça, e quando toca, rapidamente, nos
lembramos do filme.
E claro, como em todo filme de terror, a ambientação contribui. A ilha
de Matul é um lugar abandonado, às moscas mesmo. As casas dos nativos estão caindo
aos pedaços; pedaços de troncos estão espalhados; caranguejos andam pelas ruas,
enfim... o cenário de um apocalipse. Mas de todos, o mais impressionante é a
velha igreja, convertida em hospital. O lugar não passa a sensação de conforto,
pelo contrario, chega a ser pior que o próprio vilarejo. O engraçado é que a
casa do Dr. Menard é toda arrumada, localizada numa parte bacana da ilha... Detalhes
que não merecem explicação, conforme mencionarei adiante. O fato é que o
aspecto abandonado da ilha contradiz contra a beleza da cidade de Nova York,
mostrada no inicio do filme.
Sendo cria do cinema de horror italiano, Zombie contem cenas absurdas, e a melhor delas, sem duvida, é a
cena de luta entre um zumbi e um tubarão. Não sei da onde os roteiristas tiraram
essa ideia, mas o fato é que é uma cena bem legal de se ver, além de ser
visualmente bem filmada. A cena foi filmada por Ramon Bravo, autor e
cinegrafista mexicano, que em 1977, foi responsável pelas cenas submarinas de Tintorera, do diretor René Cardona Jr. Como
fizera na cópia mexicana de Tubarão, Bravo
executou um excelente trabalho, que chega a ser convidativo até. O mesmo vale
para a cena de luta entre o zumbi e o tubarão. O zumbi foi interpretado pelo próprio
Bravo, que também foi o treinador do tubarão. Isso explica talvez a
naturalidade da cena. Sem dúvida, é uma das cenas mais memoráveis do filme. E existe
outra, talvez a mais absurda, mas, na minha opinião, não afeta em nada o filme.
Claro, não posso deixar de mencionar os zumbis. Criados pelo Maestro Gianneto
de Rossi, esses são os melhores zumbis que já apareceram em um filme. Falo de
zumbis putrefatos, com vermes saindo dos buracos dos olhos, andando devagar,
com gosma branca e verde escorrendo da boca, roupas maltrapilhas... Enfim, um
trabalho de gênio. Talvez, para os mais exigentes, possa parecer estranho que
estejam tão bem assim, até porque, são corpos de conquistadores espanhóis do século
XVI, mas, pessoalmente, eu não ligo pra isso. Os zumbis são excelentes, e
ponto. Difícil dizer qual o mais assustador, mas o melhor é o que ilustra o
pôster do filme, e que arranca a garganta de uma das personagens a dentadas. Uma
cena brilhante, tanto pela construção, como pelos efeitos de maquiagem. Sério,
de Rossi faz um trabalho espetacular, que compete até com os efeitos criados
por Tom Savini nos filmes do saudoso George A. Romero. Além dos zumbis, de Rossi
nos presenteia com corpos despedaçados, tripas expostas, mordidas e tiros de
cair o queixo. Mas, o melhor fica para a cena da lasca. Conforme mostraria no
futuro, Fulci tinha “fetiche” por olhos, e na cena da lasca, ele dá uma amostra
do seu poder. É uma cena construída lentamente, de forma que o espectador fica
tentado a acompanhar, mas ao mesmo tempo, quer tapar os olhos, porque imagina
que o final não vai ser bom. E não vai ser bom, mesmo. Uma cena brilhante, inesquecível.
O filme foi escrito por Dardano Sachetti – não creditado – e Elisa Briganti,
e como mencionado acima, é brilhante. Não existem falhas na historia, nem furos
de roteiro. A única pista dada, mesmo sutilmente, é que os zumbis são trazidos
de volta graças ao vodu, o que difere dos zumbis criados por Romero, que voltam
graças à radiação. Aqui, os roteiristas aproveitaram a origem dos monstros, que
eram trazidos de volta graças à um feitiço vodu, e eram usados para trabalhar
em lavouras e plantações. Claro que aqui não é isso que acontece. Os zumbis
voltam famintos por carne e a carnificina é grande.
O filme também marca o inicio da parceria entre Fulci e o produtor Fabrizio
de Angelis, que trabalhariam juntos em toda a grande fase do diretor. De Angelis,
conforme ele mesmo relata, demonstrou interesse em trabalhar com Fulci, mesmo
sabendo de seu temperamento; ele também descreveu a rotina de filmagens como tranquila,
com todos se relacionando bem entre si, e também como foi gravar a famigerada e
até hoje comentada última cena. De Angelis também declarou que ele foi o responsável
por vender o filme para os Estados Unidos, conforme era feito naquela época: o
produtor negociava com a distribuidora americana, e vendia o filme, por meio de
um resumo da historia ou às vezes, apenas pelo titulo. E também, segundo o próprio,
ele e a equipe forma processados por Dario Argento, por lançarem o filme com o
título Zumbi 2, como se fosse uma continuação
do Clássico O Despertar dos Mortos,
que Argento produziu junto com Romero no ano anterior. Mas isso acabou resolvido.
Não sei se chegou a ser lançado em VHS por aqui, mas chegou a ser lançado
em DVD há alguns anos; mas, mesmo assim, permaneceu raro, até que foi finalmente
lançado em DVD, em excelente versão restaurada sem cortes, pela Versátil Home Vídeo,
na maravilhosa coleção Zumbis no Cinema Vol.3.
Recentemente, ganhou uma também excelente versão restaurada em 4k,
lançada em Bluray pela Blue Underground, que já lançara o filme anteriormente. Essa
versão restaurada vem acompanhada com três modelos de capa, todos muito bem
feitos.
Zombie é considerado um dos
Filmes Mais Assustadores de todos os tempos, ocupando a 98ª posição na lista do
Bravo’s 100 Scariest Movie Moments,
e a 41ª posição na lista dos 100 Filmes Mais
Assustadores da História, criada pela extinta Revista SET em 2009.
Enfim, Zombie é um Clássico.
Um dos maiores filmes de zumbis de todos os tempos. Um dos filmes mais
assustadores de todos os tempos. A obra máxima de Lucio Fulci. Clássico absoluto,
obrigatório.
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