NOTA: 10
TUBARÃO (1975) |
TUBARÃO (1975) é um
Clássico Absoluto. Um dos maiores filmes de todos os tempos, e um dos filmes
mais assustadores da historia.
Até hoje, mais de 40 anos depois, possui imensa importância para o
Cinema, seja nos aspectos técnicos, seja em relação à historia, enfim, um filme
importante.
Produzido durante a Nova Hollywood – movimento marcado pela reinvenção
da indústria, durante a década de 70 – , foi um filme marcado por contratempos,
a maioria envolvendo o tubarão animatrônico, conforme comentarei mais adiante.
Seja como for, o fato que é o filme possui seu lugar ao sol no hall
dos clássicos do cinema, isso é indiscutível.
Tubarão é perfeito. O
roteiro, adaptado do romance de Peter Benchley, lançado dois anos antes, é
linear, e não apresenta nenhuma falha. Tudo que acontece, acontece no momento
certo, sem problemas. A direção de Spielberg – em seu terceiro trabalho – é
excelente, e aqui, já é possível ver que ele apresentaria seu estilo como
cineasta autoral. Além da direção, a trilha sonora de John Williams também
contribuiu para o sucesso do filme.
Tubarão foi um filme que me
assustou muito quando eu era pequeno. Por anos, foi um filme que só consegui
assistir a partir da sequencia do feriado do 4 de Julho – Dia da Independência
Americana – até o final. E o final era a minha parte favorita, quando o vilão
aparece em toda sua gloria. Mais sobre isso adiante.
O engraçado também é que meu irmão era apaixonado por esse filme, não
apenas por esse filme, mas pelos tubarões. E isso perdurou por anos; eu já
tinha interesse pelo filme, mas não era tanto assim, tanto que, quando passou
na TV, ele pediu pra gravar, porque ele gostou da chamada, provavelmente, e
queria ver o filme. Meu amor verdadeiro pelo filme – e pelos tubarões – só
surgiu anos depois, mais ou menos, em 2000, quando o filme completou 25 anos, e
foi lançado em VHS duplo. E acho que não apenas isso, mas também outras coisas
relacionadas ao filme aumentaram meu interesse e por consequência, meu amor por
ele também.
Seja como for, o fato é que é um filme que merece ser visto, e fica
muito melhor cada vez que se vê. Parece um daqueles filmes que a gente assiste,
e encontra algo novo, que havíamos visto antes. E não fica chato; pelo
contrario, passa as mesmas sensações toda vez! É o tipo de coisa que dá gosto
de fazer: assistir Tubarão, principalmente
depois de muito tempo desde a última vez. E a sensação de medo, por exemplo,
não passa, não importa a cena. Por exemplo, a cena em que o garoto é morto pelo
tubarão – inclusive, uma cena que me assustou muito quando eu era pequeno – é
brilhante. A maneira como ela é construída, de certa forma, passa essa
sensação. Spielberg mostrou-se um mestre, quando optou por focá-la no Chefe
Brody, e no seu medo de entrar na água, porque ele sabe que há um tubarão ali,
mas mesmo assim, omite o fato e deixa todos entrarem na água. E quando o baque
vem, ele vem com tudo e de uma forma brilhante.
As demais cenas também são assim, construídas com brilhantismo, mesmo
aquelas que não mostram nada de assustador. As cenas envolvendo a cidadezinha
de Amity são maravilhosas; coloridas, sempre iluminadas pelo sol do verão; têm
um aspecto de cidade pequena, que chama a atenção, e torna-se convidativo. Eu
pessoalmente, nunca me canso de ver essas cenas, e posso dizer que, te certa
forma, elas me influenciaram quando penso em uma historia de monstro marinho.
É o tipo de filme que não precisa mostrar o personagem-título para
mostrar que é sobre ele – na verdade, aprendi com As Aventuras de Tintim
que narrativas não precisam ser dessa forma. Mesmo com a ausência física do
tubarão, Spielberg faz questão de sugeri-lo o tempo todo, principalmente na
cena do livro, uma das minhas favoritas. Brody foleia o livro e vê fotos de
tubarões – principalmente do grande tubarão branco – o tempo todo, o que sugere
que ele está sempre presente, sempre atrás de nós. Outra cena que ilustra isso
muito bem, é a cena em que Brody está sentado em sua mesa de jantar, triste
pelo que aconteceu anteriormente. Novamente, uma cena belíssima, muito bem
orquestrada, atuada e dirigida. O mesmo vale para o restante do filme.
O Chefe Brody de Roy Scheider é excelente. O típico herói disfarçado
de não-herói, desastrado, medroso, engraçado; o Quint de Robert Shaw também é
excelente. Assim como Brody, pode-se ver que é o típico pescador de ilha,
rabugento, de opinião própria e que se considera o melhor pescador da ilha; e o
Matt Hooper de Richard Dreyfuss também é excelente; o Oceanógrafo competente,
que sabe o que está fazendo, disposto a ajudar Brody a descobrir a verdade,
enfim... O mesmo vale para todos os personagens.
Conforme Spielberg declarou, a trilha sonora foi um dos fatores que
contribuíram para o sucesso do filme. É de verdade. Desde a primeira cena, a
música surge na tela, e continua pelo filme, e nunca mais sai da nossa cabeça. Conforme minha mãe disse algumas
vezes, ela teve o prazer de assistir ao filme no cinema, e segundo ela, parecia
que quando a música tocava, o tubarão estava na sala do cinema, debaixo das
poltronas. Pior que é verdade. É o tipo de música que não nos abandona, que
gruda mesmo, e, só de ouvi-la, já sabemos de que filme é. Conforme o compositor
John Williams declarou, é o tipo de situação em que a música e a imagem
combinam perfeitamente, e tornam-se inesquecíveis, assim como a cena do
chuveiro em Psicose (1960).
Não é novidade nenhuma que o filme foi marcado por problemas na
produção, a maioria deles envolvendo o tubarão mecânico, chamado de “Bruce”
pela produção, em homenagem ao advogado de Spielberg na época. O monstro foi
criado por Robert Mattey, que também havia criado a lula-gigante de 20.000 Léguas Submarinas (1954),
produzido pelos Estúdios Disney. Joe Alves, o designer de produção, declarou
que a proposta de construir um tubarão em tamanho natural inicialmente fora
recebido com ressalvas, mas quando entrou em contato com Mattey, a resposta foi
diferente. Primeiro, eles fizeram o teste do tubarão no seco, para ver se o
mecanismo iria funcionar, e funcionou. Porém quando fizeram os testes no mar, a
coisa foi diferente. O equipamento sofreu com a brutalidade do mar, que
prejudicou o funcionamento do robô por meses, o que atrasou a produção,
culminando inclusive, na possibilidade de Spielberg ser demitido, e o filme,
cancelado. No entanto, os produtores sabiam que o filme não poderia ser
cancelado, porque, se tirassem o rolo da câmera, não poderiam coloca-lo de
volta; então, eles tiveram que continuar a filmar, mesmo que fossem tomadas
pequenas. O tubarão só foi funcionar de fato em meados de Setembro, e continuou
assim até o final das filmagens; no entanto, mesmo com o tubarão funcionando,
algumas cenas apresentaram dificuldades, como a cena do garoto sendo morto pelo
monstro.
Os problemas de produção não foram causados apenas pelo tubarão. O barco
Orca chegou a afundar durante as
filmagens, porque um dos ganchos que prendiam os barris foi puxado com muita
força, o que arrancou a parte de trás. Como resultado, toda a equipe teve que ser removida às pressas.
A cena do ataque à gaiola foi filmada nos tanques da MGM, após a
fotografia principal na Nova Inglaterra. Na ocasião, Richard Dreyfuss não
estava disponível, então, chamaram um duble para realizar a cena. A cena em que
o tubarão destrói a gaiola foi aproveitada de uma filmagem com tubarões reais
realizada na Austrália, onde um tubarão prendeu-se em uma das gaiolas. A ideia
de filmar tubarões de verdade foi da própria produção, com o objetivo de trazer
mais veracidade para o filme, e deu muito certo.
Tubarão foi filmado na ilha
de Martha’s Vineyard, na Nova Inglaterra. A cidade de Edgartown serviu como
cenário para o filme, o que levou a produção a escalar alguns membros da
própria comunidade para alguns papéis e também como figurantes. O resultado é
impressionante. Segundo os produtores, a locação nunca havia sido utilizada em
um filme antes, então, eles foram precavidos, a fim de não causar estranhamento
entre os residentes da comunidade, principalmente nas cenas envolvendo o
tubarão. As cenas de pânico na praia foram um desafio, por causa da temperatura
da água, e porque também as pessoas não entravam na água naquela época, inicio
do verão. Mesmo assim, a produção conseguiu excelentes resultados.
Spielberg optou por filmar em locação, então, segundo ele, era
importante que a câmera não focasse nenhum ponto de terra, na sequencia da
caçada ao tubarão. Segundo ele, se a câmera capturasse algum ponto de terra, a
credibilidade seria comprometida.
Os produtores Richard Zanuck e David Brown mostraram interesse em
adaptar o romance de Peter Benchley ainda em 1973, após lerem o livro. O
próprio Benchley também demonstrou interesse em adaptá-lo, então escreveu o
primeiro rascunho do roteiro, que mostrou-se muito próximo ao livro, o que
apresentou problemas. Então, outros roteiristas foram chamados, e novas
adaptações foram feitas, sempre com Benchley envolvido. O rascunho final foi
escrito por Benchley e por Carl Gottlieb, que foi inicialmente contratado como
ator pelo próprio Spielberg. O processo de escrever o roteiro teve que ser
rápido, porque o sindicato determinou que nenhum filme poderia ser rodado antes
do final daquele ano, o que também apresentou problemas.
Tubarão estreou em
20/jun/1975, em Dallas. Zanuck e Brown ficaram apreensivos, pois temiam que o
tubarão animatrônico provocaria risadas na plateia. Mas, conforme eles
comprovaram, foi exatamente o oposto. Ao todo, o filme arrecadou mais de US$
100 milhões, tornando-se um fenômeno de bilheteria, inaugurando o fenômeno dos blockbusters. Até hoje, a arrecadação do
filme é uma das maiores de todos os tempos.
Até hoje, Tubarão é
reconhecido como um Clássico do Cinema, e um dos maiores filmes de todos os
tempos, ocupando diversas posições nas listas do AFI:
- A fala “You’re gonna need a bigger boat”, improvisada por Roy Scheider, ocupa a 35ª posição na lista do 100 Years... 100 Movie Quotes;
- O tubarão “Bruce” ocupa a 18ª posição no ranking dos Maiores Vilões do Cinema, na lista do 100 Years... 100 Heroes and Villains;
- O filme ocupa a 48ª posição na lista do 100 Years... 100 Greast American Films;
- Também ocupa a 56ª posição na lista do 10º aniversário do AFI do 100 Years... 100 Greast American Films;
Além desse reconhecimento, o filme também foi escolhido para
preservação pelo National Film Registry.
Os realizadores de Procurando Nemo (2003) prestaram
homenagem ao filme, batizando um dos personagens – um grande tubarão branco –
de Bruce.
Tubarão ocupa a 1ª posição
na Lista do Bravo’s 100 Scariest Movie Moments, e a 10ª posição na lista dos
100 Filmes Mais Assustadores da História, criada pela extinta revista SET em
2009.
Além de sua contribuição para o cinema, o filme – e o livro de Benchley – despertou o interesse do publico pelos tubarões, o que ajudou a preservá-los como espécie e também serviu para desmistificar a reputação de comedores de homens, algo que Peter Benchley se arrependeu até o dia de sua morte.
O filme também consolidou a carreira de Steven Spielberg, que hoje em
dia, é considerado um dos maiores cineastas de todos os tempos.
O sucesso nas bilheterias motivou a realização de três continuações,
lançadas entre 1978 e 1987. Além das sequencias, também gerou diversos
imitadores, muitos deles, dignos de nota, lançados nos anos 70 e 80; hoje em
dia, o subgênero “tubarão” está renegado apenas às produções lamentáveis da
Asylium, responsável pelos Sharknados da
vida...
O ultimo filme de tubarão assassino que é digno de nota, é o filme Águas Rasas, lançado em 2016.
O astro Roy Scheider faleceu em 2008. Robert Shaw faleceu em 1978. Até
hoje, ambos são lembrados pelos seus papeis, bem como o ator Richard Dreyfuss. O autor Peter Benchley faleceu em 2006. Richard D. Zanuck faleceu em 2012. David Brown faleceu em 2010.
Enfim, Tubarão é um
Clássico do Cinema. Um dos maiores filmes de todos os tempos. Um dos Filmes
Mais Assustadores da História.
Excelente. Maravilhoso. Um filme inesquecível.
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