NOTA: 9
A Bela e a
Fera é um dos contos de fadas mais famosos de todos os tempos, tendo
rendido algumas adaptações, seja na literatura, seja no cinema. Dentre as mais
famosas, destacam-se a versão da Disney, lançada em 1991, que se tornou o
primeiro filme de animação a concorrer ao Oscar® de Melhor Filme; ao seu lado,
podemos colocar também a versão francesa de 1946, dirigida por Jean Cocteau.
Mas hoje não estou aqui para falar de nenhuma dessas
versões, mas sim, de A BELA E A FERA,
produção tcheca, lançada em 1978, e dirigida pelo experimental Juraj Herz.
Vou ser honesto aqui. Se você está pensando que este
filme é próximo à versão colorida da Disney, esqueça. Aqui temos uma versão sombria
e gótica, um verdadeiro filme de terror.
Eu digo que é um dos filmes mais bonitos e mais
assustadores que já vi, graças ao estilo experimental do diretor Juraj Herz, um
dos grandes nomes do cinema tcheco.
O filme é, acredito, uma adaptação próxima de uma das
versões originais, visto que aqui, o personagem do comerciante – batizado aqui
de Otec – tem três filhas, e duas delas estão prestes a se casar; sua filha
mais nova é solteira e opta por ajudar o pai. Bem, como ainda não li as versões
originais, não posso dizer se o roteiro do longa é próximo da fonte original.
O que posso dizer é que Herz fez uma versão bastante
assustadora e sombria, sempre envolta na escuridão, apostando no clima de
tensão para provocar medo no espectador; e isso ele consegue fazer muito bem.
Eu já vi o filme algumas vezes, e toda vez que vejo, eu fico realmente
assustado, graças à atmosfera gótica do mesmo.
E toda vez que eu vejo o filme, eu tenho uma sensação
de desconforto, principalmente com a sequencia da floresta, com a caravana que
está transportando pedras preciosas e outros itens. Eu sempre tenho a impressão
de que tais sequencias foram difíceis de fazer, principalmente por causa da
locação; a floresta lamacenta e a ambientação noturna, além dos ângulos e
closes nos personagens.
A câmera de Herz é um dos destaques do filme – também
presente em seus outros filmes de horror – com suas lentes grande-angulares,
sempre focando no POV do personagem, que deixam o filme ainda mais assustador e
desconfortante. Mas não se engane, o estilo do diretor é muito bom, e além de
deixar o filme desconfortante, consegue deixa-lo bonito.
Além da câmera, a fotografia também contribui para
isso, sempre deixando o filme imerso na escuridão, como mencionei acima. Eu não
sei como tais cenas foram rodadas, mas parece que o cineasta não utilizou luzes
artificiais. Aliado à fotografia, o design de produção também merece menção,
principalmente o castelo da Fera. O lugar é digno daquelas historias de castelo
assombrado, visto que é um lugar abandonado, com seus móveis formados por
criaturas magicas. Novamente, como não sei se tal fato está de fato presente
nas narrativas originais, mas o mesmo foi aproveitado pela Disney na sua versão
clássica. Mas, ao contrario da versão Disney, aqui o castelo e seus móveis
mágicos dão medo, graças à fotografia e os efeitos especiais.
Os efeitos especiais também funcionam, principalmente
o visual da Fera. Ao contrario do que conhecemos, o diretor Herz optou por
adotar um visual de pássaro para dar vida à sua Fera, e a coisa funciona. A
Fera é verdadeiramente assustadora, com sua roupa negra e capa que lembra um
par de asas e suas garras afiadas. E assim como nas versões originais, a Fera
se apaixona pela mocinha, e faz de tudo para não mata-la, porque se ele o
fizer, poderá se libertar da maldição. A maldição da Fera não é muito explorada
aqui, e francamente, não faz muita diferença, porque, para quem conhece a
história, já sabe como o príncipe ficou como ficou. E o ator que a interpreta,
Vlastimil Harapes, não faz feio, passando toda a angustia do personagem com
naturalidade.
A mocinha, Julie, também merece uma menção, porque,
ao lado da Fera, é a melhor personagem do filme. A atriz que a interpreta,
Zdena Studenková, também dá um show de atuação, e passa toda a ingenuidade
virginal da personagem, principalmente quando ela interage com a Fera. Minha
cena favorita é quando Julie está conversando com a Fera no escuro, após ter
uma visão do pai numa festa, e a Fera lhe pergunta se deve ir embora, e Julie
diz que não. Zdena é dona da cena, principalmente do take em close do seu
rosto. E finalmente, quando Julie vê o rosto verdadeiro da Fera, a atriz passa
tudo que o diretor deve ter solicitado a ela.
E o final do filme é maravilhoso, e mostra o que
aconteceu com Julie e a Fera. Esse é um detalhe que eu acho interessante sobre
o filme; as irmãs de Julie se casaram com condes pobres, enquanto ela mesma se
casou com um príncipe e virou princesa.
E para finalizar, deixo aqui a minha menção à
sequencia de créditos, composto por pinturas sinistras e uma trilha sonora
sombria, que sempre me deixa arrepiado.
Juntamente com A
Bela e a Fera, o diretor Herz fez mais dois filmes de horror, todos
assustadores, desconfortantes e lindos: Morgiana
(1972) e O Cremador (1969),
todos realizados com o estilo experimental do diretor.
Foi lançado em DVD no Brasil pela Versátil Home
Vídeo, na coleção Obras-Primas do Terror
Vol.14, que conta com um depoimento do diretor como extra.
Enfim, A Bela
e a Fera é um filme excelente. Uma versão gótica e sombria do clássico
conto de fadas, que consegue assustar ainda mais a cada revisão. O estilo
experimental do diretor Juraj Herz é um dos atrativos do filme, com suas lentes
grande-angulares e fotografia sombria, combinados a grandes efeitos especiais e
ambientação gótica e um elenco afiado. Uma das melhores versões do clássico
conto de fadas e um dos filmes mais assustadores e lindos que já vi. Altamente
recomendado.
Créditos: Versátil Home Vídeo. |
Acesse também:
https://livrosfilmesdehorror.home.blog/
Nenhum comentário:
Postar um comentário