NOTA: 10
OS VAMPIROS DE SALEM (1979) |
OS VAMPIROS DE SALEM (1979) – baseado no livro Salem, de Stephen King – do diretor Tobe Hooper, diretor do
Clássico O Massacre da Serra Elétrica (1974), é a segunda adaptação do autor, desta vez, para a TV, em formato de minissérie.
Lançado há 40 anos, até hoje, o filme possui lugar entre os maiores
filmes de vampiro de todos os tempos. Com razão.
Os Vampiros de Salem é
excelente. Possui um clima de medo e nostalgia que é agradável de se ver, e não
fica chato; pelo contrario. Além desse clima de nostalgia, também possui
diversas cenas antológicas, e às vezes, é difícil dizer qual a melhor – mais
sobre isso adiante.
O que também vale destacar é que, na época, Hooper ainda estava em
alta em Hollywood, por conta do sucesso de O Massacre da Serra Elétrica – nos
anos seguintes, sua carreira sofreu uma queda brusca, por conta do fracasso de
seus filmes produzidos pela extinta Cannon Group. Mas, aqui, Hooper dá o seu
melhor como diretor, e consegue, uma vez que o filme não apresenta nenhuma
falha em sua concepção.
É um dos filmes mais assustadores que já vi, em razão das cenas
envolvendo os vampiros. São cenas muito bem feitas, dirigidas e atuadas, muitas
vezes, chegam a ofuscar as cenas envolvendo os personagens humanos.
Como toda produção feita para a televisão, possui uma estrutura
própria, com cenas montadas de maneira diferente das produções para o cinema,
além de apresentar uma ambientação própria também, como se todos os cenários
fossem de fantasia, quase outra dimensão. Hoje em dia, isso ainda existe, mas
não da mesma maneira que apresentada aqui. Os enquadramentos também merecem
destaque, com tomadas aleatórias da cidade vista de cima, câmera quase sempre
parada e closes rápidos. Tudo feito de maneira brilhante, digna de nota, e se
bobear, de estudo também. Pessoalmente, é um dos diversos aspectos que me
atraem no filme.
A trilha sonora também é um item à parte. O tema é arrepiante, e
quando toca, não fica chato, pelo contrario, ajuda a aumentar a tensão. Em
alguns momentos, a musica surge de repente – o que hoje em dia, seria
equivalente a um jump-scare – e mesmo
assim, não parece falso. É muito boa.
A produção também caprichou ao escolher o cenário para o filme. A
cidade é muito bonita, e nas cenas durante o dia, chega a ser convidativa, e,
misturado com o clima de filme feito para a TV e com a atmosfera da época, fica
ainda melhor. Em momento nenhum, parece que a rotina da cidade é chata, ou ela
parece artificial. Longe disso. O filme foi rodado na Ferndale, na Carolina do
Norte, com cenas rodadas também nos Estúdios Burbank, na Califórnia. Mesmo não
rodado na Nova Inglaterra, o filme passa essa sensação.
Outra coisa que contribui para o clima de terror, é o fato de que,
durante boa parte da narrativa, o filme dá a impressão de ser sobre casa
mal-assombrada, visto que o protagonista questiona os cidadãos se eles
acreditam que o Mal pode dominar uma casa. E isso funciona, principalmente para
quem não conhece o filme, e no final, acaba surpreendido. Ainda sobre a questão
da casa, vale mencionar que ela é de fato, assustadora, localizada no topo da
colina, sempre de olho na cidade abaixo. Ao contrario do que se imagina, ela é
um exemplo de que uma casa maldita não precisa ser pintada de preto para ser
assustadora. Com seus tons de bege, a Mansão Marsten causa, sem esforço nenhum,
arrepios na nossa espinha. De verdade. E por dentro também. É um lugar
abandonado, com teias de aranha em todos os lugares, o chão todo sujo, moveis
destruídos... O ambiente perfeito para um vampiro morar. E além disso, também
passa uma sensação de terror gótico, que naquela época, já estava
desaparecendo.
Agora, sobre os vampiros. Eles são a melhor coisa do filme, sem
duvida. Com suas peles azuladas, olhos amarelos brilhantes e presas afiadas,
conseguem meter medo em qualquer um. São a própria imagem da Morte, espalhando-se
pela cidade como uma praga. E como já mencionado, eles protagonizam as melhores
cenas do filme. Uma das minhas favoritas é quando a Sra. Glick ressuscita no
hospital e ataca Ben e o médico. Uma cena muito bem feita, com o clima
construído lentamente, e a tensão aumentando, porque não dá pra saber o que vai
acontecer, até que finalmente acontece. Uma cena brilhante. No entanto, a cena
da janela, que acontece anteriormente, é com certeza a mais icônica. Assim como
a cena descrita anteriormente, também é muito bem feita, novamente com o clima
acontecendo devagar, quase sem trilha sonora, e quando finalmente acontece,
provoca arrepios. É uma cena que acontece à distancia, do ponto de vista do
espectador, o que aumenta ainda mais o clima de horror.
Porém, o melhor de todos é o Sr. Barlow, o vampiro-mestre. Com visual
idêntico ao Nosferatu de Murnau, ele é uma figura ameaçadora. Quando finalmente
surge no filme, na segunda parte, mostra-se um verdadeiro monstro, com seus
olhos amarelos brilhantes, presas afiadas e unhas pontiagudas. Assim como o
vampiro de Murnau, ele é a própria imagem do Mal. Seu melhor momento, sem
duvida, é quando surge na casa de uma família e ameaça matar o garoto diante do
padre, enquanto o Sr. Straker fala por ele, e propõe uma troca diabólica. Uma
cena brilhante, construída da mesma maneira que as anteriores. É também a minha
favorita. O confronto final entre ele, Ben e o garoto Mark, também é digno de
nota, e sinceramente, não poderia acontecer de outra maneira.
Os Vampiros de Salem esteve
em produção pela Warner Bros. apos o estúdio adquirir os direitos para
adaptação, anteriormente imaginada para o cinema. Vários diretores e
roteiristas, entre eles o cineasta Larry Cohen, mostraram interesse em
adaptá-lo, mas Stephen King não se mostrou satisfeito com as propostas. Então,
o produtor Richard Kobritz entrou em contato com a Warner Bros. Television para
adaptar o livro em formato de minissérie. Para isso, chamou o roteirista Paul
Monash, que havia produzido a adaptação de Carrie, a Estranha (1976), dirigida por Brian de Palma. Ao que
parece, King ficou satisfeito com o roteiro apresentado por Monash.
Inicialmente, o diretor George A. Romero foi cogitado para o trabalho, mas,
como ele havia lançado o excelente Martin, um filme de vampiros com uma
temática original, dois anos antes, os produtores acharam que não seria
acrescentaria nada de novo ao gênero. Então, chamaram Tobe Hooper para dirigir,
em virtude do sucesso de O Massacre da Serra Elétrica (1974). Segundo
o produtor Kobritz, a ideia de voltar ao Nosferatu de Murnau foi para
apresentar o Sr. Barlow como a essência do Mal, assim como o vampiro de Max
Scherck fez no Clássico Alemão. Porém, King não ficou satisfeito com o visual
do vampiro. E também, segundo Kobritz, a intenção de fazer com que Barlow fosse
mudo e tivesse o Sr. Straker como intermediário, também pareceu mais plausível
do que se o vampiro fosse articulado, além de outras mudanças na narrativa. O
resultado ficou perfeito.
Além disso, a ideia de esconder o vampiro-mestre durante boa parte do
filme, na minha opinião, também funciona, porque assim, aumenta o suspense, e
chega até a dar a impressão de que o monstro não existe. E funciona muito bem.
O filme foi estrelado por David Soul, no papel do protagonista Ben
Mears, e James Mason, como o Sr. Straker, e ambos mostraram-se perfeitos. É
possível enxergar os personagens nos atores, e o mesmo vale para todo o resto
do elenco. Por exemplo, o garoto que interpreta o adolescente Mark Petrie,
tinha 18 anos na época, mas, é possível visualizar um adolescente de 14 anos
nele, sem esforço. Bonnie Bedellia também está perfeita como Susan Norton, par
romântico de Ben. E claro, Reggie Nalder, conhecido por sua atuação em um
episodio de Star Trek, está perfeito
como o vampiro-mestre Kurt Barlow. Este foi um dos últimos papeis de Mason,
eternizado por suas excelentes performances como o Capitão Nemo de 20.000 Léguas Submarinas (1954), da
Disney; e como Humbert Humbert, em Lolita
(1962), de Stanley Kubrick. O ator faleceu em 1984.
Os Vampiros de Salem foi
lançado em Novembro de 1979, primeiramente em formato de minissérie, com 187
minutos. Logo depois, uma versão para cinema de 112 minutos foi lançada, com
alguns cortes e cenas alteradas. Foi recebido com criticas muito positivas e
recebeu três indicações em Emmy, o Oscar® da televisão.
Apesar de chegar a ser exibido na televisão no Brasil pelo canal TCM,
por anos, permaneceu inédito por aqui, até que foi lançado em DVD pela Versátil
Home Vídeo, em excelente versão restaurada e integral – a versão original de
187 minutos.
Em 1987, uma lamentável continuação, escrita e dirigida por Larry
Cohen, foi lançada. A única coisa interessante naquele filme era Tara Reid, em
inicio de carreira, vestida de noiva-vampiro. O resto, é um desastre completo.
Não vale a pena.
Em 2004, uma nova versão, também para a TV foi lançada, estrelada por
Donald Sutherland, Rod Lowe e o saudoso Rugter Hauer. Apesar de ter gostado na
época, hoje, já não sou mais tão fã assim, pois considero inferior.
Recentemente, foi anunciado que uma nova adaptação, desta vez para o
cinema, está em desenvolvimento, com James Wan envolvido. Por enquanto, nada a
dizer sobre isso.
Enfim, Os Vampiros de Salem é
excelente. Um filme verdadeiramente assustador, com clima de nostalgia que
prende a atenção e provoca arrepios. Uma das melhores adaptações de Stephen
King. Um dos maiores filmes de vampiro de todos os tempos. Maravilhoso.
Altamente recomendado.
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