sábado, 20 de julho de 2024

NOSFERATU – O VAMPIRO DA NOITE (1979). Dir.: Werner Herzog.

 

NOTA: 10


NOSFERATU – O VAMPIRO DA NOITE é um filme maravilhoso.

 

É um daqueles casos de refilmagens que não ofendem a obra original, e merecem estar junto com ela numa sessão dupla.

 

Como já deu para perceber, o filme de Herzog é uma refilmagem do Clássico de Murnau, que é um marco do Expressionismo Alemão, além de ser a primeira adaptação para cinema do livro de Bram Stoker.

 

Aqui não é diferente, e o filme pode ser encarado dessas duas maneiras por qualquer um que adore a obra de Stoker. Até porque, o filme foi lançado em um ano que pode ser chamado de “Ano do Drácula no Cinema”, visto a quantidade de adaptações e filmes de vampiros que foram lançados.

 

A trama é basicamente a mesma do filme de Murnau, então, não vou descrevê-la aqui, e irei me concentrar apenas nos quesitos técnicos.

 

Conforme disse acima, o filme é maravilhoso, e isso se deve principalmente às habilidades de Herzog como diretor, e isso ele tem de sobra.

 

O cineasta é capaz de criar cenas lindas de várias formas, sem apelar para artifícios; tudo é feito de forma natural, e no tempo certo, e deixam o filme ainda melhor a cada revisão.

 

O principal fator que deixa o filme lindo são as locações. O filme foi rodado na Alemanha e na França, e o diretor soube aproveitar os cenários de maneira única, assim como Murnau fez em seu filme. As cenas diurnas são o grande destaque, com foco nas montanhas e vales, além de cachoeiras e grutas.

 

O castelo do conde não fica atrás. A locação é belíssima, e nas cenas diurnas, fica ainda melhor, com aspecto gótico e com decorações mórbidas, além de ser repleto de morcegos pendurados nas janelas.

 

A locação para a cidade de Wismar também é linda, e possui um aspecto de parada no tempo, além de contar com uma belíssima praça central, diante de uma torre de relógio.

 

Sempre que vejo as locações desse filme eu fico em paz, porque elas são simplesmente lindas, sem exceção.

 

Além das locações, preciso falar sobre o elenco também. Nosferatu marca mais uma parceria entre Herzog e o ator Klaus Kinski, aqui no papel do vampiro. Não é novidade para ninguém que o ator era problemático no set, e que ambos tiveram momentos difíceis em sua parceria ao longo dos anos.

 

Kinski está excelente como o vampiro, e sua caracterização se distancia completamente do filme de Murnau, e aqui, o conde é retratado como uma figura trágica, que não pode morrer, e que sofre por amar e não ser amado. E assim como no filme de Murnau, ele vai à Wismar para espalhar a peste, representada por um exército de ratos.

 

Além de Kinski, temos também as presenças de Isabelle Adjani e Bruno Ganz, como Lucy e Jonathan, respectivamente, e os dois também estão excelentes.

 

Isabelle interpreta uma Lucy fragilizada, que ama o marido e teme por sua vida quando ele vai viajar para a Transilvânia. Mas não é só isso. Sua Lucy também é uma mulher determinada, que está disposta a se sacrificar para salvar a vida do marido e também acabar com a peste. A caracterização da personagem também é excelente, com seu rosto pálido e cabelos negros; e fica ainda melhor quando ela está de camisola branca, que dá um belo contraste.

 

Ganz, por outro lado, interpreta Harker, e o personagem pode ser dividido em duas fases. No começo do filme, ele é um homem seguro, que não tem medo de viajar para uma terra distante, e não liga para as conversas supersticiosas dos locais. No entanto, após fugir do castelo, ele se transforma em outra pessoa, em um homem fragilizado, com aspecto doente, que não reconhece mais a esposa. E a coisa fica pior no final do filme.

 

Como eu disse anteriormente, Herzog sabe criar ótimas cenas, e ele faz isso com maestria. As cenas aqui acontecem aos poucos, de maneira lenta mesmo, mas não ficam entediantes. São várias cenas aqui, e fica difícil dizer qual é a melhor, mas eu destaco a sequência em o conde morde Lucy; é uma cena tensa, que deixa o espectador angustiado, porque, quando achamos que ela acabou, ela continua.

 

Além de criar cenas de ritmo lento, Herzog também faz uso de imagens de arquivo de morcegos voando em câmera lenta, para simular a chegada do vampiro, e também indicar sua presença em cena. Assim como as cenas mencionadas acima, esses takes de morcegos voando são maravilhosos, principalmente por causa dos animais que os protagonizam.

 

Assim como o filme de Murnau, o filme de Herzog é um filme sobre a peste, representada na forma de um exército de ratos. Quando eles chegam à Wismar, a bordo do navio abandonado, o caos está instalado, e as pessoas não tem outra alternativa, a não ser sucumbir e morrer. As cenas da presença da peste são tristes, e eu destaco uma em particular: a sequência em que Lucy está andando pela praça e se depara com várias pessoas adoecidas dançando alegremente e comendo ao ar livre. É a clássica representação da Dança da Morte, vista na época da Peste Negra, mas sem a presença do Ceifador. A sequência é acompanhada por uma trilha sonora lúgubre, que a deixa ainda mais melancólica.

 

E já que toquei nisso, deixe-me falar sobre a trilha sonora, antes de encerrar. Herzog utilizou música clássica, além de uma banda para compor a trilha sonora de seu filme, e a trilha não decepciona. Desde a primeira cena, nas catacumbas de múmias, a trilha fúnebre se faz presente, e passa uma sensação de tensão, que vai crescendo à medida que ela mesma vai crescendo. É uma trilha sonora perfeita para o clima lúgubre e melancólico do filme.

 

Foi lançado em DVD no Brasil pela Versátil Home Vídeo, primeiramente em versão individual, depois na caixa Nosferatu, que contém também o filme de Murnau. A versão disponível na caixa é restaurada e está no formato Widescreen Anamórfico, além de vir acompanhada de muitos extras.

 

Para uma ótima experiência, assista primeiro o filme de Murnau, e na sequência, embarque neste filme aqui.

 

Enfim, Nosferatu – O Vampiro da Noite é um filme excelente. Uma obra melancólica e fúnebre, que enche os olhos com suas locações maravilhosas, além de contar com as técnicas milenares de direção de Werner Herzog. O elenco principal também é o destaque, e os atores estão excelentes em suas performances, e a trilha sonora deixa o espectador ainda mais imerso no longa, com seu tema fúnebre e melancólico. Um exemplo de refilmagem que não ofende a obra original, e merece estar ao seu lado em uma sessão dupla. Altamente recomendado.


Créditos: Versátil Home Vídeo.


sexta-feira, 19 de julho de 2024

A CASA DO ESPANTO (1986). Dir.: Steve Miner.

 

NOTA: 8.5


A CASA DO ESPANTO é um dos filmes da minha coleção que eu gosto muito.

 

Desde a primeira vez que o assisti, há mais de 20 anos, eu gostei muito dele, e me diverti muito com tudo aquilo que vi na tela, e essa sensação segue até os dias de hoje.

 

Além disso, este é um daqueles filmes dos anos 80 que misturam terror e humor de maneira muito boa e realista. Se o filme fosse apenas um filme de terror de casa assombrada, tudo bem, mas o modo como as coisas são feitas aqui, contribui para deixá-lo único.

 

Na trama, o escritor Roger Cobb se muda para a casa da tia após a morte dela, com o objetivo de escrever um livro sobre suas experiências no Vietnã. Mas ao mesmo tempo, ele decide investigar mais a fundo, o desaparecimento do filho, que supostamente foi raptado dentro da casa.

 

A trama básica é essa, mas, conforme o filme vai andando, as coisas bizarras vão acontecendo uma atrás da outra, e o longa se revela como um filme de casa assombrada, mas não no sentido literal.

 

Aqui, não temos apenas fantasmas; nós temos criaturas de outra dimensão, monstros e zumbis, que têm como único objetivo, infernizar a vida do protagonista, e impedir que ele resolva o mistério por trás do desaparecimento do filho.

 

O roteiro é muito bom em misturar terror e humor, e na verdade, eu mesmo não considero este um filme de terror; na minha opinião, ele é uma comédia de humor negro, visto a quantidade de situações absurdas que o protagonista enfrenta ao longo da narrativa.

 

Além das criaturas bizarras, nós temos também personagens excêntricos, como o vizinho enxerido do protagonista; a ex-esposa dele – talvez a mais normal entre os personagens –; a vizinha bonitona; e os fãs do escritor, os tipos mais variados de figuras. O vizinho é um personagem bem legal, pois está sempre aparecendo nos momentos mais inoportunos, mas se mostra um amigo para o protagonista. As cenas de interação entre os dois são muito boas e engraçadas também, principalmente quando Roger o convida para capturar uma das criaturas.

 

Outro personagem que merece menção, é o parceiro de guerra de Roger, o fortão Big Ben, que aparece nas cenas de flashback da guerra. Big Ben é o típico personagem casca-grossa, mas não deixa de ser engraçado quando o roteiro pede. As cenas entre ele e Roger também são muito bem escritas e dão um contraste bacana entre eles, expondo suas diferenças em combate.

 

Agora que já falei os personagens, vou falar das criaturas. Há várias delas aqui, que vão desde monstros saindo do armário, até zumbis que voltam do túmulo, passando por seres tentaculares e voadores de outra dimensão. A melhor delas é mulher de vestido roxo e unhas vermelhas, que é uma personagem muito engraçada desde a primeira vez em que aparece, e ela apanha muito durante o filme.

 

No entanto, o principal monstro do filme é a versão zumbi de Ben, que se mostra o verdadeiro vilão do filme, e tem um motivo pessoal para ir atrás de Roger.

 

A direção de Steve Miner também merece ser mencionada aqui, porque o diretor faz uso de técnicas criativas para contar sua história, sendo a mais engenhosa delas o plano sequência que acontece durante os créditos iniciais, que começa na parte de trás da casa e termina na fachada da mesma, uma sequência inteira sem cortes, que não deve ter sido fácil de ser feita na época.

 

A trilha sonora de Harry Manfredini também é muito boa, principalmente o tema principal, que remete a um filme de terror de fato. Em certos momentos, a trilha lembra muito a da franquia Sexta-Feira 13, que é do mesmo compositor, e isso não é um defeito.

 

As cenas de humor e terror são muito boas também, e não apelam para muitos clichês. Os momentos de verdadeiro terror acontecem quando Roger atravessa os portais para outra dimensão, ou então, quando é perseguido pelo zumbi; já as cenas de humor acontecem graças às criaturas, que são muito engraçadas de fato, principalmente a mulher de vestido roxo.

 

E para finalizar, a própria casa em si é um personagem, principalmente a sua fachada em estilo colonial, que é bem memorável e assustadora.

 

Enfim, A Casa do Espanto é um filme muito bom. Um filme de terror de casa assombrada, com toques de humor espertos, aliados a uma direção competente, e um roteiro criativo. Os efeitos especiais merecem menção também, principalmente as criaturas, que são bem convincentes. A fotografia faz um ótimo trabalho, principalmente quando destaca a fachada da casa, que é bem memorável. Uma ótima mistura de terror e humor.




sexta-feira, 12 de julho de 2024

O SANGUE DE DRÁCULA (1970). Dir.: Peter Sasdy.

 

NOTA: 7.5


Entre 1958 e 1974, a Hammer Films produziu uma série de filmes protagonizados pelo Conde Drácula, criado pelo escritor Bram Stoker. Ao todo, foram nove filmes, sete deles estrelados pelo grande Christopher Lee, no papel que o consagrou como astro do horror. Somente dois filmes não contaram com o astro no elenco.

 

O SANGUE DE DRÁCULA, lançado em 1970, é o quinto filme da franquia, e o quarto a contar com o astro no elenco.

 

Com direção de Peter Sasdy, este é um filme que apresenta suas qualidades, e consegue ser arrepiante em alguns momentos, mas, ainda assim, começa a apresentar alguns problemas.

 

Mas, antes de falar sobre os problemas, deixe-me falar sobre as qualidades.

 

Como os demais filmes da franquia até então, este é um filme bem feito, que presa pelo aspecto gótico e também com uma atmosfera de terror sempre presente.

 

Na trama, um vendedor é atacado em sua carruagem e acaba se deparando com o Conde Drácula sendo destruído – com cenas do filme anterior – e coleta seu sangue, juntamente com sua capa. Após esse prólogo, três homens conhecem um lorde que compra os pertences do conde e o traz de volta à vida por meio de um ritual satânico.

 

Pois bem, aqui, temos mais uma vez o Conde Drácula percorrendo o interior em busca de vingança contra aqueles que o prejudicaram, neste caso, os três homens que mataram seu servo antes do ritual ser completado.

 

Essa formula da vingança do conde já havia sido usada no filme anterior – e voltaria a ser usada no filme seguinte –, então, não há muitas novidades aqui, para falar a verdade.

 

Mas, no entanto, temos a presença do astro Christopher Lee como o Conde Drácula, e, como sempre, é o que faz o filme valer a pena. Mesmo com a pouca presença, o ator consegue nos satisfazer com sua interpretação magistral do conde, passando todo o ar ameaçador e demoníaco que o personagem pede, além de ser uma presença muito elegante.

 

O resto do elenco também compensa, principalmente a atriz Linda Hayden, que faz a mocinha que se torna escrava do vilão.

 

Esse é a sacada do roteiro. Ao invés da mocinha totalmente indefesa, temos aqui uma mocinha que no começo, se mostra como indefesa e doce, mas, após se encontrar com o conde, transforma-se em sua escrava, e não poupa ninguém.

 

Deixe-me falar também sobre os outros personagens. O pai da mocinha, e seus dois amigos, são aqueles clássicos homens que se fingem de bons moços, mas, que na verdade, saem à noite para se divertir em clubes masculinos pela cidade. Os três amigos da mocinha também funcionam e convencem, e claro, um deles é o par romântico dela, uma coisa que também se tornou registrado nessa franquia – a presença do casal protagonista de mocinhos.

 

Quem merece menção também é o lorde satanista, interpretado por Ralph Bates, um ator bem conhecido na Hammer. Apesar da pouca presença, o personagem é bem interpretado, e passa aquela aura misteriosa que o roteiro pede. Funciona bem.

 

Eu, no entanto, tenho alguns problemas com a mistura de temática satanista com vampirismo, porque, eu acho que são dois temas que não tem muita relação entre si, e isso seria explorado no penúltimo filme da franquia. Pode ser que eu esteja errado, mas, acredito que as coisas devem ser separadas. No entanto, admito que é um bom recurso para trazer o conde de volta, apenas para dar uma variada.

 

Outro problema presente no roteiro, é a falta de utilização de alguns personagens secundários. Um deles é o policial que resolve investigar as mortes dos três homens, mas, ele acaba sendo mal aproveitado, e sua participação não é muito desenvolvida.

 

O mesmo pode ser dito do namorado da amiga da mocinha, que não faz nada o filme inteiro, é atacado por um vampiro, e desaparece sem nenhuma cerimônia. Ele poderia ao menos ter voltado como vampiro, assim, o mocinho poderia matá-lo.

 

O cenário que serve de esconderijo para o conde é muito bom, uma velha igreja abandonada, que rende momentos arrepiantes, além de proporcionar um bom combate final, que culmina na derrota do vilão.

 

Enfim, O Sangue de Drácula é um bom filme. Uma continuação decente da franquia, que segue exatamente onde o filme anterior parou, além de proporcionar momentos de suspense e terror na medida certa, e de arrepiar com eficiência. O grande destaque é o astro Christopher Lee, novamente entregando uma brilhante performance como Drácula. Um filme recomendado.




LISA E O DIABO (1973). Dir.: Mario Bava.

  NOTA: 10 LISA E O DIABO é um filme belíssimo.   Uma história de horror, fantasia e mistério contada com a maestria do Maestro Mario Ba...