segunda-feira, 3 de julho de 2023

A BELA E A FERA (1978). Dir.: Juraj Herz.

 

NOTA: 9


A Bela e a Fera é um dos contos de fadas mais famosos de todos os tempos, tendo rendido algumas adaptações, seja na literatura, seja no cinema. Dentre as mais famosas, destacam-se a versão da Disney, lançada em 1991, que se tornou o primeiro filme de animação a concorrer ao Oscar® de Melhor Filme; ao seu lado, podemos colocar também a versão francesa de 1946, dirigida por Jean Cocteau.

 

Mas hoje não estou aqui para falar de nenhuma dessas versões, mas sim, de A BELA E A FERA, produção tcheca, lançada em 1978, e dirigida pelo experimental Juraj Herz.

 

Vou ser honesto aqui. Se você está pensando que este filme é próximo à versão colorida da Disney, esqueça. Aqui temos uma versão sombria e gótica, um verdadeiro filme de terror.

 

Eu digo que é um dos filmes mais bonitos e mais assustadores que já vi, graças ao estilo experimental do diretor Juraj Herz, um dos grandes nomes do cinema tcheco.

 

O filme é, acredito, uma adaptação próxima de uma das versões originais, visto que aqui, o personagem do comerciante – batizado aqui de Otec – tem três filhas, e duas delas estão prestes a se casar; sua filha mais nova é solteira e opta por ajudar o pai. Bem, como ainda não li as versões originais, não posso dizer se o roteiro do longa é próximo da fonte original.

 

O que posso dizer é que Herz fez uma versão bastante assustadora e sombria, sempre envolta na escuridão, apostando no clima de tensão para provocar medo no espectador; e isso ele consegue fazer muito bem. Eu já vi o filme algumas vezes, e toda vez que vejo, eu fico realmente assustado, graças à atmosfera gótica do mesmo.

 

E toda vez que eu vejo o filme, eu tenho uma sensação de desconforto, principalmente com a sequencia da floresta, com a caravana que está transportando pedras preciosas e outros itens. Eu sempre tenho a impressão de que tais sequencias foram difíceis de fazer, principalmente por causa da locação; a floresta lamacenta e a ambientação noturna, além dos ângulos e closes nos personagens.

 

A câmera de Herz é um dos destaques do filme – também presente em seus outros filmes de horror – com suas lentes grande-angulares, sempre focando no POV do personagem, que deixam o filme ainda mais assustador e desconfortante. Mas não se engane, o estilo do diretor é muito bom, e além de deixar o filme desconfortante, consegue deixa-lo bonito.

 

Além da câmera, a fotografia também contribui para isso, sempre deixando o filme imerso na escuridão, como mencionei acima. Eu não sei como tais cenas foram rodadas, mas parece que o cineasta não utilizou luzes artificiais. Aliado à fotografia, o design de produção também merece menção, principalmente o castelo da Fera. O lugar é digno daquelas historias de castelo assombrado, visto que é um lugar abandonado, com seus móveis formados por criaturas magicas. Novamente, como não sei se tal fato está de fato presente nas narrativas originais, mas o mesmo foi aproveitado pela Disney na sua versão clássica. Mas, ao contrario da versão Disney, aqui o castelo e seus móveis mágicos dão medo, graças à fotografia e os efeitos especiais.

 

Os efeitos especiais também funcionam, principalmente o visual da Fera. Ao contrario do que conhecemos, o diretor Herz optou por adotar um visual de pássaro para dar vida à sua Fera, e a coisa funciona. A Fera é verdadeiramente assustadora, com sua roupa negra e capa que lembra um par de asas e suas garras afiadas. E assim como nas versões originais, a Fera se apaixona pela mocinha, e faz de tudo para não mata-la, porque se ele o fizer, poderá se libertar da maldição. A maldição da Fera não é muito explorada aqui, e francamente, não faz muita diferença, porque, para quem conhece a história, já sabe como o príncipe ficou como ficou. E o ator que a interpreta, Vlastimil Harapes, não faz feio, passando toda a angustia do personagem com naturalidade.

 

A mocinha, Julie, também merece uma menção, porque, ao lado da Fera, é a melhor personagem do filme. A atriz que a interpreta, Zdena Studenková, também dá um show de atuação, e passa toda a ingenuidade virginal da personagem, principalmente quando ela interage com a Fera. Minha cena favorita é quando Julie está conversando com a Fera no escuro, após ter uma visão do pai numa festa, e a Fera lhe pergunta se deve ir embora, e Julie diz que não. Zdena é dona da cena, principalmente do take em close do seu rosto. E finalmente, quando Julie vê o rosto verdadeiro da Fera, a atriz passa tudo que o diretor deve ter solicitado a ela.

 

E o final do filme é maravilhoso, e mostra o que aconteceu com Julie e a Fera. Esse é um detalhe que eu acho interessante sobre o filme; as irmãs de Julie se casaram com condes pobres, enquanto ela mesma se casou com um príncipe e virou princesa.

 

E para finalizar, deixo aqui a minha menção à sequencia de créditos, composto por pinturas sinistras e uma trilha sonora sombria, que sempre me deixa arrepiado.

 

Juntamente com A Bela e a Fera, o diretor Herz fez mais dois filmes de horror, todos assustadores, desconfortantes e lindos: Morgiana (1972) e O Cremador (1969), todos realizados com o estilo experimental do diretor.

 

Foi lançado em DVD no Brasil pela Versátil Home Vídeo, na coleção Obras-Primas do Terror Vol.14, que conta com um depoimento do diretor como extra.

 

Enfim, A Bela e a Fera é um filme excelente. Uma versão gótica e sombria do clássico conto de fadas, que consegue assustar ainda mais a cada revisão. O estilo experimental do diretor Juraj Herz é um dos atrativos do filme, com suas lentes grande-angulares e fotografia sombria, combinados a grandes efeitos especiais e ambientação gótica e um elenco afiado. Uma das melhores versões do clássico conto de fadas e um dos filmes mais assustadores e lindos que já vi. Altamente recomendado.



Créditos: Versátil Home Vídeo.

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