AVISO!
ESSA RESENHA CONTÉM SPOILERS!
NOTA: 10
OS MORTOS-VIVOS (1981) |
OS MORTOS VIVOS (1981) é um
filme excelente. Original, assustador, impressionante e com um final de cair o
queixo.
Esse é sem duvida, um dos melhores filmes de terror que já tive o
prazer de assistir. Já tinha conhecimento de sua existência graças a uma
resenha publicada no site Boca do Inferno,
e já de cara, fiquei curioso, porque o que mais me chamou a atenção, era o
fato de que o filme tinha um final surpresa. E é verdade. Na primeira vez que
eu vi, fiquei chocado. Não me lembrava de ter visto um final tão soco no
estomago como o apresentado nesse filme – acho que nem os finais do Shyamalan são
tão pesados.
É o tipo de filme que não deve, em hipótese alguma, ser visto pela
metade. É necessário assisti-lo desde o começo para entender o que está
acontecendo, porque os primeiros sinais de mistério surgem logo depois da
sequencia de abertura. E depois que surgem, não param mais. É uma surpresa atrás
da outra, o que impede o espectador de parar para respirar. É sério.
O roteiro, escrito por Ronald Shussett e Dan O’Bannon - os criadores
de Alien (1979) - é perfeito, redondo
e muito bem amarrado. Não existe nenhuma falha na narrativa, e tudo acontece do
jeito certo. E como já disse, não poupa o espectador. Porém, o maior problema
do filme é o fato de que não dá para falar sobre ele sem entregar spoilers –
tentarei fazer isso aqui, mas não prometo nada! É tanta coisa que pega o
espectador de surpresa, que fica difícil não entregar pelo menos uma. Talvez, o
máximo que pode ser dito é que é um filme de zumbis. Talvez, e olhe lá, difícil
dizer mais sem estragar a surpresa.
Bom, além de ser um filme inteligente, é um filme assustador, com imagens
que já tornaram-se antológicas – mais sobre isso adiante. É um filme assustador
porque existem cenas que fazem qualquer um pular da cadeira, sem esforço. Elas surgem
no momento mais inesperado, com uma trilha sonora alta, digna de provocar medo –
quase um jump scare, mas um jump scare muito bem feito, diga-se. Esses
jump-scares acontecem nas cenas de
assassinato, e olhe, que cenas de assassinato. Ao contrario dos Slashers que
estavam em vigor na época, aqui nós temos cenas verdadeiramente pesadas,
violentas, cruéis: gargantas cortadas, rostos desfigurados e derretidos e
membros decepados. Tudo feito de maneira brilhante, realista, até, digna de
causar arrepios. Mas claro que as cenas assustadoras não se resumem apenas às
cenas de assassinato. Existem também momentos em que o simples olhar de um
personagem é assustador; até porque, aquelas pessoas são, de fato, assustadoras
e bizarras. E o medo também acontece na forma como tais cenas são construídas:
aos poucos, sem pressa, tudo para deixar o espectador mais assustado. E consegue.
O protagonista, o xerife Dan Gillis, é o típico personagem de bom coração
de filmes assim. Autoridade na pequena cidade, ele mostra-se um homem que quer,
a todo custo, desvendar os crimes que estão acontecendo, sempre confiando na razão
e não em forças sobrenaturais. Sua esposa, Janet, é professora na escola local,
e a típica esposa apaixonada e devotada ao marido, sempre preparando seu jantar
quando ele chega em casa depois do trabalho. Juntos, eles formam um casal simpático,
talvez, um casal de mocinhos, mas a coisa não é bem assim. Agora, o personagem
mais sinistro é o Sr. Dobbs, o agente funerário. Um velhinho alto, magro, de
óculos grandes, que sempre ouve musicas antigas enquanto trabalha. Dobbs é
obcecado pelo trabalho. Mas não é o tipo de obsessão boa, não. Seu trabalho na funerária
é o de reconstruir os corpos que recebe; e sempre faz o serviço com um sorriso maléfico
no rosto, referindo-se a eles como “obras-primas” depois de concluídos. Um sujeito
sinistro, no mínimo. Os outros personagens também não ficam atrás. Temos os
pescadores, a garçonete, o frentista, o homem do guincho... Todos sinistros.
Como mencionado acima, Os Mortos-Vivos
pode ser considerado um filme de zumbis. Mas não espere aqueles zumbis que
arrastam os pés, que andam com os braços estendidos, não. Aqui, os zumbis são quem
a gente menos espera. E o melhor, o roteiro não dá uma explicação para o que
está acontecendo na cidade, e, francamente, para mim, isso não importa. É como
o tal conteúdo da mala do Pulp Fiction (1994). A gente nunca sabe o
que tem lá dentro, porque não é mostrado, e não faz a menor diferença. Aqui, é
a mesma coisa. O máximo que o roteiro faz, é apresentar uma frase presente num
livro sobre bruxaria, que diz como os mortos podem ser trazidos de volta, e só.
Não precisa de mais nada.
Como em todo filme de zumbis, os efeitos especiais são destaque. E não
é pra menos. O responsável por eles foi o saudoso Stan Winston, em inicio de carreira. Como ele mesmo declarou, ele
fez tudo sozinho, até porque, o hoje famoso Stan Winston Studio não existia, então,
ele teve que arregaçar as mangas. E conseguiu fazer coisas extraordinárias. A melhor,
sem dúvida, é o corpo da primeira vitima, com o rosto todo enfaixado, somente
com um olho e a boca à mostra. Uma imagem perfeita, que mesmo presente por
poucos segundos, já fica na memória. E a cena da agulha também. Segundo Winston,
tudo presente naquela cena é um efeito especial, até mesmo o corpo enfaixado. E
o resultado é de causar frio na espinha. A outra grande cena, é a cena da
reconstrução facial. Winston também fez tudo aquilo sozinho, e o resultado também
é de cair o queixo, tanto que ele declarou que foi o efeito que mais o deixou
orgulhoso. Nada mal para o homem que se tornou responsável pelas maiores
criaturas do cinema de fantasia atual, como os dinossauros da trilogia Jurassic Park, o Pinguim de Batman – O Retorno, O Exterminador do Futuro
e Edward Mãos-de-Tesoura, por
exemplo. Stan Winston faleceu em 15/jun/2008.
Além dos excelentes efeitos especiais, o filme também é cheio de cenas
memoráveis, além das já mencionadas. Outra que merece destaque é quando uma multidão
está caminhando em direção ao carro de uma família em apuros. É uma cena
brilhante, escura, onde não vemos os rostos das pessoas, apenas as silhuetas, e
somente uma luz iluminando as pessoas por trás. Sem duvida, uma cena
apavorante. Outra – e foi essa que me surpreendeu primeiro – acontece antes,
quando o frentista, que estava de costas, vira-se para a câmera e mostra seu
rosto: a revelação é chocante, e como eu disse, foi a que me surpreendeu primeiro.
E por ultimo, destaco aquela em que todos colocam flores no tumulo da esposa do
xerife, no final do filme. Macabra e muito bem feita.
Os aspectos técnicos também não ficam atrás. Vou destacar a fotografia.
Sem duvida, o melhor momento acontece acima, mas existem outras cenas onde o
diretor de fotografia fez um ótimo trabalho. Posso estar enganado, mas acho que
ele fez uso de luz natural em algumas cenas, principalmente na cena do hotel, e
nas cenas noturnas. Todas são muito bem feitas, bem montadas, dirigidas e
atuadas. Os atores também não fazem feio. Em momento nenhum, eles mostram-se
exagerados ou caricatos; pelo contrário, dá pra imaginá-los como pessoas reais,
principalmente o xerife Gillis. Quando ele faz a descoberta chocante no final
do filme, as expressões de medo e descrença em seu rosto são verdadeiras. A cena
em que ele confronta Dobbs e a esposa é brilhante e muito pesada.
Os Mortos-Vivos foi rodado
na cidade de Mendocino, na Califonia. Não sei se a ideia era de que a historia
se passasse na Nova Inglaterra, mas o fato é que isso não atrapalha em nada. A locação
é belíssima, com sua atmosfera de cidade pequena, costeira, uma verdadeira
comunidade de pescadores. Anteriormente, a cidade foi usada como locação em O
Altar do Diabo (1970), de Daniel Haller, baseado em O
Horror de Dunwich, de H.P. Lovecraft.
Como mencionado acima, o roteiro foi escrito por Ronald Shussett e Dan
O’Bannon, e foi vendido como “from the
creators of Alien”, inclusive nos trailers. No entanto, O’Bannon declarou
que Shussett escreveu o roteiro sozinho, e apenas colocou seu nome no projeto com
a promessa de que isso aumentariam suas chances. Porém, ao perceber que suas
ideias não foram incluídas, O’Bannon pediu que seu nome fosse removido do
projeto, mas isso não aconteceu.
O filme não fez muito dinheiro nas bilheterias, mas o trabalho de Winston
foi bastante elogiado; porém, o filme acabou parando na famigerada lista dos “Vídeo
Nasties” britânica em 1990 com 30 segundos de cortes – foi lançado sem cortes
apenas em 1999. Hoje em dia, o filme possui uma aura cult e é considerado um dos melhores filmes de terror dos anos 80.
O filme chegou a ser lançado em DVD no Brasil há alguns anos, – não sei
se saiu em VHS – mas, hoje em dia, está fora de catálogo.
Enfim, Os Mortos-Vivos é um
filme excelente. Uma historia fascinante e assustadora. Um filme inteligente e
cheio de surpresas. Um pequeno clássico do terror dos anos 80. Brilhante.
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