NOTA: 10
O cinema de horror mexicano é um dos mais criativos
de todos os tempos, com uma longa história.
ALUCARDA – A FILHA
DAS TREVAS, lançado em 1977, com direção de Juan López Moctezuma, é um dos
exemplares dessa leva, um dos melhores, e o meu favorito.
É um filme muito bonito, com uma técnica ímpar,
aliado a uma direção inspirada e um elenco afiado. Além disso, é o exemplo de
filme que fica melhor a cada revisão, e é uma das grandes qualidades do longa.
Junto a isso, temos também o carisma da protagonista Tina
Romero, que interpreta a personagem-título. Mais detalhes sobre isso adiante.
Na essência, Alucarda
é um filme sobre satanismo, além de se enquadrar no subgênero do
nunsploitation, subgênero do cinema exploitation que se tornou muito popular
nos anos 70, conhecido por apresentar tramas apelativas que envolvem freiras. Eu
não conheço muitos filmes desse subgênero, mas digo que este é um dos melhores.
O roteiro apresenta uma trama aparentemente comum,
com a jovem Justine se mudando para um convento no interior do México após a
morte de seus pais. Uma vez estabelecida nas imediações da instituição, ela
conhece a noviça Alucarda, que tem se torna amiga imediatamente. A partir desse
ponto, a trama se encaminha para um enredo de horror, com toques de satanismo,
e logo após a introdução de Alucarda, a mesma se torna protagonista do filme.
Além de ser um exemplar dos subgêneros satanismo e
nunsploitation, Alucarda é um dos
filmes mais profanos que já vi, visto a quantidade de cenas de adoração ao
Diabo que estão presentes no longa, com destaque para a cena do Sabá, com vários
personagens dançando nus, e com direito à presença de uma figura com cabeça de
bode.
Eu já mencionei em outras resenhas que tenho um certo
receio de assistir a filmes com temática satanista por causa das cenas de adoração,
mas aqui é diferente. Eu gosto muito de assistir a esse filme e sempre que
penso nele, eu não fico com medo. Eu assisto a esse filme com prazer.
O principal motivo para isso é a própria protagonista.
Alucarda é a melhor personagem do cinema de horror que eu já vi. Ela é aquele
tipo de personagem que sabe seduzir os demais, transitando entre a doçura e a
ameaça com naturalidade, de maneira quase imperceptível. Além disso, a
performance da atriz Tina Romero contribui para deixá-la ainda melhor e mais
assustadora a cada revisão. Sua caracterização também é um ponto positivo. Ela sempre
se veste de preto e deixa os cabelos soltos; uma das melhores caracterizações que
já vi. Ela não tem medo de se mostrar como uma adoradora do Diabo, e seu grande
momento, é a sequência da missa, onde ela e Justine proclamam em alto e bom som
sua adoração à Satã. Sua origem é pouco explorada, e francamente, isso não me
incomoda, e dá para pensar que sua mãe era uma satanista que se arrependeu e a
levou para o convento após seu nascimento. E no final do filme, ela coloca suas
garras para fora, expondo todo o seu poder.
A ambientação também é um ponto positivo. É um filme
de terror gótico com todas as características. O convento é o melhor cenário,
porque é um lugar sinistro, semelhante a uma caverna, com pouca iluminação, com
imagens de cruzes espalhas pelas paredes e um candelabro sinistro no teto. É difícil
de saber quando que a trama se passa durante o dia, visto a falta de luz que
penetra no ambiente. É uma ótima ambientação.
Agora, deixe-me falar sobre o impacto e a influência
que se esse filme tem sobre mim. Eu estou no processo de revisão do meu
terceiro livro, que é uma história de vampiro ambientada num convento europeu
no século XVIII. Desde o início, Alucarda
foi a minha grande inspiração, em especial, a caracterização da
protagonista, que me inspirou a criar a vampira do meu livro, uma menina de
quinze anos chamada Rubya. Além da personagem-título, a cena dos ciganos também
me influenciou muito, principalmente na hora de criar uma cena semelhante. Claro,
outros exemplares do subgênero nunsploitation tiveram seu papel, mas, Alucarda foi a minha principal influência.
Antes de encerrar, devo dizer que o filme é uma
grande obra de arte. A fotografia contribui para isso, deixando o longa com
aspecto de pintura. A própria sequência do Sabá lembra uma pintura de Goya, por
exemplo; e a primeira aparição de Alucarda é feita como se a personagem fosse
um desenho na parede que ganha vida, tudo muito bem iluminado. O diretor Moctezuma
e o diretor de fotografia também capricham nos ângulos de câmera,
principalmente na sequência da missa, que é parcialmente rodada em planos
holandeses.
Foi lançado no Brasil em DVD pela Versátil Home Vídeo,
na coleção Obras-Primas do Terror 10,
dedicada ao horror satanista. Nos extras, há um depoimento do cineasta Guillermo
Del Toro, grande fã da obra.
Enfim, Alucarda é um filme excelente. Um filme de horror satanista com toques de horror gótico e nunsploitation, contado com maestria ímpar. Os grandes destaques são a fotografia e a direção de arte, que transformam o convento em um ambiente sombrio e sinistro, envolto na escuridão. A personagem-título é a melhor coisa do filme, e sua caracterização é excelente, aliada à performance extraordinária da atriz Tina Romero. Um dos Filmes Mais Assustadores de Todos os Tempos, e um dos meus favoritos.
Créditos: Versátil Home Vídeo. |
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