sexta-feira, 2 de agosto de 2019

TUBARÃO (1975). Dir.: Steven Spielberg


NOTA: 10




TUBARÃO (1975)
TUBARÃO (1975) é um Clássico Absoluto. Um dos maiores filmes de todos os tempos, e um dos filmes mais assustadores da historia. 

Até hoje, mais de 40 anos depois, possui imensa importância para o Cinema, seja nos aspectos técnicos, seja em relação à historia, enfim, um filme importante.

Produzido durante a Nova Hollywood – movimento marcado pela reinvenção da indústria, durante a década de 70 – , foi um filme marcado por contratempos, a maioria envolvendo o tubarão animatrônico, conforme comentarei mais adiante.

Seja como for, o fato que é o filme possui seu lugar ao sol no hall dos clássicos do cinema, isso é indiscutível.

Tubarão é perfeito. O roteiro, adaptado do romance de Peter Benchley, lançado dois anos antes, é linear, e não apresenta nenhuma falha. Tudo que acontece, acontece no momento certo, sem problemas. A direção de Spielberg – em seu terceiro trabalho – é excelente, e aqui, já é possível ver que ele apresentaria seu estilo como cineasta autoral. Além da direção, a trilha sonora de John Williams também contribuiu para o sucesso do filme.

Tubarão foi um filme que me assustou muito quando eu era pequeno. Por anos, foi um filme que só consegui assistir a partir da sequencia do feriado do 4 de Julho – Dia da Independência Americana – até o final. E o final era a minha parte favorita, quando o vilão aparece em toda sua gloria. Mais sobre isso adiante.

O engraçado também é que meu irmão era apaixonado por esse filme, não apenas por esse filme, mas pelos tubarões. E isso perdurou por anos; eu já tinha interesse pelo filme, mas não era tanto assim, tanto que, quando passou na TV, ele pediu pra gravar, porque ele gostou da chamada, provavelmente, e queria ver o filme. Meu amor verdadeiro pelo filme – e pelos tubarões – só surgiu anos depois, mais ou menos, em 2000, quando o filme completou 25 anos, e foi lançado em VHS duplo. E acho que não apenas isso, mas também outras coisas relacionadas ao filme aumentaram meu interesse e por consequência, meu amor por ele também.

Seja como for, o fato é que é um filme que merece ser visto, e fica muito melhor cada vez que se vê. Parece um daqueles filmes que a gente assiste, e encontra algo novo, que havíamos visto antes. E não fica chato; pelo contrario, passa as mesmas sensações toda vez! É o tipo de coisa que dá gosto de fazer: assistir Tubarão, principalmente depois de muito tempo desde a última vez. E a sensação de medo, por exemplo, não passa, não importa a cena. Por exemplo, a cena em que o garoto é morto pelo tubarão – inclusive, uma cena que me assustou muito quando eu era pequeno – é brilhante. A maneira como ela é construída, de certa forma, passa essa sensação. Spielberg mostrou-se um mestre, quando optou por focá-la no Chefe Brody, e no seu medo de entrar na água, porque ele sabe que há um tubarão ali, mas mesmo assim, omite o fato e deixa todos entrarem na água. E quando o baque vem, ele vem com tudo e de uma forma brilhante.

As demais cenas também são assim, construídas com brilhantismo, mesmo aquelas que não mostram nada de assustador. As cenas envolvendo a cidadezinha de Amity são maravilhosas; coloridas, sempre iluminadas pelo sol do verão; têm um aspecto de cidade pequena, que chama a atenção, e torna-se convidativo. Eu pessoalmente, nunca me canso de ver essas cenas, e posso dizer que, te certa forma, elas me influenciaram quando penso em uma historia de monstro marinho.

É o tipo de filme que não precisa mostrar o personagem-título para mostrar que é sobre ele – na verdade, aprendi com As Aventuras de Tintim que narrativas não precisam ser dessa forma. Mesmo com a ausência física do tubarão, Spielberg faz questão de sugeri-lo o tempo todo, principalmente na cena do livro, uma das minhas favoritas. Brody foleia o livro e vê fotos de tubarões – principalmente do grande tubarão branco – o tempo todo, o que sugere que ele está sempre presente, sempre atrás de nós. Outra cena que ilustra isso muito bem, é a cena em que Brody está sentado em sua mesa de jantar, triste pelo que aconteceu anteriormente. Novamente, uma cena belíssima, muito bem orquestrada, atuada e dirigida. O mesmo vale para o restante do filme.

O Chefe Brody de Roy Scheider é excelente. O típico herói disfarçado de não-herói, desastrado, medroso, engraçado; o Quint de Robert Shaw também é excelente. Assim como Brody, pode-se ver que é o típico pescador de ilha, rabugento, de opinião própria e que se considera o melhor pescador da ilha; e o Matt Hooper de Richard Dreyfuss também é excelente; o Oceanógrafo competente, que sabe o que está fazendo, disposto a ajudar Brody a descobrir a verdade, enfim... O mesmo vale para todos os personagens.

Conforme Spielberg declarou, a trilha sonora foi um dos fatores que contribuíram para o sucesso do filme. É de verdade. Desde a primeira cena, a música surge na tela, e continua pelo filme, e nunca mais sai da nossa cabeça. Conforme minha mãe disse algumas vezes, ela teve o prazer de assistir ao filme no cinema, e segundo ela, parecia que quando a música tocava, o tubarão estava na sala do cinema, debaixo das poltronas. Pior que é verdade. É o tipo de música que não nos abandona, que gruda mesmo, e, só de ouvi-la, já sabemos de que filme é. Conforme o compositor John Williams declarou, é o tipo de situação em que a música e a imagem combinam perfeitamente, e tornam-se inesquecíveis, assim como a cena do chuveiro em Psicose (1960).

Não é novidade nenhuma que o filme foi marcado por problemas na produção, a maioria deles envolvendo o tubarão mecânico, chamado de “Bruce” pela produção, em homenagem ao advogado de Spielberg na época. O monstro foi criado por Robert Mattey, que também havia criado a lula-gigante de 20.000 Léguas Submarinas (1954), produzido pelos Estúdios Disney. Joe Alves, o designer de produção, declarou que a proposta de construir um tubarão em tamanho natural inicialmente fora recebido com ressalvas, mas quando entrou em contato com Mattey, a resposta foi diferente. Primeiro, eles fizeram o teste do tubarão no seco, para ver se o mecanismo iria funcionar, e funcionou. Porém quando fizeram os testes no mar, a coisa foi diferente. O equipamento sofreu com a brutalidade do mar, que prejudicou o funcionamento do robô por meses, o que atrasou a produção, culminando inclusive, na possibilidade de Spielberg ser demitido, e o filme, cancelado. No entanto, os produtores sabiam que o filme não poderia ser cancelado, porque, se tirassem o rolo da câmera, não poderiam coloca-lo de volta; então, eles tiveram que continuar a filmar, mesmo que fossem tomadas pequenas. O tubarão só foi funcionar de fato em meados de Setembro, e continuou assim até o final das filmagens; no entanto, mesmo com o tubarão funcionando, algumas cenas apresentaram dificuldades, como a cena do garoto sendo morto pelo monstro.

Os problemas de produção não foram causados apenas pelo tubarão. O barco Orca chegou a afundar durante as filmagens, porque um dos ganchos que prendiam os barris foi puxado com muita força, o que arrancou a parte de trás. Como resultado, toda a  equipe teve que ser removida às pressas.

A cena do ataque à gaiola foi filmada nos tanques da MGM, após a fotografia principal na Nova Inglaterra. Na ocasião, Richard Dreyfuss não estava disponível, então, chamaram um duble para realizar a cena. A cena em que o tubarão destrói a gaiola foi aproveitada de uma filmagem com tubarões reais realizada na Austrália, onde um tubarão prendeu-se em uma das gaiolas. A ideia de filmar tubarões de verdade foi da própria produção, com o objetivo de trazer mais veracidade para o filme, e deu muito certo.

Tubarão foi filmado na ilha de Martha’s Vineyard, na Nova Inglaterra. A cidade de Edgartown serviu como cenário para o filme, o que levou a produção a escalar alguns membros da própria comunidade para alguns papéis e também como figurantes. O resultado é impressionante. Segundo os produtores, a locação nunca havia sido utilizada em um filme antes, então, eles foram precavidos, a fim de não causar estranhamento entre os residentes da comunidade, principalmente nas cenas envolvendo o tubarão. As cenas de pânico na praia foram um desafio, por causa da temperatura da água, e porque também as pessoas não entravam na água naquela época, inicio do verão. Mesmo assim, a produção conseguiu excelentes resultados.

Spielberg optou por filmar em locação, então, segundo ele, era importante que a câmera não focasse nenhum ponto de terra, na sequencia da caçada ao tubarão. Segundo ele, se a câmera capturasse algum ponto de terra, a credibilidade seria comprometida.

Os produtores Richard Zanuck e David Brown mostraram interesse em adaptar o romance de Peter Benchley ainda em 1973, após lerem o livro. O próprio Benchley também demonstrou interesse em adaptá-lo, então escreveu o primeiro rascunho do roteiro, que mostrou-se muito próximo ao livro, o que apresentou problemas. Então, outros roteiristas foram chamados, e novas adaptações foram feitas, sempre com Benchley envolvido. O rascunho final foi escrito por Benchley e por Carl Gottlieb, que foi inicialmente contratado como ator pelo próprio Spielberg. O processo de escrever o roteiro teve que ser rápido, porque o sindicato determinou que nenhum filme poderia ser rodado antes do final daquele ano, o que também apresentou problemas.

Tubarão estreou em 20/jun/1975, em Dallas. Zanuck e Brown ficaram apreensivos, pois temiam que o tubarão animatrônico provocaria risadas na plateia. Mas, conforme eles comprovaram, foi exatamente o oposto. Ao todo, o filme arrecadou mais de US$ 100 milhões, tornando-se um fenômeno de bilheteria, inaugurando o fenômeno dos blockbusters. Até hoje, a arrecadação do filme é uma das maiores de todos os tempos.

Até hoje, Tubarão é reconhecido como um Clássico do Cinema, e um dos maiores filmes de todos os tempos, ocupando diversas posições nas listas do AFI:

  • A fala “You’re gonna need a bigger boat”, improvisada por Roy Scheider, ocupa a 35ª posição na lista do 100 Years... 100 Movie Quotes;
  • O tubarão “Bruce” ocupa a 18ª posição no ranking dos Maiores Vilões do Cinema, na lista do 100 Years... 100 Heroes and Villains;
  • O filme ocupa a 48ª posição na lista do 100 Years... 100 Greast American Films;
  • Também ocupa a 56ª posição na lista do 10º aniversário do AFI do 100 Years... 100 Greast American Films;

Além desse reconhecimento, o filme também foi escolhido para preservação pelo National Film Registry.

Os realizadores de Procurando Nemo (2003) prestaram homenagem ao filme, batizando um dos personagens – um grande tubarão branco – de Bruce.

Tubarão ocupa a 1ª posição na Lista do Bravo’s 100 Scariest Movie Moments, e a 10ª posição na lista dos 100 Filmes Mais Assustadores da História, criada pela extinta revista SET em 2009.

Além de sua contribuição para o cinema, o filme – e o livro de Benchley – despertou o interesse do publico pelos tubarões, o que ajudou a preservá-los como espécie e também serviu para desmistificar a reputação de comedores de homens, algo que Peter Benchley se arrependeu até o dia de sua morte.

O filme também consolidou a carreira de Steven Spielberg, que hoje em dia, é considerado um dos maiores cineastas de todos os tempos.

O sucesso nas bilheterias motivou a realização de três continuações, lançadas entre 1978 e 1987. Além das sequencias, também gerou diversos imitadores, muitos deles, dignos de nota, lançados nos anos 70 e 80; hoje em dia, o subgênero “tubarão” está renegado apenas às produções lamentáveis da Asylium, responsável pelos Sharknados da vida...

O ultimo filme de tubarão assassino que é digno de nota, é o filme Águas Rasas, lançado em 2016.

O astro Roy Scheider faleceu em 2008. Robert Shaw faleceu em 1978. Até hoje, ambos são lembrados pelos seus papeis, bem como o ator Richard Dreyfuss. O autor Peter Benchley faleceu em 2006. Richard D. Zanuck faleceu em 2012. David Brown faleceu em 2010.

Enfim, Tubarão é um Clássico do Cinema. Um dos maiores filmes de todos os tempos. Um dos Filmes Mais Assustadores da História.

Excelente. Maravilhoso. Um filme inesquecível.

Altamente recomendado.







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