sábado, 4 de maio de 2024

ALUCARDA – A FILHA DAS TREVAS (1977). Dir.: Juan López Moctezuma.

 

NOTA: 10


O cinema de horror mexicano é um dos mais criativos de todos os tempos, com uma longa história.

 

ALUCARDA – A FILHA DAS TREVAS, lançado em 1977, com direção de Juan López Moctezuma, é um dos exemplares dessa leva, um dos melhores, e o meu favorito.

 

É um filme muito bonito, com uma técnica ímpar, aliado a uma direção inspirada e um elenco afiado. Além disso, é o exemplo de filme que fica melhor a cada revisão, e é uma das grandes qualidades do longa.

 

Junto a isso, temos também o carisma da protagonista Tina Romero, que interpreta a personagem-título. Mais detalhes sobre isso adiante.

 

Na essência, Alucarda é um filme sobre satanismo, além de se enquadrar no subgênero do nunsploitation, subgênero do cinema exploitation que se tornou muito popular nos anos 70, conhecido por apresentar tramas apelativas que envolvem freiras. Eu não conheço muitos filmes desse subgênero, mas digo que este é um dos melhores.

 

O roteiro apresenta uma trama aparentemente comum, com a jovem Justine se mudando para um convento no interior do México após a morte de seus pais. Uma vez estabelecida nas imediações da instituição, ela conhece a noviça Alucarda, que tem se torna amiga imediatamente. A partir desse ponto, a trama se encaminha para um enredo de horror, com toques de satanismo, e logo após a introdução de Alucarda, a mesma se torna protagonista do filme.

 

Além de ser um exemplar dos subgêneros satanismo e nunsploitation, Alucarda é um dos filmes mais profanos que já vi, visto a quantidade de cenas de adoração ao Diabo que estão presentes no longa, com destaque para a cena do Sabá, com vários personagens dançando nus, e com direito à presença de uma figura com cabeça de bode.

 

Eu já mencionei em outras resenhas que tenho um certo receio de assistir a filmes com temática satanista por causa das cenas de adoração, mas aqui é diferente. Eu gosto muito de assistir a esse filme e sempre que penso nele, eu não fico com medo. Eu assisto a esse filme com prazer.

 

O principal motivo para isso é a própria protagonista. Alucarda é a melhor personagem do cinema de horror que eu já vi. Ela é aquele tipo de personagem que sabe seduzir os demais, transitando entre a doçura e a ameaça com naturalidade, de maneira quase imperceptível. Além disso, a performance da atriz Tina Romero contribui para deixá-la ainda melhor e mais assustadora a cada revisão. Sua caracterização também é um ponto positivo. Ela sempre se veste de preto e deixa os cabelos soltos; uma das melhores caracterizações que já vi. Ela não tem medo de se mostrar como uma adoradora do Diabo, e seu grande momento, é a sequência da missa, onde ela e Justine proclamam em alto e bom som sua adoração à Satã. Sua origem é pouco explorada, e francamente, isso não me incomoda, e dá para pensar que sua mãe era uma satanista que se arrependeu e a levou para o convento após seu nascimento. E no final do filme, ela coloca suas garras para fora, expondo todo o seu poder.

 

A ambientação também é um ponto positivo. É um filme de terror gótico com todas as características. O convento é o melhor cenário, porque é um lugar sinistro, semelhante a uma caverna, com pouca iluminação, com imagens de cruzes espalhas pelas paredes e um candelabro sinistro no teto. É difícil de saber quando que a trama se passa durante o dia, visto a falta de luz que penetra no ambiente. É uma ótima ambientação.

 

Agora, deixe-me falar sobre o impacto e a influência que se esse filme tem sobre mim. Eu estou no processo de revisão do meu terceiro livro, que é uma história de vampiro ambientada num convento europeu no século XVIII. Desde o início, Alucarda foi a minha grande inspiração, em especial, a caracterização da protagonista, que me inspirou a criar a vampira do meu livro, uma menina de quinze anos chamada Rubya. Além da personagem-título, a cena dos ciganos também me influenciou muito, principalmente na hora de criar uma cena semelhante. Claro, outros exemplares do subgênero nunsploitation tiveram seu papel, mas, Alucarda foi a minha principal influência.

 

Antes de encerrar, devo dizer que o filme é uma grande obra de arte. A fotografia contribui para isso, deixando o longa com aspecto de pintura. A própria sequência do Sabá lembra uma pintura de Goya, por exemplo; e a primeira aparição de Alucarda é feita como se a personagem fosse um desenho na parede que ganha vida, tudo muito bel iluminado. O diretor Moctezuma e o diretor de fotografia também capricham nos ângulos de câmera, principalmente na sequência da missa, que é parcialmente rodada em planos holandeses.

 

Foi lançado no Brasil em DVD pela Versátil Home Vídeo, na coleção Obras-Primas do Terror 10, dedicada ao horror satanista. Nos extras, há um depoimento do cineasta Guillermo Del Toro, grande fã da obra.

 

Enfim, Alucarda é um filme excelente. Um filme de horror satanista com toques de horror gótico e nunsploitation, contado com maestria ímpar. Os grandes destaques são a fotografia e a direção de arte, que transformam o convento em um ambiente sombrio e sinistro, envolto na escuridão. A personagem-título é a melhor coisa do filme, e sua caracterização é excelente, aliada à performance extraordinária da atriz Tina Romero. Um dos Filmes Mais Assustadores de Todos os Tempos, e um dos meus favoritos.


Créditos: Versátil Home Vídeo.


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