segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

CONTOS DO ALÉM (1972). Dir.: Freddie Francis.

 

NOTA: 8



Desde sua fundação, em 1962, a Amicus tornou-se um dos maiores estúdios de cinema britânicos de todos os tempos, rivalizando com a Hammer Films. Porém, ao contrário da Hammer, o estúdio tornou-se especialista em produzir antologias de horror, apesar de lançar outros filmes, a maioria voltados para o horror. Ao total, foram sete antologias, todas maravilhosas.

 

Em 1972, o diretor Freddie Francis lançou CONTOS DO ALÉM, adaptação das histórias de horror publicadas pela EC Comics nos anos 50. Pois bem, conforme mencionado acima, esta é mais uma das antologias da Amicus, e mais uma vez, o estúdio conseguiu entregar um ótimo resultado.

 

Como todos os filmes do gênero, o longa é divido em segmentos, aqui apresentados por um monge misterioso dentro de uma cripta, mais ou menos como seria feito na antológica série de TV da HBO.

 

O primeiro deles, ...And All Through the House fala sobre uma mulher que mata seu marido na véspera de Natal a fim de receber o dinheiro de seu seguro de vida. Porém, ela não sabe que um maníaco vestido de Papai Noel está a solta e está rondando a casa.

 

No próximo segmento, Reflection of Death, um homem abandona a família para fugir com sua amante; no entanto, eles sofrem um acidente, e o homem consegue escapar e descobre que sua esposa está casada com outro homem. As coisas tornaram-se ainda mais sinistras quando ele reencontra sua amante, que também sobreviveu ao acidente.

 

Em Poetic Justice, o mais triste de todos, um jovem rico tenta se livrar de seu vizinho idoso, a fim de expandir sua propriedade. Para isso, ele passa a atormentá-lo das maneiras mais cruéis, culminando em um desfecho trágico para o vizinho. Mas, ele não sabe que o mesmo voltará para fazer justiça.

 

No penúltimo, Wish You Were Here, um casal descobre que está a ponto de declarar falência, então a esposa faz três pedidos a uma estátua de Hong Kong, mal sabendo das terríveis consequências.

 

O segmento final, Blind Alleys é sobre um oficial do Exército que consegue emprego como diretor de uma clínica para cegos. No início, ele promete realizar mudanças na instituição, mas os poucos, vai mostrando seu verdadeiro lado ganancioso, o que poderá lhe custar muito caro.

 

Como podem ver, aqui temos uma antologia bem simples, com histórias curtas, com poucos personagens e que vão direto ao ponto; ou seja, uma estrutura típica do gênero.

 

Pois bem, cada uma das histórias tem seu próprio mérito, e conseguem provocar calafrios sem o menor esforço. Na primeira, temos como trilha sonora as musicas clássicas da época do Natal, enquanto a protagonista realiza seus atos maliciosos; na segunda, temos o mistério do homem que nunca mostra o rosto, então somos brindados com cenas em PDV; na terceira, não temos a trilha sonora; na penúltima, a própria figura da estátua é um espetáculo sinistro; e por fim, na última, os próprios personagens contribuem para nos dar calafrios. E o resultado funciona.

 

Eu já mencionei que a Amicus produziu ótimas antologias, e esta aqui é uma delas, no entanto, devo salientar que nem todas as histórias me agradam. Uma delas é a terceira, Poetic Justice, onde o personagem do grande Peter Cushing sofre horrores nas mãos de seu vizinho rico. Tudo que acontece com ele ao longo da história é muito triste, que chega a cortar o coração, e as maldades do rapaz vão aumentando até que o velhinho não aguenta mais... E na última, o cão do personagem também sofre nas mãos dos cegos, assim como eles; mas, pessoalmente, eu fico mais triste com o que acontece com o cachorro. Essas duas histórias não me agradam nem um pouco, e tiram um pouco do prestigio do filme para mim. Em compensação, as outras são muito boas que tiram um pouco do gosto amargo da experiência.

 

Aliás, esse é um dos pontos que servem para diferenciar as antologias do estúdio entre si; basta apenas pensar em uma ou mais de uma historias chaves, e fica fácil não se perder.

 

Bom, o filme foi dirigido por Freddie Francis, um dos grandes nomes do terror britânico, tendo trabalhado tanto na Amicus quanto na Hammer, e aqui ele faz um ótimo trabalho. As atuações também são muito boas, principalmente do grande Peter Cushing, que passa a aura de bom velhinho bom facilidade, e do ator Ralph Richardson, como o Guardião da Cripta; o restante do elenco também está muito bem, mas o meu credito vai para esses dois atores.

 

Contos do Além também apresenta uma boa sacada no penúltimo segmento, que nada mais é do que uma variação do conto A Pata do Macaco, de W.W. Jacobs, visto que o item em questão concede três desejos aos personagens, desejos que também trazem consequências terríveis. O próprio conto é mencionado no segmento, o que contribui para deixa-lo ainda mais legal. Eu já pensei em escrever uma história com essa temática, visto que o conto de Jacobs inspirou tantas variações além desta.

 

Além da citação ao conto de Jacobs, aqui temos também uma das histórias mais conhecidas do universo de Contos da Cripta: a historia do Papel Noel perverso, que acabou fazendo parte da primeira temporada da antológica série de TV da HBO.

 

Pois bem, conforme mencionado aqui, Contos do Além é uma das melhores antologias da Amicus, do tipo que o estúdio sabia fazer.

 

Foi lançado no Brasil em DVD pela Obras-Primas do Cinema na coleção Amicus Productions em versão remasterizada.

 

Enfim, Contos do Além é um ótimo filme. Uma antologia clássica, com seus pequenos segmentos arrepiantes, que também fazem o espectador refletir. Ótimas atuações, aliadas a uma direção afiada, fazem deste um dos melhores exemplares do gênero. Altamente recomendado.


Créditos: Obras-Primas do Cinema



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